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Toggle1.º de Maio: O Dia Que os Patrões Detestam
O Dia Internacional do Trabalhador, celebrado a 1.º de Maio remonta ao século XIX, quando os uma greve histórica nos Estados Unidos da América (EUA) por melhores condições laborais. Os operários exigiam um dia de trabalho de oito horas, mas o resultado foi uma repressão policial que resultou em mortes e prisões.
No dia 4 de Maio de 1886, explodiu uma bomba durante um protesto em Chicago, desencadeando uma violenta repressão policial. Quatro operários foram mortos, e líderes sindicais foram condenados à forca sem provas conclusivas. Três anos depois, o movimento operário internacional declarou a data como um símbolo mundial da luta trabalhista.
Nos territórios africanos sob domínio colonial, os trabalhadores eram excluídos das comemorações. Após as independências, os novos Estados integraram a data nos calendários nacionais, mas as estruturas de exploração continuam. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, 85% dos trabalhadores subsaarianos actuam na economia informal, sem contractos ou segurança social.
As promessas de direitos laborais não são cumpridas. Os governos dão prioridade a discursos políticos em vez de acções concretas para proteger os trabalhadores. Os desafios actuais são gritantes: 60% dos jovens estão desempregados. Enquanto isso, os patrões aproveitam-se da falta de fiscalização para burlar as leis laborais. O lema que se repete constantemente nos protestos resume a indignação:
“Trabalho não é esmola. É direito!”
A Origem do Dia

A origem do Dia Internacional do Trabalhador remonta ao século XIX, nos Estados Unidos da América. Em 1886, milhares de trabalhadores paralisaram as produções nas fábricas para exigir dias de trabalho de oito horas.
As manifestações em Chicago tornaram-se particularmente violentas. No dia 4 de Maio, durante um protesto na Haymarket Square, foi lançada uma bomba contra a polícia o que levou a confrontos violentos. A polícia retaliou e disparou contra os manifestantes, matando dezenas de pessoas e prendendo dezenas de dirigentes sindicais que foram condenados à morte ou prisão.
O evento expôs a violência do capitalismo industrial do século XIX e, três anos depois, em 1889, durante a Segunda Internacional Socialista, um congresso realizado em Paris que reuniu os principais partidos socialistas e sindicatos de toda Europa, com um conjunto de delegados de 20 países decidiram oficializar o 1.º de Maio como o Dia do Trabalhador.
Alguns anos depois, em 1891, o Congresso Operário Internacional convocou, em França, uma manifestação anual em homenagem às lutas sindicais de Chicago. A primeira manifestação acabou com 10 mortos, em consequência da intervenção policial.
A data do 1º de Maio, contudo, só se tornou feriado em 1919, quando no dia 23 de Abril de 1919, o Senado francês ratificou as 8 horas de trabalho e proclamou o dia 1º de Maio como feriado nacional. Posteriormente, este dia transformou-se também em feriado, na Rússia, no ano de 1920.
Com o tempo, a celebração do Primeiro de Maio como Dia do Trabalhador espalhou-se por todo o mundo, incluindo Portugal que se tornou um marco mundial na luta pelos direitos dos trabalhadores e um símbolo da importância de garantir condições de trabalho dignas e justas para todos.
A Luta em África

Na África colonial, os regimes colonialistas autoritários proibiam os trabalhadores locais de participar nas celebrações. Os símbolos de resistência, como por exemplo, os sindicatos, eram considerados ameaças à ordem estabelecida.
Após as independências, os governos adoptaram a data como feriado nacional. Promessas de “dignificar o povo trabalhador” foram feitas um pouco por África inteira, mas os camponeses continuaram a labutar 14 horas por dia nos campos. A contradição entre retórica e realidade tornou-se um padrão em todo o continente.
Estima-se que 72 milhões de crianças ainda sejam forçadas a trabalhar nos campos agrícolas ou nas minas, onde carregam sacos pesados por salários ínfimos. Os patrões, muitas vezes ligados a empresas estrangeiras, alegam ignorância sobre a origem da mão-de-obra.
A economia informal tornou-se o sustento de 85% dos trabalhadores. Nas ruas das grandes cidades, vendedores ambulantes e motoristas informais não têm acesso a seguros ou reformas. Os Estados cobram taxas diárias, mas não oferecem protecção social. A precariedade é a norma, não a excepção.
Praticamente em todo o continente, os sindicalistas e os dirigentes laborais são frequentemente criminalizados ou presos por organizarem greves contra salários de miséria. A repressão estatal silencia vozes que exigem mudanças.
Os Desafios Continentais
As leis laborais africanas, embora avançadas no papel, falham na implementação. A Lei Geral do Trabalho moçambicana, por exemplo, garante licenças de maternidade e férias remuneradas. Na prática, as empregadas domésticas de Maputo trabalham 12 horas por dia sem contracto. Os patrões alegam “acordos informais” para evitar responsabilidades.
O Banco Mundial revela que 36% da população subsaariana vive abaixo da linha da pobreza. No sector agrícola, os trabalhadores recebem salários em espécie (comida ou roupa usada), violando as leis nacionais. As mulheres são as mais afectadas: grávidas são despedidas sumariamente para evitar custos com licenças.
A falta de fiscalização é um problema crónico. Nas zonas rurais da Tanzânia ou da Etiópia, os inspectores do trabalho nunca chegam. Os patrões locais, muitas vezes em conluio com chefes tradicionais, impõem dias de trabalho exaustivos. As denúncias resultam em retaliações, incluindo despejos de terras ou violência física.
A escala 6×1 (seis dias de trabalho, um de folga) é comum no comércio a retalho em todo o continente. Nos supermercados da África do Sul, os funcionários trabalham 12 horas por dia, sem pausas adequadas. A exaustão leva a acidentes, mas os patrões recusam-se a cobrir despesas médicas. Os sindicatos, enfraquecidos por divisões internas, pouco podem fazer.
As empresas estrangeiras exploram a mão-de-obra africana em projectos de infraestrutura. Na construção da Barragem de Grand Ethiopian Renaissance, os trabalhadores etíopes trabalharam 16 horas por dia sob calor extremo. Os acidentes fatais são omitidos nos relatórios oficiais e os governos, ávidos por investimento estrangeiro, silenciam as violações.
A OIT alertou para o crescimento da “escravidão moderna” em sectores como a pesca e as minas. Nos barcos de pesca industriais ao largo da Namíbia, muitos imigrantes angolanos são mantidos em condições análogas à escravidão. Sem documentos ou redes de apoio, as vítimas raramente denunciam os abusos.
A Resistência Silenciada

Apesar da repressão, os movimentos laborais africanos continuam a organizar-se. No Quénia, a Central Organisation of Trade Unions (COTU) desencadeou greves massivas contra a carestia de vida em 2023. Os protestos forçaram o governo a congelar os preços dos combustíveis, ainda que temporariamente.
Em Marrocos, trabalhadoras agrícolas do vale do Souss formaram cooperativas para negociar melhores salários. As mulheres, antes pagas com migalhas, passaram a receber 30% mais por colheita. A iniciativa inspirou modelos similares no Senegal e no Mali.
A tecnologia tem sido uma aliada. Na Nigéria, os motoristas de okada (moto-táxis) usam aplicativos para denunciar o assédio policial. As plataformas digitais mapeiam zonas de risco e ligam trabalhadores a advogados pro bono. A estratégia reduziu os subornos em 40%, segundo um relatório de 2024.
Marchas do 1.º de Maio têm recuperado o carácter combativo, com exigências claras: salários dignos, fiscalização rigorosa e fim da precariedade. O lema, originário de Benguela, Angola, “Trabalho não é esmola. É direito!”, é repetido em protestos desde o Burkina Fasso até à África do Sul.
O Dia do Trabalhador no Mundo

O Dia do Trabalhador é reconhecido em 157 países. Mas, nem todos celebram a data a 1º de Maio e, em alguns países, é conhecida por outro nome.
No Vaticano, no dia 1º de Maio, é celebrada uma missa em homenagem aos trabalhadores, mas em vez de se chamar Dia do Trabalhador, chama-se Dia de São José Operário.
Nos Estados Unidos da América, a data é conhecida como Dia do Trabalho (Labor Day) e é comemorada na primeira segunda-feira de Setembro, marcando uma série de festas e atrações por todo o país.
Dependendo das fontes, o afastamento da data do 1º de Maio, ou surgiu para se demarcarem da triste lembrança deixada pelas pessoas que morreram em Maio de 1886 em Chicago, ou foi para afastar a data da associação da celebração dos movimentos de esquerda que propulsionou as lutas sindicais nos EUA.
No Japão, é comemorado a 23 de Novembro, desde 1948. É chamada de Kinrou Kansha no Hi (きんろうかんしゃのひ / 勤労感謝 の日) que traduzindo seria algo como “Dia da Acção de Graças ao Trabalho”.
Na Austrália, a data varia de acordo com a região e, na Nova Zelândia, é comemorada na quarta segunda-feira de Outubro, em homenagem à luta dos trabalhadores nacionais que terão iniciado esse movimento, nessa data, na sequência da greve geral dos EUA que deu inicio às comemorações.
Conclusão
O 1.º de Maio permanece um termómetro das lutas sociais em África. Entre discursos governamentais e a realidade dos mercados informais, há um abismo de injustiça. Os patrões, aliados a elites políticas, perpetuam modelos de exploração herdados do colonialismo.
Enquanto os governos erguem estátuas, os verdadeiros heróis – os operários, os camponeses, as vendedoras ambulantes – continuam à espera do “dia digno” prometido nas “independências”.
60% da população tem menos de 25 anos, o futuro do trabalho exige respostas urgentes: formação técnica, industrialização e combate à corrupção que desvia fundos públicos. A esperança reside na resistência organizada. Criação de cooperativas, greves e uso estratégico da tecnologia mostram os caminhos possíveis.
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Imagem: © 2025 Francisco Lopes-Santos