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ToggleCinema: Retrospectiva De Sarah Maldoror Em Londres
A obra da célebre realizadora francesa Sarah Maldoror, conhecida por adaptar para o cinema a obra do escritor angolano José Luandino Vieira e abordar a guerra colonial em Angola, será tema de análise em Londres, neste sábado, 8 de Junho de 2024.
O evento, organizado em parceria com a publicação London Review of Books (LRB), trará uma série de exibições e discussões sobre a importância do seu legado cinematográfico.
Quem Foi Sarah Maldoror
Sarah Maldoror, nascida Sarah Ducados em França no ano de 1929, foi uma pioneira do cinema africano e uma figura icónica na luta pela libertação e pela representação cultural africana. Filha de pai antilhano e de mãe francesa, adoptou o nome artístico Maldoror em homenagem ao poeta surrealista Lautréamont, autor dos “Cantos de Maldoror”.
Após estudar cinema em Moscovo, Maldoror juntou-se aos movimentos de libertação africanos, trabalhando ao lado de figuras históricas, como o fundador do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), Mário Pinto de Andrade que viria a ser seu companheiro.
A sua obra cinematográfica é profundamente marcada pelo compromisso político e pela defesa dos direitos humanos, abordando temas como o colonialismo, o racismo e o papel da mulher na sociedade africana.
Entre as suas obras mais notáveis estão a curta-metragem “Monangambé” (1959), uma adaptação do conto “O Fato Completo de Lucas Matesso”, de José Luandino Vieira e a longa-metragem “Sambizanga” (1972), inspirada em “A Vida Verdadeira de Domingos Xavier”, também de Luandino Vieira.
Esta última é considerada uma das maiores obras do cinema africano, retratando a guerra de libertação de Angola e destacando a perspectiva feminina na luta contra a opressão colonial. Filmada no Congo, “Sambizanga” aborda a brutalidade da ocupação colonial e a resistência angolana.
Maldoror também dirigiu documentários importantes, como “Máscara das Palavras”, dedicado ao poeta Aimé Césaire e filmes que exploram a história e a cultura africanas em diversos contextos, como “O Hospital de Leninegrado” (1982), baseado numa história de Victor Serge. A sua abordagem cinematográfica foi sempre marcada por um forte envolvimento político e uma profunda sensibilidade estética.
Primeiros Trabalhos e “Monangambé”
A programação na sala Garden Cinema, inclui a exibição da curta-metragem “Monangambé”, de 1959. Esta obra inicial de Maldoror antecedeu “Sambizanga” (1972), considerada a primeira longa-metragem rodada em África por uma mulher de ascendência africana. “Monangambé” é um retrato poderoso das tensões coloniais em Angola e serve como uma introdução ao estilo único e ao compromisso político da realizadora.
O Impacto de “Sambizanga”
“Sambizanga”, que também será exibido em Londres, é talvez a obra mais icónica de Sarah Maldoror. O filme, baseado em “A Vida Verdadeira de Domingos Xavier”, de Luandino Vieira, documenta a luta de uma mulher cujo marido é preso pela polícia política portuguesa.
Filmado no Congo, “Sambizanga” não só destaca a brutalidade da ocupação colonial, mas também se foca na perspectiva feminina durante a luta pela libertação de Angola. A introdução da exibição será feita por Annouchka de Andrade, filha de Maldoror, que também está a digitalizar e a preservar o legado cinematográfico da mãe.
Uma Obra de Relevância Global
Além das obras focadas em Angola, a carreira de Maldoror abrangeu temas globais. Filmes como “O Hospital de Leninegrado” (1982) exploram a resistência política em contextos diversos, reflectindo a visão de Maldoror de que a luta pela libertação africana é parte de um movimento global.
A realizadora trabalhou em diversos países africanos e abordou temas como o racismo, as questões de género e o património cultural africano. A sua abordagem cinematográfica foi sempre marcada por um forte envolvimento político e uma profunda sensibilidade estética.
Legado e Reconhecimento
Sarah Maldoror pode já ter falecido, mas o seu legado continua vivo através das suas obras e da preservação da sua memória por iniciativas como a da sua filha Annouchka de Andrade.
O trabalho de Maldoror foi reconhecido em diversas ocasiões, incluindo uma retrospectiva no Museu Rainha Sofia, em 2019 e várias homenagens em festivais de cinema, como o FIC Luanda em 2008. Em 2011, o Cine Lumière de Londres, sala do Instituto Francês, na capital britânica, exibiu as primeiras obras de Maldoror, com a presença da cineasta.
Maldoror deixou uma marca indelével no cinema africano e mundial, destacando a importância de narrativas africanas contadas por africanos.
Conclusão
A exibição das obras de Sarah Maldoror em Londres é uma oportunidade para celebrar e reflectir sobre o seu impacto duradouro no cinema e na luta pela libertação africana. A sua visão artística e política continua a inspirar cineastas e activistas em todo o mundo, reafirmando a importância de contar histórias africanas através de uma lente africana.
Imagem: © DR