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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Brasil: O país mais africano do Mundo, fora de África

O Brasil é o país mais africano do Mundo que não se encontra em África. Afirmação polémica, não é? No entanto, segundo o Sr. Embaixador Francisco Luz, assim é.

Entrevista Exclusiva a Mais Afrika do Sr. Embaixador, Francisco Luz, Cônsul-Geral do Brasil na Nigéria.

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Brasil: O país mais africano do Mundo, fora de África.

O Brasil é o país mais africano do Mundo que não se encontra em África. Afirmação polémica, não é? No entanto, segundo o Sr. Embaixador Francisco Luz, assim é.

Nesta sétima Grande Entrevista, ficamos a conhecer Francisco Luz, um conversador nato e com uma cultura africana excepcional e passamos momentos muito agradáveis durante a entrevista.

Não só ficámos a conhecer o seu percurso fabuloso, como ficámos a conhecer melhor o continente africano, visto pelos olhos de quem vem de fora, mas que tem um grande amor pelo continente. Percebemos como os media transformam um continente tão diversificado, num estereótipo comum redutor, tratando África como se fosse um “mero país”.

Ficámos a conhecer a influencia dos Iorubá no Brasil e as ligações históricas que o Brasil e o Reino de Benim, partilham já desde 1770, mas não só. Percebemos como o Brasil é dependente da Ureia Agrícola e como o intercambio comercial entre o Brasil e a Nigéria é tão importante.

Enfim, foi uma conversa esclarecedora, sobre estes e outros assuntos, que vale a pena ser vista/lida. Por isso não percam tempo e vejam, esta interessantíssima entrevista, no nosso Canal do YouTube, +Afrika, ou se preferirem, leiam aqui, a entrevista na integra.

 

A entrevista

Mais Afrika (MA): Muito boa tarde senhor Embaixador Francisco Cruz, é um prazer estar aqui consigo. Para começarmos esta entrevista e para que os nossos ouvintes o fiquem a conhecer um pouco melhor, pode nos dizer quem é que é, quais são as suas funções atualmente e contar-nos também um pouco do seu percurso até os dias de hoje?

Francisco Luz (FL): Muito boa tarde Francisco, é um prazer estar aqui no canal Mais Afrika. Eu sou Diplomata de carreira do Itamaraty há 39 anos. Eu comecei a minha carreira na parte de cooperação técnica no Brasil, daí, segui para a Argentina, para a Embaixada em Buenos Aires, depois para a nossa Embaixada em Cuba, em Havana, de lá regressei ao Brasil.

Trabalhei na área de comunicações e administração e depois voltei ao exterior, para embaixador do Brasil em Washington. De lá, segui para Pretória na África do Sul, para a Embaixada em Maputo, onde eu fui Ministro Conselheiro. Depois, o meu primeiro posto como embaixador em África, foi na Tanzânia, onde eu também cuidava das Seychelles, Comores e, era o representante do Brasil na comunidade da África Oriental.

Fiquei seis anos aí, daí seguir para o Reino Haxemita da Jordânia e fiquei quatro anos e quatro meses em Amã e, desde Outubro de 2019, eu estou aqui em Lagos como Cônsul-Geral do Brasil nesta cidade.

 

(MA): Sr. Embaixador, nesse momento o Sr. exerce a função de Cônsul-Geral do Brasil em Lagos na Nigéria, mas o senhor passou por outros cargos na África, mais precisamente na África do Sul, Moçambique e Tanzânia, como acabou de reportar. Nesse percurso, por esses países, o senhor encontrou muitas diferenças entre eles ou podemos afirmar que existe uma identidade africana comum?

(FL): Foi um total de 18 anos que eu completo agora no dia 18 de Outubro, completo 18 anos de África e olha eu posso dizer que nada é mais distante do estereótipo de que África é uma coisa única, do que a realidade que eu vi nesses 18 anos, pelos 27 países que eu Visitei. O continente é muito diverso, tanto em termos de população, de língua, de religião, de formação cultural, mesmo na geografia.

Cada canto te surpreende de maneira positiva, você tem países que são subtropicais e de uma beleza impressionante como a Suazilândia, hoje Essuatíni e Moçambique, a costa do Índico tem praias belíssimas, na Tanzânia no Quénia e Moçambique, a ilha de Bazaruto, Zanzibar, a ilha de Máfia, são lugares espetaculares e a savana a natureza, os parques nacionais, é uma região muito, muito bonita e de muita diversidade.

O que nós vemos é o estereótipo que a gente tem e que é transmitido pela mídia, é o estereótipo que eu estou sentindo, é a realidade que eu vivo aqui, a Nigéria concentra, praticamente todos esses estereótipos de uma África com problemas, de uma África riquíssima, Lagos, a Nigéria é a maior economia do continente e, a cidade de Lagos, tem o oitavo PIB da África.

Então existe muita riqueza e ao mesmo tempo muita pobreza, muitos problemas, tudo o que a gente vê na mídia. Mas não é só isso, o continente é muito complexo e a meu ver é o continente do Futuro, é o único continente que vai apresentar crescimento e que tem a capacidade de alimentar o mundo no futuro.

 

(MA): De facto, concordo consigo sobre estes estereótipos que se fazem sobre África e é curioso verificar que um dos estereótipos mais comuns de África, é o cultural. E este estereótipo deve-se muito, curiosamente, há região onde está neste momento ou parte dela que tem a ver com os Iorubás, já que os Iorubás, são o maior grupo étnico-linguístico da África Ocidental e um dos maiores de África.

A sua influência no Brasil, é extremamente forte, a cultura Iorubá, não só deu origem ao Candomblé no Brasil, como também, já em 2018, o Rio de Janeiro foram os primeiros a reconhecer o Iorubá, como património imaterial. Será lícito dizer que o Brasil é o país não africano, mais próximo de África?

(FL): Olha Francisco, eu não tenho dúvida disso, a minha experiência aqui, é realmente, é muito interessante e intensa nesses laços e isso gera um soft power enorme para o Brasil aqui na Nigéria, porque a gente se sente em casa, eles se sentem muito confortáveis com os brasileiros, eles adoram viajar para o Brasil e a gente tem trabalhado para tentar aproximar isso.

Não só, através de maior conhecimento, de colocar as Organizações que representam a comunidade Iorubá no Brasil, em contato com instituições aqui na Nigéria, mas a tentar fazer coproduções de filmes, de programas de televisão, colaborações musicais, colaborações teatrais, em qualquer atividade artística que traga essas duas culturas mais próximas.

Você mencionou o Rio de Janeiro mas não é só isso, Salvador é considerada a capital Iorubá das Américas e Salvador também colocou a língua Iorubá, como língua oficial da cidade e é ensinada nas escolas públicas da cidade, então esses são tipos de iniciativas que trazem essas sociedades mais próximas.

No outro dia, no nosso evento de 7 de Setembro, eu recebi, não somente, o Oni de fé que é o líder religioso de toda a nação Iorubá, mas eu recebi também cerca de uma dúzia de Reis ou representantes de Reis, como o Rei do Benim que foi o terceiro chefe de estado a reconhecer a independência do Brasil, em 20 de Julho de 1824, antes mesmo de Portugal e do Reino Unido reconhecessem.

Ele só foi superado pela Argentina e Estados Unidos que reconheceram antes dele e ele não só reconheceu, como designou um embaixador e esse Embaixador representava o reino do Benim e outros 13 reinos que prestavam vassalagem ao Rei Osemwende naquela época.

Essas relações inclusive, pré-datam a Independência, o rei de Onim que é hoje a região de Lagos, já tinha o primeiro Embaixador que ele enviou para o Brasil, foi em 1770 quando um representante dele chegou a Salvador então capital da colónia e ele representava os interesses do reino de Onim junto à colónia brasileira.

Então, são relações históricas, culturais, muito fortes, com influências na nossa culinária, na nossa cultura, na nossa música, no nosso jeito de ser, na identidade nacional do brasileiro e eu, acredito que hoje no Brasil, pelo menos 20 milhões de pessoas poderiam buscar seus vínculos ancestrais, nessa, região da África.

 

(MA): Sr. Embaixador, curiosamente, quando iniciamos esta série de entrevistas, a primeira foi com Cleber Guarani que é o presidente do CIITTA que está por trás do projeto, Brazil-Nigeria Green Imperative, um projeto que visa impulsionar a pecuária nigeriana, aumentando a segurança alimentar do país.

Esse projeto que foi iniciado há alguns anos, trará muitos benefícios, tanto para a Nigéria quanto para o Brasil. Qual é avaliação que o senhor faz sobre esse projeto e quais os resultados que o senhor acha que esse projeto pode obter?

(FL): Olha, a iniciativa do Green Imperative, eu considero que seja a principal iniciativa brasileira na área de agricultura em todo mundo. É um projeto de 1.1 bilhão de dólares, para cinco anos. Ele começou a ser negociado, há sete anos atrás. Em 2019, foi finalmente assinado o acordo e agora, três anos após, toda a documentação foi finalmente assinada no começo desse ano.

O congresso aqui, demorou um ano para o estudar, o Ministério da Agricultura, demorou um ano para criar a infraestrutura interna para absorver a tecnologia que vai ser transferida pelo CIITTA, como mencionou aí o Cléber Guarani. Agora, no dia 8 passado, nós realizamos aqui em Lagos o fórum Empresarial Brasil-África, nós tivemos todo o módulo da manhã dedicada à agricultura.

O Cléber, teve a oportunidade de apresentar o nosso potencial agrícola e o potencial de transferência de tecnologia nessa área e nós tivemos a presença física, do ponto focal do governo nigeriano para a iniciativa, o Dr. Andrew Kwasari que é o assessor especial do vice-presidente da República para a agricultura.

O debate começou a ficar tão intenso que nós tivemos que cancelar algumas apresentações para a gente poder concluir, de tanto interesse que gerou na plateia essa questão da Agricultura.

Eu acho que o foco do Brasil, em primeiro lugar, essa conjuntura que nós vivemos hoje, com tantos desafios que que nos trouxeram, uma pandemia, seguida de um conflito na Europa, em países que tinham grande influência para a segurança energética alimentar do Mundo, eu acho que isso trouxe possibilidades para o Brasil e para o continente africano que a gente não pode deixar de aproveitar.

Nós temos que, de alguma maneira, cooperarmos o máximo possível, para que o Brasil e a Nigéria, como a maior economia da África, a gente seja um dos principais fatores de segurança alimentar e energética no mundo e eu acredito que o Green Imperative, seja o objetivo principal.

É que, 30 anos depois de feita a nossa revolução agrícola, a nossa revolução Verde, nós temos a capacidade de transferir para o continente uma tecnologia muito mais adequada para a realidade desses países, aqui principalmente, porque nós temos o mesmo clima a mesma geografia as mesmas culturas.

O objetivo é o Brasil, não continuar exportando, açúcar, arroz, algodão, carne, frango, produtos lácteos, para esses países, é que esses países tenham a nossa tecnologia, a gente prefere vender as máquinas e transferir a tecnologia e trabalharmos juntos para garantir a segurança alimentar do mundo.

 

(MA): Continuando de certa maneira na agricultura, está aqui um tema, quanto a mim, interessante que é a questão da fábrica da ureia agrícola da Dangote que iniciou recentemente as suas funções em Março e já deu um lucro de 130%, muito dele obtido através de vendas para o Brasil.

E não é a única empresa nesta situação, também temos a Indorama, temos a Notore, ou seja, o que eu vejo é que o mercado brasileiro absorve muito esta ureia nigeriana. Consegue me explicar qual é que é a importância da ureia nigeriana para o Brasil?

(FL): Olha a Nigéria desde 2015, vinha exportando ureia para o Brasil, mas em quantidades muito pequenas, 10, 15, 30 milhões de dólares, tinha sido o melhor ano. O Brasil é um país muito dependente desses insumos agrícolas o nosso consumo é o segundo maior do mundo e nós importamos 6 milhões de toneladas anuais de ureia.

E com isso, com a crise na Rússia que era o nosso segundo maior fornecedor, abriu-se essa oportunidade para a Nigéria ocupar esse espaço. É muito mais próximo a logística, é muito mais fácil e a existência do projeto da Dangote que apesar de ter sido aberto oficialmente em Março, já vinha produzindo e exportando para o Brasil, desde Outubro.

Então, eles no ano passado já exportaram 200 milhões de dólares em ureia para o Brasil e as empresas brasileiras, antes mesmo do conflito no leste europeu, já tinham começado. Eu comecei a receber consultas desde Julho do ano passado, para exportação de ureia.

Não sei se eles já sentiam que poderia ocorre essa crise, mas eu acho que pelo simples fato da entrada em produção de uma unidade de um milhão e meio de toneladas, abriria caminho a mais um cliente e que ajudaria a diminuir o preço no Mercado Global.

Não foi o que aconteceu a ureia nigeriana é a mais cara para nós, mas é a única disponível e, com isso, as estatísticas comerciais dispararam. Em 2020, nós tivemos um comércio um pouco acima de um bilhão. O comercio bilateral no ano passado, nós batemos quase dois bilhões e esse ano, só neste mês de Agosto, nós já chegamos a 1 bilhão e 800, com 600 milhões de exportação de ureia para o Brasil.

O Brasil hoje compra 60% da produção, não somente da Dangote, mas também da Notore, da Indorama e de uma menor que se chama Golden Resource.

Então é um mercado e isso é importante porquê? Primeiro já havia logística, os navios que trazem açúcar do Brasil estavam voltando vazios, então os navios cargueiros, a empresa quer dizer a Dangote é a principal compradora de açúcar é agora é a principal exportadora e eles usam a própria logística o que diminuiu o frete sensivelmente e aumenta o lucro deles.

Nós estamos a voltar agora ao nosso histórico déficit com a Nigéria que durou 30 anos. Nós tivemos um ano de superavit com a Nigéria e o nosso comércio chegou no auge a superar 11 bilhões de dólares e este ano, deve fechar, mantendo-se a média de exportação nos oito primeiros meses, nós devemos estar muito próximos dos 2 bilhões e meio de dólares em comércio com um superavit a favor da Nigéria acima do bilhão.

 

(MA): Sr. Embaixador, para finalizarmos essa parte da entrevista eu gostaria de fazer uma última pergunta sobre um tema complexo. O crescimento económico na Nigéria, está sendo feito de forma exponencial, no entanto o desenvolvimento social, aparentemente, não está acompanhando esse desenvolvimento. Isso é de fato uma realidade? E se sim, o que o senhor pensa que poderia ser feito para inverter essa tendência.

(FL): Olha infelizmente é. O crescimento hoje, os dados do último trimestre, surpreenderam os economistas, o crescimento foi de 3,6%. Infelizmente o país tem problemas estruturais em que um crescimento de 3,6% infelizmente não diminui a pobreza, ele simplesmente mantém o nível de riqueza porque o crescimento populacional é muito alto.

É tanto que eles passaram o Brasil no ano passado. No começo deste ano, em população, eles já são a sexta maior população do mundo e dizem que em 20 anos até vão passar os Estados Unidos e vão-se tornar, o terceiro país mais populoso do mundo.

Com essa velocidade de crescimento, a economia precisaria crescer a nível chineses da década passada, 10% ao ano, para poder começar a retirar as pessoas da pobreza. Obviamente já se sente um pequeno crescimento da classe média, já se sente uma demanda por turismo internacional que não existia há anos atrás, era só a elite que viajava, agora, você já consegue ver,

Com a pandemia e com a crise econômica, já vindo desde 2008, a Nigéria manteve esse crescimento acima de 3%. Mas graças, não ao setor básico da economia que era o petróleo, foi devido ao crescimento do setor de serviços, basicamente e, agora, mais recentemente, com a área de fertilizantes, quer dizer o sector Industrial também vem dando uma colaboração muito grande, mas é o setor de serviços que tem crescido.

A Nigéria tem aproveitado as oportunidades e, por exemplo, a África possui sete empresas unicórnio, sete empresas que em menos de cinco anos, atingiram o valor de mercado acima do bilhão de dólares, cinco estão na Nigéria, quatro aqui em Lagos.

É para você ver que o potencial dinamismo da economia a nível de empreendedorismo é muito elevado e o simples tamanho do mercado que vai atingir 400 milhões de dólares e 400 milhões de pessoas em 2050, vão tornar isso aqui, esse país, um dos principais motores do crescimento Mundial.

As grandes empresas vão ter de começar a prestar atenção à Nigéria. Não é à toa que a Microsoft acabou de inaugurar o primeiro centro de desenvolvimento de software aqui, com 500 Engenheiros num prédio moderníssimo. A Google trouxe o Cabo Equiano, para parar aqui em Lagos.

O consulado americano que está sendo construído aqui em Lagos vai ser o maior do mundo, a um custo de 560 milhões de dólares e será o ponto focal da entrada da Intranet do governo norte-americano para todo o continente Africano, então quer dizer esse setor de serviço de tecnologia, o setor bancário, o setor de start-ups, inclusive Agritex, isso tem demonstrado um crescimento muito grande.

A Nigéria tem hoje 5 mil start-ups que é 10 vezes mais que o segundo colocado que é o Quénia que tem 500 e se você somar África do Sul e todos nesse mesmo nível, África do Sul, Egito e quem possui 500 start-ups, você somando todas, o segundo, terceiro quarto, quinto, sexto, sétimo, na verdade não dá a quantidade de start-ups que existem hoje aqui no mercado nigeriano.

Então isso demonstra o dinamismo e demonstra o que é este segmento da nova economia. E também da economia criativa, poucas pessoas se dão conta que Nollywood, hoje é a segunda maior plataforma de lançamento de conteúdo no mundo e não é segunda depois de Hollywood, é segunda depois de Bollywood.

Hollywood já foi superada por Nollywood que produz mais de 800 filmes por ano e dominam o mercado em plataformas, como DStv que que atinge não só o continente africano, mas também o Oriente Médio.

Então é um uma coisa que os empresários brasileiros precisam acordar para a realidade do continente africano, não pensando no agora, eles tem de pensar de 2030 para frente. A realidade hoje, é dura, é difícil, aqui não é fácil fazer negócio, mas é preciso ter perseverança e entender o mercado e montar as suas estratégias.

Quem não colocar o pé agora, vai ter muita dificuldade de entrar em 2030, quando isto aqui for um dos maiores mercados em expansão do mundo. São uma das coisas que a gente mais discute com os empresários, quando eles nos procuram para falar sobre a África.

Esse foi o foco, essa foi a mensagem que eu tentei passar no evento do dia 8 que foi o primeiro Business Fórum realizado aqui em Lagos, nos últimos 10 anos, entre empresários brasileiros e nigerianos e eu tive a felicidade de ter a presença física da Fusion, com quatro pessoas, da Positivo BGH, da Embraer e outros empresários menores do Rio de Janeiro.

 

(MA): De facto, África vai ser o futuro, nós estamos a ver este crescimento exponencial, não só na Nigéria. Nós estamos a ver por exemplo a África do Sul a transformar-se na nova silicon valley, estamos a ver outros países africanos a despontarem e a crescerem de uma forma que acho que o resto do mundo ainda não se apercebeu.

Até a nível das novas energias. Quer dizer. África neste momento tem os países que menos poluem, é o continente que menos polui e é o que mais cresce em energias renováveis.

Portanto, vai ser de fato o continente do futuro e eu acho que o resto do mundo não está preparado para isto porque sempre vem África como os coitadinhos que foram os nossos colonizados, são os pobrezinhos coitados, não são ninguém e, de repente, vão-se deparar com isto e não vão saber de onde é que vai sair. E é um facto, quem não apanhar o barco agora, vai ficar para trás, isso não há dúvida.

(FL): Na verdade Francisco, o que eu vejo, assim pelo menos é o meu ponto de vista, a África é muito diversa e as informações que chegam às vezes não são as informações verídicas ou fidedignas, o continente é enorme, nós estamos falando de 54 países e só chegam informações de quatro ou cinco.

Quem demorar para mudar não vai conseguir aproveitar todas as possibilidades no futuro. É muito importante, ter uma estratégia para o futuro, os chineses já viram isso, os turcos já viram isso, os coreanos já viram isso, todos têm uma estratégia para daqui 10 anos, os nossos empresários precisam acordar e começar realmente a olhar para o continente com mais interesse, focando mais nas possibilidades do que nos desafios.

 

(MA): Eu acho que é uma questão de posicionamento também, Sr. Embaixador, começa com uma estratégia de governo talvez com uma aliança com todas as embaixadas e informação bilateral.

(FL): Sim, porque a gente tem que ver a fonte. Por exemplo, se você pega dados de fontes que que cuidam de ajuda humanitária, é óbvio que eles vão querer carregar nas tintas, para inclusive facilitar os doadores colocar muito dinheiro, mas não é isso a gente tem que aproximar os nossos setores privados, o pessoal que produz, o pessoal que compra, para eles verem que existe potencial.

Eu acho que os empresários que vieram aqui, ficaram muito surpresos com a cidade. Obviamente é uma cidade monstruosa, ela tem muitos problemas, mas ela também tem coisas que você não acredita que exista, uns edifícios modernismos, estruturas muito modernas, o sistema bancário que funciona por telefone, eu faço todos os pagamentos por telefone, então é uma economia moderna e todo mundo conectado.

As pessoas não têm ideia disso, é uma pena, a gente tem que fazer mais ações de promoção e divulgação para que as pessoas realmente conheçam o continente. Você só consegue quebrar essa narrativa com conhecimento com informação.

 

(MA): Sr. embaixador da nossa parte é tudo, muito obrigado por este tempo que nos disponibilizou e, quem sabe, até à próxima.

 

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Imagem: © 2022 Francisco Lopes-Santos 
Francisco Lopes-Santos

Atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

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Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santoshttp://xesko.webs.com
Atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.
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