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Sábado, Setembro 28, 2024

Marrocos: Escavada Civilização Com 5.000 Anos

Oued Beht, era uma comunidade distintamente africana, no entanto, as semelhanças culturais e comerciais com as civilizações ibéricas, reforçam a ideia de que esta civilização, desempenhou um papel fundamental na formação do mundo dessa altura.

Marrocos: Escavada Civilização Com 5.000 Anos


Foi desenterrada no Marrocos, uma das descobertas mais intrigantes da arqueologia africana: a civilização esquecida de Oued Beht, uma cidade antiga com cerca de 5.000 anos de existência.

Esta cidade, anteriormente desconhecida está a lançar uma nova luz sobre as civilizações pré-históricas do Norte de África e das suas interacções com outras culturas, incluindo as da Península Ibérica.

A descoberta, publicada na revista da Universidade de Cambridge, Antiquity, vem reformular a nossa compreensão das primeiras civilizações africanas e o seu papel no desenvolvimento das rotas comerciais do Mediterrâneo.

Com artefactos que sugerem uma civilização sofisticada e evoluída, esta antiga cidade neolítica do Marrocos, abre novas perspetivas sobre a história de África e da sua importância no panorama global da época.

 

Uma Cidade Perdida no Tempo


Imagem: © 2024 Toby Wilkinson (20240926) Marrocos: Escavada Civilização Com 5.000 AnosA cidade de Oued Beht, situada a aproximadamente 100 quilómetros do interior da cidade de Rabat, Marrocos, era uma das maiores cidades da sua época em África, exceptuando as das áreas da bacia do Nilo.

A sua localização, próxima de um rio que desagua no Oceano Atlântico, fez de Oued Beht um importante ponto de comércio, permitindo à cidade estabelecer relações com outras civilizações, incluindo as da Península Ibérica. Aqui, através de escavações minuciosas, a equipa de investigadores descobriu vestígios de uma sociedade altamente sofisticada e organizada.

Entre os achados mais significativos de Oued Beht, no Marrocos, estão cerâmicas, ferramentas de pedra e vestígios de animais domesticados, como ovelhas, cabras e porcos. Estes elementos indicam que os habitantes da região eram pastores e agricultores, o que lhes permitia sustentar uma população relativamente grande e estável.

 

A Redescoberta de Oued Beht


A civilização de Oued Beht foi, em grande parte, esquecida pela história. Embora alguns artefactos tenham sido descobertos na década de 1930, em escavações anteriores, nesta região do Marrocos, foi apenas recentemente que a investigação arqueológica sistemática revelou a verdadeira importância deste local.

As escavações mais recentes trouxeram à luz uma vasta coleção de artefactos, incluindo machados de pedra, cerâmica e evidências de estruturas muradas que indicam um nível avançado de organização social.

Os arqueólogos acreditam que o local foi utilizado intensamente durante um período de cerca de 500 anos, entre 5.400 e 4.900 anos atrás. Esta cronologia coloca Oued Beht como um dos principais centros urbanos do Neolítico em África, numa época em que as civilizações do Mediterrâneo estavam a florescer.

 

Trocas Com a Península Ibérica


Imagem © 2024 Lorena Lombardi & Moad Radi (20240926) Marrocos Escavada Civilização Com 5.000 AnosUm dos aspetos mais fascinantes da descoberta de Oued Beht é a prova de que esta civilização mantinha laços comerciais com a Península Ibérica, atravessando o Estreito de Gibraltar.

Os arqueólogos encontraram artefactos típicos de outras civilizações neolíticas e fossas, semelhantes às encontradas em Espanha. Estas fossas eram provavelmente usadas para armazenamento de alimentos ou eliminação de resíduos, reforçando a ideia de um intercâmbio contínuo entre a região do actual Marrocos e a Península Iberica.

Além disso, artigos como marfim e ovos de avestruz, comuns em Oued Beht, foram também descobertos em sítios arqueológicos ibéricos, o que sugere um comércio activo e uma partilha de bens e ideias. Estes indícios reforçam a teoria de que, mesmo na Pré-História, o Mediterrâneo e o Atlântico já eram rotas importantes para a troca de produtos e cultura.

 

O Impacto da Geografia


A localização geográfica de Oued Beht desempenhou um papel crucial no desenvolvimento desta antiga civilização do Marrocos. Situada perto de um rio, a cidade tinha acesso directo ao Atlântico, o que teria facilitado o transporte de mercadorias e a interacção com outras culturas costeiras.

A proximidade com o Estreito de Gibraltar teria, igualmente, permitido trocas comerciais frequentes com o sul da Península Ibérica e, possivelmente, outras partes do Mediterrâneo. No entanto, o facto de Oued Beht estar protegida pela Cordilheira do Atlas pode ter limitado as interações terrestres com outras civilizações do interior de África.

Esse contratempo, não impediu que a cidade florescesse como um centro cultural e económico, com fortes laços além-mar. A presença de artefactos semelhantes em ambos os lados do Mediterrâneo, levanta questões sobre o desenvolvimento das capacidades náuticas desta civilização.

 

A Sustentabilidade de Oued Beht


Embora muitos artefactos indicativos de uma sociedade organizada tenham sido encontrados em Oued Beht, uma das ausências mais notáveis é a falta de ferramentas específicas para a colheita.

Este facto levantou questões entre os investigadores que consideram a possibilidade de as colheitas terem sido feitas manualmente, sem o uso de utensílios sofisticados. No entanto, os vestígios de animais domesticados sugerem que a pecuária desempenhava um papel significativo na economia local.

Além disso, a existência de fossas para armazenamento de alimentos indica que a produção agrícola era suficientemente robusta para sustentar a população da cidade durante um longo período de tempo, em situações de crise ou carência.

 

Outras Civilizações Neolíticas


Imagem © 2015 MehmetO - Alamy Stock Photo (20240926) Marrocos Escavada Civilização Com 5.000 AnosO tamanho e a importância de Oued Beht colocam-na ao lado de outras grandes cidades neolíticas, em termos de dimensão e influência, como por exemplo Troia. Durante o seu apogeu, a cidade era uma das maiores da África pré-histórica e, possivelmente, a maior fora da bacia do Nilo.

A civilização, era uma comunidade distintamente africana, no entanto, as semelhanças culturais e comerciais com as civilizações ibéricas, reforçam a ideia de que Oued Beht, desempenhou um papel substancial na formação do mundo social do seu tempo, tendo um papel central nas redes de troca neolíticas que atravessavam o Mediterrâneo e o Atlântico

Outro especto importante desta descoberta, efectuada no Marrocos, é o de ela desafiar a noção tradicional de que as zonas costeiras do Magrebe, durante este período, eram demasiado áridas para sustentar grandes populações.

O Professor Cyprian Broodbank, da Universidade de Cambridge, tem sido um crítico dessa teoria há décadas. No seu estudo mais recente, ele apresenta agora evidências concretas de que a região teve um papel crucial nas redes comerciais e culturais do Mediterrâneo pré-histórico, contrariando a ideia de isolamento e infertilidade da área.

 

A Importância de Oued Beht


Os investigadores que estudam Oued Beht acreditam que a cidade deve ser vista como parte de um quadro mais amplo que abrange as culturas interligadas de ambos os lados do Mediterrâneo e do Atlântico durante o quarto e terceiro milénios a.C.

Esta interligação cultural e comercial entre as margens do Mediterrâneo sugere que Oued Beht não era uma civilização isolada, mas sim um participante activo no desenvolvimento das primeiras redes de troca.

Oued Beht demonstra que as civilizações africanas, muito antes do surgimento do Egipto faraónico, já desempenhavam um papel crucial no comércio e nas interacções culturais que moldaram o mundo antigo. Esta descoberta sublinha a importância de continuar a investigar a história antiga do Norte de África, uma região ainda pouco explorada, mas repleta de potencial para revelar novos capítulos da história Mundial.

 

Conclusão


Esta descoberta efectuada no Marrocos, vem provar que já existiam grandes civilizações africanas anteriores ao surgimento das superpotências, como o Egipto faraónico. Ao revelar uma cidade com extensas ligações comerciais e culturais com o Mediterrâneo, esta investigação prova que o desenvolvimento das primeiras sociedades complexas em África, não estiveram limitadas à bacia do Nilo.

Outro aspecto importante desta descoberta é o de se provar que as civilizações africanas desta época não eram isoladas ou secundárias em relação às do Mediterrâneo. Na verdade, a sofisticação do comércio e a diversidade de artefactos encontrados em ambos os lados do Estreito de Gibraltar indicam uma civilização capaz de navegar o Atlântico e estabelecer relações intercontinentais.

A descoberta de Oued Beht faz com que se revejam os nossos pressupostos sobre a influência africana nas civilizações mediterrânicas e a evolução das primeiras sociedades comerciais. À medida que mais investigações forem feitas, é provável que Oued Beht continue a fornecer informações valiosas sobre a complexidade e a interligação das civilizações antigas do Mediterrâneo.

 

O que achas desta importante descoberta arqueológica no Marrocos? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.

 


Imagem: © 2024 Toby Wilkinson
Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santos

Atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

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Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santoshttp://xesko.webs.com
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