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Domingo, Abril 28, 2024

Povos de África: Turkana, os sobreviventes

Os Turkana são, sem dúvida, um testemunho da incrível capacidade de adaptação e resistência humana.

Povos de África: Turkana, os sobreviventes.

Conheces os Turkana? Não? Então vais ficar a conhecer.

África é um dos continentes com alguns povos que ainda mantêm as suas culturas intactas, ou quase.

Hoje, continuamos a série de vários artigos, sobre alguns destes povos de África (mas muito poucos) que conseguiram preservar as suas culturas intactas durante séculos.

Em áreas remotas e planícies ricas do continente, existem grupos de pessoas que continuam a viver pacificamente, sem depender de nenhuma das invenções que o mundo moderno tanto valoriza.

Trazemos aos nossos leitores algumas dessas comunidades cujas tradições, costumes e modo de vida têm resistido surpreendentemente ao teste do tempo e à força arrebatadora da modernização.

Embora discutível para uns, não podemos deixar de reconhecer a coragem dos que continuam a viver da maneira que os seus antepassados viveram há gerações.

 

Os Turkana

Os Turkana, são uma comunidade de pastores seminómadas. Habitam o distrito de Turkana, no noroeste do Quénia. São parte integrante do extenso grupo dos Nilóticos, onde se inserem também, entre outros, os Maasai.

Este povo destaca-se pela sua resistência e habilidade de sobrevivência em condições adversas, suportando temperaturas que alcançam facilmente os 45 graus Celsius. Com uma população estimada em 350.000, a história dos Turkana é rica e pode ser seguida até ao Uganda, de onde migraram para o Quénia há cerca de 400 anos.

Ainda hoje, mantêm tradições ancestrais, valorizando o gado como símbolo de riqueza e fonte de alimento e medicamentos. A sua resistência a condições climáticas severas é extraordinária, mas também sobreviveram à colonização britânica e conseguiram manter as suas crenças religiosas.

 

Resistência num Ambiente Árduo

Imagem © 2015 Gwenn Dubourthoumieu (20230610) Povos de África, Turkana, os sobreviventes

A vida dos Turkana é uma narrativa de sobrevivência. Ao migrarem de uma região conhecida no Uganda, para uma completamente desconhecida no Quénia, revelaram uma capacidade de adaptação a novas condições e demonstraram coragem para enfrentar os desafios que um ambiente geográfico desconhecido pode oferecer.

A sociedade Turkana, tal como muitos outros grupos da região, atribui uma grande importância ao gado. Este não só representa um símbolo de riqueza, como também desempenha um papel crucial no sustento diário.

O gado fornece alimento, nomeadamente através da gordura animal, que é uma parte essencial da dieta. Adicionalmente, a gordura animal é também usada como base para a produção de medicamentos, sublinhando a versatilidade destes animais na vida dos Turkana.

A resistência dos Turkana manifesta-se não só na sua capacidade para prosperar num ambiente adverso, mas também na sua habilidade para extrair do mesmo os recursos necessários para a sua sobrevivência.

A sua longa história nesta região tem sido um testemunho da sua capacidade de adaptação e sobrevivência, até mesmo em condições que a maioria consideraria inabitáveis. Esta capacidade extraordinária revela uma força e determinação que são, sem dúvida, admiráveis.

Ao longo dos séculos, os Turkana têm enfrentado os desafios que o ambiente seco e árido lhes apresenta. No entanto, conseguiram não só sobreviver como prosperar. As suas habilidades e conhecimentos passaram de geração em geração, permitindo-lhes manter uma vida sustentável no que muitos considerariam um ambiente hostil.

Os Turkana são, sem dúvida, um testemunho da incrível capacidade de adaptação e resistência humana.

 

Poderio Militar e Riqueza

Imagem © 2009 Nadia Ferroukhi (20230610) Povos de África, Turkana, os sobreviventesO respeito que os Turkana recebem até hoje, é em grande parte resultado da sua força militar e da riqueza acumulada durante décadas de conflitos com tribos vizinhas. Este povo tem uma história marcada pela luta pela posse das vastas planícies do Norte de Turkana, conflitos esses que culminaram na aquisição e consolidação de um território significativo.

A superioridade militar dos Turkana não é fruto do acaso. Deve-se, em parte, à implementação de táticas de guerra superiores, que lhes permitiram superar com êxito outros grupos. Adicionalmente, o uso de armas melhores e uma organização militar eficaz contribuíram para o seu domínio na região.

Por volta do ano 1600, a bacia de Turkana estava completamente sob o domínio dos Turkana e dos seus aliados. Este feito ilustra a sua habilidade para manobrar no campo de batalha, a sua persistência e o seu poderio militar. Apesar de ser uma época marcada por conflitos, também havia períodos de paz entre os Turkana e as tribos vizinhas.

No entanto, os desafios para os Turkana não se restringiram a disputas locais. Também tiveram de enfrentar ameaças externas, como invasões de árabes e comerciantes de marfim. Nestes cenários, os Turkana também demonstraram a sua capacidade de luta e a sua habilidade para proteger o seu território e o seu povo.

Os conflitos só se intensificaram com a chegada dos colonizadores europeus, que trouxeram consigo novas dinâmicas e desafios. No entanto, até esse ponto na história, os Turkana já haviam construído um legado de força militar e riqueza que lhes permitiu resistir e enfrentar as mudanças que estavam por vir.

 

Resistência à Colonização

Imagem © DR (20230610) Povos de África, Turkana, os sobreviventesA chegada dos colonizadores europeus, sobretudo os britânicos, veio adicionar uma nova camada de complexidade à já tensa situação de conflitos que se vivia na região. Apesar das ameaças e desafios introduzidos por esta nova força invasora, os Turkana mostraram-se resolutos na defesa do seu território e cultura, exibindo uma resistência tenaz e duradoura ao domínio estrangeiro.

A ferocidade e persistência dos Turkana fez com que a presença britânica na região se tornasse passiva, discreta e esporádica, um testemunho da determinação deste povo em manter a sua autonomia e liberdade. Com o desencadear da Primeira Guerra Mundial, parte do território Turkana acabou, no entanto, sob administração colonial.

Mesmo neste período turbulento, os Turkana mantiveram-se firmes, chegando mesmo a combater ao lado dos britânicos contra a invasão italiana durante a Segunda Guerra Mundial. Esta aliança bélica colocou-os na linha da frente do confronto com os italianos, quando estes tentaram invadir a Etiópia.

O fim da Segunda Guerra Mundial não trouxe paz imediata para os Turkana. Com o receio de revoltas e levantamentos armados, os britânicos lideraram campanhas de desarmamento em Turkana, levando a grandes expropriações de terras e gado. Apesar de tudo, os Turkana conseguiram manter a sua identidade e resistência, preservando a sua cultura e tradições numa era de mudanças e desafios.

 

Cultura e Tradições dos Turkana

Imagem © Nadia Ferroukhi - Hans Lucas (20230610) Povos de África, Turkana, os sobreviventesMesmo diante das adversidades e transformações introduzidas pelo período colonial, os Turkana mantiveram firmes as suas tradições e crenças religiosas.

Profundamente devotos, adoram uma divindade conhecida como Akuj. As suas preces são dirigidas a este ser superior, seja directamente ou por meio de intermediários. A religião é uma componente essencial da vida dos Turkana, fundamentando a moral, os valores e os costumes deste povo.

A transmissão de tradições e crenças de geração em geração tem assegurado a continuidade desta rica cultura ao longo dos séculos. Este forte sentido de identidade e pertença tem sido fundamental para a sobrevivência dos Turkana, ajudando-os a superar os inúmeros desafios que a história lhes tem colocado.

Apesar das expropriações de terra e gado, das alterações sociopolíticas e da marginalização enfrentada, o povo Turkana conseguiu preservar a sua identidade cultural. Este feito é um testemunho da sua força e resistência, bem como um legado para as gerações futuras.

 

Conclusão

Os Turkana são um exemplo notável de resistência e perseverança. Apesar dos desafios climáticos, conflitos e colonização, conseguiram manter a sua cultura, tradições e crenças intactas. A sua história é um testemunho do seu espírito de luta, da sua capacidade de adaptação e sobrevivência num ambiente inóspito, e da importância da preservação cultural no contexto de uma globalização crescente.

 

O que achas da história dos Turkana, e da sua capacidade de resistência às adversidades? Queremos saber a tua opinião, a tua interação é crucial para continuarmos a fornecer conteúdo relevante. Por isso, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto” e, claro, continua a seguir a nossa série de artigos sobre os Povos de África.

 

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Imagem: © DR
Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santos

Ex-atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

Francisco Lopes-Santoshttp://xesko.webs.com
Ex-atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.
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