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Quarta-feira, Novembro 19, 2025

De Beers: Angola Aposta No Controle Maioritário

Entre o silêncio dos bastidores e as luzes da ribalta mundial, Angola prepara uma jogada histórica: disputar o controle maioritário da mais poderosa empresa de diamantes do planeta. Se vencer, o continente poderá, pela primeira vez, reescrever as regras de um império que durante séculos lhe escapou das mãos.

De Beers: Angola Aposta No Controle Maioritário


A De Beers poderá em breve ter um novo protagonista no seu destino: Angola que emerge como um dos principais candidatos a adquirir uma participação maioritária na histórica gigante diamantífera. Esta jogada ousada promete redefinir o panorama mundial dos diamantes, à medida que a Anglo American, detentora de 85% das acções da multinacional, avalia as propostas.

Luanda, com uma oferta totalmente financiada, expressa confiança na concretização deste desejo. Esta iniciativa transcende uma mera transacção comercial; representa um passo estratégico e visionário para os países africanos produtores de diamantes que ambicionam um controlo mais significativo sobre a riqueza extraída do seu próprio solo.

A possibilidade de uma frente pan-africana liderada por Angola para dominar esta indústria secular é um testemunho da crescente aspiração do continente em moldar o seu próprio destino económico, garantindo que os benefícios da extracção de diamantes sejam devidamente canalizados para o desenvolvimento das nações produtoras.

Esta é uma história de soberania económica, ambição e a procura por um futuro mais justo no mercado mundial de pedras preciosas.


A Proposta Angolana


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Imagem © 2008 DR

Em Setembro do corrente ano, Angola, através da sua Empresa Nacional de Diamantes (Endiama), submeteu uma oferta substancialmente financiada para adquirir as acções da Anglo American na De Beers.

Jânio Corrêa Victor, secretário de Estado para os Recursos Minerais, expressou publicamente a confiança de Angola neste processo, realçando o desejo do país de adquirir uma parte significativa da De Beers.

Este movimento estratégico teve como principal objectivo a formação de uma frente unida entre as nações africanas que são os maiores produtores mundiais de diamantes, para assegurar o controlo desta poderosa multinacional. Inicialmente, a intenção de Angola era adquirir uma participação minoritária estratégica, propondo um consórcio com outros produtores africanos, como o Botswana.

A preocupação central do executivo angolano reside na possibilidade de a De Beers cair em mãos especulativas, o que poderia comprometer o tratamento adequado e a valorização do diamante natural, em detrimento dos feitos em laboratório. Além de Angola, países como o Botswana, a Namíbia e a África do Sul figuram entre os líderes africanos na produção de diamantes.

Em Outubro, a Endiama elevou a sua proposta, visando agora a totalidade da participação da Anglo American, intensificando a disputa pelo controlo da maior empresa de diamantes do mundo.

Esta mudança de estratégia reflecte a crescente ambição de Angola em consolidar a sua posição como actor principal no mercado mundial de diamantes, impulsionada pela sua liderança na produção de diamantes de valor acreescentado em África, superando o Botswana pela primeira vez em duas décadas e pela recente descoberta de novos campos de kimberlito.


Disputa e Estratégia de Mercado


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Imagem © 2010 DR

A proposta angolana para a aquisição da participação da Anglo American na De Beers não só desafia outros pretendentes, incluindo o vizinho Botswana, detentor de 15% da De Beers, como também sinaliza uma profunda mudança nas ambições de Luanda.

A oferta actual da Endiama, conforme revelado pelo seu director executivo, José Manuel Ganga Júnior, à Bloomberg em Luanda, é “concreta e bem definida”, visando a totalidade da participação de 85%.

Esta escalada coloca Angola em concorrência directa com o Botswana, onde a De Beers concentra a maior parte da sua actividade extractiva e cujo presidente, Duma Boko, considera o aumento da sua participação para obter uma posição mais controladora, como uma “questão de soberania económica”.

Apesar da concorrência, a Endiama expressa a esperança de que Angola “chegue a um entendimento” com o Botswana, sublinhando que a De Beers é “uma empresa tão grande que acreditamos que há espaço para vários parceiros”.

A motivação de Angola vai além da mera propriedade, procurando especificamente explorar a tecnologia mineira proprietária da De Beers e o seu abrangente sistema de marketing mundial.

Estes são factores cruciais que, na visão de Ganga Júnior, permitirão a Angola dar “passos maiores em frente” no desenvolvimento da sua indústria diamantífera, integrando-se verticalmente na cadeia de valor dos diamantes, desde a extracção até à comercialização global.


Visão Pan-Africana


(20251031) De Beers Angola Aposta No Controle Maioritário
Imagem: © 2019 Rio Tinto

A iniciativa angolana insere-se na reestruturação da Anglo American, que pretende alienar a sua participação na De Beers. Embora vários grupos de investidores, incluindo antigos executivos da empresa, também tenham manifestado interesse, a oferta de Angola destaca-se pela sua visão de uma parceria pan-africana.

Esta abordagem, defendida como um pilar fundamental da proposta pelo Ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás, Diamantino Pedro Azevedo, visa garantir a independência e a competitividade internacional da empresa.

Angola propõe um modelo de propriedade diversificada e sustentável a longo prazo, com convites formais ao Botswana, Namíbia e África do Sul para integrarem o projecto em posição de destaque, acreditando que o futuro da De Beers depende da sua continuidade como uma empresa mundial liderada pelo sector privado.

A sua proposta procura assim assegurar o crescimento sustentável e a longo prazo da De Beers, garantindo que nenhuma parte detenha domínio exclusivo e que a empresa possa evoluir como uma entidade comercial verdadeiramente internacional e competitiva. A Endiama, entidade estatal angolana responsável pela prospecção, exploração e comercialização de diamantes, é fulcral nesta estratégia.

A aposta na diversificação, industrialização e valorização dos minerais visa transformar a indústria diamantífera angolana, elevando a sua influência e rentabilidade. A empresa reafirma ainda a sua disponibilidade para colaborar com governos e investidores privados para manter a De Beers independente e globalmente competitiva.

A intenção de Luanda, salientada por José Manuel Ganga Júnior, é explorar a tecnologia de mineração proprietária da De Beers e o seu sistema de marketing mundial. Isto demonstra uma visão estratégica de integração vertical na cadeia de valor dos diamantes, desde a extracção até à comercialização global, consolidando a sua posição no mercado.


A Ascensão de Angola


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Imagem: © 2022 Francisco Lopes-Santos

A estratégia de Angola para adquirir a De Beers está intrinsecamente ligada à sua ascensão como uma potência diamantífera em África. O país tem vindo a consolidar-se como uma fonte atractiva de diamantes brutos de qualidade gema, o que reforça a sua posição estratégica no mercado internacional.

Em 2024, Angola já era um dos maiores produtores mundiais de diamantes e o único país a inaugurar uma nova mina de classe mundial nos últimos quinze anos, um feito que atesta o seu histórico comprovado de crescimento e o seu compromisso estratégico com o sector diamantífero como um pilar da economia nacional.

Este sucesso é ainda mais notável considerando a recente descoberta de um novo campo de kimberlito em Angola, fruto de uma joint-venture com a própria De Beers, o que reforça a confiança no potencial diamantífero nacional.

A consultora Oxford Economics previu, em Setembro que Angola manteria a liderança africana no sector da produção de diamantes em 2025, com uma produção esperada de 16,1 milhões de quilates, à frente do Botswana, com 15,1 milhões de quilates previstos.

Esta diferença pode ser ainda maior se as minas do Botswana permanecerem encerradas por um período prolongado, como se encontram de momento. Contudo, os analistas alertam que o aumento da produção não se traduz necessariamente num ganho significativo.

O valor das vendas de diamantes em Angola já superou o do Botswana no ano passado e as mudanças estruturais no sector, com o aumento dos diamantes produzidos em laboratório, colocam desafios, neste momento a Angola, para se vir a tornar uma potência diamantífera mundial.


Soberania e o Futuro


(20251031) De Beers Angola Aposta No Controle Maioritário
Imagem: © 2025 DR

A determinação de Angola em adquirir uma participação maioritária na De Beers transcende o mero interesse financeiro, encarnando uma visão estratégica de soberania económica e de controlo sobre os recursos naturais.

A ambição de Angola de controlar a De Beers é um reflexo do seu compromisso em valorizar os seus recursos minerais e em assegurar que a riqueza gerada pela extracção de diamantes contribua de forma mais directa para o desenvolvimento nacional.

A criação de uma frente pan-africana para gerir esta multinacional icónica não só fortalecerá a posição dos países produtores de diamantes no continente, mas também poderá servir de modelo para outras indústrias extractivas em África.

Este movimento audacioso é um reflexo da maturidade e ambição de Angola no cenário internacional, procurando um papel mais activo e influente na definição das regras do jogo.

Ao procurar acesso à tecnologia e à rede de marketing da De Beers, Angola demonstra uma compreensão profunda das dinâmicas do mercado mundial e a necessidade de inovação e integração para maximizar o valor dos seus recursos. A capacidade de Angola em liderar a produção africana de diamantes em valor, aliada a descobertas recentes, posiciona o país num patamar privilegiado para concretizar esta visão.

A eventual concretização desta aquisição poderá não só alterar o equilíbrio de poder no sector diamantífero, mas também inspirar outras nações africanas a assumirem um maior controlo sobre as suas riquezas, promovendo um desenvolvimento mais equitativo e sustentável para o continente.

A negociação com a Anglo American e a potencial colaboração com outros países africanos constituem um marco significativo na história económica de África, simbolizando uma nova era de autodeterminação e prosperidade partilhada. O processo de avaliação das propostas pela Anglo American está em curso e Angola aguarda com expectativa o desfecho, mantendo-se firme na sua confiança.


Conclusão


Mais do que uma operação de mercado, esta disputa simboliza o despertar económico de África. Angola, ao desafiar as estruturas estabelecidas e propor uma aliança continental, assume o papel de catalisador de uma nova ordem industrial. Se a De Beers nasceu como símbolo de poder colonial, o seu futuro pode ser moldado pelas próprias nações que outrora serviram de fonte às suas riquezas.

A conquista ainda não está decidida, mas uma coisa é certa: o continente africano já não quer apenas fornecer diamantes — quer lapidar o seu próprio destino.

 


O que achas desta proposta de Angola de adquirir 85% da De Beers? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.


 

Imagem: © 2022 Justin Lane
Francisco Lopes-Santos

Atleta Olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados, um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes, além de vários cursos de especialização em diversas áreas. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santoshttp://xesko.webs.com
Atleta Olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados, um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes, além de vários cursos de especialização em diversas áreas. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.
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