Banco Mundial Financia Países Lusófonos.
A Corporação Financeira Internacional, uma instituição do Banco Mundial, pretende aumentar o volume de financiamento nos países de língua portuguesa, como parte do compromisso da instituição com projetos no continente, afirmou o vice-presidente da instituição.
Numa entrevista à Lusa, Sérgio Pimenta explicou que:
“África é uma prioridade para a Corporação Financeira Internacional (CFI), especialmente nos países de língua portuguesa, onde ainda há uma carteira de clientes reduzida”.
Sérgio Pimenta participou na cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), realizada na semana passada em São Tomé e Príncipe, para dialogar com parceiros e promover a organização, que apenas trabalha com o setor privado, ao contrário do Banco Mundial, que apoia projetos públicos.
A CFI já possui um escritório em Moçambique, abriu um escritório em Angola há quatro anos e tem um novo ponto de ligação em Cabo Verde desde o início do ano.
“Nos últimos anos, investimos mais de 4 mil milhões de dólares (3,7 mil milhões de euros) nos países de língua portuguesa em África”.
“e a isso acrescentamos quase 1 mil milhão de dólares (920 milhões de euros) em linhas de curto prazo”, explicou.
A maioria dos projetos financiados está em Moçambique e, em menor medida, em Angola.
“Mas este ano, por exemplo, realizamos os nossos primeiros investimentos de longo prazo em Cabo Verde”.
“E estou muito entusiasmado por ver que, tanto em São Tomé e Príncipe como na Guiné-Bissau, agora temos oportunidades que acredito que se concretizarão nos próximos meses”.
“A Corporação Financeira Internacional é a instituição do Grupo Banco Mundial que apoia o desenvolvimento do setor privado”.
“Somos uma entidade legalmente separada, temos o nosso próprio balanço, angariamos os nossos próprios recursos financeiros no mercado e investimos esses recursos financeiros em empresas do setor privado em países em desenvolvimento”.
Explicou Sérgio Pimenta, observando que a organização também fornece apoio e conselhos a empresas ou governos em projetos de investimento ou gestão.
“No exercício financeiro agora terminado, disponibilizamos um financiamento recorde em África, com mais de 11 mil milhões de dólares (10,2 mil milhões de euros)”.
Um valor “nunca antes alcançado“, enfatizou, destacando que, em muitos casos, esses projetos são em países mais pequenos onde este financiamento é decisivo.
Empresas com projetos candidatos ou bancos que necessitam de complementar empréstimos de terceiros podem aceder ao financiamento. A CFI também estabelece parcerias com instituições de desenvolvimento.
No entanto, Sérgio Pimenta destaca que um dos principais focos da instituição é identificar fragilidades e procurar soluções de financiamento:
“Vemos um problema, vemos um problema de desenvolvimento que não foi resolvido, e dizemos ‘OK’, como encontramos uma solução?”.
Um exemplo disso foi o que foi feito durante a pandemia, quando a CFI apoiou a produção de vacinas em empresas africanas, como parte das prioridades das organizações internacionais para o continente.
“Prefiro investir em África do que em outro continente”.
Disse Sérgio Pimenta, que também elogiou o projeto de uma área de livre comércio continental.
Este projeto “irá mudar completamente o tecido empresarial do continente”, admitindo que o projeto levará “algum tempo“, como acontece em outras partes do mundo.
“O que acho interessante é que é principalmente um projeto político, mas depois é também um projeto económico”.
“E é um projeto ao qual as empresas africanas estão a aderir muito mais fortemente do que se pensava anteriormente”, disse.
Para que a área de livre comércio se concretize, é necessário resolver procedimentos internos, transporte e logística.
“Tudo isso precisa de ser simplificado”, considerou, argumentando que as empresas africanas estão cada vez mais a investir numa “dimensão intra-africana“.
Quanto a países como Angola ou Guiné Equatorial, cujas economias dependem muito da exploração de petróleo, Sérgio Pimenta considerou que “diversificar a economia é o que traz resiliência” aos países face às crises.
“É importante ter essa resiliência. É importante ter essa diversificação agora” que deve ser articulada a nível regional no continente.
“Um dos temas que estamos muito a incentivar é o que chamamos de cadeias de valor regionais“, procurando transformar as matérias-primas recolhidas não necessariamente no país de origem, mas a nível regional.
O objetivo é manter parte da cadeia de valor associada à exploração de commodities em cada região.