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Sexta-feira, Abril 26, 2024

África do Sul é o país onde se deve apostar

É bom ver que especialmente o Brasil que tem procurado sempre este tipo de intercâmbio comercial, em que não só chega a um país para explorar esse país, mas chega a esse país para o ajudar a desenvolver e a promover-se.

Entrevista Exclusiva a Mais Afrika do Sr. Ricardo Bernhard, conselheiro chefe do setor de promoção comercial da Embaixada do Brasil, em Pretória, na África do Sul.

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África do Sul é o país onde se deve apostar.

Nesta nona Grande Entrevista, ficamos a conhecer Ricardo Bernhard, conselheiro chefe do setor de promoção comercial da Embaixada do Brasil, em Pretória, na África do Sul, sem sombra de dúvida, um profissional de excelência conhece a fundo o seu trabalho e que soube passar claramente a sua mensagem.

A entrevista foi fantástica e foram abordados muitos assuntos com base na sua experiência.

Conversamos um pouco sobre a sua carreira, os direitos humanos não só a nível internacional como também dos indígenas brasileiros, onde ele esclareceu algumas verdades mal contadas pela maior parte da comunicação social.

Falamos também sobre a economia africana, sobre a sua trajetoria até chegar a África, sobre a importância do Brasil para o continente, sobre o comércio e das igualdades, mais do que das diferenças, entre o Brasil a África do Sul.

Também discutimos os problemas da saúde e das dificuldades que a África do Sul atravessa e, como não podia deixar de ser, do potencial económico que a África do Sul representa.

Falámos também da futura conferencia do BRICS que terá lugar na África do Sul e da sua importância comercial e internacional.

Resumindo, foi uma entrevista interessantíssima que vos aconselho a não perderem. Vejam-na no nosso Canal +Áfrika, ou leiam aqui a sua transcrição integral.

Leiam, assistam, sigam e partilhem a entrevista! Foi um enorme prazer fazê-la, espero que vos dê um enorme prazer acompanhá-la.

 

A entrevista

Mais Afrika (MA): Caro Ricardo, para começarmos a nossa entrevista e para que os nossos seguidores o ficarem a conhecer a melhor, peço-lhe que se apresenta e se dê a conhecer aos nossos seguidores.

Ricardo Bernhard (RB): Olá, boa tarde, a todos em primeiro lugar queria agradecer o convite, é uma satisfação participar dessa conversa com vocês.

Eu me chamo Ricardo Bernhard, eu entrei na carreira diplomática em 2009, trabalhei já em Brasília, na Embaixada do Brasil em Ottawa, no Canadá, e em Dublin, na Irlanda também. Faz três meses cheguei aqui há Embaixada do Brasil em Pretória, na África do Sul, onde sou o chefe de promoção comercial que é um setor que abrange também outras temáticas.

Além da promoção comercial estritamente dito, onde cuida também de temas de agricultura, de atração de investimentos e de promoção do Turismo e também de atenção ás empresas brasileiras que já estão instaladas aqui e é uma satisfação poder conversar com vocês um pouco sobre as relações Brasil e África do Sul no plano comercial de investimentos e outros assuntos porventura possam querer tratar.

 

 

(MA): Bom dia a todos, Bom dia Francisco, Bom dia Ricardo. Obrigada pelo aceite do nosso convite.

Ricardo nesse momento você está na Embaixada do Brasil em Pretória, como chefe do departamento comercial na África do Sul, mas antes você passou pelo Canadá e pela Irlanda que são três países aparentemente que não tem nada em comum, tendo em vista a sua experiência, você gostaria de nos dar um Panorama de diferentes diferenças comerciais entre eles?

(RB): Olha essa pergunta é bastante interessante porque me leva a pensar justamente em possíveis semelhanças entre esses três países. Eu acho que para além das diferenças de tamanho geográfico, de tamanho da economia, de história de construção social e política, existem sim uma porção de semelhanças, a começar por essa colonização ou domínio.

Dependendo do caso britânico que dá origem ao uso do inglês como uma língua padrão aos três países e o domínio britânico, colonização britânica, dependendo do caso dos países, também levou a essa curiosa convivência de diferentes línguas nos três países.

Canadá, pensado a realidade em inglês e francês, a Irlanda usa o inglês, mas também procura revitalizar a língua própria que chamam lá de irish ou gaélico e a África do Sul que é um território multicultural com diferentes povos, são 11 línguas oficiais determinadas na Constituição, então por aí já existem algumas semelhanças e, na pauta comercial, também existem semelhanças entre os três países.

Os três países são grandes produtores agropecuários e encontram na exportação de itens de agricultura de origem animal, uma das suas forças econômicas, mas também tem, também guardadas as devidas proporções e realidades nacionais, uma indústria bem montada, bem estabelecida.

A Irlanda tem uma manufatura mais avançada, já que nos últimos tempos tem implementado uma política de atração de investimentos, em área de alta tecnologia, então tem produtos farmacêuticos, de computação, tecnologia da informação, são importados por eles.

O Canadá tem uma indústria já sólida há muito tempo automotiva e de petróleo e, a exportação de petróleo, ou de grãos, por exemplo, é uma força do Canadá e a África do Sul também, como vocês sabem no continente africano é a economia mais diversificada, mais moderna, tem uma infraestrutura bastante robusta, sistema regulatório.

Mas também tem na agricultura uma peça importante da sua atividade econômica, então não tanto na proporção do PIB, 2% mais ou menos, mas emprega bastante mão de obra, 5% na mão de obra e, também, as relações comerciais, a exportação de produtos para África, para todo mundo, também é bastante importante, também me levou a pensar.

E, talvez seja uma realidade em todas as nossas relações bilaterais, mas há pequenos desentendimentos, eu diria, na área comercial, inclusive com esses três países. Eu passei primeiro pelo Canadá, onde existia essa, digamos, esse diferendo econômico, entre nossas indústrias aeronáutica, Bombardier no Canadá, Embraer no Brasil, então era uma disputa no terreno mais industrial.

Já na Irlanda o principal motivo de dificuldade, era a indústria da Carne. A Irlanda é um grande produtor de carne e o relacionamento Mercosul – União Europeia, a Irlanda tinha um setor produtivo de carne que levantava obstáculos ao acordo e, aqui na África do Sul.

Também temos, apesar do relacionamento ser positivo com esses três países, também temos o pequeno diferendo no terreno da carne de frango. A África do Sul é um grande produtor de carne de frango e o Brasil, atualmente, é o principal fornecedor de carne de frango. 66% das importações de frango da África do Sul, vem do Brasil.

Então estava achando, essa pergunta me levou a pensar, o que eu acho curioso, acho que é inevitável com todos os relacionamentos bilaterais de alguma maneira, pôr sobre todas as os laços econômicos e comerciais que nos unem também há sempre uma pequena rusga, um pequeno atrito, entre países.

Compete à Embaixada, procurar superar e encontrar maneiras de encontrar entendimentos, já que o comércio ajuda as duas partes, tanto compra como venda, exportação e importação.

Há benefícios muitos para ambas as partes nas duas operações, não é só exportar que é positivo, importar que é negativo, essa relação comercial traz benefício para ambas as partes, mas essa pergunta achei bastante interessante, por realizar na minha mente, assim essas diferenças e semelhanças, entre os três países.

 

(MA): Eu de facto, eu concordo que uma boa política comercial, é uma política win-win, ou ambas as partes ganham de forma igual, ou havendo um desequilíbrio não é benéfico.

Portanto, é bom ver que especialmente o Brasil que tem procurado sempre este tipo de intercâmbio comercial, em que não só chega a um país para explorar esse país, mas chega a esse país para o ajudar a desenvolver e a promover-se e eu gosto muito da política externa brasileira neste aspeto, porque é completamente diferente dos outros países.

Infelizmente, os outros países não se comportam desta maneira.

Bem, mas isso também me leva de certa maneira à próxima pergunta, porque entre 2021 e 2022, trabalhou no ministério das relações exteriores do Brasil, ligado aos direitos humanos e eu fiquei curioso com esta parte do seu currículo, pois acho muito interessante que os direitos humanos sejam respeitados no mundo inteiro.

Portanto e infelizmente isso não acontece, por isso gostaria que se possível, falasse um pouco dessa sua experiência neste departamento dos Direitos Humanos.

(RB): Com certeza Francisco, a nossa carreira diplomática tem essa característica que nos possibilita ter contato com diferentes temáticas, diferentes assuntos, eu tive essa satisfação de ter trabalhado na área de direitos humanos nos últimos 18 meses, lá em Brasília. É uma área extremamente interessante, enriquecedora na Perspetiva pessoal.

Tem diferente vertentes do nosso trabalho, lá em Brasília, na área de Direitos Humanos. Uma delas, me pareceu muito interessante, é a área multilateral e, como os fenômenos políticos cada vez mais, são levados com esse tabuleiro das discussões dos Direitos Humanos, tanto lá no concelho de direitos humanos, em Genebra, quanto na assembleia geral de Nova York.

Em outros fóruns multilaterais, a polarização, a busca de levar os direitos humanos a todos os territórios, a todos os países, põem os países naturalmente em conflito e esses conflitos, reverberam nos fundos.

Foi uma experiência muito interessante para mim, acompanhar e participar de alguma maneira, influenciar e ajudar a formar as posições do Brasil, nessas votações importantes que acontecem nos fóruns multilaterais e, há também uma outra dimensão dos direitos humanos que também tratamos lá em Brasília e essa em cooperação estreita com outros órgãos do governo federal.

Principalmente Advocacia Geral da União no Ministério da Mulher da Família dos Direitos Humanos, é o sistema interamericano, em que o Brasil é parte e há casos, tanto na comissão de direitos humanos interamericanos de direitos humanos, quanto na corte interamericanos e Direitos Humanos lá em São José.

Então o cidadão brasileiro, entra com ações para defender os seus interesses. A proteção de direitos humanos e o Estado, tem que responder e atender as recomendações que esses órgãos fazem, também então, a construção dessa defesa do estado brasileiro, mas também da implementação dessas decisões, é uma parte muito interessante do nosso trabalho e ela.

Ainda acho que dá uma Terceira Dimensão e é mais no plano interno, mas também é enriquecedora para mim que é a nossa participação nos conselhos de direitos humanos que existem dentro do Brasil, o Ministério das Relações Exteriores, tem acento em diversos conselhos, o mais importante deles, é o Conselho Nacional de direitos humanos CNDH.

Mas também participamos na CNPI, a ética da promoção da igualdade racial, de direitos das mulheres e foi muito interessante dessa perspetiva essa possibilidade de dialogar com a sociedade civil dentro desses órgãos, em defesa desse objetivo comum, tanto do governo, quanto da sociedade civil que promoveu os Direitos Humanos para todos.

Foi uma experiência muito enriquecedora e levo muitos aprendizados para o restante da carreira.

 

(MA): Já que falou dos Direitos Humanos a nível interno e também dos problemas raciais, gostaria de lhe fazer uma pergunta sobre um assunto, talvez um pouco melindroso, mas que ficou por falar e, também é considerado por muitos um pouco polémico.

Eu estou a falar do problema dos indígenas brasileiros. Pelo que se vê na comunicação social, especialmente fora do Brasil, os direitos humanos dos povos indígenas, têm sido literalmente atropelados.

O que pensa desta situação? É apenas um excesso da comunicação social, é uma realidade que não é tão má como se pinta no exterior ou, esta ideia de atropelamento dos direitos indígenas é verdadeira, ou mesmo sendo verdadeira não é tão grave como é falada?

Consegue esclarecer-nos sobre qual é a verdadeira realidade e a postura do governo em relação a este problema?

(RB): Existe sim esse desafio que o governo brasileiro não nega, reconhece, de proteção dos direitos indígenas, de guardar as terras indígenas e promover os seus direitos. É Um Desafio que a gente reconhece, mas o que acho que é importante ressaltar, é que o governo continua cada vez mais empenhado em alcançar políticas, em promoveu os direitos dos povos indígenas.

É importante notar que o Brasil, é boa parte do território brasileiro, é tem terras demarcadas para uso exclusivos dos indígenas e, são feitas operações com frequência, por parte da polícia federal, do Ministério da Justiça, dos órgãos competentes, para coibir atividades ilícitas nas terras indígenas e garantir a proteção dos direitos, agora a gente reconhece que é um território muito extenso.

Também é muitas vezes inóspito e a nossa capacidade de alcançar diretamente os povos e garantir os seus direitos, concretamente nas terras, muitas vezes é desafiado por ações Ilegais.

Mas não negamos, mas estamos empenhados sim, em garantir em promover, tanto no plano jurídico, no plano da regulamentação, tanto quanto no plano concreto das ações que o governo toma, para proteger o direito dos indígenas. Esse é o compromisso constitucional para nossa Constituição e prezamos, valorizamos, esse direito, o que eu poderia dizer.

 

(MA): Eu de facto acredito nisso, mas as razões de ter feito esta pergunta, é exatamente essa. Porque de facto, o que se passa cá para fora, é apenas o negativo e não se fala muito do direito indígena e eu sei que tem havido movimentos muito fortes no Brasil, em relação a isso e tem-se feito muito, mas infelizmente não é essa a imagem que passa para fora.

Por isso, como está um pouco ligado à área, quis fazer esta pergunta para ver se, pronto, poderia esclarecer também, um pouco isso e, se se dava uma visão um pouco diferente do habitual.

(MA): Bom, Ricardo, vamos direto ao foco da entrevista e vamos falar um pouco sobre África. A África do Sul É nesse momento uma das maiores economias do continente africano e é claramente uma porta de entrada, não só para a região Austral, onde temos os países irmãos como Angola e Moçambique, bem como para o resto do continente.

Só que a África do Sul, tem apostado muito no industrial e o Brasil está mais focado no agropecuário. Não seria o momento de a gente começar a pensar em investir em outras áreas comerciais?

(RB): Olha, Vanessa, o que eu diria, o que eu acho, é que não é preciso fazer uma escolha entre enfatizar a pauta agropecuária que temos muita vantagem comparativa, ou a pauta Industrial.

A pauta de serviços, acho que é possível sim, enfatizar em paralelo todas as diferentes vertentes da nossa pauta de exportações, eu acho que até o próprio relacionamento comercial que a gente tem com a África do Sul, traduz essa possibilidade de enfatizar diferentes setores.

Eu mencionei que o frango é muito importante, é o principal produto da nossa pauta de exportação para África do Sul, mas também há outros produtos industrializados que compõem nossa pauta, por exemplo: veículos, partes de veículos e equipamentos.

Principalmente maquinário agrícola, então é possível sim, conciliar diferentes ênfases e, eu acho que o governo trabalha nessa direção e isso se reflete aqui, no nosso trabalho direto na embaixada, diretamente essa busca de enfatizar diferentes setores, acho que é algo que pode ser, pode ser e deve ser, feito simultaneamente.

 

(MA): Claramente o maior concorrente de qualquer país no mercado africano é a China, na África do Sul isso não é excepção e tem vindo gradualmente a aumentar as exportações para o país. Por outro lado, a exportação brasileira tem vindo a decrescer. O que acha que poderá ou deverá ser feito para inverter esta situação.

(RB): Olha, Francisco, em primeiro lugar eu queria dizer que de fato nos últimos anos, o volume em geral, não só de exportações brasileiras, mas o volume da pauta comercial, regrediu um pouco em relação ao que já se tinha alcançado, digamos há oito 10 anos atrás.

Eu acho que isso é mais reflexo dos movimentos cíclicos da economia, tanto brasileira, quanto da África do Sul, círculo de negócios, momentos de maior crescimento, isso puxa a pauta comercial. Há momentos de refração econômica, isso afeta um pouco o relacionamento bilateral.

A pauta comercial e a pandemia em especial, fez decrescer significativamente as nossas trocas em 2020, mas já se observa assim, um movimento no sentido contrário, de crescimento, de novo, das exportações brasileiras principalmente, já que a nossa pauta bilateral com a África do Sul, é superavitária com o Brasil.

No entanto, só nos primeiros seis meses desse ano de 2022, nós já alcançamos, em volume de comércio, todo o volume que nós tivemos em 2021. Acho que são um sinal da recuperação das nossas trocas comerciais.

Nosso objetivo, é assim levar de volta aos patamares que a gente alcançou no passado, nem tão longínquo assim, 2010 2012 e levar de volta com esse patamar e crescer ainda mais.

Agora como que a gente poderia fazer aqui do ponto de vista, digamos da embaixada, primeiro eu te diria as ferramentas mais, o como estamos empenhados em fazer isso, das ferramentas mais tradicionais de promoção comercial.

Eu diria é atender com rapidez as demandas de exportadores e pessoas interessadas, empresas interessadas em vender e exportar para a África do Sul, atender com rapidez essas demandas, organizar feiras de vinda de empresas, para participar de feiras aqui na África do Sul, a publicação de estudos, como temos feito, publicação de estudos sobre carne bovina.

Divulgámos a pouco tempo, outro sobre máquinas agrícolas, já publicamos também, sobre o Setor da Indústria Farmacêutica, esses estudos, acho que ajudam o potencial exportador brasileiro, a ter uma visão mais exata, tanto das possibilidades potenciais do mercado, mas também dos aspetos tributários e regulatórios da entrada aqui no mercado sul africano.

Esse trabalho informativo, também passa para o exportador brasileiro, o cenário, o potencial as áreas mais promissoras. Acho que esse é o trabalho do dia a dia nosso aqui que pode de uma maneira crescente apoiar esse recrudescimento das exportações brasileiras.

 

(MA): Ricardo, o acordo comercial preferencial MERCOSUL-SACU, foi assinado entre 2008 e 2009 e entrou em vigor apenas em 2016. Esse acordo, tal como o nome indica, tem como base preferências fixas, em áreas específicas.

No entanto a África do Sul, desde o início pretende um acordo de livre comercio. Você acha que esse acordo, trouxe de fato vantagem para ambas as partes, ou um acordo de livre comércio entre os dois países, teria sido mais benéfico?

(RB): Olha Vanessa, eu acho que o acordo, ele traz mais de mil linhas tarifárias, de ambas as partes, preferenciais. Acho que é uma plataforma muito interessante para o exportador, tirando essas partes aproveitarem para entender mais os respetivos mercados, é um acordo recente, como você disse, está em vigor há menos de 10 anos e há esse desafio, acho.

A Embaixada também trabalha nesse sentido, está empenhada em resolver essa questão de aumentar o conhecimento, aumentar o conhecimento sobre o acordo. Acho que o acordo ainda não é suficientemente conhecido. Ainda, tanto do lado brasileiro quanto dos países integrantes, aqui da união aduaneira do sul da África.

Eu acho que há oportunidades que não são sendo suficientemente exploradas e, cabe a nós, passar essa mensagem para potenciais interessados e aos exportadores, aos setores específicos, ficarem atentos às possibilidades. Há pouco tempo eu participei de um evento, com o governo de Minas Gerais, especificamente sobre o setor de móveis.

Falámos aqui sobre as possibilidades do mercado e na preparação para esse evento, foi interessante notar que justamente um dos setores que se aproveitou bastante do acordo, foi o setor de móveis de madeira, com base nas preferências tarifárias que estão definidas no acordo.

As exportações brasileiras, cresceram bastante desde a entrada em vigor do acordo de preferência comerciais, acho que é esse tipo de exemplo que a gente deve ter em mente, para tentar fazer outros setores também votarem, perceberem as vantagens abertas, pelo acordo que pode servir como plataforma, de fato, para acordos ainda mais ambiciosos no futuro.

Acho que é do interesse do MERCOSUL, é do interesse da SACU, é uma questão simplesmente de encontrar entendimentos e discutir detalhes, tanto da perspetiva técnica, quando chegasse entendimentos mais no âmbito político, para dar lastro para um acordo ainda mais ambicioso que cria bases com relacionamento ainda mais sólido para ambas as partes.

Mas a mensagem que eu queria aproveitar, até para passar para potenciais compradores e empresas no Brasil, é essa. Estão à disposição, aqui no SECOM de Pretória.

É para dar mais detalhes sobre o acordo tá, trazer detalhes sobre as linhas tarifárias que estão previstas no acordo e para que eles possam fazer melhor uso do acordo, para potencializar os seus negócios aqui no continente, da parte do Sul do continente Africano.

 

(MA): Ricardo, provavelmente não estará muito à vontade para falar deste assunto, mas como afeta a balança comercial, gostaria de saber a sua opinião. Com a pandemia do Covid-19, o mundo esqueceu que a África e em particular a África do Sul, vive há anos, uma outra pandemia muito grave, a pandemia da SIDA.

Com o confinamento, o problema da SIDA agravou-se gravemente no país. É óbvio que isto é um problema de saúde, mas que afeta a economia. Acha que a África do Sul está a reagir à altura a esta situação pandémica e o país conseguirá recuperar-se economicamente, ou a situação é de tal maneira calamitosa que irá ainda mais agravar a crise económica?

(RB): Olha Francisco, acho que a África do Sul, assim como o Brasil, enfrenta desafios significativos. São distintos nossos desafios, do Brasil, da África do Sul, mas os dois países, enfrentam desafios significativos.

A África do Sul, de facto enfrenta esse problema de saúde, acho que em primeiro lugar é isso, é um problema de saúde, problema social, não em primeiro lugar um problema econômico.

Da pandemia de SIDA, de AIDS, eu não acho que o mundo tenha esquecido, acho que na minha experiência, justamente lá na área de Direitos Humanos, nós tínhamos uma, digamos uma divisão irmã que cuidava justamente de temas sociais de cidadania, incluindo de saúde.

Eu sei que o Brasil, por exemplo, tem uma atuação muito robusta na área de cooperação, na área de saúde e na área multilateral, mas também na área bilateral. E agora o desafio. realmente é significativo.

Não tem uma solução fácil, mas eu acredito que o próprio Brasil, está empenhado em participar de discussões no plano multilateral e também no plano bilateral, para tentar apoiar a África do Sul na superação dos desafios que eu repito, acho que em primeiro lugar, é um desafio humano, social, não é em primeiro lugar econômico.

 Lógico que tem reflexos, mas acho que é mais um dos produtos dos problemas dos desafios sociais que a África do Sul enfrenta, assim como o Brasil também tem os seus e acho que isso exige sim, o reforço da cooperação da concertação nacional, para que, mutuamente, possamos encontrar soluções para esses problemas.

 

(MA): Ricardo uma última pergunta. O que que você acha que ainda não foi feito e que poderia ser implementado para aumentar o comércio bilateral entre o Brasil e a África do Sul?

(RB): O que não foi feito eu não sei, mas o que eu acho que a gente poderia fazer e continuar fazendo, como já temos feito, é da nossa parte aqui da embaixada.

Como eu já disse, continuar apoiando com rapidez, as demandas do setor privado brasileiro, dar apoio às empresas brasileiras que já estão instaladas aqui na África do Sul, prestar informações sobre mercados em potencial que não são explorados aqui na África do Sul, ajudar no relacionamento com o governo, para superação de eventuais entraves.

Claro que eu acho que a gente vive um bom momento das relações Brasil, África do Sul, no sentido de que, ano que vem, teremos aqui a Cúpula do BRICS, será na África do Sul e isso por si só, já gera um interesse maior do setor privado, dos governos, dos outros países que vão se preparar para vir aqui.

Temos um segmento empresarial do BRICS, tenho certeza que isso pode ajudar em muito a dinamizar as relações do setor privado dos dois países.

Na minha curta experiência aqui na África do Sul, nos contatos, por exemplo com o partido do governo que tem uma espécie de câmara de comércio, notamos também da parte do governo sul-africano, interesse em robustecer o relacionamento na área comercial, acho que é de comum acordo que nosso relacionamento, no âmbito político, já atingiu uma densidade significativa.

Nós temos essa cooperação no BRICS, no IBAS, ou fórum Brasil índia África do Sul, o Brasil e a África do Sul são membros também do G20, também nós temos uma porção de fóruns em que já cooperamos e, temos uns laços políticos muito substanciais, mas reconhecemos ambas as partes que é preciso fazer um esforço, para que o relacionamento na área comercial e econômica de investimento.

Também reflita esse, essa densidade, do nosso relacionamento político e, o que eu posso dizer, é que há um comprometimento total, aqui da embaixada, em encontrar iniciativas e maneiras de promover o relacionamento nessa área, tanto de uma maneira de alcance mais estreito, mais direcionado ao setor privado, ou demandante específico.

Mas também dessa maneira mais ampla, pensando nos fóruns políticos que estão à disposição, no relacionamento mais amplo com o governo, de facilitar contatos e estreitar relacionamentos.

 

(MA): Ricardo, eu sei que tínhamos dito que seria a última pergunta, mas já que falou no BRICS é um assunto que eu acho interessante e que não me lembrei de referir antes. O BRICS reuniu inicialmente o Brasil, a Rússia, a Índia e a China. Se bem me lembro, surgiu como uma aliança estratégica para converter poder económico destes países, numa maior influência geopolítica.

Eu tenho a ideia, de que esta aliança não tem sido muito bem aproveitada. Concorda com isso ou a realidade é completamente diferente?

(RB): Bom… da nossa parte, nós vemos o BRICS como uma, um grupo de países que têm dimensões territoriais continentais que tem grande população. São países estratégicos, nos seus respetivos garantes regionais, grande economia, grande capacidade de investimento e que, podem servir como uma plataforma para políticas.

Tanto em benefício das suas próprias sociedades ou, em uma perspetiva mais ampla, como fonte de, por exemplo, de financiamento para atividades em outros países. Acho que é uma plataforma que tá em constante construção, mas que é vista com muito interesse e um sentido de, posso dizer, de prioridade, acho que por todos os seus integrantes.

Como todo o mecanismo criado recentemente, enfrenta digamos, digamos, não diria obstáculos, mas há um caminho a percorrer para solidificar iniciativas conjuntas, determinar caminhos em comum, com atuação em comum, mas eu acho que todos os seus países componentes.

A África do Sul, pela minha experiência aqui em particular, também vê como uma maneira preferencial de inserção dos países, no cenário internacional. Então acho que a tendência é que, se trabalha cada vez mais, para achar territórios em comum para iniciativas e cooperação.

 

(MA): Muito obrigado por este esclarecimento. Da nossa parte é tudo, mas se quiser acrescentar algo sobre algum assunto que acho pertinente e que não foi falado aproveite o momento estamos aqui à sua disposição.

(RB): Obrigado, da minha parte eu queria realmente agradecer a Vanessa você Francisco pelo convite é uma satisfação ter tido oportunidade de conversar com vocês e ter passado um pouco do Panorama das nossas relações da nossa atuação aqui na embaixada.

E queria aproveitar para voltar a fazer esse chamado para o exportador para o produtor brasileiro estamos à disposição aqui no Embaixada em Pretória nosso e-mail é [email protected] é um prazer sempre atender as demandas passar listas de distribuidores e compradores locais.

Tirar dúvidas regulatórias passar detalhes sobre as tarifas aplicadas e qualquer dúvida que eles possam ter sobre a entrada aqui no mercado. Volto a dizer que eu acho que é o momento muito interessante das relações e tanta perspetiva política mais ampla como com a cúpula do BRICS aqui.

Mas também na perspecticamente estritamente comercial que queria ressaltar que a ApexBrasi depois de um tempo afastado aqui da África do Sul voltou a ter uma representação física aqui é um modelo de digamos terceirizado de representação uma consultoria baseada aqui na África do Sul representa os interesses da ApexBrasi.

Eu sei que ele já Estão organizando atividades para promoção das exportações brasileiras para África do Sul de maneira que é mais uma plataforma que vem a somar aqui aos esforços da embaixada e construir esse relacionamento bem encaminhado mas que ainda tem muito potencial para ser explorado entre os dois países. De novo agradecer a oportunidade.

 

(MA): Nós é que agradecemos a sua participação acho que tanto pela parte da Mais Afrika como parte de todos os nossos seguidores até a parte brasileira dos empresários que sempre estão nos procurando ou me procurando para falar sobre África querendo mais informações

Essa série de entrevistas que a gente acabou fazendo com a Mais Afrika também tá colaborando que as pessoas conheçam cada particularidade de cada um dos países entenda um pouco melhor como é que funciona deixa de funcionar o que que pode ser feito as ações, tenho conversado muito com a Apex para que a gente promova mais ações comerciais e promocionais em todo o continente africano.

Isso só aumente implemente cada vez mais ações e seja benéfico para ambos os lados. Muito obrigada pelo seu tempo pela sua disponibilidade Francisco obrigada também a você à Nilza por essa série de entrevistas com o Brasil e agradecer a todos que nos acompanham.

Ricardo Muito obrigado também a si por ter participado e quem sabe até breve, pode ser que um dia possamos voltar a conversar.

(RB): Com certeza, será uma satisfação.

 

O que achas desta entrevista? Ficas-te a conhecer melhor o potencial da África do Sul? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.
Imagem: © 2022 Francisco Lopes-Santos 
Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santos

Ex-atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

Francisco Lopes-Santoshttp://xesko.webs.com
Ex-atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.
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