11.1 C
Londres
Sábado, Setembro 28, 2024

Jovens Africanos Atentos Às Guerras Da Água

Embora África contribua com menos de 5% das emissões globais de gases de efeito estufa, o continente enfrenta os impactos mais severos das mudanças climáticas.

Jovens Africanos Atentos Às Guerras Da Água


Os jovens africanos começam a ter a percepção, das preocupações e dos desafios que se enfrentam, numa era de crescente insegurança climática e de falta de recursos. As alterações climáticas estão a transformar-se numa ameaça cada vez mais real e palpável, por todo o mundo, mas especialmente no continente africano, onde os seus efeitos desproporcionais afetam comunidades inteiras.

A Fundação da Família Ichikowitz (IFF, na sigla em inglês), através do seu Inquérito à Juventude Africana de 2024, revelou que uma grande parte dos jovens africanos acredita que o impacto das mudanças climáticas irá amplificar os conflitos, particularmente sobre os recursos essenciais como a água e as terras agrícolas.

 

As Guerras da Água


De acordo com o estudo, cerca de 71% dos jovens africanos entrevistados expressam receio de que as mudanças climáticas venham a exacerbar os conflitos por água, podendo chegar-se ao extremo de se efectuarem guerras para ver quem vai controlar este bem precioso.

A região do Sahel, por exemplo, tem registado um aumento das temperaturas a um ritmo 1,5 vezes mais rápido que a média global, uma tendência alarmante que ameaça a estabilidade social e económica de milhões de pessoas dependentes de recursos naturais.

Os ecossistemas locais que já se encontram sob intensa pressão devido à sobre-exploração e degradação ambiental, agora enfrentam desafios acrescidos com a escassez de água e a desertificação. As terras outrora férteis estão a transformar-se em paisagens áridas, levando ao deslocamento de populações e à intensificação de disputas sobre recursos cada vez mais escassos.

 

Entre a ansiedade e a ação


Os jovens africanos que representam uma porção significativa da população do continente, sentem-se profundamente preocupados com o futuro. O estudo revelou que 75% dos inquiridos estão angustiados com a escassez de água, uma questão que já começa a afetar diretamente as suas vidas.

Para muitos, a água potável tornou-se um bem caro. Dois em cada cinco jovens relatam gastar mais de um quarto dos seus rendimentos para obter acesso à água potável, um aumento significativo em relação a anos anteriores.

Ainda mais alarmante, é o facto de que, quase 17% dos jovens gastam mais de metade dos seus rendimentos com água engarrafada, reflectindo a crescente crise hídrica em várias regiões. Este panorama de privação hídrica é um reflexo da insuficiência de infraestruturas hídricas adequadas e das alterações climáticas que agravaram os períodos de seca em diversas partes do continente.

 

A Dependência da Água Engarrafada


Com o aumento da escassez de água potável, os jovens africanos estão a recorrer cada vez mais à água engarrafada como fonte primária de consumo. No entanto essa dependência de garrafas de plástico acarreta um problema ambiental adicional: a proliferação de resíduos plásticos.

Quase três quartos dos jovens inquiridos (72%) manifestaram estar “muito” ou “algo” preocupados com a questão dos resíduos de plástico, um problema que tem implicações ambientais a longo prazo.

A Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Ambiente prevê que a utilização de plásticos nas economias africanas emergentes pode sextuplicar nos próximos 40 anos, o que traria enormes desafios de gestão de resíduos e poluição.

Esta combinação de crises — climática e ambiental — coloca os jovens numa posição vulnerável, com a carga de tentar conciliar as necessidades imediatas de sobrevivência com o futuro sustentável do continente.

 

Uma Realidade Iminente


O aquecimento acelerado das temperaturas nas regiões africanas, especialmente no Sahel, está a causar impactos devastadores na agricultura que é a principal fonte de subsistência para milhões de pessoas. O aumento das temperaturas, associado à redução da disponibilidade de água, afeta negativamente a produção agrícola, prejudicando a segurança alimentar.

As secas prolongadas, ondas de calor e a desertificação estão a forçar agricultores a abandonar as suas terras, provocando deslocações internas e em alguns casos, migrações internacionais. Estas migrações, por sua vez, podem levar ao aumento de tensões entre comunidades que competem por recursos limitados, como a água e as terras aráveis.

Neste contexto, as alterações climáticas não são apenas uma questão ambiental, mas são também claramente, uma preocupação de segurança, uma vez que a luta por recursos essenciais pode desestabilizar regiões inteiras.

 

O Descontentamento


Apesar das grandes preocupações com as alterações climáticas, o estudo revela que menos de metade dos jovens africanos está satisfeita com os esforços dos seus governos para mitigar os impactos das mudanças no clima. Uma expressiva maioria, 81% dos inquiridos, acredita que os governos poderiam fazer mais para combater as alterações climáticas.

Há uma crescente frustração com a falta de políticas eficazes e investimentos suficientes em infraestruturas resistentes ao clima. Além disso, quando questionados sobre o financiamento necessário para lidar com as mudanças climáticas, 53% dos jovens africanos defendem que os seus governos devem mudar as suas mentalidades.

Isso implicaria dar prioridade a soluções futuras para questões climáticas em vez de se focarem exclusivamente na compensação financeira dos países desenvolvidos. Isto demonstra uma consciência crescente sobre a necessidade das acções práticas e sustentáveis que beneficiem directamente as suas comunidades e economias locais.

 

Uma Responsabilidade Desigual


Embora África contribua com menos de 5% das emissões globais de gases de efeito estufa, o continente enfrenta os impactos mais severos das mudanças climáticas. Regiões vulneráveis, como o Sahel e outras áreas rurais estão a enfrentar níveis desproporcionados de secas, cheias e outros fenómenos climáticos extremos.

Este desequilíbrio é amplamente reconhecido pelos jovens africanos que, apesar de viverem numa das regiões mais afetadas do mundo, têm uma pegada de carbono significativamente inferior à de países como os Estados Unidos da América e da China.

Esta realidade destaca a injustiça climática global, onde os países que menos contribuíram para a crise climática são os que mais sofrem as suas consequências. No entanto, há também um reconhecimento de que África precisa de encontrar soluções internas, inovadoras, resistentes e sustentáveis que não dependam exclusivamente das ajudas internacionais.

 

Conclusão


O impacto das alterações climáticas em África especialmente entre a juventude, é uma questão que vai além de uma simples preocupação ambiental. A relação entre a escassez de recursos como a água, as terras agrícolas e a instabilidade social que pode surgir dos conflitos por estes bens é um desafio urgente e multifacetado.

Embora haja um reconhecimento da necessidade de acção, tanto a nível individual quanto governamental, os jovens africanos continuam a lutar contra um sistema que muitas vezes parece lento em reagir às suas necessidades.

Os governos africanos têm uma responsabilidade crescente de implementarem políticas e criarem infraestruturas que mitiguem os efeitos das alterações climáticas, garantindo ao mesmo tempo que os seus cidadãos tenham acesso a recursos essenciais.

Por outro lado, a juventude africana, com a sua voz activa e crescente mobilização em questões climáticas, será fundamental na promoção de mudanças e na luta por um futuro mais sustentável e justo para o continente e para o mundo.

 

O que achaste deste estudo sobre os Jovens Africanos e as preocupações da água? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.

 


Imagem: © 2024 Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santos

Atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

Olá 👋
É um prazer conhecermo-nos.

Regista-te para receberes a nossa Newsletter no teu e-mail.

Não enviamos spam! Lê a nossa política de privacidade para mais informações.

Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santoshttp://xesko.webs.com
Atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.
Ultimas Notícias
Noticias Relacionadas

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leave the field below empty!

Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!

error: Content is protected !!