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Sexta-feira, Outubro 4, 2024

Jovens Africanos Atentos Às Guerras Da Água

Embora África contribua com menos de 5% das emissões globais de gases de efeito estufa, o continente enfrenta os impactos mais severos das mudanças climáticas.

Jovens Africanos Atentos Às Guerras Da Água


Os jovens africanos começam a ter a percepção, das preocupações e dos desafios que se enfrentam, numa era de crescente insegurança climática e de falta de recursos. As alterações climáticas estão a transformar-se numa ameaça cada vez mais real e palpável, por todo o mundo, mas especialmente no continente africano, onde os seus efeitos desproporcionais afetam comunidades inteiras.

A Fundação da Família Ichikowitz (IFF, na sigla em inglês), através do seu Inquérito à Juventude Africana de 2024, revelou que uma grande parte dos jovens africanos acredita que o impacto das mudanças climáticas irá amplificar os conflitos, particularmente sobre os recursos essenciais como a água e as terras agrícolas.

 

As Guerras da Água


De acordo com o estudo, cerca de 71% dos jovens africanos entrevistados expressam receio de que as mudanças climáticas venham a exacerbar os conflitos por água, podendo chegar-se ao extremo de se efectuarem guerras para ver quem vai controlar este bem precioso.

A região do Sahel, por exemplo, tem registado um aumento das temperaturas a um ritmo 1,5 vezes mais rápido que a média global, uma tendência alarmante que ameaça a estabilidade social e económica de milhões de pessoas dependentes de recursos naturais.

Os ecossistemas locais que já se encontram sob intensa pressão devido à sobre-exploração e degradação ambiental, agora enfrentam desafios acrescidos com a escassez de água e a desertificação. As terras outrora férteis estão a transformar-se em paisagens áridas, levando ao deslocamento de populações e à intensificação de disputas sobre recursos cada vez mais escassos.

 

Entre a ansiedade e a ação


Os jovens africanos que representam uma porção significativa da população do continente, sentem-se profundamente preocupados com o futuro. O estudo revelou que 75% dos inquiridos estão angustiados com a escassez de água, uma questão que já começa a afetar diretamente as suas vidas.

Para muitos, a água potável tornou-se um bem caro. Dois em cada cinco jovens relatam gastar mais de um quarto dos seus rendimentos para obter acesso à água potável, um aumento significativo em relação a anos anteriores.

Ainda mais alarmante, é o facto de que, quase 17% dos jovens gastam mais de metade dos seus rendimentos com água engarrafada, reflectindo a crescente crise hídrica em várias regiões. Este panorama de privação hídrica é um reflexo da insuficiência de infraestruturas hídricas adequadas e das alterações climáticas que agravaram os períodos de seca em diversas partes do continente.

 

A Dependência da Água Engarrafada


Com o aumento da escassez de água potável, os jovens africanos estão a recorrer cada vez mais à água engarrafada como fonte primária de consumo. No entanto essa dependência de garrafas de plástico acarreta um problema ambiental adicional: a proliferação de resíduos plásticos.

Quase três quartos dos jovens inquiridos (72%) manifestaram estar “muito” ou “algo” preocupados com a questão dos resíduos de plástico, um problema que tem implicações ambientais a longo prazo.

A Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Ambiente prevê que a utilização de plásticos nas economias africanas emergentes pode sextuplicar nos próximos 40 anos, o que traria enormes desafios de gestão de resíduos e poluição.

Esta combinação de crises — climática e ambiental — coloca os jovens numa posição vulnerável, com a carga de tentar conciliar as necessidades imediatas de sobrevivência com o futuro sustentável do continente.

 

Uma Realidade Iminente


O aquecimento acelerado das temperaturas nas regiões africanas, especialmente no Sahel, está a causar impactos devastadores na agricultura que é a principal fonte de subsistência para milhões de pessoas. O aumento das temperaturas, associado à redução da disponibilidade de água, afeta negativamente a produção agrícola, prejudicando a segurança alimentar.

As secas prolongadas, ondas de calor e a desertificação estão a forçar agricultores a abandonar as suas terras, provocando deslocações internas e em alguns casos, migrações internacionais. Estas migrações, por sua vez, podem levar ao aumento de tensões entre comunidades que competem por recursos limitados, como a água e as terras aráveis.

Neste contexto, as alterações climáticas não são apenas uma questão ambiental, mas são também claramente, uma preocupação de segurança, uma vez que a luta por recursos essenciais pode desestabilizar regiões inteiras.

 

O Descontentamento


Apesar das grandes preocupações com as alterações climáticas, o estudo revela que menos de metade dos jovens africanos está satisfeita com os esforços dos seus governos para mitigar os impactos das mudanças no clima. Uma expressiva maioria, 81% dos inquiridos, acredita que os governos poderiam fazer mais para combater as alterações climáticas.

Há uma crescente frustração com a falta de políticas eficazes e investimentos suficientes em infraestruturas resistentes ao clima. Além disso, quando questionados sobre o financiamento necessário para lidar com as mudanças climáticas, 53% dos jovens africanos defendem que os seus governos devem mudar as suas mentalidades.

Isso implicaria dar prioridade a soluções futuras para questões climáticas em vez de se focarem exclusivamente na compensação financeira dos países desenvolvidos. Isto demonstra uma consciência crescente sobre a necessidade das acções práticas e sustentáveis que beneficiem directamente as suas comunidades e economias locais.

 

Uma Responsabilidade Desigual


Embora África contribua com menos de 5% das emissões globais de gases de efeito estufa, o continente enfrenta os impactos mais severos das mudanças climáticas. Regiões vulneráveis, como o Sahel e outras áreas rurais estão a enfrentar níveis desproporcionados de secas, cheias e outros fenómenos climáticos extremos.

Este desequilíbrio é amplamente reconhecido pelos jovens africanos que, apesar de viverem numa das regiões mais afetadas do mundo, têm uma pegada de carbono significativamente inferior à de países como os Estados Unidos da América e da China.

Esta realidade destaca a injustiça climática global, onde os países que menos contribuíram para a crise climática são os que mais sofrem as suas consequências. No entanto, há também um reconhecimento de que África precisa de encontrar soluções internas, inovadoras, resistentes e sustentáveis que não dependam exclusivamente das ajudas internacionais.

 

Conclusão


O impacto das alterações climáticas em África especialmente entre a juventude, é uma questão que vai além de uma simples preocupação ambiental. A relação entre a escassez de recursos como a água, as terras agrícolas e a instabilidade social que pode surgir dos conflitos por estes bens é um desafio urgente e multifacetado.

Embora haja um reconhecimento da necessidade de acção, tanto a nível individual quanto governamental, os jovens africanos continuam a lutar contra um sistema que muitas vezes parece lento em reagir às suas necessidades.

Os governos africanos têm uma responsabilidade crescente de implementarem políticas e criarem infraestruturas que mitiguem os efeitos das alterações climáticas, garantindo ao mesmo tempo que os seus cidadãos tenham acesso a recursos essenciais.

Por outro lado, a juventude africana, com a sua voz activa e crescente mobilização em questões climáticas, será fundamental na promoção de mudanças e na luta por um futuro mais sustentável e justo para o continente e para o mundo.

 

O que achaste deste estudo sobre os Jovens Africanos e as preocupações da água? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.

 


Imagem: © 2024 Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santos

Atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

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Francisco Lopes-Santos
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