Guiné-Bissau: O Futuro decide-se hoje.
Este domingo, 4 de Junho de 2023, cerca de 900 mil eleitores iniciaram um processo crucial para o futuro da democracia na Guiné-Bissau ao decidirem quem os representará no próximo governo. Esta eleição, a sétima desde a abertura ao multipartidarismo em 1994, vê 20 partidos e duas coligações a concorrerem pelos 102 lugares no parlamento.
A Guiné-Bissau encontra-se num estado de incerteza política desde a dissolução do parlamento pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló, a 16 de Maio de 2022. As eleições, inicialmente previstas para 18 de Dezembro de 2022, foram remarcadas para o dia 4 de Junho. Esta ação levantou preocupações quanto à estabilidade política do país, tornando o resultado destas eleições mais crucial do que nunca.
Os Principais Concorrentes
O leque de partidos na disputa é variado, mas o foco está principalmente em quatro: o Movimento para a Alternância Democrática (Madem-G15), atualmente no governo.
A coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI) – Terra Ranka, liderada pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, na oposição); o Partido de Renovação Social (PRS); e o Partido dos Trabalhadores Guineenses (PTG), liderado por Botché Candé, o atual ministro da Agricultura.
A Assembleia do Povo Unido – Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU-PDGB), do primeiro-ministro Nuno Gomes Nabiam, também é um participante importante no cenário político, apesar de ter tido uma presença mais discreta durante a campanha eleitoral.
Os principais actores
Umaro Sissoco Embaló
Quando o protagonista das legislativas é o presidente do país muito está dito. A cara de Embaló está nos cartazes do seu partido, Madem-G15, uma situação que desvalorizou ao dizer que todos os partidos estão autorizados a usar a sua imagem. O chefe de Estado já avisou que vai ter a última palavra na formação do governo.
Nuno Gomes Nabiam
Nuno Gomes Nabiam admitiu que há fome na Guiné-Bissau devido à falta de escoamento da castanha de caju.
Em contraste, o primeiro-ministro e líder da APU-PDGB fez uma campanha discreta. O seu partido enfrentou uma cisão que levou à perda de dirigentes, pelo que o principal objetivo de Nuno Gomes Nabiam é manter deputados na assembleia.
Domingos Simões Pereira
O líder do PAIGC, que concorreu nas últimas presidenciais com Embaló, é a figura principal da aliança de cinco partidos PAI- Terra Ranka, que fez uma campanha centrada nos jovens e nas mulheres.
Se a coligação for a mais votada, nem Simões Pereira nem o seu vice Geraldo Martins serão indigitados chefes do governo, advertiu o presidente. O PAIGC venceu as legislativas de 2019, mas passou para a oposição em 2020, após Embaló ter demitido o PM Aristides Gomes.
O Futuro do Governo da Guiné-Bissau
A formação do futuro governo promete ser desafiante, com o atual Primeiro-Ministro, Nuno Gomes Nabiam, já a antever que nenhum partido obterá a maioria. Será necessário um consenso para formar o executivo, uma situação que requer delicadeza e diplomacia.
O papel do Presidente Umaro Sissoco Embaló na campanha eleitoral tem sido objeto de debate. Muitos argumentam que ele tem exercido uma influência desproporcional no processo, gerando preocupações sobre a neutralidade do seu cargo e o seu impacto potencial nos resultados pós-eleitorais.
É preciso não esquecer que o Presidente da Guiné-Bissau, afirmou que não nomeará o líder do PAIGC como primeiro-ministro se este ganhar as eleições.
“Eu disse ‘Domingos Simões Pereira nunca o vou nomear”.
Além disso, a situação económica do país, particularmente o descontentamento com a situação do escoamento da castanha de caju, uma questão crucial para 80% da população guineense, pode ter um efeito significativo no voto dos eleitores.
O Palco da Eleição na Guiné-Bissau
A observação das eleições conta com a presença de cerca de 200 observadores, vindos de várias partes do mundo, incluindo 60 membros da missão de curta duração da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), liderada pelo ex-presidente cabo-verdiano Jorge Carlos Fonseca, além de 29 da União Africana, liderados pelo ex-presidente moçambicano Joaquim Chissano.
A missão da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) é chefiada pelo ex-vice-ministro dos Negócios Estrangeiros timorense Alberto Carlos, contando com 27 elementos.
Por outro lado, os direitos das mulheres também não foram respeitados. Há mais mulheres do que homens entre os eleitores, mas poucas serão eleitas deputadas, em atropelo à legislação
Apesar de a lei da paridade prever um mínimo de 36% de mulheres nos lugares de tomada de decisão, as listas dos partidos não cumpriram o estipulado e o Supremo Tribunal nada fez. Se na última legislatura havia 13 deputadas agora só 11 estão em lugares elegíveis.
E é preciso não esquecer as acusações de jogo sujo que também marcaram esta campanha eleitoral, com a coligação PAI – Terra Ranka a denunciar irregularidades na campanha. Com tudo isto, a situação na Guiné-Bissau, permanece tensa e imprevisível.
Rumo ao Futuro da Guiné-Bissau
Enquanto o dia eleitoral prossegue, neste domingo decisivo, os eleitores formam longas filas e os guineenses preparam-se para moldar o futuro do seu país ao exercerem o seu direito democrático de votar. A votação de hoje irá definir o curso da nação para os próximos anos, o que destaca a importância deste momento.
O desfecho destas eleições é incerto, mas as esperanças estão elevadas. A população guineense aguarda ansiosamente o desfecho destas eleições, com a esperança de que traga a estabilidade e a mudança que o país tanto necessita.
No entanto, os resultados destas eleições, juntamente com a capacidade dos partidos políticos de trabalhar em conjunto para formar um governo, serão determinantes para a estabilidade política do país nos próximos anos.
Conclusão
O futuro político da Guiné-Bissau, um país com uma história repleta de golpes de Estado e instabilidade, depende largamente destas eleições. Uma vitória convincente poderia trazer a estabilidade que tem sido escassa, enquanto um resultado contestado poderia arrastar o país de volta para um ciclo de conflitos e incerteza.
A necessidade de estabilidade é urgente. A economia guineense, já fragilizada por anos de instabilidade política, está em risco de colapsar. Os cidadãos estão a lutar contra o custo crescente de vida e a falta de serviços básicos. Um governo estável e eficaz poderia potencialmente fazer grandes progressos na melhoria da situação económica e social.
Contudo, para alcançar essa estabilidade, será necessário ultrapassar os interesses partidários e focar-se no desenvolvimento do país. Uma liderança forte, capaz de estabelecer consensos e de promover a unidade nacional, será fundamental. Além disso, é crucial que as promessas de campanha sejam cumpridas e que o governo eleito implemente políticas que beneficiem realmente o povo guineense.
À medida que o dia das eleições se aproxima do fim, o sentimento de antecipação intensifica-se. Apesar dos desafios, os guineenses permanecem esperançosos. A sua participação nas urnas é um testemunho da sua determinação em construir um futuro melhor para o país.
Os resultados oficiais devem ser anunciados nos próximos dias. Independentemente do vencedor, o que é realmente importante é que o resultado destas eleições marque um novo começo para a Guiné-Bissau e que conduza a uma era de paz, estabilidade e prosperidade. Apenas o tempo dirá se estas esperanças se materializarão. Mas por agora, a Guiné-Bissau espera e sonha com um futuro mais brilhante.
O que achas destas sétimas eleições legislativas da Guiné-Bissau? Vais seguir o desfecho ou apenas esperar pelo resultado? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.
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