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ToggleG7: As Guerras Actuais Condicionam a Cimeira
A Cimeira do G7 teve início hoje em Kananaskis, Canadá, com uma nuvem densa de incertezas a pairar sobre as sete economias mais desenvolvidas do mundo. A guerra alargada no Médio Oriente, os conflitos persistentes na Ucrânia e em Gaza e o regresso de Donald Trump ao palco internacional como Presidente dos EUA são os elementos centrais de uma agenda carregada e tensa.
Este encontro marca a primeira vez, neste novo mandato de Trump que os líderes do G7 se encontram colectivamente para confrontar o impacto da estratégia “América Primeiro” que ameaça mergulhar a economia mundial numa recessão e entrincheirar ainda mais os conflitos mundiais.
Entre diplomacia contida, reuniões paralelas e temas omitidos por pressão política, a cimeira revela tanto as fragilidades quanto a urgência de uma liderança mundial coesa. A presença de líderes convidados de fora do grupo, como os presidentes do Brasil, Coreia do Sul, África do Sul, México, bem como o primeiro-ministro da Índia, dá a esta cimeira uma abrangência mais ampla e uma complexidade adicional.
Com interesses diversos e uma multiplicidade de crises simultâneas, os olhos do mundo estão postos em Kananaskis para perceber até que ponto o G7 ainda pode ser um fórum eficaz de liderança mundial.
A Dinâmica Trump

O regresso de Donald Trump ao G7 levanta inevitáveis comparações com a cimeira de Charlevoix em 2018, quando este a abandonou prematuramente, insultando o então primeiro-ministro canadiano Justin Trudeau e retirou a assinatura dos EUA do comunicado final. Esta memória recente assombra a actual reunião, onde o novo anfitrião, Mark Carney, tenta evitar divisões públicas.
Carney, antigo governador do Banco de Inglaterra e recém-eleito primeiro-ministro canadiano, assumiu a presidência rotativa do G7. Consciente dos precedentes e em particular da recente posição de Trump de querer integrar o Canadá nos EUA, poderá até abdicar de um comunicado conjunto se recear que a sua negociação possa provocar novas cisões.
Em deferência a Trump, a crise climática foi retirada da agenda da cimeira. Esta decisão é emblemática de uma dinâmica de apaziguamento, em que os líderes do G7 tentam, por um lado, convencer Trump a moderar posições e por outro, evitar confrontos públicos que possam provocar uma reação intempestiva do Presidente americano.
A estratégia dos seis outros membros — Canadá, França, Alemanha, Itália, Reino Unido e Japão — é delicada: desafiar Trump sem parecer que se estão a unir contra ele. Um equilíbrio instável, com o mundo suspenso nas consequências.
O Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky também participa na cimeira como convidado e demonstrou desde logo a intenção de se encontrar com Trump à margem da reunião. É a primeira vez que os dois líderes se vêem desde o fracasso da trégua em Istambul entre a Ucrânia e a Rússia.
Zelensky procura convencer Trump a endurecer a posição contra Moscovo, nomeadamente através de novas sanções, mas enfrenta uma barreira: a relutância americana em dar novos passos contra Vladimir Putin. A proposta europeia de baixar o tecto do preço do petróleo russo de 60 para 45 dólares por barril será outro teste à disposição de Trump em apertar a pressão económica sobre a Rússia.
A cimeira deste ano foi alargada com convites dirigidos a líderes de países emergentes e estratégicos. Além de Zelensky, participam Cláudia Sheinbaum (México), Narendra Modi (Índia), Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Anthony Albanese (Austrália), Lee Jae-myung (Coreia do Sul) e Cyril Ramaphosa (África do Sul).
A presença de Modi é particularmente significativa, tendo em conta o recente mal-estar entre Índia e Canadá. A escolha de Carney de o convidar sugere uma tentativa de reconstruir pontes, ampliando também o alcance diplomático da cimeira para além do Ocidente tradicional.
Crise Nuclear

No centro da cimeira está a escalada no Médio Oriente. Israel lançou, na madrugada de sexta-feira, um ataque contra instalações do programa nuclear iraniano, ao qual se seguiram sucessivos ataques retaliatórios de Teerão contra cidades israelitas.
Trump, acusado de ter dado “luz verde” a Israel para atacar antes do fim das negociações mediadas por Omã entre o seu enviado especial, Steve Witkoff e o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Abbas Araghchi, enfrenta agora a pressão dos aliados europeus.
Estes procuram compreender que razões motivaram o ataque unilateral israelita, num momento em que as negociações eram vistas como a única via diplomática para evitar o conflito.
As negociações em Omã entre os EUA e o Irão, intermediadas fora do G7 e com a Europa excluída, eram vistas como uma rara esperança para conter a escalada entre Teerão e Telavive. A sua interrupção, dias antes da cimeira, deixou os diplomatas europeus alarmados.
A Europa acredita que a recente censura do Irão pela AIEA (Agência Internacional de Energia Atómica), encabeçada por países europeus, forneceu a Israel o pretexto necessário para o ataque. O Irão, por sua vez, vê a votação como um movimento provocatório que bloqueou a diplomacia e empurrou a região para a beira do abismo.
Segundo o antigo enviado especial dos EUA para o Irão, Richard Nephew, o ataque israelita ao centro de enriquecimento de Fordow não destruiu por completo as centrifugadoras nem a reserva de urânio enriquecido a 60%. Se este material ainda estiver disponível e as centrifugadoras operacionais, o Irão poderá reconstruir um programa nuclear militar em semanas.
A ausência de um acordo fez com que os líderes do G7 avaliem agora o quão perto Israel poderá estar de destruir permanentemente as capacidades nucleares iranianas. A possibilidade de o Irão, pressionado internamente, decidir avançar, de facto, com um verdadeiro programa nuclear militar está a ser debatida com crescente preocupação.
Mas enriquecer urânio não basta. Para fabricar uma arma nuclear, o Irão precisa de equipamentos adicionais para transformar o material, moldá-lo e montar o dispositivo. Efectua-lo em plena guerra será complexo, mas a pressão interna cresce. Manifestantes e políticos já pedem abertamente que o país opte pela via nuclear como resposta às agressões.
O único ponto de possível consenso entre os líderes do G7 poderá ser a formulação de uma estratégia comum em relação à China. Há acordo no que respeita a garantir cadeias de abastecimento seguras para minerais críticos e limitar dependências estratégicas, mas até aqui o posicionamento de Trump permanece imprevisível.
Conclusão
A cimeira do G7 em Kananaskis decorre num ambiente de altíssima tensão geopolítica. Com Trump no centro das atenções — ora como catalisador de decisões unilaterais, ora como obstáculo à coordenação ocidental — os líderes tentam navegar entre diplomacia estratégica e contenção de crises.
Do Médio Oriente à Ucrânia, passando pela política energética e o papel da China, o encontro revela o novo equilíbrio de poderes mundial: fragmentado, polarizado e perigosamente imprevisível.
A ausência de soluções consensuais e a recusa de se abordarem temas estruturantes como o do clima denunciam uma fragilidade preocupante. Resta saber se, terminada a cimeira, o mundo estará mais seguro — ou apenas mais dividido.
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Imagem: © 2025 ChatGPT