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ToggleEUA: Conferência Sobre A Floresta De Miombo
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, apelou hoje, 17 de Abril de 2024, durante o segundo e último dia da Conferência Internacional Sobre A Iniciativa Da Floresta De Miombo, em Washington, Estados Unidos da América (EUA), à disponibilidade dos países mais desenvolvidos para converterem dívida dos países africanos em investimentos no clima, pois são os que menos poluem e os que mais sofrem.
A ministra da Terra e Ambiente moçambicana, Ivete Maibaze, também falou hoje e anunciou a adopção verbal da Carta de Compromisso para a Floresta do Miombo pelos 11 países da África Austral que a integram e que prevê criar um fundo a sediar em Moçambique.
Desafios Climáticos e Ambientais
“Moçambique, como muitos países africanos, tem estado entre os que menos têm contribuído para as mudanças climáticas, mas está entre os que mais sofrem dos seus efeitos negativos, como secas mais longas (…) cheias mais intensas e ciclones frequentes que contribuem para o aumento da insegurança alimentar, escassez de água e a deslocação de pessoas em grande escala”
Alertou Filipe Nyusi, ao encerrar a Conferência Internacional Sobre A Iniciativa Da Floresta De Miombo. Nesta conferência internacional na capital norte-americana, os 11 países da África Austral que integram a Floresta do Miombo adoptaram um Compromisso para a defesa daquela área, a qual prevê um fundo a sediar em Moçambique.
A Floresta de Miombo cobre dois milhões de quilómetros quadrados e garante a subsistência de mais de 300 milhões de habitantes, constituindo o maior ecossistema de florestas tropicais secas do mundo, enfrentando actualmente, entre outros, problemas de desflorestação.
O chefe de Estado avançou que no âmbito de conservação ambiental que Moçambique já mapeou 64 projetos de redução de emissões e pretende que o sector privado participe activamente no desenvolvimento de projectos de carbono em floresta, agricultura e outros usos de terra, energia, indústria e gestão de resíduos.
Investir na Floresta do Miombo
É expectativa de Moçambique é que:
“A cooperação procure sensibilizar diferentes sectores sobre as modalidades mais justas que permitam a transformação da dívida dos países em financiamento climático, para libertar recursos nacionais para poderem ser investidos em programas de conservação do ambiente”.
Apontou Filipe Nyusi, recordando que se um corpo tem dois pulmões, a Floresta do Miombo aparece junto com a Floresta da Amazónia para o planeta.
O Governo moçambicano espera mobilizar, após a conferência de Washington, investimentos para proteger a Floresta do Miombo, estimados no plano de ação em 550 milhões de dólares (518 milhões de euros), dos quais 154 milhões de dólares já foram garantidos desde 2022.
Políticos e especialistas africanos e dos EUA debateram nos últimos dois dias a sustentabilidade da Floresta do Miombo numa conferência internacional organizada por Moçambique, no quadro da implementação da Declaração de Maputo sobre Miombo, visando o alcance das metas sobre as mudanças climáticas, conservação da biodiversidade e desenvolvimento sustentável integrado.
“Augurámos que este promissor evento de Washington DC tenha sido um espaço privilegiado para a discussão, de forma aberta e profunda, sobre questões relacionadas com a transição energética”.
“Acreditamos que esta conferência reflete que a Floresta do Miombo não é apenas prioridade para os países signatários da Declaração de Maputo, mas também para todos os habitantes do planeta Terra”, concluiu Filipe Nyusi.
Conservar o Miombo
A conferência, organizada ainda pelo International Conservation Caucus Foundation (ICCF) e pela Wildlife Conservation Society (WCS), resultou da iniciativa do Presidente moçambicano Filipe Nyusi.
Aconteceu em Agosto de 2022, quando Filipe Nyusi, reuniu os líderes de outros dez países na “Declaração de Maputo sobre a Floresta de Miombo”, para promover uma abordagem comum para a “Gestão Sustentável e Integrada das Florestas do Miombo e a Proteção da Bacia do Grande Zambeze”, a maior bacia transacional da região.
Em Moçambique, as florestas cobrem quase metade do país, numa área total de 34,2 milhões de hectares, dos quais 22,9 milhões de hectares de Miombo, habitat de espécies animais ameaçadas, como cães selvagens, leões, elefantes, leopardos e girafas, entre outros e responsável pelo sequestro de carbono ou práticas de medicina tradicional.
A palavra suaíli para Miombo é “brachystegia”, um género de árvore que inclui um grande número de espécies e uma formação florestal que compõe o maior ecossistema florestal tropical em África, sendo fonte de água, alimento, abrigo, madeira, geração de eletricidade e turismo.
A população crescente e o consequente aumento da procura por terras agrícolas, combinados com o uso insustentável e a extracção excessiva de recursos naturais, em partes das florestas de Miombo e os impactos das alterações climáticas, constituem, contudo, uma ameaça.
A Floresta do Miombo
A Floresta do Miombo é um ecossistema único e diversificado encontrado principalmente na região central e oriental de África, abrangendo países como Angola, Zâmbia, Moçambique, Tanzânia e Malawi. Caracterizada por árvores de Miombo, esta floresta é conhecida pela sua biodiversidade impressionante e pelo seu papel vital na sustentação de ecossistemas e comunidades locais.
As árvores de Miombo, predominantemente da família das leguminosas, dominam a paisagem, formando vastos bosques interligados por uma vegetação rasteira de gramíneas. Estas árvores adaptaram-se às condições sazonais, perdendo as folhas durante a estação seca e florescendo com exuberância durante a estação das chuvas.
A fauna da Floresta do Miombo é igualmente variada, com uma abundância de vida selvagem que inclui elefantes, leopardos, leões, girafas, antílopes e uma grande variedade de aves e insetos. Além disso, os rios e lagos que cortam esta paisagem são frequentemente o lar de uma grande diversidade de peixes e outras espécies aquáticas.
Esta floresta desempenha um papel fundamental na regulação do clima regional e mundial, no armazenamento de carbono e na proteção dos solos contra a erosão. Além disso, é uma fonte vital de recursos naturais para as comunidades locais, fornecendo lenha, alimentos, medicamentos e materiais de construção.
No entanto, a Floresta do Miombo enfrenta ameaças significativas devido à desflorestação, à expansão agrícola, à exploração mineira e, infelizmente, à pressão do desenvolvimento humano. A protecção e conservação deste ecossistema único são essenciais não só para a preservação da biodiversidade, mas também para o bem-estar das comunidades que dependem dela para a sua subsistência e sustento.
A Ironia
Enquanto decorria a Conferência Internacional Sobre A Iniciativa Da Floresta De Miombo, o vice-presidente da Exxon Mobil Walter Kansteiner, fez uma declaração num evento paralelo, sobre a posição da empresa em relação a Cabo Delgado.
Kansteiner, informou que, a empresa considerou em Julho passado que o investimento no gás natural de Moçambique está encaminhado para ser tomada uma Decisão Final de Investimento em 2025, começando a produzir no final da década.
O vice-presidente da Exxon Mobil referiu que a conferencia é uma iniciativa que deixa a petrolífera norte-americana muito entusiasmada, pelo impacto no apoio à preservação das grandes florestas de África.
“Todos nós sabemos o quanto são importantes para o nosso planeta”. “Estamos muito contentes que o Presidente Nyusi esteja aqui para dar início à iniciativa”, apontou.
O projeto da Exxon em Cabo Delgado – província a Norte afectada há mais de seis anos por ataques terroristas – previa uma produção de 15,2 milhões de toneladas por ano, mas a companhia antevê uma produção anual de 18 milhões de toneladas actualmente.
A nível global, a petrolífera planeia duplicar, até 2030, o portefólio de Gás Natural Liquefeito, cuja produção está atualmente nas 24 milhões de toneladas anuais. Moçambique tem três projetos de desenvolvimento aprovados para exploração das reservas de gás natural da bacia do Rovuma, classificadas entre as maiores do mundo, ao largo da costa de Cabo Delgado.
Conclusão
Apesar dos desafios enfrentados pela Floresta do Miombo e pela região de Cabo Delgado, as discussões e compromissos estabelecidos durante a Conferência Internacional Sobre A Iniciativa Da Floresta De Miombo, oferecem uma esperança renovada para a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável em Moçambique e na África Austral.
É crucial que os esforços para proteger estes ecossistemas preciosos sejam acompanhados por acções concretas e investimentos significativos, tanto de entidades governamentais quanto do sector privado, visando garantir um futuro sustentável para as comunidades locais e para o planeta como um todo.
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Imagem: © 2024 ICCF