3 de 4 países em África investem em armas em vez da agricultura.

Muitos governos africanos têm reduzido os seus orçamentos agrícolas e aumentado os seus gastos em armamento, apesar de África possuir um quarto das terras agrícolas do mundo.

Isso contribuiu para empurrar mais de 20 milhões de pessoas para a fome severa nos últimos 12 meses, apesar dos líderes africanos terem prometido melhorar a segurança alimentar no continente.

A maioria dos governos africanos gasta em média apenas 3,8% do seu orçamento na agricultura, com alguns gastando apenas 1%. Infelizmente, quase três quartos destes governos não cumpriram o compromisso de investir pelo menos 10% do seu orçamento na agricultura, conforme estipulado na Declaração de Malabo de 2014.

 

Acesso limitado aos mercados vizinhos

O comércio agrícola entre os países africanos é dificultado por uma série de fatores, incluindo a infraestrutura precária e as tarifas elevadas. Muitos pequenos agricultores africanos têm dificuldade em aceder aos mercados dos países vizinhos, o que prejudica a competitividade e o acesso dos agricultores locais aos mercados.

Enquanto a 36ª Cimeira da União Africana discutiu o livre comércio intracontinental no passado mês de Fevereiro de 2023, é importante destacar que muitas nações africanas acham mais barato importar alimentos de fora do continente do que dos seus vizinhos. Isso pode levar a um aumento da dependência de importações de alimentos e prejudicar ainda mais os pequenos agricultores locais.

Para ajudar a melhorar o acesso aos mercados vizinhos, é necessário investir em infraestrutura adequada, como estradas e portos, e reduzir as tarifas de importação para os produtos agrícolas. Além disso, programas que incentivem a produção local e a diversificação da produção agrícola também podem ajudar a aumentar a competitividade dos agricultores africanos.

 

As Mudanças Climáticas e a crise alimentar em África

As mudanças climáticas são um fator significativo na fome que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente nos países mais vulneráveis. O aumento dos eventos climáticos extremos, como secas, inundações e ondas de calor, tem causado a destruição de casas, meios de subsistência, conflitos e deslocamentos, além de aprofundar a desigualdade.

Segundo o Programa Mundial de Alimentos (PMA), mais de 278 milhões de pessoas em África estão subnutridas e 55 milhões de crianças com menos de cinco anos de idade sofrem de desnutrição grave.

A crise alimentar atual foi causada por uma combinação mortal de conflitos, choques económicos e extremos climáticos, o que levou a uma crise alimentar sem precedentes.

Actualmente, até 828 milhões de pessoas não têm certeza de onde virá a próxima refeição e 349 milhões de pessoas em 79 países enfrentam insegurança alimentar aguda, um aumento de 200 milhões em relação aos níveis anteriores à pandemia de COVID-19.

A redução dos gastos agrícolas e o aumento dos gastos militares são escolhas políticas inadequadas que estão a contribuir para agravar a fome e a insegurança alimentar em África. Além disso, a corrupção e a má gestão dos recursos públicos por parte dos governos africanos também são fatores que contribuem para a crise alimentar.

Os recentes terramotos em áreas vulneráveis de África agravaram a crise alimentar, prejudicando as comunidades que já estavam a lutar contra a insegurança alimentar antes do desastre. Com as colheitas perdidas e a infraestrutura agrícola danificada, a situação tornou-se ainda mais crítica.

As estradas danificadas e a infraestrutura precária dificultam a entrega de suprimentos, deixando muitas pessoas sem acesso a alimentos e água potável.

É por isso crucial que a comunidade internacional ofereça assistência humanitária e financeira para combater a fome e a insegurança alimentar em África e também no resto do mundo.

 

Os lucros impressionantes dos combustíveis fósseis

A indústria de petróleo e do gás acumulou US$ 2,8 bilhões por dia (ou mais de US$ 1 trilião por ano) nos últimos 50 anos, enquanto os países do G20 são responsáveis coletivamente por quase 77% das emissões de carbono.

Embora as empresas de combustíveis fósseis afirmem estar comprometidas com a transição para fontes de energia renovável, os seus gastos em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia limpa são minúsculos em comparação com seus investimentos em novas explorações e produção de combustíveis fósseis.

Segundo o relatório “Fuelling the Fire“, da ONG ShareAction, a BP e a Shell gastaram apenas 1,3% e 0,4%, respectivamente, dos seus orçamentos de capital em tecnologias de energia limpa em 2021, em comparação com 94,5% e 96,3% em investimentos em exploração e produção de petróleo e gás.

Além disso, as empresas de combustíveis fósseis continuam a receber subsídios dos governos de muitos países, apesar de promessas de encerrar esses incentivos prejudiciais ao meio ambiente.

Segundo a OCDE, os governos do G20 gastaram cerca de US$ 650 bilhões por ano em subsídios para combustíveis fósseis em 2015 e 2016. Esses subsídios mantêm os preços dos combustíveis fósseis artificialmente baixos, desencorajando a adoção de fontes de energia mais limpas e renováveis.

A mudança climática continua a ter impactos devastadores em todo o mundo, tornando a transição para fontes de energia renovável essencial para evitar danos ainda mais catastróficos ao planeta e às pessoas que nele habitam.

Para combater a crise climática e a insegurança alimentar, é fundamental que os governos adotem políticas mais ambiciosas e eficazes para a transição para fontes de energia limpa e renovável, incluindo o fim dos subsídios para combustíveis fósseis e o investimento em tecnologias e infraestrutura para a energia renovável.

A indústria de combustíveis fósseis deve assumir uma maior responsabilidade pelos impactos ambientais de suas operações e investir em tecnologias para reduzir as suas emissões de gases de efeito estufa.

As empresas também precisam ser mais transparentes em relação aos seus impactos ambientais e financeiros. A ação coordenada e urgente é necessária em todos os níveis, desde os governos até a indústria e a comunidade internacional, para enfrentar estas crises interconectadas e proteger a segurança alimentar e o meio ambiente para as gerações presentes e futuras.

 

Coordenar acções para enfrentar as crises

A insegurança alimentar e as mudanças climáticas são crises interligadas que exigem uma ação coordenada a todos os níveis, desde os governos até a indústria e â comunidade internacional. As crises interagem e influenciam-se mutuamente, agravando ainda mais a situação em muitas partes do mundo, especialmente em África.

A mudança climática agrava ainda mais a situação, com eventos climáticos extremos afetando as colheitas, destruindo meios de subsistência, causando conflitos e deslocamentos, e aprofundando as desigualdades.

É por isso crucial que os subsídios para combustíveis fósseis sejam eliminados e os investimentos em fontes de energia limpa sejam aumentados.

A indústria de petróleo e do gás tem desfrutado de lucros surpreendentes enquanto causa estragos no planeta, e é essencial que a indústria invista em tecnologias de energia limpa e renovável para ajudar a mitigar os impactos da crise climática.

Além disso, é importante que a indústria assuma uma maior responsabilidade pelos impactos ambientais de suas operações e seja mais transparente em relação aos seus impactos ambientais e financeiros.

A resposta global à crise alimentar em África tem sido insuficiente, e muitas pessoas continuam a sofrer de fome e insegurança alimentar. É crucial que a comunidade internacional ofereça assistência humanitária e financeira para combater a fome e a insegurança alimentar em África e em todo o mundo. A crise alimentar é um problema global que exige uma solução global.

 

Conclusão

Em resumo, a fome sistémica em África é uma crise complexa que exige uma ação coordenada e urgente em todos os níveis. Os governos africanos precisam investir em tecnologias agrícolas resistentes à seca e sistemas de irrigação eficientes, adotando políticas para mitigar os impactos da mudança climática.

A indústria do petróleo e do gás também precisa assumir as suas responsabilidades pelos impactos ambientais das suas operações e investir em tecnologias de energia limpa e renovável. Além disso, a comunidade internacional deve oferecer assistência humanitária e financeira para combater a fome e a insegurança alimentar em África.

Juntos, podemos garantir a segurança alimentar e proteger o meio ambiente para as gerações presentes e futuras.

 

O que achas de tudo isto? Os governos em África já não deveriam ter percebido que este caminho é errado? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.

 

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Imagem: © 2015 Rod Waddington
Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santos

Ex-atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

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