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ToggleÁfrica: Pobreza Extrema Mais Alta Do Mundo
África continua a ser o continente com a maior taxa de pobreza extrema a nível mundial, uma realidade que afecta 38% da sua população, conforme revelado pelo relatório do Banco Mundial “Nivelar o campo do jogo – Eliminar as Desigualdades Estruturais para Acelerar a Redução da Pobreza em África” publicado agora.
Esta situação, marcada por desigualdades estruturais e distorções institucionais, perpetua as condições de baixos rendimentos para milhões e impede avanços significativos na redução da pobreza. Enquanto outras regiões do mundo conseguiram reduzir a pobreza extrema a níveis históricos, em África, a situação permanece estagnada ou, em algumas áreas, até agravada.
Com 60% da população mundial que vive em extrema pobreza, a residir na África Subsariana, a previsão é alarmante: até 2030, este número pode aumentar para 87% se não forem implementadas reformas significativas. Este cenário desafiante exige atenção urgente e acções coordenadas, para se conseguir transformar, positivamente, a realidade de milhões de pessoas.
As Desigualdades Estruturais Em África
Em África, as desigualdades estruturais desempenham um papel central na perpetuação da pobreza extrema. Estas desigualdades, que têm raízes em factores como o local de nascimento, etnia, género e origem parental, condicionam fortemente as oportunidades de ascensão social e económica.
Por exemplo, crianças provenientes dos 20% mais pobres da população têm menores probabilidades de concluir a escola a tempo, uma barreira que limita o acesso ao emprego formal e perpetua os ciclos de baixos rendimentos.
Além disso, o acesso a serviços básicos como a electricidade e saneamento básico continua a ser um privilégio para poucos. Apenas 32% das famílias pobres em África têm electricidade, em comparação com quase 70% das famílias não pobres. Esta disparidade reflecte desigualdades de acesso e ilustra como oportunidades produtivas são restringidas para uma grande parte da população.
As distorções institucionais e do mercado são outra força que alimenta a pobreza. Muitos sistemas económicos em África favorecem uma minoria, enquanto deixam a maioria dependente de empregos informais, mal remunerados e inseguros. Estas condições limitam o potencial produtivo das pessoas e criam um círculo vicioso que se torna difícil de romper.
Políticas Eficazes Em África
Embora o panorama geral seja desafiador, alguns países africanos mostraram que é possível efectuar mudanças significativas com políticas bem desenhadas e inclusivas.
A Etiópia, por exemplo, no início dos anos 2000, reformou os direitos de utilização das terras, incentivando investimentos na agricultura e reduzindo a insegurança alimentar. Esta abordagem fortaleceu o sector agrícola, criou empregos e melhorou os rendimentos das famílias rurais.
No Gana, investimentos no ensino primário aumentaram significativamente as taxas de conclusão escolar, enquanto reformas no mercado do cacau ajudaram a melhorar os rendimentos agrícolas. Estas iniciativas, combinadas com programas de crédito e investigação para combater doenças nas plantações, demonstram como políticas integradas podem transformar sectores chave.
Outro exemplo notável é o Quénia, onde a introdução de serviços financeiros como o dinheiro móvel promoveu a inclusão financeira. Este sistema permitiu que famílias pobres resistissem melhor a choques económicos e climáticos, além de ter estimulado pequenos negócios.
Estes exemplos provam que a pobreza extrema em África, não é um destino inevitável e que se os países desenvolverem as suas capacidades produtivas permitem que as populações acedam ao emprego e aos mercados.
“As desigualdades estruturais não têm nada de inevitável”.
“É possível eliminar os obstáculos às oportunidades, através de políticas bem concebidas”.
Afirmou Nistha Sinha, coautora do relatório do Banco Mundial, destacando a necessidade de políticas inclusivas que combinem inclusão económica, acesso a serviços básicos e apoio institucional.
Banco Mundial e FMI sob críticas
As políticas do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) têm sido alvo de críticas, particularmente no que diz respeito ao seu impacto em África. Desde a década de 1980, medidas como ajustes estruturais, redução de despesas sociais e promoção de economias voltadas para exportação resultaram em consequências negativas para milhões de africanos.
Embora o Banco Mundial defenda que as suas estratégias são projectadas para combater a pobreza, há evidências de que estas muitas vezes agravam desigualdades. Em 2008, a própria instituição admitiu ter subestimado o número de pessoas em extrema pobreza em 400 milhões, revelando falhas significativas nos seus métodos de cálculo.
Em 2024, a instituição reconheceu que o objectivo de erradicar a pobreza extrema até 2030 é inalcançável.
“Ao ritmo actual, levaria mais de um século para tirar metade do mundo da pobreza”-“Aqui especificas”.
As estatísticas utilizadas pelo Banco Mundial também são alvo de desconfiança. Actualmente, a linha de pobreza extrema é estabelecida em viver com menos de 2,15 dólares por dia, um valor criticado por ser demasiado baixo para reflectir as condições reais de vida.
Se a linha fosse aumentada para 5 dólares por dia, estima-se que 40% da população mundial seria considerada extremamente pobre, um número que sobe para 62% com uma linha de 10 dólares por dia. Estes dados levantam questões sobre a eficácia das instituições financeiras internacionais na resolução da pobreza em África e noutros lugares.
Conclusão
África enfrenta um desafio monumental para reverter os altos índices de pobreza extrema que afectam milhões de pessoas. Para que mudanças reais aconteçam, é necessário adoptar políticas inclusivas que eliminem as desigualdades estruturais e criem oportunidades para todos, independentemente das suas circunstâncias de nascimento.
Histórias de sucesso em países como o Gana, a Etiópia e o Quénia mostram que é possível transformar os desafios em oportunidades, mas isso requer vontade política, investimento sustentável e colaboração entre governos, sociedade civil e instituições internacionais.
No entanto, é fundamental reavaliar o papel das instituições como o Banco Mundial e o FMI, cujas políticas muitas vezes perpetuam ciclos de pobreza em vez de resolvê-los. Soluções eficazes para a pobreza em África devem focar-se em direitos humanos, igualdade de oportunidades e inclusão económica.
Sem acções concretas, África continuará a ser o epicentro da pobreza extrema mundial, uma realidade que não só é inaceitável, mas também prejudicial para o desenvolvimento global da humanidade.
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Imagem: © 2018 Süheyp Tosun / Alamy Stock Photo