Entrevista Exclusiva a Mais Afrika de Vanessa Africani, Vice-Presidente da Câmara de Comércio Brasil República de Camarões (CCBRC).
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Vanessa Africani, o compromisso com África.
África é claramente um continente que tem sido sobrevalorizado ao longo dos anos. Encontrar pessoas que estejam dispostas a dedicar a sua vida para que esse paradigma mude, não é fácil, mas é o caso de Vanessa Africani, a vice-presidente da Câmara de Comércio Brasil República de Camarões (CCBRC).
Nesta entrevista, falámos da importância que África tem para o mundo e da contribuição que o Brasil pode dar no desenvolvimento do continente africano.
Falamos também do trabalho importante que a Câmara de Comércio Brasil República de Camarões (CCBRC), tem desenvolvido não só nos Camarões, mas também para aproximar os dois continentes irmãos (África e América do Sul).
Falámos do importante relacionamento e da ligação que o Brasil tem com África e de como todo o know how brasileiro pode ser utilizado para ajudar a desenvolver o continente africano.
E, em tom de fim de conversa, também ficámos a conhecer a origem do “estranho” sobrenome “Africani” da nossa convidada.
Vejam o vídeo com toda a entrevista, ou se preferirem, leiam, aqui, a transcrição na integra.
A entrevista
Mais Afrika (MA): Olá Vanessa, é um prazer estar aqui contigo. Para começar e, para os nossos seguidores te ficarem a conhecer um pouco melhor, podes dizer-nos, quem és, que funções ocupas, além de ser colaboradora da Mais Afrika e como é que chegaste a posição em que te encontras hoje, ou por outras palavras podes contar-nos um pouco do teu percurso até à data?
Vanessa Africani (VA): Oi. Bom dia à todos. Eu sou publicitária, eu trabalho com algumas áreas de comunicação há muitos anos, eu tinha uma agência de comunicação, eu tive um problema de sócios e acabei viajando para a Bahia.
Aí, quando eu fui para a Bahia, eu fui convidada para um evento, por causa do meu pai. Meu pai foi fazer a implementação da fábrica da Ford, lá, e eu acabei conhecendo o assessor do Secretário de Cultura e Turismo lá da Bahia e esse assessor começou a me levar para trabalhar para o Governo da Bahia e foi assim que começou a minha trajetória na área de promoções na verdade.
Eu comecei a fazer coisas para a Secretaria da Cultura e turismo, depois em seguida, primeiro fiz para a Secretaria de Agricultura, fazia todo tipo de trabalho, desde eventos, promoção do carnaval, promoção do São João, projetos de Cultura, fiz um museu para eles, chamado espaço cultural Valdeloir Luiz Rego que é lá na Bahia, lá em Salvador.
Aí depois eles gostaram muito do meu trabalho, eu comecei a receber empresários, levar empresários para o carnaval e empresários com interesse em investir na Bahia. Por causa do meu sobrenome, o Secretário de Cultura me colocou para começar a receber as missões africanas.
Eu comecei a entender um pouco melhor sobre a postura do Estado e as relações bilaterais entre a Bahia e as culturas africanas, em seguida eles me passaram para trabalhar para o pessoal do Parque de Exposições, então fui trabalhar para o pessoal da Fenagro que é uma grande feira de agronegócio no Brasil e para outras feiras de outros setores que tinham lá.
Aí também gostaram muito do meu trabalho e me colocaram para fazer um evento, para ajudar um evento que o Ministério da Agricultura estava fazendo junto com o Governo do Estado da Bahia que foi chamado “1º Congresso Internacional do Boi de Capim”.
Esse projeto foi para que todo o setor produtivo da carne se organizasse e fosse implantada uma política agrária para o Plantel Nacional, o tipo de gramínea, o tamanho de carcaça que fossem usar na criação do Nelore isso foi em 2002, a gente começou em 2002, o evento foi em 2005, para que o Brasil se tornasse um grande exportador de carne.
Então isso foi um evento realizando em conjunto pela ACNB, a ABAC a ABIEC que são brasileiros criadores e exportadores da carne, o Ministério da Agricultura, Secretaria de Agricultura… em paralelo, esse evento teve um Congresso com todos os secretários de agricultura, depois disso, o Governo da Bahia, com quem eu trabalhava perdeu a eleição.
Eu voltei para São Paulo, eu comecei, eu fiz uma parceria com uma empresa, fui contratada para trabalhar com o projeto de feiras internacionais então comecei a fazer diversos evento fora. Fiz o MIPIM, a Mapic e fiz feiras nos Estados Unidos e no Panamá.
Fiz também aqui no Mercosul onde acabei conhecendo as câmaras de comércio, trabalhando com algumas câmaras e aí eu fui contratada para alguns eventos internacionais.
Também fiz o America´s Food, SAHIC, SASOIC, fiz a ARDA para a American Resorts Development Associaton, nos Estados Unidos, fiz diversas… fiz a Global City, foram diversos eventos, para a captação de investimentos ou levar empresas brasileiras para esses eventos de captação de investimento no mundo.
Depois a gente começou a ser contratada por países para começar a fazer eventos para eles, então a gente fez o Panamá Investe, fez o Paraguai Investe e a gente recebeu missões, missões da CAIPA que é a Caribbean Association of Investment Promotion Agencies e outras.
Aí eu fiz uma missão para o Cameroun, foi quando eu conheci o meu presidente em 2012. Em seguida o meu contrato acabou, eu fui contratada de novo depois pelo Panamá que a indicação veio do meu embaixador do Cameroun para a Embaixadora do Panamá, na época que eles me contrataram para voltar a trabalhar para eles e de alguém no governo brasileiro que eu não sei quem foi.
Eu voltei a fazer eventos também para o Mercado do Turismo, fiz o Brazil Hospitality Investment Forum e aí eu parei um pouquinho porque eu tive um neném e eu fiquei um pouco afastada.
Eu fui para os Estados Unidos, eu queria fazer uma empresa de negócios alguma coisa de promoções, lá, mas acabei voltando para o Brasil com a pandemia e quando eu voltei, eu reencontrei o meu presidente quando eu fui a uma reunião na Associação Comercial de SP e também reencontrei o Miguel que é um presidente do Mercosul e Américas, trabalho hoje nas duas câmaras, ajudando as duas câmaras na promoção e eles queriam muito.
Fazia muito tempo que eles tinham me pedido, mas eu falava que não era do Comércio Exterior que eu não era do setor, tal que eu não via muito como podia colaborar e aí eles me falaram, não mas você é uma mulher de negócios, você consegue fazer promoção, vem nos ajudar…
Aí, eu acabei aceitando trabalhar nas duas câmaras para poder fazer essa parte de desenvolvimento do negócio, então no Cameroun hoje eu sou vice-presidente. Eu tenho um apoio enorme do Cameroun, da Embaixada do Cameroun, desde a primeira vez que eu trabalhei para eles em 2012, na missão que eu recebi.
Eu criei um laço de amizade, realmente com a agência de promoção de investimentos do Cameroun e tenho um grande apoio deles e assim, foi dessa forma que eu voltei a trabalhar com o Cameroun e estou desempenhando esse papel já faz dois anos e quase dois anos e meio, agora.
E na parte do Mercosul, eu desenvolvo negócios também, essas são parcerias, agora a gente acabou de fechar uma parceria com o pessoal do Peru, a gente está fazendo uma parceria também com uma câmara de mulheres empreendedoras da américa latina e é dessa forma que a gente vai desenvolvendo as missões os negócios, os investidores acabam chegando e a gente começa fazendo os projetos.
MA: Podes explicar-nos com mais detalhe o que é que é a Câmara de Comércio Brasil República dos Camarões. O que é que fazem, quem são os seus membros e ao fim e ao cabo dar um pouco um exemplo dos seus êxitos, ou de algumas datas marcantes até o momento.
VA: A CCBRC, existe desde 2009, mas na verdade o meu presidente chegou no Brasil em 2002.
Ela existe para aumentar as relações comerciais e bilaterais entre os dois países, o Cameroun e o Brasil. Quando o meu presidente chegou, ele acabou indo trabalhar junto com o Sr. Adalberto Camargo que foi um mentor para ele, foi o primeiro negro brasileiro a se tornar Deputado Federal e que abriu caminho para o comércio entre o Brasil e a África.
Então o seu Thomas, o nome do meu presidente é Thomas Tcheuffa, ficou com eles um tempo, trabalhando com Adalberto até fundar a câmara em 2009 e de lá para cá existe essa luta.
Ele estava sozinho eu entrei em 2012 para fazer a missão, mas depois ele continuou desenvolvendo os projectos da câmara, recebendo camaroneses, a gente está recebendo bastante Missões aqui do Cameroun etc., para poder desenvolver-se esse negócio, essas relações, porque na verdade não são comércio, são relações bilaterais, o desenvolvimento de know how, levar a tecnologia…
Ele levou diversos projectos, a biofábrica pro Cameroun, enfim muitos projetos que a gente tem trabalhado para poder desenvolver em conjunto. Então no último ano, eu vou falar um pouco mais sobre já quando eu entrei, no último ano a gente estava fazendo três missões, uma missão com empresários que aconteceu em Outubro, dessa missão desenvolveram diversos projetos.
Inclusive a gente vai fazer um laboratório de análise de solo no Cameroun, a gente trouxe para o Brasil camaroneses, inclusive essas pessoas que foram nas missões depois entraram na câmara para participar da câmara com a gente, o vice-presidente de uma grande companhia, a maior companhia de sementes do Brasil, a Agristar, ele foi connosco para o Cameroun.
Ele está desenvolvendo um projeto com a gente lá, de produção de sementes etc., a gente tá fazendo uns laboratórios de análises do solo, ele também trouxe para o Brasil, a gente fez uma parceria com a escola de Binguela, a escola agrónoma de Binguela e a gente trouxe para o Brasil recém-formados para que aprendessem as técnicas de manejo e da produção de sementes.
Tem duas pessoas aqui e a gente, o ano que vem, já vai trazer mais pessoas para poderem aprender aqui, então esses são os resultados da primeira missão. Aí da segunda missão, a gente foi convidados pelo JEICOM, o JEICOM é uma espécie de um evento, uma espécie de uma feira onde estavam as comunidades camaronesas para desenvolverem o potencial da sua região.
Então a gente foi falar sobre a agricultura nacional sobre a agricultura brasileira, o que acontece no Cameroun e na África que eu vejo como um todo, é que até hoje gastaram-se bilhões, para fazer agricultura lá, só que é uma agricultura errónea, porque a agricultura da África é igualzinha a agricultura do Brasil, o mesmo tipo de solo, o mesmo tipo de clima.
Eles lá têm a Savana, a gente aqui tem o Cerrado, então são áreas mais secas que precisam desenvolver e a gente foi falar sobre isso, sobre os nossos equipamentos, a nossa tecnologia, o nosso know how, a gente foi convidado para falar sobre isso, para aplicação da agricultura tropical brasileira.
Então a gente foi para essa missão e em seguida, a gente foi fazer uma missão com o CIITTA, a gente fez uma parceria na Câmara com o CIITTA, o CIITTA é o Centro Internacional de Transferência Tecnológica Agropecuária, esse centro foi formado pela FGV Europe, a FGV Europa é a 5ª maior Think Tank do mundo, ela fica aqui no Brasil em Uberaba, dentro da Fazenda Agronelli,
E assim, é um centro de referência onde todos os ex ministros brasileiros de agricultura fazem parte, o MAPA (Ministério da Agricultura) faz parte, diversas entidades, o sistema S, Senai, Sebrae, todo o sistema S, o FAZU, a Universidade de agro de Uberaba, estão dentro assim como a Embrapa, então assim juntaram-se todos, inclusive o Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty.
Todas essas entidades se juntaram dentro do CIITTA para facilitar essa negociação com a África e a FGV faz toda a parte de estruturação financeira, então tá vendo os investidores, bancos internacionais que poderiam financiar os projetos. Eles têm projectos muito interessantes. Eles trabalham com a África já há bastante tempo.
O CIITTA é novo, mas o Cléber Guarany que é o presidente ele trabalhar na FGV à 15 anos, fazendo projetos na África e em outras partes do mundo inclusive aqui no Mercosul, nos Estados Unidos e são muito experientes e a gente fez essa missão para conversar com as autoridades camaronesas.
Conversar com os ministros, com o primeiro-ministro, porque a gente está com três projetos lá, com o governo, para ajudá-los na autossuficiência nos setores de arroz, milho e peixe que hoje são os maiores problemas na balança comercial do Cameroun. São os produtos mais importados, então eles precisam se tornar autossuficientes na sua produção.
MA: Como boa conhecedora do mercado africano, podes indicar-nos qual é que é o “apetite” dos investidores e das empresas brasileiras pelo nosso mercado?
VA: Os empresários brasileiros desconhecem a África a fundo, não sabem nada do continente africano. Existem poucas ações de promoção, o Brasil que participa de 3 feiras, no Marrocos, na África do Sul, tem missões no Egito.
Mas assim consciência não há mesmo, são muitos países, as pessoas praticamente não conhecem as oportunidades que existem, sabe, na África, não existe nem ações africanas aqui, são poucas e nem ações brasileiras lá, então assim a gente tem trabalhado para mostrar e para divulgar que existem milhões de oportunidades em diversos setores.
Na agricultura, no óleo e no gás, no petróleo, energia, a bioenergia, principalmente no agro em que o Brasil pode se tornar o maior colaborador e eu tenho certeza disso, no continente africano, porque é o mesmo tipo de solo, mesmo tipo de clima, então as técnicas que estão sendo usadas aqui, podem ser usadas lá.
Então a gente pode realmente transferir esse know how, essa tecnologia, enfim, tem muitas oportunidades, mão de obra excedente na África, a população jovem. Eu vejo muitas oportunidades no setor, na parte Industrial, exportação de manufaturado, eu acho que uma das coisas que a gente fez, foi ir no Supermercado, a gente vê produtos brasileiros sendo vendidos lá.
Mas ninguém sabe que é produto brasileiro que foi re-embalado em outros países, tanto na Europa, como até da própria África e são produtos brasileiros. Então a gente tem espaço para muitas coisas, eu acho que para muitas oportunidades, cada um com a sua peculiaridade, então assim vai de encontro a cada um, na época, cada um dos projetos pessoais dos donos das empresas multinacionais etc.
Mas eu acho que, tudo que a gente puder fazer para poder divulgar e fazer a promoção, acho que será bem-vinda.
MA: O que é que achas que é preciso fazer para incrementar os investimentos e as transações entre o Brasil e os Camarões, bem e também entre o resto da África.
VA: Olha só, eu acho que a África é um continente com muitíssimo potencial. Eu tenho conversado com muitas pessoas, às vezes muita gente, tem-me procurado, para fazer o trabalho que a gente tem feito, com a projecção no LinkedIn, eu conversei com um economista do Canadá, investidores dos Estados Unidos, nós temos alguns problemas para trabalhar com a África, por exemplo, nos projetos do CIITTA.
A gente precisa de garantias sobre um determinado projeto, para que a gente consiga fazer a implementação e o financiamento com recurso dos bancos internacionais, bancos europeus e bancos locais, então assim, hoje o maior problema que eu vejo em trabalhar com a África, são as nossas sinergias.
Porque por exemplo, a gente não consegue fazer um financiamento, porque eles não têm formas de usar a garantia, então a gente já conversou sobre a criação de um fundo de reserva para a África, acho que existem projetos na ONU, projeto do Banco Mundial, para alguns setores.
Mas assim enquanto não se desenvolver, eu penso da seguinte forma, enquanto não se desenvolver o potencial agrícola da África, onde eles possam criar uma base para desenvolver o próprio alimento, criar uma base de emprego que as pessoas trabalhando no campo também vão gerar renda, porque eles vão geral a própria comida e aí vão poder exportar a comida.
A população africana ela tende a crescer, a estimativa é que até 2050 dobre e mais um pouquinho para dois bilhões e quatrocentos milhões de pessoas no mundo, vai-se tornar o continente com a maior população do mundo.
Então assim, oportunidades não vão faltar, mas se eles começarem a produzir a própria comida, poder criar essa base de renda para que outras empresas também possam levar o seu potencial para lá, industrializar, porque você gerando, começando na faixa agrícola você vai gerar indústria, você vai gerar transformações dos produtos.
Então assim você vai gerar mais renda, você vai gerar mais emprego, mais oportunidade.
Então eu acho que a primeira parte seria essa e em seguida as outras, o resto, vai vir naturalmente, as empresas de tecnologias, as empresas de energia e assim fora isso tem um potencial imenso porque as maiores reservas de minas inexploradas estão na África.
Existe uma enorme quantidade de terras agricultáveis que estão lá também, então recursos não faltam, água abundante, enfim recursos não faltam, acho que se a gente começar a gerar o primeiro passo, com isso os investidores vão vir, porque vão ter formas de garantia para que os investimentos chegam.
Eu acho que o primeiro passo é esse.
MA: Quais é que achas que são os setores em que há, ou existe, maior interesse no investimento em África e tenta-me explicar porquê.
VA: Então o Brasil é assim, a gente, o que eu estava falando da parte do agro que eu acho um grande potencial, eu vejo como o maior potencial, o Brasil fez grandes projectos no setor do óleo e gás tanto com a Vale quanto a Petrobras, a construção de infraestrutura a gente levou empreiteiras para fazer projetos para alguns países africanos.
Enfim, são muitos os setores, de que existem possibilidades, o que eu vejo é que a gente precisa estar aumentando essa relação bilateral, voltar a ter esse intercâmbio com esses países e uma vez que isso exista que a gente consiga criar essa garantia para que as empresas possam receber e desenvolver os seus trabalhos, o seu know how no continente.
MA: Vanessa, olhando no sentido inverso e tendo em vista a tua vasta experiência, achas que a África vê o Brasil como um potencial investidor ou pura e simplesmente para os africanos o Brasil nem sequer existe.
VA: Eu não sei te responder, eu acredito que hoje as informações que chegam na verdade na África, pelo menos que eu vi nas missões em que eu participei, as informações que chegam na África no continente africano, não são realmente as informações verídicas do que acontece aqui.
Por exemplo, eles não sabem que o Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, eles não sabem que nós somos o número 1 em alguns alimentos, as informações de que a gente devasta a Amazónia que a gente não preserva o nosso bioma, problemas políticos que chegam lá, talvez as informações estão chegando de uma forma um pouco distorcida.
O nosso Agro é um grande potencial um dos maiores do mundo, que a gente poderia estar colaborando com eles e eles até hoje gastaram bilhões de dólares, implementando uma política agrícola e até uma agricultura baseada na Europa que o clima é frio e não para o clima temperado que não funciona, então assim, eles não conseguem ter essa distinção do que realmente acontece aqui.
Entendeu, a nossa relação é distante, eu diria que a nossa relação é distante, então dessa forma a gente tem que trabalhar mais eu acho que isso é uma coisa que o Brasil também tem que fazer, para que eles saibam do nosso potencial e o que acontece aqui, a nossa tecnologia ao que a gente consegue produzir em áreas muito pequenas, quantidades absurdas de toneladas de grãos, por exemplo, entendeu?
E a gente preserva nosso território, a gente tem uma parte de reserva aqui é obrigatório por lei, enfim, as informações tem que chegar lá de uma outra forma, de uma forma melhor, eu acho que até os meios de comunicação poderiam estar colaborando para que essa informação chegue no território.
MA: E já agora, no contexto das parcerias, como vez esta nossa colaboração entre a Mais Afrika e a Câmara de Comércio Brasil República de Camarões e que futuro pensas que poderemos alcançar juntos?
VA: Bom, a gente está fazendo esta parceria inclusive para que a gente possa mudar esse pré-julgamento que existe de ambos os lados, eu acho que é um pré-julgamento, hoje ninguém faz direito e não existe uma forma de comunicação entre ambos os lados.
Então a gente está fazendo isto, estas missões, todo o trabalho que a gente tem feito de promoção e divulgação não só no Cameroun, mas tudo que chega para mim que são projetos que que as pessoas colocam, se você pode me ajudar, o que que você acha…
Eu tenho recebido muitos, muitos africanos me procurando, seja para exportação de produtos, seja para ajudar com projetos de setores diversos, governos de outros países, que dizem, esses modelos que vocês estão fazendo no Cameroun, não poderia ser feito aqui no nosso país? A a gente tem feito projeto com o governo e tem feito projetos também com entidades privadas no Cameroun.
Mas todos nós queremos fazer coisas que possam deixar um legado. Seja a empresa de sementes, seja a empresa de fertilizantes que está ajudando.
Que eles entendam sobre a cultura do solo, seja os projetos com o CIITTA que tem todo esse know how e todo o background dos ex-ministros brasileiros de agricultura, do Cleber que já trabalha há muitos anos, do Juliano que é o head da FGV da agricultura.
Então você tem pessoas que trabalham muitos anos sabe que trabalham seriamente para poder fazer a coisa certa para poder colaborar e ajudar realmente o continente africano.
MA: Para terminar gostarias de acrescentar alguma coisa, algo que aches que possa ter interesse e que eu não perguntei?
VA: Eu queria deixar assim uma mensagem aqui para todo mundo, que as pessoas parem de pré julgar e conheçam melhor o continente africano e que pensem sempre na África como uma parceira de médio e longo prazo.
Nada é instantâneo, porque eles têm dificuldades que precisam ser atravessadas que a gente tem que pensar numa forma de conseguir colaborar para que se atravessem essas barreiras, seja ela na garantia, seja ela na criação de novos seguros, seja na implementação de um fundo, eu não sei ainda quais vão ser os caminhos.
A gente pensa nas medidas, nas diversas formas, também estou envolvida com isso mas sei que tem várias pessoas e bancos e entidades, investidores, governos trabalhando com isso, mas que as pessoas pensem em poder fazer isso também, como uma forma de ajudar a região a crescer, sabe, a desenvolver, a enxergar que ali existem oportunidades de desenvolvimento.
Pessoas querendo trabalhar e que a gente, pode sim, mudar essa situação, é precária, em alguns países são bem precárias, em termos de alimentos, em termos de condições de vida, etc. Então que as pessoas realmente pensem na África como um grande potencial que existe realmente um grande potencial.
MA: Vanessa, tenha a certeza de que toda a gente está com curiosidade para saber, qual é a origem do teu nome, ou seja o Africani. Consegues dizer-nos ou explicar a origem do teu nome?
VA: Quando o meu presidente me conheceu, Thomas, quando eu falei para ele meu sobrenome, ele falou “qual é seu nome” eu falei “Vanessa Africani”, ele falou “África? Você está brincando comigo?” eu falei “não é meu sobrenome”, ele falou “menina você tem uma missão com a África, você tem uma obrigação com a África” e aquilo ficou a minha cabeça, sabe é tipo, é você tem alguma coisa para fazer com a África.
E assim a minha família veio da Europa, da Itália, só existem três famílias Africani no mundo. Hoje, pelo que eu fiquei sabendo recentemente, a minha família aqui no Brasil que é uma única família que veio de um italiano, na Itália tem mais duas ou três, acho que são duas na verdade porque uma delas a gente soube que ele foi adotado por um Africani em um convento.
Então não se sabe muito bem a origem dele porque os pais já são falecidos.
E essa pessoa, com quem eu conversei através do LinkedIn, também um Africani que mora na Itália, ele me contou algumas coisas. Quando eu era pequena, na escola a minha professora de história falava que achava que tinha alguma coisa a ver com ferramentas e a minha família são de industriais, o meu avô tinha uma indústria de ferramentas, de serrotes, inclusive aqui no Brasil.
Quando eu conversei com ele, com esse italiano, ele falou “Vanessa a origem na verdade dos Africani veio do Egipto”.
A gente não sabe muito bem o porque do Africani mas o África, é de África o continente africano, o N é de Norte, o I a gente não sabe ainda o que é, se é o plural em italiano ou se tem alguma ligação com alguma tribo, alguma outra informações do dialeto, alguma coisa que existia na região.
Então assim, na verdade a origem do Africani é egípcia, ele me falou isso.
Eu não estudei a fundo, não fui atrás de muitas informações, foi no ano passado que eu conversei com ele e ele me contou isso. E aí quando eu contei para o meu presidente, ele disse “está vendo, eu falei para você. Você tinha alguma coisa com a África, porque quando eu te conheci eu sabia que você tinha alguma função alguma coisa para fazer lá que tinha a ver com o seu sobrenome”.
Então a origem é africana mesmo.
MA: Vanessa, muito obrigado por te teres predisposto a fazer esta entrevista. Tenho a certeza de que agora todos os nossos seguidores te ficaram a conhecermos muito melhor. Como colaboradora, obviamente que vais continuar a participar comigo nas próximas entrevistas e por isso vais continuar aqui esta tua participação, mas de momento, mais uma vez obrigado por teres estado aqui e até a próxima.
VA: Eu é que agradeço a oportunidade a todos os que estão nos ouvindo. É realmente um prazer para mim estar desenvolvendo esse trabalho que está sendo reconhecido em diversas partes do mundo, sem estar julgando a África e também levando o nosso potencial agrícola brasileiro para lá.
Eu queria agradecer realmente todos os que tem me mandado mensagens que tem me procurado, perguntando de que forma podem trabalhar com a gente, investidores, todas as pessoas que nos últimos meses têm nos procurado para elogiar o trabalho ou para perguntar de que forma poderiam estar envolvidos e etc.
Que isto tudo se torne, uma forma das pessoas poderem refletir sobre os países africanos.
O que achas desta entrevista com a Vanessa Africani? É importante que já mais intercambio entre África e o Brasil? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.
Imagem: © 2022 Francisco Lopes-Santos