O Alentejano Que Se Tornou Rei na Guiné-Bissau.
Francisco Ramos, natural do Alentejo em Portugal, é conhecido popularmente como o ‘Rei dos Frangos’ na Guiné-Bissau, país onde vive há 33 anos. Este empresário representa um caso exemplar de quem ousou aventurar-se além das fronteiras nacionais, construindo uma nova existência no continente africano.
Faz mais de três décadas que Francisco escolheu abandonar a sua terra natal para se instalar na Guiné-Bissau. Este país acolheu-o de braços abertos, despertando nele uma paixão que perdura até hoje. Francisco sente-se genuinamente em casa nesta nação que conquistou o seu coração e se tornou a sua residência definitiva.
Portugal, já não consta nos seus planos futuros a ideia de regressar nem sequer lhe passa pela cabeça. Com as suas raízes profundamente fixadas em solo africano, Francisco questiona-se sobre a sua capacidade de se readaptar à vida no país que o viu nascer.
O Início da Jornada na Guiné-Bissau
A ligação de Francisco com a Guiné-Bissau surgiu de uma forma inusitada. Quando regressou do serviço militar em Timor-Leste, decidiu leccionar um curso de restauração. Nas aulas, deparou-se com vários alunos guineenses que lhe pediram para ir para a Guiné-Bissau porque o país precisava de ajuda.
Foi essa interação que o levou a perceber que o seu futuro estava entrelaçado com a Guiné-Bissau. Sensibilizado pelo pedido dos alunos, Francisco foi motivado a agir e decidiu emigrar para a Guiné-Bissau.
Assim, ao responder ao apelo dos seus alunos, lançou-se numa nova jornada. Essa decisão marcou o início de uma carreira impressionante na restauração na Guiné-Bissau, uma viagem inesperada que teve início com um simples curso de restauração.
“É simples, eu vim de peito aberto, numa de solidariedade, ajudar a Guiné-Bissau. E fiquei por aqui”.
“Umas vezes as coisas a correrem bem, outras vezes a correrem mal”.
Referiu Francisco, referindo-se a vários negócios por onde passou, todos na área da restauração.
Asa Branca e Lusófono
Chegado a Bissau em 1990, Francisco embarcou num audaz empreendimento: a abertura do seu próprio restaurante, o Asa Branca que se situava mesmo no coração da capital guineense e que depressa ficou famoso.
Além dos clientes guineenses, era visitado por muitos portugueses que, devido à guerra civil de então em Angola e em Moçambique, procuravam na Guiné-Bissau um destino diferente.
“Foram anos de grande sucesso, não só para o meu restaurante, mas para outros restaurantes também porque havia de facto uma grande movimentação de pessoas”, explica.
Rapidamente, este espaço adquiriu reputação e, ao fim de sete ou oito anos, o espaço, no quintal da sua casa, depressa se tornou pequeno e Francisco Ramos comprou um terreno maior perto da avenida que liga o centro de Bissau ao aeroporto, onde abriu o restaurante Lusófono.
A verdadeira notoriedade chegou com o restaurante Lusófono. No entanto, a guerra civil de 1998 na Guiné-Bissau obrigou ao encerramento do estabelecimento.
“Eu criei o Lusófono como um filho, mas pouco depois começou a guerra civil”.
“Foi dramática como infelizmente a maioria das guerras”.
“Fui obrigado a fechar o Lusófono por falta de clientela porque a instabilidade política era muito grande naquela altura”, conta.
Inabalável perante as adversidades, Francisco recusou-se a baixar os braços e criou um novo projecto, o Rei dos Frangos.
Rei dos Frangos
Há 24 anos, nasceu o Rei dos Frangos, estabelecimento que é hoje um nome a respeitar na Guiné-Bissau. Este restaurante mantém-se em pé e em funcionamento, conquistando um lugar de destaque no país. Através dele, Francisco alcançou grande fama e tornou-se um nome respeitado no sector da restauração.
Empregando dez pessoas e com planos para expandir o seu negócio, Francisco revela-se um empresário de sucesso. Com a reforma no horizonte, continua a investir, agora num novo projecto em Quelelé, área densamente povoada, mas desprovida de restaurantes.
Apesar das dificuldades, Francisco mantém-se optimista quanto ao futuro. Acredita na prosperidade contínua do Rei dos Frangos e espera que o seu sucesso inspire outros a criar oportunidades para si e para a comunidade. A sua visão de futuro concentra-se no crescimento contínuo do seu negócio, com o foco sempre voltado para o povo e a cultura da Guiné-Bissau.
Um Futuro em África
A Guiné-Bissau tornou-se a verdadeira casa de Francisco. Foi aqui que os seus três filhos vieram ao mundo e cresceram. Com convicção inabalável, o empresário insiste que o seu futuro é nesta nação. A mera menção ao povo guineense emociona-o, e é neste canto da África Ocidental que ele pretende continuar a deixar a sua marca.
“Os guineenses não gostam de ver um português aqui a trazer a mulher”.
“Gostam que os portugueses venham e tenham filhos aqui das guineenses”.
“Tem que ser assim, para mostrar que a pessoa não vem para aqui só à procura de dinheiro”.
As filhas estão em Inglaterra e o filho em Portugal e a família que deixou para trás, sobretudo na região de Ervidel, Beja, de onde é oriundo, nunca o visitou na Guiné-Bissau.
No entanto, Francisco, que reside na Guiné-Bissau desde 1990, expressa tristeza pela ausência de avanços significativos no país. Apesar disso, ele escolheu este lugar para criar os seus filhos e é aqui que pretende permanecer.
“África ainda é um mistério para muitas pessoas”.
Comenta, realçando que os problemas da Guiné-Bissau são primordialmente políticos.
A Comunidade Portuguesa na Guiné-Bissau
Hoje, sobretudo devido à conjuntura internacional, os cerca de 80 por cento de guineenses que dependem do comércio da castanha de caju estão a passar por uma situação muito grave porque o produto está a ser muito mal pago e não dá para comprar arroz, a base alimentar da população.
Segundo dados do Ministério dos Negócios Estrangeiros, estavam registados 8.902 portugueses no consulado na Guiné-Bissau em 2022, a maioria a viver em Bissau, seguindo-se Cacheu e Oio, Bafatá e Gabú.
A comunidade portuguesa dedica-se sobretudo ao comércio e retalho, construção civil, logística e distribuição, serviços de saúde, cooperação e desenvolvimento e trabalho em organizações internacionais.
Mesmo perante os desafios, Francisco mantém-se resistente e determinado a contribuir para a melhoria do país que tanto ama.
“Eu costumo dizer aos guineenses que não sou só guineense, sou um europeu com coração africano”.
“Para aguentar esta situação da Guiné, não é só gostar da Guiné, temos de amar a Guiné”.
O Legado de Francisco Ramos na Guiné-Bissau
Francisco enfrentou muitos desafios ao longo do caminho. Uma guerra civil, uma economia instável, e as diferenças culturais iniciais foram obstáculos consideráveis. No entanto, Francisco nunca viu essas dificuldades como um impasse, mas sim como desafios para superar.
Ele lembra-se com saudade dos tempos difíceis, considerando-os uma parte essencial da sua história de sucesso. Uma das chaves para o sucesso de Francisco tem sido a sua capacidade de adaptar-se às circunstâncias. Desde as mudanças na economia até às necessidades variáveis dos seus clientes, ele tem conseguido mudar o seu negócio para se adequar ao ambiente em constante mudança.
O empresário tem a habilidade de prever as necessidades dos seus clientes e fornecer um serviço de alta qualidade que ultrapassa as expectativas. Francisco nunca esqueceu as suas raízes portuguesas, e estas têm uma influência notável na maneira como ele gere o seu negócio.
Do design dos seus restaurantes até à escolha dos ingredientes e pratos, existe sempre um toque português em tudo o que faz. Mas não é só no negócio que Francisco mostra a sua herança. O empresário faz questão de trazer elementos da sua cultura portuguesa para a comunidade local.
O trabalho de Francisco na Guiné-Bissau tem sido muito mais do que apenas negócios. Ele é um exemplo para muitos na comunidade, mostrando que é possível superar obstáculos e alcançar o sucesso. O empresário contribui significativamente para a economia local, criando empregos e fornecendo um serviço de alta qualidade para os residentes locais.
Conclusão
Apesar dos obstáculos e desafios, Francisco Ramos é um exemplo de persistência e amor à Guiné-Bissau. Decidido a não voltar a Portugal, Francisco continua a escrever a sua história na Guiné-Bissau, como o ‘Rei dos Frangos’.
O que achas desta história? Fazem falta mais pessoas como este homem, na Guiné-Bissau? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.
Ver Também:
A Cooperação na CPLP é fundamental
O BAD e a importância dos PALOP em África
Imagem: © 2023 André Kosters