21.7 C
Londres
Sexta-feira, Julho 26, 2024

O Alentejano Que Se Tornou Rei na Guiné-Bissau

“Eu costumo dizer aos guineenses que não sou só guineense, sou um europeu com coração africano” – Francisco Ramos, o Rei dos Frangos.

O Alentejano Que Se Tornou Rei na Guiné-Bissau.

Francisco Ramos, natural do Alentejo em Portugal, é conhecido popularmente como o ‘Rei dos Frangos’ na Guiné-Bissau, país onde vive há 33 anos. Este empresário representa um caso exemplar de quem ousou aventurar-se além das fronteiras nacionais, construindo uma nova existência no continente africano.

Faz mais de três décadas que Francisco escolheu abandonar a sua terra natal para se instalar na Guiné-Bissau. Este país acolheu-o de braços abertos, despertando nele uma paixão que perdura até hoje. Francisco sente-se genuinamente em casa nesta nação que conquistou o seu coração e se tornou a sua residência definitiva.

Portugal, já não consta nos seus planos futuros a ideia de regressar nem sequer lhe passa pela cabeça. Com as suas raízes profundamente fixadas em solo africano, Francisco questiona-se sobre a sua capacidade de se readaptar à vida no país que o viu nascer.

O Início da Jornada na Guiné-Bissau

A ligação de Francisco com a Guiné-Bissau surgiu de uma forma inusitada. Quando regressou do serviço militar em Timor-Leste, decidiu leccionar um curso de restauração. Nas aulas, deparou-se com vários alunos guineenses que lhe pediram para ir para a Guiné-Bissau porque o país precisava de ajuda.

Foi essa interação que o levou a perceber que o seu futuro estava entrelaçado com a Guiné-Bissau. Sensibilizado pelo pedido dos alunos, Francisco foi motivado a agir e decidiu emigrar para a Guiné-Bissau.

Assim, ao responder ao apelo dos seus alunos, lançou-se numa nova jornada. Essa decisão marcou o início de uma carreira impressionante na restauração na Guiné-Bissau, uma viagem inesperada que teve início com um simples curso de restauração.

“É simples, eu vim de peito aberto, numa de solidariedade, ajudar a Guiné-Bissau. E fiquei por aqui”.

“Umas vezes as coisas a correrem bem, outras vezes a correrem mal”.

Referiu Francisco, referindo-se a vários negócios por onde passou, todos na área da restauração.

 

Asa Branca e Lusófono

Chegado a Bissau em 1990, Francisco embarcou num audaz empreendimento: a abertura do seu próprio restaurante, o Asa Branca que se situava mesmo no coração da capital guineense e que depressa ficou famoso.

Além dos clientes guineenses, era visitado por muitos portugueses que, devido à guerra civil de então em Angola e em Moçambique, procuravam na Guiné-Bissau um destino diferente.

“Foram anos de grande sucesso, não só para o meu restaurante, mas para outros restaurantes também porque havia de facto uma grande movimentação de pessoas”, explica.

Rapidamente, este espaço adquiriu reputação e, ao fim de sete ou oito anos, o espaço, no quintal da sua casa, depressa se tornou pequeno e Francisco Ramos comprou um terreno maior perto da avenida que liga o centro de Bissau ao aeroporto, onde abriu o restaurante Lusófono.

A verdadeira notoriedade chegou com o restaurante Lusófono. No entanto, a guerra civil de 1998 na Guiné-Bissau obrigou ao encerramento do estabelecimento.

“Eu criei o Lusófono como um filho, mas pouco depois começou a guerra civil”.

“Foi dramática como infelizmente a maioria das guerras”.

“Fui obrigado a fechar o Lusófono por falta de clientela porque a instabilidade política era muito grande naquela altura”, conta.

Inabalável perante as adversidades, Francisco recusou-se a baixar os braços e criou um novo projecto, o Rei dos Frangos.

 

Rei dos Frangos

Imagem © DR (20230614) O alentejano que se tornou rei na Guiné-BissauHá 24 anos, nasceu o Rei dos Frangos, estabelecimento que é hoje um nome a respeitar na Guiné-Bissau. Este restaurante mantém-se em pé e em funcionamento, conquistando um lugar de destaque no país. Através dele, Francisco alcançou grande fama e tornou-se um nome respeitado no sector da restauração.

Empregando dez pessoas e com planos para expandir o seu negócio, Francisco revela-se um empresário de sucesso. Com a reforma no horizonte, continua a investir, agora num novo projecto em Quelelé, área densamente povoada, mas desprovida de restaurantes.

Apesar das dificuldades, Francisco mantém-se optimista quanto ao futuro. Acredita na prosperidade contínua do Rei dos Frangos e espera que o seu sucesso inspire outros a criar oportunidades para si e para a comunidade. A sua visão de futuro concentra-se no crescimento contínuo do seu negócio, com o foco sempre voltado para o povo e a cultura da Guiné-Bissau.

 

Um Futuro em África

A Guiné-Bissau tornou-se a verdadeira casa de Francisco. Foi aqui que os seus três filhos vieram ao mundo e cresceram. Com convicção inabalável, o empresário insiste que o seu futuro é nesta nação. A mera menção ao povo guineense emociona-o, e é neste canto da África Ocidental que ele pretende continuar a deixar a sua marca.

“Os guineenses não gostam de ver um português aqui a trazer a mulher”.

“Gostam que os portugueses venham e tenham filhos aqui das guineenses”.

“Tem que ser assim, para mostrar que a pessoa não vem para aqui só à procura de dinheiro”.

As filhas estão em Inglaterra e o filho em Portugal e a família que deixou para trás, sobretudo na região de Ervidel, Beja, de onde é oriundo, nunca o visitou na Guiné-Bissau.

No entanto, Francisco, que reside na Guiné-Bissau desde 1990, expressa tristeza pela ausência de avanços significativos no país. Apesar disso, ele escolheu este lugar para criar os seus filhos e é aqui que pretende permanecer.

“África ainda é um mistério para muitas pessoas”.

Comenta, realçando que os problemas da Guiné-Bissau são primordialmente políticos.

 

A Comunidade Portuguesa na Guiné-Bissau

Imagem © DR (20230614) O alentejano que se tornou rei na Guiné-BissauHoje, sobretudo devido à conjuntura internacional, os cerca de 80 por cento de guineenses que dependem do comércio da castanha de caju estão a passar por uma situação muito grave porque o produto está a ser muito mal pago e não dá para comprar arroz, a base alimentar da população.

Segundo dados do Ministério dos Negócios Estrangeiros, estavam registados 8.902 portugueses no consulado na Guiné-Bissau em 2022, a maioria a viver em Bissau, seguindo-se Cacheu e Oio, Bafatá e Gabú.

A comunidade portuguesa dedica-se sobretudo ao comércio e retalho, construção civil, logística e distribuição, serviços de saúde, cooperação e desenvolvimento e trabalho em organizações internacionais.

Mesmo perante os desafios, Francisco mantém-se resistente e determinado a contribuir para a melhoria do país que tanto ama.

“Eu costumo dizer aos guineenses que não sou só guineense, sou um europeu com coração africano”.

“Para aguentar esta situação da Guiné, não é só gostar da Guiné, temos de amar a Guiné”.

 

O Legado de Francisco Ramos na Guiné-Bissau

Francisco enfrentou muitos desafios ao longo do caminho. Uma guerra civil, uma economia instável, e as diferenças culturais iniciais foram obstáculos consideráveis. No entanto, Francisco nunca viu essas dificuldades como um impasse, mas sim como desafios para superar.

Ele lembra-se com saudade dos tempos difíceis, considerando-os uma parte essencial da sua história de sucesso. Uma das chaves para o sucesso de Francisco tem sido a sua capacidade de adaptar-se às circunstâncias. Desde as mudanças na economia até às necessidades variáveis dos seus clientes, ele tem conseguido mudar o seu negócio para se adequar ao ambiente em constante mudança.

O empresário tem a habilidade de prever as necessidades dos seus clientes e fornecer um serviço de alta qualidade que ultrapassa as expectativas. Francisco nunca esqueceu as suas raízes portuguesas, e estas têm uma influência notável na maneira como ele gere o seu negócio.

Do design dos seus restaurantes até à escolha dos ingredientes e pratos, existe sempre um toque português em tudo o que faz. Mas não é só no negócio que Francisco mostra a sua herança. O empresário faz questão de trazer elementos da sua cultura portuguesa para a comunidade local.

O trabalho de Francisco na Guiné-Bissau tem sido muito mais do que apenas negócios. Ele é um exemplo para muitos na comunidade, mostrando que é possível superar obstáculos e alcançar o sucesso. O empresário contribui significativamente para a economia local, criando empregos e fornecendo um serviço de alta qualidade para os residentes locais.

 

Conclusão

Apesar dos obstáculos e desafios, Francisco Ramos é um exemplo de persistência e amor à Guiné-Bissau. Decidido a não voltar a Portugal, Francisco continua a escrever a sua história na Guiné-Bissau, como o ‘Rei dos Frangos’.

 

O que achas desta história? Fazem falta mais pessoas como este homem, na Guiné-Bissau? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.

 

Ver Também:

A Cooperação na CPLP é fundamental

O BAD e a importância dos PALOP em África

Imagem: © 2023 André Kosters
Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santos

Ex-atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

Francisco Lopes-Santoshttp://xesko.webs.com
Ex-atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.
Ultimas Notícias
Noticias Relacionadas

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com