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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Amílcar Cabral: Um Legado Inesquecível

Amílcar Cabral faria 100 anos a 12 de Setembro de 2024. O seu  centenário está a ser celebrado com diversas actividades, um pouco por todo o mundo


Amílcar Cabral, figura incontornável das independências da Guiné-Bissau e de Cabo Verde,  relembrado nas comemorações do seu centenário, continua a inspirar gerações.

João Pereira Silva, ex-combatente e ex-governante cabo-verdiano, recorda com saudade e admiração, o líder que tanto se preocupava com a formação de democratas autênticos, uma característica que, segundo ele, se perdeu ao longo dos anos.

 

Preocupação com Autenticidade Democrática


João Pereira Silva, agora com 79 anos, vive na sua terra natal, a ilha da Boa Vista. Reflete sobre a visão de Cabral, destacando que a maior preocupação do líder era definir as qualidades de um verdadeiro democrata.

“Democracia é não mentir ao povo, é ser honesto, é trabalhar incansavelmente pela população”, dizia Cabral, segundo João.

Hoje, Silva lamenta que muitos líderes trabalhem apenas para se manterem nos seus cargos e, em muitos casos, para enriquecer, em vez de resolver os problemas do povo. Cabral, ao contrário, sempre procurou soluções para o bem-estar colectivo, não tinha respostas prontas, mas uma determinação inabalável em encontrá-las.

 

Influências e Estratégias de Cabral


João Pereira Silva partilhou momentos significativos com Amílcar Cabral em Conacri, onde era professor na escola-piloto do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) entre 1970 e 1972. Lembra-se particularmente de uma conversa após assistirem a um filme soviético sobre a Segunda Guerra Mundial.

Cabral comentou que, se pudesse escolher sem interferências externas, preferiria um modelo de social-democracia como o sueco, em vez do regime soviético. Esta reflexão, não está escrita em nenhum lado, ficou marcada na memória de Silva, pois revelava a procura constante de Cabral por um modelo de governo que melhor servisse os interesses do seu povo.

A luta de Cabral era apoiada tanto pela União Soviética, que fornecia armas e formação militar, quanto pela Suécia , que oferecia ajuda não-militar. Este equilíbrio entre as duas superpotências da Guerra Fria ilustrava a habilidade diplomática de Cabral em promover a causa do PAIGC sem se alinhar cegamente a um dos blocos.

Noutro momento, numa reunião com estudantes nos Estados Unidos, Amílcar defendeu que:

“É perigoso [um país] depender só de um partido. Tem de se arranjar forma de garantir que o povo tome conta, de facto, do poder”.

Mas infelizmente, as independências acabariam por contrariar Cabral e viveram-se os primeiros anos sob regimes de partido único, o PAIGC. Tanto em Cabo Verde (até 1992), como na Guiné-Bissau (1993).

 

O Legado de Amílcar Cabral


Amílcar Cabral não se limitava à luta armada; tinha uma visão clara para o futuro dos países que lutava por libertar, procurava assegurando que as futuras gerações estivessem bem equipadas para construir as nações independentes.

Em Conacri, João Pereira Silva recorda-se de um encontro vocacional onde Cabral ajudou a orientar os alunos da escola-piloto para o ensino especializado.

“Preocupava-se muito com o que fazer depois [da luta pela independência], com a preparação do futuro”.

“Por isso, dava atenção especial à educação das crianças no interior, dos quadros na luta armada, mas também em formar engenheiros, médicos e até músicos”.

Apesar de ser uma figura respeitada, Cabral mantinha uma simplicidade que cativava todos ao seu redor. Vestia fato e gravata apenas para ir a conferências na Europa; em Conacri, preferia camisas simples.

Esta humildade, combinada com a sua generosidade e atenção aos detalhes, como o presente de um relógio a um professor que havia perdido o seu, reforçava a sua aura de um líder gentil e carismático.

 

Um Líder de Caráter Não Violento


A opção pela luta armada, para Cabral, foi sempre o último recurso. João Pereira Silva acredita que foi o carácter não violento de Cabral que levou ao seu assassinato em 1973. Apesar de saber dos planos das forças coloniais para eliminá-lo, Cabral continuava a circular sem escolta, demonstrando a sua fé na justiça da sua causa.

Formado em agronomia, como o líder histórico Amílcar Cabral, o ex-combatente cabo-verdiano, João Pereira Silva,  viria depois a desempenhar as funções de ministro de Desenvolvimento Rural e Pescas de Cabo Verde (1977 até 1991) e durante os últimos seis meses da primeira República foi ministro de Administração Interna, em acumulação.

A memória de Amílcar Cabral permanece viva, especialmente no ano em que faria 100 anos a 12 de Setembro de 2024. O seu  centenário está a ser celebrado com diversas actividades, um pouco por todo o mundo e, assinala-se a efeméride, com um colóquio internacional organizado pela Fundação Amílcar Cabral.

 

Conclusão


Amílcar Cabral celebra 100 anos de legado, marcado pela procura incessante de uma democracia autêntica e pela preocupação constante para se atingir um futuro melhor para todos os povos.

A sua vida e obra continuam a inspirar não só Cabo Verde e a Guiné-Bissau, como também o resto de África e do mundo. As comemorações do seu centenário são um testemunho da sua influência duradoura e da sua visão progressista.

 


Imagem: © 2022 Elton Monteiro / Lusa
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