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ToggleMpox: Nova Pandemia Mundial À Vista
A OMS declarou o estado de Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), devido ao surto de Mpox, com uma nova estirpe letal, a “clado 1b”, a espalhar-se na República Democrática do Congo (RDC) e em países vizinhos. Desde 2022, já foram registados 37.583 casos e 1.451 mortes causadas pela Mpox, só em África.
Com o avanço desta nova estirpe, especialmente em regiões onde o acesso aos cuidados de saúde é limitado, a preocupação cresce sobre a capacidade dos países afectados em controlar a disseminação da doença. A falta de recursos e a baixa sensibilização das comunidades agravam a situação, expondo as populações mais vulneráveis a riscos ainda maiores.
Em Angola e Moçambique, a realidade não é diferente. Apesar dos esforços das autoridades de saúde, a desinformação e as práticas culturais, como o sexo desprotegido ou o consumo de carne de caça, continuam a desafiar as recomendações de saúde pública, dificultando os esforços para travar a propagação do Mpox.
Novo Surto do Mpox
O mundo continua a enfrentar uma série de desafios sanitários e, o aparecimento de novas estirpes de doenças infeciosas, como o Mpox, anteriormente conhecido como varíola dos macacos, é uma preocupação crescente.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o surto de Mpox, surgido em África, como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), sublinhando a gravidade da situação, especialmente com o aparecimento de novas variantes do vírus que têm mostrado uma capacidade preocupante de propagação e letalidade.
O surto actual tem raízes profundas no continente africano, particularmente na Bacia do Congo e, está a colocar à prova as infraestruturas de saúde de vários países que já enfrentam desafios significativos em outras áreas.
O Mpox não é um fenómeno novo, mas a sua reemergência, com estirpes mais letais e transmissíveis, coloca em destaque as fragilidades dos sistemas de saúde em África e a necessidade urgente de uma resposta coordenada e eficaz.
Desde 2022, o vírus tem mostrado um aumento dramático no número de casos e mortes, o que motivou a OMS a implementar um plano de emergência de grande escala, com um orçamento de 120 milhões de euros para os próximos seis meses.
Este plano visa não só conter a propagação do vírus, mas também garantir que as respostas sejam equitativas, respeitando os direitos humanos e envolvendo todas as partes interessadas, desde governos a comunidades locais.
A situação é particularmente alarmante na RDC, onde uma nova estirpe, identificada como “clado 1b”, tem causado um número significativo de mortes, especialmente entre crianças. Esta variante letal do vírus destaca-se pela sua alta taxa de mortalidade e capacidade de causar erupções cutâneas generalizadas, tornando-a uma ameaça ainda maior em comparação com estirpes anteriores.
A propagação para países vizinhos, como o Uganda, Quénia, Camarões e Rwanda, reforça a urgência de uma resposta internacional concertada para evitar uma crise de saúde pública de maiores proporções.
Emergência Mundial
A decisão da OMS de declarar o surto de Mpox como Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), foi tomada após uma análise minuciosa da situação na África Central, onde a nova estirpe do vírus tem causado uma mortalidade preocupante, especialmente entre a população infantil.
A declaração reflete a seriedade do surto que já tem características de pandemia, tendo já extravasado o continente africano, com mais de 99.176 casos reportados e quase 1.500 mortes, em 116 países, só este ano.
Neste momento, fora de África, 80% dos casos reportados foram, nos Estados Unidos da América: 33.191, no Brasil: 11.212, em Espanha: 8.084, em França: 4.272, na Colômbia: 4.249, no México: 4.124, no Reino Unido: 3.952, na Alemanha: 3.857 e no Peru: 3.875. No total, foram reportados casos, em 116 países, incluindo também, de forma residual, na Ásia.
O Vírus Mpox
O vírus Mpox é dividido em dois clados distintos: clado I e clado II. O clado I, mais virulento e letal, é endémico na Bacia do Congo, na África Central, enquanto o clado II é endémico na África Ocidental. A nova estirpe, clado 1b, emergiu recentemente na RDC e tem mostrado uma capacidade alarmante de propagação e letalidade, especialmente entre crianças.
A alta taxa de mortalidade que pode chegar a 10% entre os infetados, coloca uma pressão adicional sobre os já frágeis sistemas de saúde da região. A propagação do clado 1b a países vizinhos é um sinal claro de que a situação pode facilmente sair do controlo se não forem tomadas medidas urgentes.
As infraestruturas de saúde em muitos destes países são limitadas e já estão sobrecarregadas por outras doenças endémicas, como a malária e o VIH/SIDA. A capacidade de resposta é, portanto, um desafio significativo que exige não só a mobilização de recursos financeiros, mas também o reforço das capacidades locais para detecção, tratamento e prevenção da doença.
A OMS estima que os 120 milhões de dólares disponibilizados para lidar com a fase aguda do surto nos próximos seis meses, são cruciais para financiar a vigilância, preparação e resposta ao vírus, especialmente em regiões onde o sistema de saúde é frágil.
No entanto, a necessidade de financiamento pode aumentar à medida que a situação evolua e novas surjam novas necessidades, sublinhando a importância de uma abordagem flexível e adaptável na resposta à crise.
A resposta internacional deve também ser pautada pelos princípios de equidade e solidariedade mundial. É fundamental que todos os países, independentemente da sua capacidade económica, tenham acesso aos recursos necessários para combater o Mpox.
Isso inclui vacinas, tratamentos antivirais e apoio técnico para reforçar as capacidades locais de resposta. A OMS tem reforçado a importância de trabalhar em parceria com agências internacionais, sociedade civil, investigadores e fabricantes para garantir uma resposta mundial eficaz e coordenada.
Combater o Mpox em África
O continente africano enfrenta desafios únicos na luta contra o Mpox. A fragilidade dos sistemas de saúde, a falta de recursos e a dificuldade em aceder a cuidados de saúde em áreas remotas são alguns dos obstáculos que dificultam a resposta eficaz ao surto.
A doença que se manifesta com erupções cutâneas em todo o corpo, é especialmente perigosa para os jovens que têm menos capacidade de resistência às infeções graves.
Na RDC, mais de 85% das mortes registadas ocorreram em crianças, com menos de 15 anos, infetadas com o clado 1b, o que representa um desafio significativo para as autoridades de saúde, sublinhando a necessidade urgente de intervenções direcionadas para proteger as populações mais vulneráveis.
A resposta ao surto de Mpox na RDC e em outros países africanos afectados tem sido dificultada pela falta de vacinas e tratamentos antivirais. Embora existam vacinas seguras e tratamentos eficazes disponíveis, a sua distribuição no continente africano tem sido limitada.
Muitos Estados-membros da União Africana não têm acesso a estas ferramentas essenciais, o que aumenta o risco de propagação do vírus e a mortalidade associada. A OMS e outras organizações internacionais têm trabalhado para garantir que as vacinas e tratamentos cheguem aos países que mais precisam, mas a logística e os desafios financeiros continuam a ser obstáculos significativos.
Além disso, a educação das comunidades sobre a doença e as formas de prevenção é essencial para evitar novos surtos. A falta de informação nas comunidades afectadas é um dos principais desafios na luta contra o Mpox, especialmente em áreas rurais de difícil acesso.
A Situação em Moçambique
A situação em Moçambique, é outro caso que ilustra bem as dificuldades enfrentadas por muitos países africanos na preparação para um surto de Mpox. O Sistema Nacional de Saúde não está preparado para lidar com um eventual surto e, a educação das comunidades sobre a doença é insuficiente.
A falta de capacidade institucional para responder a uma crise de saúde desta magnitude coloca o país em uma posição vulnerável, onde um surto de Mpox pode ter consequências devastadoras. O governo moçambicano, tal como outros na região, está ciente do risco representado pelo Mpox e tem tomado medidas para reforçar a vigilância e a prevenção.
No entanto, a preparação para um surto de grande escala requer mais do que ações isoladas. É necessário um esforço coordenado e abrangente que envolva todos os níveis de governo, a sociedade civil e as comunidades locais para garantir que o país esteja preparado para responder eficazmente à ameaça do Mpox.
A Situação em Angola
O consumo de carne de caça é uma prática comum em muitas partes de África, incluindo Angola, onde a carne de animais selvagens é apreciada por muitas comunidades. No entanto, esta prática tem sido associada a riscos significativos para a saúde pública, especialmente com o aparecimento do Mpox.
O Ministério da Saúde de Angola desaconselhou o consumo de carne de macacos e roedores que são conhecidos reservatórios do vírus, mas a adesão a estas recomendações tem sido limitada.
No Mercado do 30, em Luanda, a carne de caça continua a ser amplamente consumida, com muitos vendedores e consumidores a desconsiderarem os avisos de saúde. A falta de informação e a crença de que a carne de caça é mais saudável e natural do que outras opções alimentares são factores que contribuem para a persistência desta prática.
Os vendedores que comercializam carne de caça fumada, descartam os riscos associados ao consumo de carne de animais selvagens, refletindo uma falta de desconhecimento sobre as potenciais consequências para a saúde.
Falta de Fiscalização em Angola
A venda e consumo de carne de caça em Angola são também facilitados pela falta de fiscalização e regulamentação eficazes. As carnes são frequentemente manuseadas e armazenadas em condições precárias, sem as medidas de higiene necessárias para prevenir a contaminação.
Esta situação aumenta o risco de transmissão de doenças zonais emergentes, como o Mpox, especialmente em áreas onde o contacto com animais selvagens é comum. A carne de macaco, em particular, é vista com cautela em alguns mercados, mas ainda há uma procura significativa por este tipo de carne, o que representa um risco adicional para a disseminação do Mpox.
A falta de casos registados de Mpox em Angola, até agora, pode levar a uma falsa sensação de segurança, mas as autoridades de saúde têm alertado que o país deve continuar a adoptar medidas de vigilância epidemiológica para prevenir a entrada e propagação do vírus.
A resposta das autoridades de saúde em Angola tem sido focada na educação da população e na implementação de medidas preventivas, como a recomendação de evitar o consumo de carne de animais selvagens.
No entanto, a adesão a estas medidas é limitada, o que sublinha a necessidade de uma maior sensibilização e envolvimento das comunidades locais. A transmissão de conhecimento e a implementação de práticas de segurança alimentar são essenciais para evitar a disseminação do Mpox e outras doenças similares no país.
Conclusão
O Mpox representa uma ameaça significativa para a saúde pública em África, mas também no resto do mundo, especialmente com o aparecimento de novas estirpes mais letais e transmissíveis. A resposta ao surto requer uma coordenação internacional robusta, financiamento adequado e uma abordagem baseada em equidade e solidariedade mundial.
O desafio é grande, mas com uma resposta eficaz e coordenada, é possível mitigar o impacto do Mpox e proteger as populações mais vulneráveis. Nos PALOP, no nosso caso, mas também nos outros países africanos, é essencial continuar a fortalecer os sistemas de saúde, educar as comunidades sobre os riscos e implementar medidas preventivas para evitar a propagação do vírus.
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