Monkeypox: Nova pandemia de varíola à vista?

Ainda nem saímos da pandemia do Covid-19, e temos outro vírus pela frente. Desta vez, é a varíola dos macacos, que passou para os humanos. Neste momento já se alastrou a vários países no mundo, incluindo o Reino Unido, um país onde não seria de esperar encontrar esta doença.

Então, o que está a acontecer? Estávamos a ficar despreocupados com o fim do Covid à vista e entramos novamente em pandemia? Vamos ter novamente que fazer isolamentos e arruinar novamente o verão?

Vamos ser claros: Monkeypox não é outro Covid, para já, não há necessidade de se fazer confinamentos para conter a propagação desta variante da varíola. Enquanto o Covid-19 era uma infeção causada por um vírus desconhecido e para o qual não havia vacina, a Monkeypox é um vírus conhecido e para o qual temos vacinas.

Está-se a falar tanto do assunto, apenas porque é um surto incomum e sem precedentes desta variante da varíola e isso apanhou completamente de surpresa os cientistas especializados na doença pois é sempre preocupante quando um vírus muda o seu comportamento, pois até agora, a Monkeypox era bastante previsível.

 

O que é a Monkeypox

Contrariamente ao senso comum de que a varíola era um vírus “extinto” a realidade é que essa extinção se aplicava apenas para a variante humana. No reino animal a varíola continuou a existir sendo as mais comuns a variante bovina (vacas) e a símia (macacos).

O este tipo de vírus, em particular o símio, é encontrado de forma comum em animais selvagens, mais precisamente em pequenos roedores e não nos macacos, apesar do nome.

A Monkeypox é um vírus comum nas florestas tropicais da África Ocidental e Central e, muitas vezes, quando um ser humano entra em contacto com um animal infectado, o vírus faz o salto entre as espécies.

No entanto, este vírus é de difícil disseminação, já que precisa de contato próximo e prolongado para se transmitir. Portanto, os surtos tendem a ser pequenos e normalmente desaparecem de forma natural.

Esporadicamente surgem alguns casos fora de África, mas regra feral são facilmente vinculados a alguém que viajou de algum país onde o vírus esteja activo e como tal é facilmente controlável.

Monkeypox é um vírus conhecido, não é novo, e já existem vacinas e tratamentos para o combater. É menos perigoso do que o vírus da varíola comum humana, portanto “mais leve”, embora possa ser um factor de risco para crianças pequenas, mulheres grávidas e pessoas com o sistema imunológico fraco.

Espalha mais lentamente do que o Covid e as erupções cutâneas dolorosa, distintas deste tipo de infeção, torna-o facilmente detectável, por isso facilita o trabalho de encontrar pessoas que podem ter sido infetadas e vacinar aqueles que tendo estado em contacto com essas pessoas, corram o risco de ficar infetados.

 

Monkeypox incomum

No entanto, esta não é uma infeção comum. Pela primeira vez, o vírus está a ser encontrado em pessoas sem uma ligação clara com a África Ocidental e a Central e a surgir em países onde nunca tinha surgido. Não está claro de quem ou como as pessoas estão a ficar infetadas.

Esta variante da varíola, está-se a espalhar durante as atividades sexuais, tal como o virus da SIDA, utilizando as micro-lesões genitais e nas áreas circundantes, resultantes da prática do coito.

Muitos dos afetados são jovens homossexuais e bissexuais, mas também se estão a encontrar casos de infeção em jovens heterossexuais.

Sir Peter Horby, diretor do Instituto de Ciências Pandémicas da Universidade de Oxford disse:

“Estamos perante uma situação nova, este comportamento é para nós uma surpresa e uma preocupação”.

“Não estamos perante um Covid dois, mas precisamos de agir imediatamente para impedir que o vírus se estabeleça, pois isso é algo que realmente temos que evitar”.

O Dr. Hugh Adler, um renomado médico que tratou muitos pacientes com a variante da varíola dos macacos (Monkeypox), concorda:

“Não é um padrão que observámos antes – isto é uma completa surpresa”.

 

Então o que está a acontecer?

Sabemos que este surto é diferente, mas não sabemos porquê. Existem duas opções: ou o vírus mudou ou é o mesmo vírus, mas que encontrou uma forma alternativa para prosperar.

Monkeypox é um vírus de base DNA, portanto, não sofre mutações tão rapidamente como o Covid ou a gripe.

Análises genéticas preliminares, sugerem que os casos atuais estão intimamente relacionados às formas do vírus observadas em 2018 e 2019. É muito cedo para ter certezas, mas por enquanto não há evidências de que seja uma nova variante.

Só que, como já aprendemos com surtos inesperados de vírus como o Ebola e o Zika na última década, um vírus não precisa de mudar para aproveitar uma nova oportunidade de adaptação.

Aparentemente, a Monkeypox, está-se a transmitir de uma forma mais eficaz do que na era da varíola humana, mas o pior é que não estamos a ver nada que sugira como se possa estar a espalhar.

Sabemos que estamos a ver apenas a ponta do iceberg, os casos detetados não se encaixam em uma imagem nítida da forma de transmissão. Em vez disso, muitos parecem nem sequer estar relacionados. Portanto, há ligações ausentes em uma cadeia que parece estar-se a espalhar por toda a Europa e não só.

Um evento recente no qual um grande número de pessoas se tivesse reunido no mesmo local, proporcionando uma grande disseminação desta variante da varíola, como um festival, poderia explicar a situação atual.

Outra explicação alternativa para tantas pessoas diferentes e sem ligação entre si estarem a ser infetadas é se o vírus já estivesse activo há mais tempo do que se supões e tivesse passado despercebido por causa do Covid.

Na realidade, toda esta situação ainda está pouco clara e não existem casos suficientes para se fazer um julgamento assertivo do que realmente está a acontecer ou do que poderá vir a acontecer, no entanto não nos podemos esquecer de que o verão está à porta e com os festivais em que proporcionam um aglomerado de muita gente, é provável que a transmissão possa acelerar.

 

Conclusão

Não está claro porque é que esta infeção se está a propagar mais facilmente entre jovens homossexuais e bissexuais e menos nos jovens heterossexuais. Será que os comportamentos sexuais estão a facilitando a propagação? É apenas uma coincidência bizarra? Não há ainda dados concretos para se chegar a uma conclusão.

Não nos podemos esquecer que, por causa da SIDA, é uma comunidade que está mais consciente da sua saúde sexual por isso é estranho que o vírus se esteja a propagar mais facilmente neste grupo humano do que nos heterossexuais.

Também pode ser que o vírus tenha encontrado nas camadas mais jovens, despreocupadas, uma via mais fácil de propagação. É preciso não esquecer que as vacinações em massa contra a varíola do passado podem ter proporcionado às gerações mais velhas, alguma proteção contra a Monkeypox, já que, ao fim e ao cabo, não deixa de ser varíola.

Temos que nos preocupar? Sim temos, mas não precisamos de entrar em pânico e seguir atrás das notícias alarmantes que começam a surgir,

Essa, infelizmente, é uma das particularidades da comunicação social hoje em dia. Com a crise do Covid, praticamente no fim e, com sempre as mesmas notícias repetitivas e saturantes sobre a guerra da Ucrânia, é preciso encontrar um novo bicho papão para manter as pessoas atentas e coladas às notícias.

 

O que achas desta nova crise sanitária? Esta varíola dos macacos, a Monkeypox será mais um sinal de alerta para nos provar que não estamos preparados para uma pandemia a sério? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.
Imagem: © DR 
Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santos

Ex-atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

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