21.5 C
Londres
Quarta-feira, Junho 26, 2024

Cinema: Retrospectiva De Sarah Maldoror Em Londres

Maldoror deixou uma marca indelével no cinema africano e mundial, destacando a importância de narrativas africanas contadas por africanos.

Cinema: Retrospectiva De Sarah Maldoror Em Londres


A obra da célebre realizadora francesa Sarah Maldoror, conhecida por adaptar para o cinema a obra do escritor angolano José Luandino Vieira e abordar a guerra colonial em Angola, será tema de análise em Londres, neste sábado, 8 de Junho de 2024.

O evento, organizado em parceria com a publicação London Review of Books (LRB), trará uma série de exibições e discussões sobre a importância do seu legado cinematográfico.

 

Quem Foi Sarah Maldoror


Sarah Maldoror, nascida Sarah Ducados em França no ano de 1929, foi uma pioneira do cinema africano e uma figura icónica na luta pela libertação e pela representação cultural africana. Filha de pai antilhano e de mãe francesa, adoptou o nome artístico Maldoror em homenagem ao poeta surrealista Lautréamont, autor dos “Cantos de Maldoror”.

Após estudar cinema em Moscovo, Maldoror juntou-se aos movimentos de libertação africanos, trabalhando ao lado de figuras históricas, como o fundador do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA), Mário Pinto de Andrade que viria a ser seu companheiro.

A sua obra cinematográfica é profundamente marcada pelo compromisso político e pela defesa dos direitos humanos, abordando temas como o colonialismo, o racismo e o papel da mulher na sociedade africana.

Entre as suas obras mais notáveis estão a curta-metragem “Monangambé” (1959), uma adaptação do conto “O Fato Completo de Lucas Matesso”, de José Luandino Vieira e a longa-metragem “Sambizanga” (1972), inspirada em “A Vida Verdadeira de Domingos Xavier”, também de Luandino Vieira.

Esta última é considerada uma das maiores obras do cinema africano, retratando a guerra de libertação de Angola e destacando a perspectiva feminina na luta contra a opressão colonial. Filmada no Congo, “Sambizanga” aborda a brutalidade da ocupação colonial e a resistência angolana.

Maldoror também dirigiu documentários importantes, como “Máscara das Palavras”, dedicado ao poeta Aimé Césaire e filmes que exploram a história e a cultura africanas em diversos contextos, como “O Hospital de Leninegrado” (1982), baseado numa história de Victor Serge. A sua abordagem cinematográfica foi sempre marcada por um forte envolvimento político e uma profunda sensibilidade estética.

 

Primeiros Trabalhos e “Monangambé”


A programação na sala Garden Cinema, inclui a exibição da curta-metragem “Monangambé”, de 1959. Esta obra inicial de Maldoror antecedeu “Sambizanga” (1972), considerada a primeira longa-metragem rodada em África por uma mulher de ascendência africana. “Monangambé” é um retrato poderoso das tensões coloniais em Angola e serve como uma introdução ao estilo único e ao compromisso político da realizadora.

 

O Impacto de “Sambizanga”


“Sambizanga”, que também será exibido em Londres, é talvez a obra mais icónica de Sarah Maldoror. O filme, baseado em “A Vida Verdadeira de Domingos Xavier”, de Luandino Vieira, documenta a luta de uma mulher cujo marido é preso pela polícia política portuguesa.

Filmado no Congo, “Sambizanga” não só destaca a brutalidade da ocupação colonial, mas também se foca na perspectiva feminina durante a luta pela libertação de Angola. A introdução da exibição será feita por Annouchka de Andrade, filha de Maldoror, que também está a digitalizar e a preservar o legado cinematográfico da mãe.

 

Uma Obra de Relevância Global


Além das obras focadas em Angola, a carreira de Maldoror abrangeu temas globais. Filmes como “O Hospital de Leninegrado” (1982) exploram a resistência política em contextos diversos, reflectindo a visão de Maldoror de que a luta pela libertação africana é parte de um movimento global.

A realizadora trabalhou em diversos países africanos e abordou temas como o racismo, as questões de género e o património cultural africano. A sua abordagem cinematográfica foi sempre marcada por um forte envolvimento político e uma profunda sensibilidade estética.

 

Legado e Reconhecimento


Sarah Maldoror pode já ter falecido, mas o seu legado continua vivo através das suas obras e da preservação da sua memória por iniciativas como a da sua filha Annouchka de Andrade.

O trabalho de Maldoror foi reconhecido em diversas ocasiões, incluindo uma retrospectiva no Museu Rainha Sofia, em 2019 e várias homenagens em festivais de cinema, como o FIC Luanda em 2008. Em 2011, o Cine Lumière de Londres, sala do Instituto Francês, na capital britânica, exibiu as primeiras obras de Maldoror, com a presença da cineasta.

Maldoror deixou uma marca indelével no cinema africano e mundial, destacando a importância de narrativas africanas contadas por africanos.

 

Conclusão


A exibição das obras de Sarah Maldoror em Londres é uma oportunidade para celebrar e reflectir sobre o seu impacto duradouro no cinema e na luta pela libertação africana. A sua visão artística e política continua a inspirar cineastas e activistas em todo o mundo, reafirmando a importância de contar histórias africanas através de uma lente africana.

 


Imagem: © DR
Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santos

Ex-atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

Francisco Lopes-Santoshttp://xesko.webs.com
Ex-atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.
Ultimas Notícias
Noticias Relacionadas

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Captcha verification failed!
Falha na pontuação do usuário captcha. Por favor, entre em contato conosco!

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com