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ToggleUNESCO Analisa Propostas a Património Mundial
O Comité do Património Mundial da UNESCO iniciou esta semana a sua 47.ª sessão em Paris que decorrerá até 16 de Julho. Entre dezenas de candidaturas, destacam-se quatro propostas oriundas da CPLP: Brasil, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal.
As propostas variam entre paisagens naturais, arquitectura moderna e ecossistemas transfronteiriços. A sessão poderá redefinir o mapa da herança cultural da CPLP, onde o destaque recai sobre quatro candidaturas que reflectem a diversidade e o potencial da lusofonia.
Enquanto Portugal aposta na arquitectura de autor, Brasil, Moçambique e a Guiné-Bissau apresentam paisagens naturais de valor ecológico incontornável. Cada candidatura assume-se como uma declaração de intenção: valorizar, proteger e projectar as memórias e os territórios que compõem a identidade da Comunidade.
A selecção da UNESCO poderá reforçar não apenas o turismo e o prestígio internacional, mas também os vínculos culturais entre os Estados lusófonos. Mais do que um galardão, o estatuto de património mundial é uma obrigação colectiva de cuidado e transmissão para as futuras gerações.
Ao reunir propostas de três continentes, a lusofonia revela a sua abrangência geográfica e a sua vocação plural. Património natural, arquitectura contemporânea e ecossistemas de migração de espécies juntam-se numa constelação identitária de valor universal.
Diplomacia Patrimonial
O recurso ao património como instrumento diplomático fortalece a posição internacional dos países lusófonos. A participação activa da CPLP na UNESCO representa uma afirmação da soberania cultural.
Ao inscrever os seus territórios e bens culturais na lista do património mundial, os Estados-Membros reforçam a sua imagem e atraem solidariedade internacional. A diplomacia patrimonial consolida pontes entre nações com passados coloniais e futuros comuns.
A diversidade das candidaturas reflecte as prioridades políticas e ambientais de cada país. Entre arquitectura moderna, ecossistemas e cultura indígena, a CPLP projecta um mosaico de patrimónios complementares. Estas propostas não são apenas actos de prestígio, mas compromissos de preservação e valorização.
A cultura como pilar de desenvolvimento é a base da diplomacia moderna na CPLP. A partilha de boas práticas e a criação de redes de cooperação entre os Estados-Membros tornam-se fundamentais. A UNESCO serve de palco e árbitro deste diálogo da cultural mundial.
A presença simultânea de quatro Estados lusófonos nesta sessão prova a vitalidade da cooperação sul-sul. A lusofonia afirma-se não só como herança, mas como projecto de futuro. Com estas candidaturas, a CPLP reforça a sua relevância internacional e assume o património como activo estratégico de desenvolvimento sustentável.
Arquitectura Lusófona
As obras do arquitecto Álvaro Siza Vieira são o rosto da candidatura portuguesa ao Património Mundial. A selecção reúne sete edifícios espalhados entre Porto, Lisboa, Matosinhos e Caminha.
Entre eles, o Pavilhão de Portugal, a Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e a Casa de Chá da Boa Nova. A proposta reflecte o modernismo português e a integração arquitectónica na paisagem urbana.
Portugal pretende afirmar a sua identidade arquitectónica contemporânea como bem cultural de valor universal. O Comité da UNESCO, no entanto, recomendou que fosse efectuada uma revisão técnica, mas sem descartar uma futura aprovação.
A candidatura é apoiada pela academia e por instituições culturais que vêem na obra de Siza Vieira um património da humanidade. A sensibilidade espacial e o diálogo com o meio envolvente são considerados exemplos da arquitectura com consciência ambiental e social.
O Bairro da Bouça e o Museu de Serralves, também incluídos, testemunham a evolução da habitação social e da cultura moderna no espaço lusófono. A inclusão desses espaços em áreas urbanas densas sublinha a valorização da cidade como organismo vivo.
Caso seja aceite, Portugal reforça a presença da arquitectura moderna no seio da UNESCO, até agora dominado por monumentos antigos ou naturais. Esta candidatura marca o reconhecimento do contributo lusófono à construção de uma linguagem arquitectónica moderna com raízes locais e ambições globais.
Bijagós
O arquipélago dos Bijagós, proposto pela Guiné-Bissau, representa uma das maiores reservas ecológicas do Atlântico africano. Composto por mais de oitenta ilhas, o território possui uma biodiversidade única e elevada densidade de ninhos de tartarugas marinhas.
Reconhecido como santuário de aves migratórias, o ecossistema dos Bijagós encontra-se no centro das rotas do Atlântico Este. A proposta apresenta uma paisagem de coexistência entre seres humanos e natureza, preservada por práticas tradicionais sustentáveis.
Desde 2013, o país luta por este reconhecimento, tendo reforçado a legislação ambiental e os mecanismos de gestão comunitária. A protecção legal foi ampliada para garantir a integridade dos habitats e da cultura local. Segundo o relatório da IUCN, o arquipélago é:
“Provavelmente o mais importante local em África e um dos mais importantes do mundo em termos de ninhos de tartarugas marinhas e o segundo mais importante de recolha de comida em África para a rota de migração do Atlântico Este que é de importância global para as aves migratórias”.
O Comité da UNESCO vê com bons olhos o avanço da candidatura, realçando a importância ecológica e cultural do território. O modelo de gestão participativa é visto como exemplo para outras regiões com patrimónios sensíveis. O envolvimento das comunidades locais é central para garantir a sustentabilidade e o equilíbrio dos ecossistemas.
Peruaçu
Paralelamente, o Brasil apresenta o Parque Nacional das Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais, com pinturas rupestres e formações geológicas de grande valor.
O Rio Peruaçu, um dos afluentes do Rio São Francisco, teve o seu curso natural fechado por um grande maciço calcário e com o tempo a acção erosiva das águas foi esculpindo o calcário, ao tentar encontrar uma saída. A acção do tempo resultou num conjunto de cavernas, muitas ainda virgens que tem atraído espeleólogos em busca de grutas ainda não catalogadas.
A candidatura brasileira está condicionada à validação por parte do povo indígena Xakriabá que habita a região. A UNESCO exige garantias de que os direitos dos povos originários sejam respeitados.
Parque Nacional de Maputo
Moçambique propõe a inscrição do Parque Nacional de Maputo como Património Mundial. O território inclui florestas, zonas húmidas e costas intocadas. Este parque está ligado ao Parque das Zonas Húmidas iSimangaliso, na África do Sul, que já possui o estatuto da UNESCO. Caso seja aprovado, será criado um comité transfronteiriço para gestão conjunta.
O objectivo é assegurar a mobilidade de espécies e a protecção integral dos ecossistemas partilhados. As autoridades moçambicanas reforçaram a vigilância e a cooperação com instituições regionais, já que o parque apresenta uma elevada densidade de espécies protegidas e representa um corredor ecológico vital no sul de África.
O Comité da UNESCO elogia a proposta por promover a cooperação ambiental entre Estados vizinhos. O reconhecimento internacional poderá atrair investimentos sustentáveis e projectos de turismo ecológico.
A candidatura assume-se como um símbolo do compromisso ambiental da CPLP e da integração regional. A diversidade biológica e o potencial educativo do parque justificam a sua elevação a património da humanidade.
A protecção deste espaço natural será também uma oportunidade para consolidar práticas de gestão inclusivas e sustentáveis.
Conclusão
O património da CPLP ganha projecção na agenda internacional através da UNESCO. As candidaturas em análise são reflexo de um capital simbólico que atravessa fronteiras. Paisagens naturais, arquitectura de vanguarda e ecossistemas transfronteiriços afirmam a lusofonia como património comum da humanidade.
A 47.ª sessão do Comité poderá consagrar a diversidade da CPLP como valor universal. A cultura, o ambiente e a cooperação são pilares que reforçam a diplomacia da língua portuguesa no século XXI.
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Imagem: © 2025 Francisco Lopes-Santos