África: Impacto da guerra da Ucrânia aumenta.
Mais Afrika, tem alertado, desde o início da guerra na Ucrânia, sobre o possível impacto que isso poderia causar nas economias do continente africano. Chamámos a atenção para a questão alimentar, especialmente o da dependência de alguns produtos, como o trigo, quando as sanções contra a Rússia foram impostas.
O nosso aviso
Logo no início desta guerra sem nexo, alertámos que as importações africanas de trigo representam mais de 80% do comércio com a Rússia e quase 50% com a Ucrânia. Não são apenas os países do Norte de África que são mais diretamente afetados, como alguns analistas afirmam.
Alertamos também, contra a euforia em relação ao aumento do preço do petróleo Brent, considerando que, embora África seja uma exportadora de petróleo, o continente importa os seus derivados, tal como os fertilizantes para a agricultura, devido à falta de uma indústria petroquímica transformadora.
Prova disso mesmo, foram os significativos recentes aumentos, dos preços dos combustíveis e do gás, agravando a situação económica nos países africanos, onde os custos de transporte e energia afetam diretamente a produção e a distribuição de alimentos.
As consequências da guerra
Temos noticiado e analisado o aumento dos preços de alguns produtos básicos do cabaz alimentar que sobem quase diariamente devido à guerra. Este fenómeno terá um impacto substancial e negativo nas famílias mais vulneráveis do continente, sobretudo naquelas que lutam diariamente para alimentar os seus filhos.
Além disso, a crise humanitária na Ucrânia e a crescente pressão sobre os recursos limitados em países vizinhos aumentam a preocupação com a possibilidade de uma onda de refugiados e deslocados internos que possa atingir a África.
A guerra na Ucrânia, as sanções impostas contra a Rússia e os efeitos das mudanças climáticas num continente que, apesar de possuir 60% das terras aráveis, continua a depender das importações de alimentos. Isto são más notícias para África, que de momento, ainda luta para superar a herança negativa da pandemia sobre os efeitos económicos e sociais no continente.
As soluções
Assim como a pandemia serviu de mote para África investir na sua própria indústria farmacêutica, a guerra e a ameaça da fome, bem como os potenciais conflitos sociais devido ao aumento dos preços dos produtos básicos no continente, devem incentivar o investimento e o desenvolvimento da agricultura e da indústria agroalimentar africana.
Iniciativas como a criação da Zona de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA) são passos importantes para fortalecer a integração económica regional e aumentar a resiliência do continente face a crises externas.
A AfCFTA tem o potencial de impulsionar o comércio intra-africano, promover o investimento em infraestruturas agrícolas e agroindustriais e, assim, reduzir a dependência alimentar africana de importações.
Uma vez mais, África encontra-se dependente de conflitos e de sanções impostas a terceiros. Contudo, há uma “luz de esperança, ao fundo do túnel”, pois iniciativas locais e regionais estão a ganhar força para enfrentar os desafios actuais.
Conclusão
A falta de uma agricultura resiliente e de uma agroindústria adaptada às mudanças climáticas evidencia a urgente necessidade de melhores políticas públicas e privadas.
Um maior acesso a financiamento e ao desenvolvimento de zonas agroindustriais de processamento que possam agregar valor aos produtores alimentares africanos e proteger as populações em períodos de crises internacionais, como a presente guerra que afetam o continente, são fundamentais.
O investimento em tecnologias agrícolas sustentáveis, formação e capacitação dos agricultores e desenvolvimento de cadeias de valor locais, também são fundamentais para enfrentar os desafios alimentares e climáticos em África.
O que pensas desta dependência alimentar africana causada por esta guerra? África não deveria apostar mais na transformação e na agricultura? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e, se gostaste do artigo, partilha-o e dá um “like/gosto”.
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Imagem: © 2022 Francisco Lopes-Santos