África Está Dividida Com a Guerra Israel-Gaza.
O conflito israelo-palestiniano, tem criado divisões em África no que toca ao apoio à Palestina. Enquanto alguns governos africanos expressaram solidariedade para com os palestinianos, outros alinharam-se com Israel. Isto reflete as complexas relações que os países africanos mantêm com as partes envolvidas.
À medida que as relações entre Israel e as nações africanas evoluíram ao longo do tempo, ficou evidente que os laços históricos, interesses económicos e influências externas desempenham um papel crucial na formação das posições dos países africanos.
Esta dinâmica em constante mudança entre África e o conflito israelo-palestiniano, tem dividido o continente nos apoios à Palestina e a Israel e as razões por detrás dessas escolhas e as implicações dessa divisão são várias.
Contexto Histórico
Após a independência de muitos países africanos do domínio colonial europeu na década de 1960, a maioria destas nações demonstrou apoio à causa palestiniana devido à luta dos palestinianos pela autodeterminação e ao despojamento das suas terras em 1948.
No entanto, ao longo dos anos, a situação mudou. Israel expandiu as suas relações com os países africanos, oferecendo tecnologia avançada, assistência militar e ajuda. A agricultura israelita tornou-se particularmente atraente para nações africanas que enfrentam desafios climáticos e de segurança alimentar.
Apesar do histórico de apoio à Palestina, as relações entre Israel e os países africanos têm-se fortalecido. Acordos de normalização foram alcançados com nações como o Chade, o Marrocos e o Sudão. A África do Sul, embora seja um crítico ferrenho de Israel, é também um seu importante parceiro comercial em África.
No entanto, o apoio diplomático à Palestina não reflete necessariamente a totalidade das relações entre países africanos e Israel. Além disso, a sociedade civil em alguns países, como a África do Sul, está a pressionar por uma posição mais clara a favor da Palestina, o que pode afetar as relações comerciais.
África e o Conflito Israelo-Palestiniano
Na sequência das divisões em África no que toca ao conflito israelo-palestiniano, é importante analisar as posições específicas de alguns países africanos. Alguns governos manifestaram apoio a Israel, enquanto outros demonstraram solidariedade com a Palestina.
Apoiantes de Israel
Quénia: O presidente queniano, William Ruto, expressou apoio explícito a Israel, condenando o terrorismo e os ataques a civis inocentes.
Zâmbia: O governo da Zâmbia também se alinhou com a posição de Israel.
Gana: O Gana é outro país africano que demonstrou apoio a Israel.
República Democrática do Congo (RDC): O governo da RD Congo também se conta entre os apoiantes de Israel.
Apoiantes da Palestina
África do Sul: A África do Sul, pós-apartheid, é um dos mais firmes apoiantes da Palestina no continente. Líderes sul-africanos, incluindo Nelson Mandela, estabeleceram paralelos entre a luta dos sul-africanos negros contra o domínio branco e a luta dos palestinos contra a ocupação israelita.
Argélia: A Argélia declarou “total solidariedade com a Palestina” no início da guerra.
Comissão da União Africana: Apesar de expressar preocupação com a violência, a Comissão da UA culpou a “negação dos direitos fundamentais dos palestinos” e apelou a uma solução de dois Estados.
A Compartimentalização
As divisões em África refletem a tentativa de cada governo de conciliar os seus interesses, tendo em conta tanto os laços históricos com o movimento palestiniano quanto as vantagens da cooperação com Israel. A relação entre África e o conflito israelo-palestiniano está em constante evolução, influenciando a direção que o continente tomará se o conflito persistir no futuro.
A Influência de Israel em África
A influência de Israel em África aumentou significativamente nas últimas décadas, afectando as relações diplomáticas, comerciais e de segurança e a manifestação dessa influência tem um forte impacto no continente africano.
Após a Guerra de Outubro de 1973, a maioria dos países africanos cortou laços com Israel. No entanto, a situação mudou drasticamente nas últimas décadas. Atualmente, 44 dos 54 países africanos reconhecem o Estado de Israel e, quase 30 deles abriram embaixadas ou consulados em Telavive.
Uma das razões para essa mudança é o reconhecido conhecimento de Israel na área da agricultura. Isso é particularmente atractivo para os países africanos que enfrentam desafios agrícolas, como secas, inundações e mudanças climáticas. A agricultura de alta tecnologia de Israel pode ser uma solução para muitos países africanos que lutam com a insegurança alimentar.
Para além da agricultura, também desempenham um papel na crescente influência de Israel em África, os interesses comerciais e a segurança.
A África do Sul, apesar de ser um dos críticos mais fervorosos de Israel no continente, é o maior parceiro comercial de Israel em África. Em 2021, o comércio entre Israel e os países da África Subsaariana ultrapassou os 750 milhões de dólares. Israel exporta máquinas, eletrónicos e produtos químicos para o continente. Mas a África do Sul também mantém relações comerciais com a Palestina.
Israel também investiu em ajuda humanitária em países africanos. Durante décadas, forneceu ajuda à Etiópia e facilitou a migração de milhares de judeus etíopes para Israel. A agência de ajuda internacional de Israel, a Mashav, ofereceu treino em agricultura e medicina para estudantes quenianos e empresários senegaleses.
Os Acordos
Os Acordos de Camp David entre o Egito e Israel em 1978 marcaram um ponto de viragem, com um grande país árabe a assinar um acordo de paz com Israel. Isso influenciou muitas nações africanas a reconsiderar a sua posição em relação a Israel.
Os Acordos de Oslo de 1993 e os acordos de normalização posteriores com o Chade, o Marrocos e o Sudão também fortaleceram as relações entre Israel e as nações africanas.
África e os Diferentes Pontos de Vista
A questão israelo-palestiniana é complexa e polarizadora. Os governos africanos adotaram várias abordagens em relação a este conflito, refletindo as divisões dentro do continente. Vamos explorar essas diferentes abordagens.
Alguns países africanos, como a Nigéria, a África do Sul e a Etiópia, apoiam uma solução de dois estados para o conflito israelo-palestiniano, na qual Israel e um Estado palestino coexistiriam lado a lado.
Estes países defendem o direito de Israel à segurança e o direito do povo palestino à autodeterminação. Eles frequentemente pedem o fim da ocupação israelita da Cisjordânia e o estabelecimento de um Estado palestino independente.
Outros países africanos, como o Quénia, o Rwanda e o Uganda, mantêm relações mais amistosas com Israel e podem ver benefícios económicos na sua cooperação. Além disso, Israel tem oferecido assistência em áreas como agricultura, segurança, tecnologia e saúde, o que pode influenciar essas nações a alinharem-se mais com os interesses israelitas.
Os países árabes e muçulmanos africanos, como o Marrocos, a Argélia e a Tunísia, tendem a apoiar os palestinos devido a ligações históricas, culturais e religiosas com o mundo árabe. A Organização da Unidade Africana (OUA), antecessora da União Africana (UA), apoiou historicamente a causa palestina.
Muitos governos africanos adoptam uma abordagem pragmática e equilibrada para o conflito israelo-palestiniano. Eles podem manter relações diplomáticas com ambos os lados e procurar desempenhar um papel mediador. Isto é particularmente evidente em nações que procuram uma diplomacia de terceira via, tentando equilibrar os interesses de Israel, dos palestinos e de outros actores internacionais.
Desafios e Complexidades
A abordagem de cada governo africano depende de uma série de fatores, incluindo considerações políticas, económicas e regionais. Além disso, a opinião pública desempenha um papel importante. As opiniões sobre o conflito israelo-palestiniano podem ser profundamente polarizadas em muitos países africanos.
Os governos africanos também consideram as suas relações internacionais ao abordar o conflito israelo-palestiniano. Eles podem procurar manter boas relações tanto com os Estados Unidos que historicamente sempre apoiaram Israel, quanto com as nações árabes que defendem a causa palestina.
O Panorama Actual
Perante a mudança na posição diplomática de Israel e o enfraquecimento do apoio à Palestina em toda a África, Israel poderia esperar obter facilmente o apoio dos governos africanos em meio ao seu conflito contínuo com o Hamas, especialmente em fóruns internacionais como as Nações Unidas. No entanto, não há garantias de que isso seja o caso.
Apesar das relações bilaterais com Israel, os governos africanos provavelmente não olharão com bons olhos a conduta de Israel nesta guerra, incluindo os bombardeamentos incessantes sobre Gaza que já resultaram na morte de mais de 8.000 palestinos, entre eles mais de 3.500 crianças e os apelos para o deslocamento forçado de pessoas do norte de Gaza para a Península do Sinai.
As tácticas empregadas por Israel, incluindo o bombardeamento de um hospital e de uma escola administrada pelas Nações Unidas em um campo de refugiados em Gaza bem como de uma mesquita na Cisjordânia e das restrição ridículas à água, combustível, eletricidade e à ajuda humanitária a entrar em Gaza, não tem sido vistas com bons olhos.
Até porque estas acções, são consideradas por muitos observadores internacionais, incluindo o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, como violações das leis internacionais humanitárias e têm sido comparadas ao comportamento dos Nazis, na segunda Guerra Mundial.
Estas táticas foram amplamente condenadas, inclusive por Estados regionais com boas relações com Israel, como a Jordânia e o Egito, mesmo quando os governos ocidentais evitaram criticar explicitamente Israel pelos seus bombardeamentos indiscriminados, levando governos como a Turquia, a acusarem os Israelitas de terroristas e de genocidas.
A posição de África
Os governos africanos recordam muito bem a pressão implacável que enfrentaram dos Estados Unidos da América (EUA) e dos seus aliados europeus, para condenarem veementemente a Rússia pela invasão da Ucrânia. Eles também se lembram do apoio do Ocidente ao mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional contra o Presidente russo Vladimir Putin.
Eles podem razoavelmente questionar porque é que as potências ocidentais não aplicaram os mesmos padrões a Israel. Independentemente da natureza das relações entre os países africanos e Israel, muitos dos seus governos simpatizam com os sentimentos palestinos de que as potências ocidentais não são os mediadores certos para o conflito.
Os EUA, em particular, estão longe de serem mediadores honestos, mas sim partidários com o polegar na balança já inclinada a favor de Israel. Para muitos países africanos, o Ocidente pode afirmar apoiar uma ordem baseada em regras ou afirmar um apoio inabalável a Israel, mas não ambas.
Dada a dificuldade que as potências ocidentais têm enfrentado ao procurar o apoio dos governos africanos para a Ucrânia em meio à sua guerra contra a Rússia, a decisão de Washington e dos seus aliados europeus de vincular este conflito às últimas hostilidades entre Israel e a Palestina é improvável que amplie o apoio diplomático a Israel entre os governos africanos.
Pelo contrário, as críticas à ordem internacional liberal feitas pelos governos africanos em relação à guerra na Ucrânia aplicam-se quase integralmente às condições em torno da guerra contínua de Israel com o Hamas.
Conclusão
À medida que o conflito israelo-palestiniano persiste, as relações entre África e Israel continuarão a evoluir, moldando a direção futura do continente em relação qo seu apoio. A abordagem dos governos africanos varia amplamente e é moldada por uma série de factores complexos.
A complexidade das relações entre África, Israel e a Palestina, a diversidade de interesses, contextos históricos e dinâmicas geopolíticas em jogo são tão dispares como países existem no continente. Enquanto alguns mantêm um firme apoio à Palestina, outros veem em Israel oportunidades económicas e tecnológicas vantajosas a não perder.
O crescimento da influência israelita no continente africano é inegável, à medida que a cooperação em agricultura, comércio e segurança se expande, as diferentes abordagens adoptadas pelos governos africanos, incluindo a procura de uma diplomacia de terceira via, refletem a complexidade do conflito israelo-palestiniano e a necessidade de equilibrar interesses locais e globais.
Levando em consideração o que aconteceu em relação à guerra na Ucrânia, a reacção dos governos africanos à guerra entre Israel e o Hamas será motivada por interesses e factores históricos. Ignorar isto não ajudará Israel e os seus apoiantes no Ocidente a apresentar o seu caso para obterem o seu suporte em África.
Uma coisa é certa. África continua a ser uma arena importante, onde as dinâmicas deste conflito israelo-palestiniano, desempenham um papel significativo nas suas relações diplomáticas e políticas internacionais.
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Imagem: © 2023 Denis Farrell