2023 É O Ano Mais Quente Em 125.000 Anos.
Os Cientistas afirmam que 2023 está a caminho de ser o ano mais quente registado, depois das temperaturas terem disparado em todo o planeta em Outubro, colocando este ano a caminho de ser o mais quente em 125.000 anos. Segundo as suas afirmações, as alterações climáticas estão a impulsionar ondas de calor em todo o planeta, derrubando recordes anteriores com frequência alarmante.
O Serviço de Alterações Climáticas Copernicus reporta recordes de temperatura, desde ondas de calor na Antártida até desafios climáticos nos Hemisférios Norte e Sul.
O mês de outubro viu um aumento alarmante nas temperaturas globais, e a Antártida enfrentou a maior onda de calor registada em março de 2022. Estes eventos, agravados pelo padrão climático El Niño, destacam a urgência da ação climática global.
O Mês de Outubro
O Serviço de Alterações Climáticas Copernicus (C3S), o monitor climático da UE, cujo conjunto de dados remonta a 1940, anunciou na quarta-feira que Outubro estava 0,4 graus Celsius mais quente do que o recorde anterior para o mês, estabelecido em 2019.
“Quando combinamos os nossos dados com o IPCC [Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas], podemos dizer que este é o ano mais quente dos últimos 125.000 anos”.
Disse Samantha Burgess, diretora adjunta do C3S.
À medida que as alterações climáticas, impulsionadas pelas emissões de gases de estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis, aquecem o planeta, os recordes anteriores de calor extremo têm sido quebrados com uma frequência vertiginosa.
Nenhum canto do planeta foi poupado: um estudo publicado em Setembro, mês que também bateu os recordes anteriores, descobriu que 2022, trouxe a onda de calor mais intensa registada na Antártida, a região mais fria do mundo.
A Antártida
Em Março de 2022, as temperaturas no leste da Antártida subiram cerca de 39 graus Celsius (102,2 graus Fahrenheit) acima da média mensal, conforme indicado no estudo intitulado “A Maior Onda de Calor Jamais Registada – Características e Atribuição da Onda de Calor na Antártida de março de 2022“.
No dia 18 de março, o dia mais quente da onda de calor, a temperatura subiu para -10°C (-14°F), um contraste marcante em relação à média de -54°C (-65,2°F) para o mês de março. As temperaturas permaneceram acima do recorde anterior de -31°C (-23,8°F), durante três dias consecutivos, incluindo durante a noite.
Os investigadores determinaram que a onda de calor resultou de padrões de circulação de ar invulgares perto da Austrália.
Num período de apenas quatro dias, uma massa de ar quente do sul da Austrália conseguiu mover-se para o leste da Antártida, “provavelmente a primeira vez que aconteceu tão rapidamente“, afirmou Edward Blanchard-Wrigglesworth, autor do estudo, citado pelo The Washington Post.
A onda de calor ocorreu pouco tempo depois do recorde de espessura mínima, do gelo marinho, ocorrido em Fevereiro de 2022, de acordo com o estudo.
“A onda de calor foi dois graus Celsius [3,6°F] mais quente devido às alterações climáticas e as ondas de calor no final do século XXI poderão ser cinco a seis graus Celsius [9-10,8°F] mais quentes”, afirmou o estudo.
Em fevereiro de 2023, os mínimos do gelo marinho, atingiram um novo recorde devido ao aumento das temperaturas globais. O mínimo deste ano foi 20% inferior à média dos últimos 40 anos.
Um aumento na frequência de tais eventos ao longo dos próximos 50 ou até 100 anos pode desencadear alguns efeitos que talvez não estivessem no nosso radar, fazendo com que todos os anos sejam “o ano mais quente”, acrescentou Blanchard-Wrigglesworth.
No mês passado, os investigadores relataram que os pinguins-imperador estavam a morrer a uma taxa alarmante nos locais de reprodução no oeste da Antártida nos finais de 2022. O degelo, devido ao aquecimento global, estava a dar lugar a que os pequenos pés dos pinguins, se afundassem no gelo mais fino, levando-os a afogar-se ou a congelar até à morte.
O Hemisfério Sul
Em Agosto e Setembro, durante o inverno e a primavera do hemisfério sul, países sul-americanos como o Brasil, a Argentina, a Bolívia e o Paraguai debateram-se com temperaturas superiores a 40ºC, numa onda de calor que os cientistas afirmaram ser 100 vezes mais provável de ter acontecido devido às alterações climáticas.
“A quantidade e a velocidade em que estamos a bater recordes é chocante”, afirmou Burgess.
O calor extremo pode ter impactos mortais, esgotando o corpo de energia e causando desidratação a curto prazo, aumentando o risco de problemas de saúde como doenças cardiovasculares e respiratórias. As pessoas de segmentos mais pobres da sociedade, especialmente aquelas que realizam trabalhos manuais ou ao ar livre, estão especialmente em risco.
“O calor mata, especialmente na primavera antes de as pessoas se aclimatizarem a ele”.
“Temperaturas acima de 40ºC no início da primavera são incrivelmente extremas”.
Disse Julie Arrighi, directora do Centro Climático da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, durante a onda de calor na América do Sul, neste ano que foi o ano mais quente de sempre.
O Hemisfério Norte
As condições criadas pelas alterações climáticas também contribuíram para uma temporada recorde de incêndios florestais no Canadá em 2023 que deslocou milhares de pessoas e queimou mais de 18,4 milhões de hectares de terra.
Este ano, factores impulsionados pelas alterações climáticas juntaram-se aos produzidos pelo padrão climático El Niño, durante o qual as águas superficiais mais quentes no Oceano Pacífico oriental impulsionam condições climáticas extremas em todo o mundo. O ano mais quente registado até agora foi o de 2016 – outro ano de El Niño.
O padrão meteorológico El Niño em curso deverá durar até pelo menos Abril, anunciou a Organização Meteorológica Mundial.
“Isto é um sinal claro de que estamos a entrar num regime climático que terá mais impacto em mais pessoas”.
“É melhor levarmos em consideração este aviso algo que deveríamos ter feito há 50 anos atrás e tirarmos as conclusões certas”.
Afirmou Peter Schlosser, vice-presidente e vice-reitor do Laboratório Global Futures na Universidade Estadual do Arizona.
O Futuro
As descobertas dos cientistas europeus foram divulgadas três semanas antes de os governos se reunirem no Dubai para as negociações climáticas da ONU, conhecidas como COP28, onde quase 200 países irão negociar as ações a tomar em relação às alterações climáticas.
Um tema-chave na COP28 será perceber se os governos concordarão pela primeira vez em eliminar gradualmente a queima de combustíveis fósseis que emitem dióxido de carbono.
A 20 de Março, o Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC) divulgou o seu relatório de síntese, um resumo de sete anos de ciência climática que mais uma vez enfatizou a grave ameaça que a humanidade enfrenta devido às alterações climáticas.
O relatório conclui que mesmo com as reduções mais ambiciosas nas emissões de gases de efeito de estufa, é esperado que o aquecimento global ultrapasse o limite de 1,5 graus Celsius estabelecido pelo Acordo de Paris, já em 2030.
Prevê-se que o aumento da temperatura atinja os 1,6 graus Celsius antes de que, supostamente, pois há quem defenda já não ser possível, se consiga voltar atrás e baixar do limiar crítico.
Para que este cenário ocorra, as emissões globais devem atingir o pico, no máximo até 2025 e depois, diminuir pelo menos 43% até 2030 e atingir o ponto zero de carbono, antes do fim deste século.
COP28
A próxima 28ª Conferência das Partes das Nações Unidas (COP28), que ocorrerá no Dubai em Dezembro, oferece talvez uma das últimas oportunidades para isso.
Existem várias questões na agenda da cimeira de duas semanas, incluindo uma revisão do Acordo de Paris, um acordo sobre um objetivo global para adaptação climática e o estabelecimento de um mecanismo financeiro para perdas e danos devido às alterações climáticas.
Mas a COP28 tem o potencial de alcançar ainda mais do que isso; pode tornar-se um momento decisivo em que as reuniões da COP transitem de negociações multilaterais para decisões audaciosas que impulsionem a ação climática.
Esta promessa só pode ser cumprida se a COP28 evitar ser arrastada para um debate sobre o papel dos combustíveis fósseis na transição global de energia que leve a um impasse sobre a sua eliminação gradual.
Como anfitriões da COP28, os Emirados Árabes Unidos podem desempenhar um papel importante ao orientar o resultado da conferência para um avanço que trace um novo caminho.
Os Emirados Árabes Unidos e os participantes na COP28 também devem evitar repetir os erros de COPs anteriores. A última coisa que a crise climática precisa é de mais uma rodada de negociações em que as ambições climáticas são prejudicadas por interesses nacionais de vistas curtas.
O tempo para deter estas perigosas alterações climáticas, está a esgotar-se rapidamente. As decisões que tomarmos nesta década determinarão o futuro da humanidade. Se não o fizermos, todos os anos vão ser o ano mais quente de sempre até que seja impossível viver neste planeta.
A nossa resposta a esta responsabilidade histórica exige que estejamos à altura da ocasião com uma transição energética mais audaciosa e esforços redobrados, não com medidas a meias e promessas de tecnologias futuras. A COP28 pode ser o local onde o mundo decide seguir a ciência e acelerar a ação climática.
Conclusão
Os impactos das alterações climáticas são inegáveis, com o aumento alarmante nas temperaturas, evidenciado eventos extremos a ocorrerem em todo o mundo o que tornou este ano de 2023, o ano mais quente dos últimos 125.000 anos.
A COP28, em Dubai, surge como uma oportunidade crucial para decisões ousadas em direção à transição energética. As consequências iminentes das alterações climáticas exigem uma transição energética audaciosa e uma cooperação global mais sólida.
A comunidade internacional deve reconhecer a gravidade da situação e unir esforços para enfrentar o desafio climático, tomando medidas decisivas para garantir um futuro sustentável para o planeta.
O mundo enfrenta uma encruzilhada; seguir a ciência é vital para enfrentar as ameaças iminentes.
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