O centenário de Agostinho Neto comemorou-se 43 anos após o seu falecimento.

O primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, faleceu 7 dias antes de completar 67 anos, a 10 de Setembro de 1979, em Moscovo, na então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), após ter sido submetido a uma cirurgia. 43 anos depois, no ano de 2022, a 17 de Setembro, completaram-se 100 anos sobre o seu nascimento.

António Agostinho Neto, foi médico, político e poeta angolano. Foi presidente do MPLA (1962-1979) e o 1º Presidente de Angola (1975-1979). O seu pensamento, convicções e acção política marcaram decisivamente a história de Angola, antes e depois da independência.

Agostinho Neto pertence ao grupo dos que, em plena “guerra fria”, fizeram história no período “quente” das lutas de libertação anticolonial da África. As celebrações oficiais do Centenário, já iniciadas e a continuar ao longo de 2022, poderão ser uma oportunidade para conhecer melhor o homem e o político e reflectir sobre o seu legado histórico.

 

A sua vida

Devido à tenacidade e participação activa nos movimentos estudantis, foi preso diversas vezes pela PIDE (Polícia Política portuguesa), dando origem a campanhas internacionais de solidariedade para a sua libertação. A influência a nível internacional cresce na década de 60 e participa em diferentes conferências.

Nasceu, às cinco horas de 17 de Setembro de 1922, na aldeia de Kaxicane, freguesia de S. José, concelho de Icolo e Bengo, no distrito de Luanda, sendo filho do pastor evangelista Agostinho Pedro Neto e da professora primária Maria da Silva Neto.

Em 1930, acompanha os pais na mudança de residência para Luanda e em 1933 termina a instrução primária, que lhe foi ministrada pelos pais, tendo sido aprovado com distinção. E em 1934, matricula-se, em 14 de Fevereiro, no Liceu Salvador Correia (hoje denominado Magistério Mutu ya Kevela).

Em 1936, faz a primeira oração pública, durante uma cerimónia fúnebre em honra do missionário metodista Robert Shields, organizada pelos evangelistas na Liga Nacional Africana.

E em 1938, é-lhe atribuído o 1º prémio num concurso de poesia promovido pela Igreja Lusitana Portuguesa. No jornal O Estudante, órgão dos alunos do Liceu Salvador Correia, publica um artigo intitulado «Heróis», em que refere os heróis do bem e do mal e critica os déspotas, exortando os colegas à solidariedade.

Inicia, em 1942, a colaboração nos jornais O Estandarte, da Igreja Metodista, e O Farolim. Funda, em 1943, o Centro Evangélico da Juventude Angolana (CEJA), com o objectivo de apoiar alunos do ensino primário com dificuldades de aprendizagem, sobretudo, na língua portuguesa.

Integra o corpo redactorial de O Estudante. Com elevada classificação, conclui, em Janeiro de 1944, o curso do liceu, curso que suspendeu durante três anos lectivos, a fim de, por vontade dos pais, acompanhar o irmão mais velho que se atrasara nos estudos.

Vai viver durante seis meses com os pais na região do Piri, Dembos, onde os camponeses lhe inspiram alguns poemas que mais tarde viria a destruir, considerando-os incipientes. Mediante concurso, ingressa no quadro administrativo dos Serviços de Saúde e Higiene de Angola, sendo colocado em Malanje.

 

Os anos do poder

1974

Em Fevereiro, publica-se em Dar-es-Salam, na Tanzânia, a versão inglesa do seu livro de poesia A Sagrada Esperança, com tradução de Marga Holness. Na sequência do golpe revolucionário de 25 de Abril em Portugal e do reconhecimento, pelo novo regime português, do direito das colónias à independência, assina em Outubro o cessar-fogo nas chanas do Lunhameje, Moxico.

1975

Em 5 de Janeiro, assina em Nakuru, no Quénia, um acordo de princípios entre o MPLA, a FNLA e a UNITA, para o estabelecimento de conversações conjuntas com o Governo português. Desloca-se a Portugal, onde assina, em 15 de Janeiro, os Acordos de Alvor, subscritos pelo MPLA, FNLA e UNITA, bem como pelos representantes do Governo provisório português.

Em 4 de Fevereiro, regressa a Luanda, onde é alvo de um acolhimento popular triunfal, sem precedentes na história de Angola.

Em Agosto, o Governo de transição desfaz-se e os três movimentos acantonam-se nas suas áreas de influência, MPLA em Luanda, FNLA ao Norte, com o apoio de forças zairenses, e UNITA ao Sul, apoiada pelos sul-africanos, pelo que lança a palavra de ordem «Resistência Popular Generalizada».

Em 11 de Novembro, com o poder do MPLA praticamente confinado em Luanda, onde a 30 km se trava a decisiva batalha de Kifangondo, proclama a Independência Nacional, sendo investido no cargo de Presidente da República Popular de Angola.

1976

Graças ao apoio que solicitou e recebeu dos países socialistas, em especial dos combatentes cubanos e dos conselheiros e material soviéticos, as forças do MPLA atingem o rio Zaire em Fevereiro e o rio Cunene em Março, derrotando os exércitos da FNLA e da UNITA e expulsando os invasores zairenses e sul-africanos, pelo que manda celebrar o «Carnaval da Vitória».

Participa na Conferência de Chefes de Estado e de Governo do Movimento dos Países Não-Alinhados, no Sri Lanka, e na Cimeira dos Países da Linha da Frente, em Dar-es-Salam, na Tanzânia.

Toma posse do cargo de presidente da Assembleia Geral da União dos Escritores Angolanos (UEA). Preside à VI Conferência dos Escritores Afro-Asiáticos, em Luanda. Em 25 de Abril, recebe a Medalha de Ouro da Cidade de Belgrado, a mais alta condecoração da República Federativa da Jugoslávia.

Em 27 de Abril, recebe a Grande Faixa da Ordem de Méritos, atribuída pela República Popular da Polónia. Em 28 de Abril, recebe a Medalha de Ouro Joliot Curie, do Conselho Mundial da Paz. Em 1 de Maio, o Soviete Supremo da URSS atribui-lhe o Prémio Internacional Lénine.

Em Junho, recebe o Prémio Dimitrof, atribuído pelo Conselho de Estado da República Popular da Bulgária. Em Julho, visita Havana e recebe a Medalha de Ouro da Ordem Playa Giron, atribuída pelo Conselho de Estado da República Socialista de Cuba. Em 1 de Agosto, proclama as FAPLA-Forças Armadas Populares de Libertação de Angola.

1977

Em 27 de Maio, enfrenta a maior crise da história de Angola independente, com o golpe de Estado desencadeado por uma facção do MPLA liderada por Nito Alves, conhecido por Fraccionismo, situação que gera um banho de sangue de fundas repercussões em todos os sectores da sociedade angolana.

Em Dezembro, é agraciado com o título de Herói Nacional pelo 1.º Congresso do MPLA, altura em que o movimento se transforma em Partido do Trabalho.

1978

Proclama o «Ano da Agricultura». Em 19 de Janeiro, é distinguido com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lagos, Nigéria. Recebe, em Luanda, o secretário-geral das Nações Unidas, Kurt Waldheim, além de vários líderes de partidos e presidentes de países africanos. Recebe, em Luanda, o Presidente cubano, Fidel Castro.

Em 25 e 26 de Junho, encontra-se em Bissau com o Presidente da República Portuguesa, general Ramalho Eanes, com o objectivo de regularizar as relações entre Angola e Portugal. Participa, em Cartum, na 15.ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Organização de Unidade Africana (OUA), em que Angola é admitida como membro.

Em 20 de Agosto, com o fim de pôr termo às hostilidades na fronteira Norte de Angola, encontra-se em Kinshasa com o Presidente Mobutu, recebendo-o depois em Luanda, em 15 de Outubro. É-lhe conferido, a 30 de Setembro, o título de Cidadão Honorário da República Popular de Moçambique.

1979

Proclama o «Ano da Formação de Quadros». Preside, em 8 de Janeiro, ao acto de posse dos dirigentes da União de Escritores Angolanos. É-lhe atribuída, em 4 de Fevereiro, a Medalha «17 de Novembro» pela União Internacional de Estudantes. Preside ao encerramento da VI Conferência de Escritores Afro-Asiáticos, realizada de 26 de Junho a 3 de Julho.

Profere no Uíge, em 22 de Agosto, o seu último discurso, em que lamenta «não poder ser mais longo por causa da minha voz não estar clara, não estar muito boa». Transferido de emergência para Moscovo, a fim de ser submetido a uma intervenção cirúrgica, morre em 10 de Setembro.

 

Criar com olhos secos

A criação poética de Agostinho Neto coloca-o entre os poetas que puseram a sua criação ao serviço da causa da libertação do povo. Alcançada a independência do país e nos dias hoje, verifica-se que a sua poesia continua absolutamente actual, o que diz tudo da sua intemporalidade e universalidade.

 

O que achas da vida de António Agostinho Neto? Angola seria diferente se ele não tivesse morrido? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.
Imagem: © Associação Tchiweka
Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santos

Ex-atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

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