Seca severa eleva casos de casamento infantil.
Por causa da mais seca severa, desde 1981, que se vive no Corno de África, agravada pela pobreza extrema e a subida de preços por causa da guerra da Ucrânia, raparigas de até 12 anos são submetidas à força a mutilação genital e a casamentos forçados.
A região passa pela crise mais grave de estiagem dos últimos 40 anos. 3,3 milhões de alunos saíram da escola e 1,8 milhão de menores precisam de ajuda imediata para sobreviver
Crise humanitária
Os casos de mutilação genital feminina e casamento infantil estão a subir a “níveis alarmantes” em várias regiões da Etiópia, um dos países mais afetados pela seca no Corno de África, a região no extremo leste do continente.
O alerta é do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef. A média de casos de casamento de raparigas, mais que dobrou no espaço de um ano. E a quantidade de crianças sob risco de êxodo escolar na Etiópia, no Quénia e na Somália, triplicou nos últimos 90 dias por causa da crise.
Seca leva a fome e pobreza extrema
Em Fevereiro de 2022 a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou preocupação em relação ao fato de existirem 13 milhões de pessoas sob ameaça de fome severa na região do Corno de África.
Segundo o Programa Alimentar Mundial, mantido pela da ONU, o Corno de África, enfrenta a pior seca dos últimos 40 anos. Plantações foram completamente arruinadas, afetando intensamente a população da região, levando à disseminação generalizada de fome e desnutrição.
Adicionalmente, a organização internacional declarou que os problemas económicos levaram a uma alta da inflação, encarecendo o custo de vida, dificultando o acesso à alimentação e também a recursos básicos necessários para sobrevivência.
“Claramente está a revelar-se uma das maiores crises humanitárias que a humanidade enfrenta”.
“Estamos a falar de um total de 20 milhões de pessoas cujas vidas estão ameaçadas por insegurança alimentar severa e também por falta de água”.
Disse o diretor da Unicef, Mohamed M. Fall.
Efeito dominó e a guerra da Ucrânia
Em todo o Corno de África, as famílias estão a ser postas perante situações de desespero nas escolhas que fazem para sobreviver à seca, agravada pela mudança climática, que mata rebanhos e gados, interrompe as fontes de água num efeito dominó.
Um outro fator de relevo para esta crise, é a guerra da Ucrânia que elevou ainda mais o preço dos alimentos e do combustível.
Mais de 1,8 milhão de crianças estão a precisar de cuidados para sobreviver por causa de subnutrição aguda. Somente na Somália, pelo menos 213 mil pessoas estão em risco. Com o desespero, muitos pais e tutores estão a “entregar” as raparigas da família para casamento para, dessa forma, assegurar o dote e poderem sustentar o resto da família.
Homens cinco vezes mais velhos
Com a saída das raparigas, através do casamento, existem menos bocas para alimentar e a esperança dos pais é a de encontrarem maridos para as suas filhas adolescentes ou pré-adolescentes, para que se casem com membros de famílias mais ricas e assim, irem para um lar com mais recursos que sejam capazes de as alimentar e proteger.
O conselheiro de Proteção Infantil do Unicef para o Leste e Sul da África, Andy Brooks, disse que os níveis de casamento infantil e mutilação genital atingem meninas de até 12 anos e os casamentos ocorrem com homens cinco vezes mais velhos.
Para o Unicef, o casamento infantil e a mutilação genital acabam com a infância e expõem as raparigas à violência doméstica e ao abandono da escola, criando o risco de uma vida inteira na pobreza.
Em toda a região, pelo menos 3,3 milhões de alunos deixaram de ir ao colégio. Para a agência da ONU, esta é uma crise das crianças e que precisa de financiamento imediato para uma resposta eficiente.
Conclusão
Como se já não bastasse a situação gravosa da seca e da pobreza, surge agora uma guerra a que África é completamente alheia, mas que acaba por ser o continente que mais sofre.
A guerra da Ucrânia, vem agravar toda esta situação de crise, já de si muito má, transformando o que já era difícil em insustentável. Ironicamente, o mundo ocidental, que se preocupa tanto com os desalojados da guerra, não quer saber nem pouco se importa com o impacto da mesma em África.
E a maior ironia de todas, é que o país agressor, a Rússia, talvez por saberem que são culpados do ocorrido ou aproveitando apenas uma oportunidade deixada em aberto, são os únicos que tem apresentado soluções para o problema e tem ajudado naquilo que podem.
A realidade é que tudo o que tem acontecido devido à guerra na Ucrânia se tem demonstrado ser completamente surreal e a contenção dos danos tem que começar já, antes que se regridam ainda mais anos do que aqueles que já regredimos desde o início do conflito.
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Imagem: © DR