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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Seca severa eleva casos de casamento infantil

A região passa pela crise mais grave de estiagem dos últimos 40 anos.

Seca severa eleva casos de casamento infantil.

Por causa da mais seca severa, desde 1981, que se vive no Corno de África, agravada pela pobreza extrema e a subida de preços por causa da guerra da Ucrânia, raparigas de até 12 anos são submetidas à força a mutilação genital e a casamentos forçados.

A região passa pela crise mais grave de estiagem dos últimos 40 anos. 3,3 milhões de alunos saíram da escola e 1,8 milhão de menores precisam de ajuda imediata para sobreviver

 

Crise humanitária

Os casos de mutilação genital feminina e casamento infantil estão a subir a “níveis alarmantes” em várias regiões da Etiópia, um dos países mais afetados pela seca no Corno de África, a região no extremo leste do continente.

O alerta é do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef. A média de casos de casamento de raparigas, mais que dobrou no espaço de um ano. E a quantidade de crianças sob risco de êxodo escolar na Etiópia, no Quénia e na Somália, triplicou nos últimos 90 dias por causa da crise.

 

Seca leva a fome e pobreza extrema

Em Fevereiro de 2022 a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou preocupação em relação ao fato de existirem 13 milhões de pessoas sob ameaça de fome severa na região do Corno de África.

Segundo o Programa Alimentar Mundial, mantido pela da ONU, o Corno de África, enfrenta a pior seca dos últimos 40 anos. Plantações foram completamente arruinadas, afetando intensamente a população da região, levando à disseminação generalizada de fome e desnutrição.

Adicionalmente, a organização internacional declarou que os problemas económicos levaram a uma alta da inflação, encarecendo o custo de vida, dificultando o acesso à alimentação e também a recursos básicos necessários para sobrevivência.

“Claramente está a revelar-se uma das maiores crises humanitárias que a humanidade enfrenta”.

“Estamos a falar de um total de 20 milhões de pessoas cujas vidas estão ameaçadas por insegurança alimentar severa e também por falta de água”.

Disse o diretor da Unicef, Mohamed M. Fall.

 

Efeito dominó e a guerra da Ucrânia

Em todo o Corno de África, as famílias estão a ser postas perante situações de desespero nas escolhas que fazem para sobreviver à seca, agravada pela mudança climática, que mata rebanhos e gados, interrompe as fontes de água num efeito dominó.

Um outro fator de relevo para esta crise, é a guerra da Ucrânia que elevou ainda mais o preço dos alimentos e do combustível.

Mais de 1,8 milhão de crianças estão a precisar de cuidados para sobreviver por causa de subnutrição aguda. Somente na Somália, pelo menos 213 mil pessoas estão em risco. Com o desespero, muitos pais e tutores estão a “entregar” as raparigas da família para casamento para, dessa forma, assegurar o dote e poderem sustentar o resto da família.

 

Homens cinco vezes mais velhos

Com a saída das raparigas, através do casamento, existem menos bocas para alimentar e a esperança dos pais é a de encontrarem maridos para as suas filhas adolescentes ou pré-adolescentes, para que se casem com membros de famílias mais ricas e assim, irem para um lar com mais recursos que sejam capazes de as alimentar e proteger.

O conselheiro de Proteção Infantil do Unicef para o Leste e Sul da África, Andy Brooks, disse que os níveis de casamento infantil e mutilação genital atingem meninas de até 12 anos e os casamentos ocorrem com homens cinco vezes mais velhos.

Para o Unicef, o casamento infantil e a mutilação genital acabam com a infância e expõem as raparigas à violência doméstica e ao abandono da escola, criando o risco de uma vida inteira na pobreza.

Em toda a região, pelo menos 3,3 milhões de alunos deixaram de ir ao colégio. Para a agência da ONU, esta é uma crise das crianças e que precisa de financiamento imediato para uma resposta eficiente.

 

Conclusão

Como se já não bastasse a situação gravosa da seca e da pobreza, surge agora uma guerra a que África é completamente alheia, mas que acaba por ser o continente que mais sofre.

A guerra da Ucrânia, vem agravar toda esta situação de crise, já de si muito má, transformando o que já era difícil em insustentável. Ironicamente, o mundo ocidental, que se preocupa tanto com os desalojados da guerra, não quer saber nem pouco se importa com o impacto da mesma em África.

E a maior ironia de todas, é que o país agressor, a Rússia, talvez por saberem que são culpados do ocorrido ou aproveitando apenas uma oportunidade deixada em aberto, são os únicos que tem apresentado soluções para o problema e tem ajudado naquilo que podem.

A realidade é que tudo o que tem acontecido devido à guerra na Ucrânia se tem demonstrado ser completamente surreal e a contenção dos danos tem que começar já, antes que se regridam ainda mais anos do que aqueles que já regredimos desde o início do conflito.

 

O que achas desta situação? Esta seca está a fazer África regredir? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e, se gostaste do artigo, partilha e dá um “like/gosto”.
Imagem: © DR
Francisco Lopes-Santos

Atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

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Francisco Lopes-Santos
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