Arte Africana na Bienal de Arquitetura de Veneza.
A primeira curadora africana a liderar a Bienal de Arquitetura de Veneza, Lesley Lokko, tornou-se uma figura emblemática do evento, cuja abertura decorrerá a 20 de Maio na sua sede em Veneza. Lokko, a arquitecta visionária por detrás da criação do African Futures Institute em Accra, Gana, torna patente a interligação entre a África e a arquitectura global.
Uma Africana Entre Dois Mundos
A história de vida de Lokko destaca-se pela sua habilidade de navegar por diferentes realidades. Nascida em Acra, Gana, e mudando-se para Dundee, na Escócia, aos 17 anos, conseguiu estabelecer uma ligação entre duas culturas distintas.
“A Escócia tremia e Gana era o suor”, recorda.
A reinvenção é uma marca distintiva de Lokko. Nos anos 90, viveu nos EUA e dedicou-se à escrita de ficção, demonstrando a sua capacidade de se adaptar e de se reinventar. As suas obras, que já somam 12, abordam questões de identidade racial e cultural.
Lokko demonstra a sua capacidade de interpretar múltiplos mundos no seu projecto “O Laboratório do Futuro“. Esta ambiciosa exploração do impacto da África no mundo – e vice-versa – inclui mais de metade dos 89 participantes da Bienal oriundos de África ou da diáspora africana.
África Subsariana
A África Subsariana, salienta Lokko, é frequentemente considerada a população mais urbanizada e jovem do mundo. Este dinamismo cultural tem o potencial de redefinir a arquitectura global.
Apesar do seu progresso, Lokko teve de enfrentar alguns obstáculos. Recentemente, ela criticou a Itália por negar vistos de entrada a três membros da sua equipa curatorial do Gana.
Lokko tem um longo historial de envolvimento em questões de raça, espaço e arquitectura, tendo inclusivamente escrito e editado um livro pioneiro sobre o tema. Ela sublinha que aqueles considerados “minorias” no Ocidente são, na realidade, a maioria global.
A Arquitectura Global Africana
Com a Bienal de Veneza, Lokko coloca a África e a diáspora africana no centro do palco, abordando questões prementes como as alterações climáticas, a rápida urbanização e a necessidade de descolonizar instituições e espaços. A sua abordagem única e inovadora combina várias disciplinas e apresenta um modelo de prática sustentável.
Akosua Obeng Mensah, arquitecto em Acra, destaca que cerca de 80% do desenvolvimento na África subsaariana ainda precisa ser construído. Esta realidade destaca o imenso potencial da África para reinventar a arquitectura global e urbana.
Ao falar sobre a África e o seu lugar no mundo, Lokko realça a dificuldade de superar preconceitos existentes. “Quando és africano, falas com um mundo que já tem uma visão preconcebida de quem e o que és”, diz ela. A Bienal é, assim, uma oportunidade de confrontar e ultrapassar essas ideias pré-concebidas.
Os Destaques da Bienal
Entre os contribuintes notáveis para a Bienal contam-se o laureado com o Prémio Pritzker, Diébédo Francis Kéré (Burkina Fasso e Berlim); Cave_Buu (Nairóbi), uma empresa que mapeou as cavernas de escravos no Quénia; Olalekan Jeyifous, da Nigéria; e o conceituado arquiteto britânico David Adjaye, conhecido nos EUA pelo trabalho no Smithsonian Museum, em Washington.
Este evento proporciona um fórum para discutir África com o resto do mundo e vice-versa.
Conclusão
Com a Bienal de Arquitetura de Veneza como palco, Lokko destaca o papel de África na arquitectura global. As suas contribuições inovadoras para o evento e a sua paixão pela arquitectura africana têm um potencial imenso para redefinir a nossa compreensão do impacto do continente na arquitectura mundial.
Através da Bienal, o mundo testemunha uma África determinada em se reinventar, uma África que se encontra na vanguarda da arquitectura mundial, com capacidade para influenciar, inovar e moldar o futuro. A reinvenção da África na Bienal de Arquitetura de Veneza é mais do que um marco para a arquitectura africana; é um momento definidor para a arquitectura mundial.
O que achas desta representação africana? Já conhecias a Bienal de Arquitetura de Veneza? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.
Imagem: © 2023 Kéré Architecture