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Toggle7 De Outubro É O Dia Mundial Do Algodão
O Dia Mundial do Algodão celebra-se anualmente a 7 de Outubro. Este dia tem como objectivo aumentar a visibilidade do sector do algodão, um tecido natural que garante a vida de 32 milhões de produtores em todo o mundo (quase metade dos quais são mulheres) e beneficia mais de 100 milhões de famílias em 80 países dos 5 continentes.
O tema deste ano é “O algodão, o tecido das nossas vidas”. Pretende destacar a importância do algodão que está presente no quotidiano, é uma fonte de subsistência para milhões de pequenos agricultores e trabalhadores, incluindo mulheres e suas famílias e contribui significativamente para as economias de muitos países em desenvolvimento.
O Dia Mundial do Algodão é uma excelente oportunidade para renovar o nosso compromisso com o reforço da sustentabilidade do sector algodoeiro e colocá-lo na vanguarda da agenda mundial.
A Origem Deste Dia

O Dia Mundial do Algodão é uma data relativamente recente no calendário internacional. A sua história remonta a 2019, quando quatro países africanos, Benim, Burkina Fasso, Chade e Mali, conhecidos como os Cotton Four ou C4, tiveram a iniciativa de levarà Organização Mundial do Comércio (OMC) a proposta de consagrar uma data que desse visibilidade à actividade da cultura do algodão.
Estes Estados, altamente dependentes do algodão como motor económico e social, procuravam reconhecimento e apoio internacional para um sector frequentemente afectado por desigualdades comerciais, volatilidade dos preços e concorrência das fibras sintéticas.
Dois anos mais tarde, a proposta foi acolhida pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Em 30 de Agosto de 2021, a Resolução 75/318 proclamou oficialmente o dia 7 de Outubro como a celebração mundial desta fibra natural. Desde então, a data é assinalada com eventos presenciais e virtuais, debates, exposições culturais e iniciativas de sensibilização em diferentes continentes.
O simbolismo do algodão transcende a agricultura. Representa também justiça social e comércio justo. Para os países em desenvolvimento, é uma fonte vital de receitas de exportação e de criação de emprego, sobretudo em áreas rurais onde as alternativas de subsistência são escassas.
Ao instituir este dia, a ONU e as organizações parceiras, como a FAO, o Centro de Comércio Internacional (ITC) e a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), quiseram destacar a necessidade de integrar os pequenos agricultores nos mercados internacionais, promovendo políticas inclusivas e sustentáveis.
O tema escolhido para 2025 foi “O algodão, o tecido das nossas vidas”, uma mensagem que reforça a ligação entre a fibra e o quotidiano das pessoas, ao mesmo tempo que chama atenção para os desafios da sustentabilidade, da justiça comercial e da inovação tecnológica.
A Importância Económica e Social

O algodão não é apenas uma fibra: é um sector que garante a sobrevivência de 32 milhões de produtores em todo o mundo, quase metade dos quais são mulheres. Estima-se que mais de 100 milhões de famílias em 80 países dependem directamente desta cultura que se estende por cinco continentes.
Em muitos países em desenvolvimento, especialmente em África e na Ásia, o algodão funciona como uma rede de cultura que oferece estabilidade, com enorme peso no equilíbrio social e económico rural. As pequenas explorações agrícolas oferecem rendimentos que sustentam comunidades inteiras, pagam a educação dos filhos, melhoram o acesso a serviços de saúde e reduzem a pobreza extrema.
O sector algodoeiro tem igualmente relevância no comércio internacional. A produção mundial ronda 26 milhões de toneladas por ano, movimentando mais de 75 mil milhões de dólares. O comércio internacional, por sua vez, representa cerca de 20 mil milhões de dólares anuais.
Países como o Brasil, a Índia, os Estados Unidos da América, a China e o Paquistão dominam a produção, mas são os produtores africanos que mais dependem do algodão como pilar económico.
Para além da produção primária, a fibra impulsiona cadeias de valor diversas. Mais de 80% do algodão é usado na indústria têxtil, roupas, lençóis, toalhas, decoração, mas os subprodutos da planta têm destinos múltiplos. Nada se desperdiça no ciclo da actividade da cultura do algodão.
O impacto do algodão não é apenas económico. É também cultural. Em várias regiões de África Ocidental, o algodão está associado à identidade, ao artesanato e às tradições locais. Tecelagens artesanais, tingimentos naturais e padrões típicos resistem ao tempo, mostrando como esta fibra se tornou parte integrante do património cultural.
Assim, falar de algodão neste Dia Mundial do algodão, é falar de sustento, de identidade e de esperança num futuro melhor para milhões de pessoas.
Sustentabilidade e Desafios

Apesar da sua importância vital, o sector do algodão enfrenta enormes desafios. Entre eles destacam-se a concorrência das fibras sintéticas, a volatilidade dos preços internacionais, os efeitos das alterações climáticas e as práticas comerciais desiguais que penalizam sobretudo os pequenos agricultores dos países em desenvolvimento.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) tem sublinhado que o futuro da actividade da cultura do algodão depende de maior investimento em ciência, inovação e governação. O objectivo é aumentar a produtividade, reduzir os impactos ambientais e garantir que os agricultores consigam obter melhores rendimentos.
Ao mesmo tempo, é necessário assegurar condições de comércio mais justas e equitativas, eliminando barreiras que limitam a competitividade dos produtores africanos e asiáticos.
Outro desafio central está na questão ambiental. O algodão é frequentemente apontado como uma cultura exigente em água e pesticidas, o que levanta preocupações quanto à sua sustentabilidade.
No entanto, os especialistas defendem que, com boas práticas agrícolas e acesso a tecnologias modernas, é possível reduzir o consumo de recursos e tornar o sector mais ecológico. Iniciativas como a agricultura de conservação, a rotação de culturas e o uso de biopesticidas têm mostrado resultados promissores.
Do ponto de vista social, a questão do trabalho digno é igualmente crucial. Milhões de mulheres e jovens dependem do algodão como fonte de emprego. Garantir-lhes melhores condições laborais, acesso a mercados e inclusão nas cadeias de valor é fundamental para transformar a actividade da cultura do algodão num motor de desenvolvimento inclusivo.
O Dia Mundial do Algodão 2025 assume-se, assim, como um momento para reflectir sobre estes desafios e renovar os compromissos internacionais. A mensagem “O algodão, o tecido das nossas vidas” não é apenas uma metáfora poética: é também um apelo à responsabilidade colectiva para tornar este sector mais justo, sustentável e resistente.
O Papel de África na Cultura do Algodão

África tem um peso incontornável na história e na realidade contemporânea do algodão. Estima-se que mais de 20 países africanos cultivem a fibra e em alguns deles, como o Benim, o Burkina Fasso, o Chade e o Mali, o algodão representa entre 30% e 60% das receitas de exportação agrícola. Não é por acaso que os Cotton Four estiveram na origem da proposta que deu vida ao Dia Mundial do Algodão.
Para muitos destes países, o algodão não é apenas um produto agrícola: é o pilar das suas economias nacionais. No Burkina Fasso, por exemplo, centenas de milhares de famílias dependem exclusivamente da actividade da cultura do algodão para sobreviver. No Mali, o algodão é conhecido como “ouro branco”, pela sua importância nas exportações e no rendimento das famílias rurais.
No entanto, os agricultores africanos enfrentam obstáculos significativos. A fraca mecanização, o acesso limitado ao crédito e a dependência de condições climáticas instáveis tornam a produção vulnerável. Além disso, os subsídios concedidos por alguns países desenvolvidos aos seus produtores criam distorções de mercado, reduzindo a competitividade do algodão africano nos mercados internacionais.
Ainda assim, África continua a desempenhar um papel essencial na cadeia mundial do algodão, não apenas como produtora de matéria-prima, mas também como guardiã de tradições culturais e artesanais ligadas à fibra. Tecelagens manuais, tinturarias naturais e designs tradicionais demonstram a riqueza cultural que o algodão carrega no continente.
O futuro da actividade da cultura do algodão em África passa por investimentos em inovação, fortalecimento de cooperativas locais e maior inserção na Cadeias de Valor. Em vez de exportar apenas algodão em rama, há oportunidades de desenvolver indústrias têxteis locais, capazes de gerar mais emprego e captar maior valor económico.
Neste contexto, o Dia Mundial do Algodão é também uma plataforma de visibilidade e reivindicação para os produtores africanos. Recorda ao mundo que, sem justiça comercial e políticas inclusivas, milhões de famílias rurais permanecerão em situação de vulnerabilidade.
O Algodão e o Meio Ambiente

Ao longo das últimas décadas, o algodão tem sido alvo de críticas ambientais. Frequentemente descrito como uma cultura intensiva em água e pesticidas, chegou a ser considerado insustentável em algumas regiões. Contudo, esta imagem simplificada ignora tanto os avanços técnicos recentes como o papel crucial do algodão para milhões de agricultores.
É verdade que, em zonas áridas, a irrigação excessiva pode provocar escassez de água, como aconteceu historicamente na Ásia Central. Também é certo que, durante muito tempo, o uso indiscriminado de pesticidas criou problemas de saúde e degradação ambiental.
No entanto, a investigação científica e as boas práticas agrícolas têm vindo a alterar este panorama. Hoje, projectos-piloto demonstram que é possível cultivar algodão de forma mais sustentável, reduzindo drasticamente o consumo de recursos naturais.
Um exemplo é o incentivo à agricultura de conservação que combina técnicas como a rotação de culturas, a cobertura do solo e o uso de sementes resistentes. Estas práticas não só diminuem o consumo de pesticidas, como melhoram a fertilidade do solo e aumentam a resistência das plantações perante as mudanças climáticas.
Outro aspecto inovador é a certificação de algodão sustentável. Programas como o Better Cotton Initiative ou iniciativas locais em África e na América Latina têm ajudado a fortalecer os agricultores, garantindo maior transparência e seguimento da produção. Para os consumidores, estas certificações representam a possibilidade de escolher produtos que respeitam tanto o ambiente como os direitos laborais.
Assim, o debate sobre o algodão e o meio ambiente não deve ser reduzido a críticas. O desafio é encontrar equilíbrios, unir tradição e inovação, colocando os pequenos produtores no centro da agenda. O Dia Mundial do Algodão 2025 será uma ocasião para reforçar a mensagem de que a sustentabilidade é inseparável da dignidade das comunidades que cultivam esta fibra.
Algodão e Inovação Tecnológica

O futuro do algodão depende de muito mais do que a simples da agricultura, depende da inovação ao longo de toda a Cadeias de Valor. Nos últimos anos, a digitalização e as novas tecnologias têm transformado profundamente a forma como a fibra é produzida, processada e comercializada.
No campo, a introdução de drones e sensores tem permitido vigiar as plantações com maior precisão, detectando pragas, avaliando a necessidade de irrigação e optimizando o uso de fertilizantes.
Estas ferramentas reduzem os custos e aumentam a produtividade, ao mesmo tempo que minimizam os impactos ambientais. Ainda que o acesso à tecnologia continue desigual, iniciativas de cooperação internacional têm permitido que pequenos agricultores em países em desenvolvimento beneficiem destas inovações.
No sector industrial, a inovação passa pelo aproveitamento integral da planta. Para além da fibra, o caroço do algodão gera óleo alimentar, biodiesel, ração animal e fertilizantes. A valorização destes subprodutos representa uma nova fronteira para aumentar os rendimentos dos agricultores e a diversificar o sector.
Na moda, o algodão continua a ser a fibra natural mais usada, com destaque para o vestuário e artigos de cama, mesa e banho. Mas há também espaço para aplicações futuristas: tecidos tecnológicos que regulam a temperatura corporal, filamentos de algodão usados em impressoras 3D e até misturas inovadoras que conferem maior durabilidade às peças.
O Dia Mundial do Algodão procura precisamente mostrar esta diversidade de usos. Em 2025, iniciativas como Voices of the Next Generation vão dar palco a jovens designers e empreendedores que apresentam novas formas de transformar a fibra do algodão em produtos criativos, sustentáveis e de valor acrescentado.
Desta forma, o algodão não é apenas uma herança agrícola: é também um campo aberto para a ciência, a moda e a inovação. O desafio está em garantir que todos os países e produtores possam beneficiar desta revolução tecnológica, sem ficarem para trás.
Subprodutos e Cadeias de Valor

Uma das grandes forças da actividade da cultura do algodão está no aproveitamento quase integral da planta. Se a fibra é o produto mais conhecido, usada sobretudo na indústria têxtil, o caroço do algodão é igualmente valioso e dá origem a uma série de subprodutos com aplicações diversificadas.
Do caroço extrai-se óleo cru que serve de base para o óleo alimentar refinado e para a produção de biodiesel, contribuindo para alternativas energéticas mais limpas. A torta e o farelo resultantes da extracção de óleo transformam-se em ração animal e fertilizantes orgânicos, reforçando a segurança alimentar em muitas regiões. Já as sementes limpas são utilizadas em novas plantações, fechando o ciclo produtivo.
Para além disso, a fibra curta do caroço pode ser usada em artigos de higiene, notas de dinheiro, material hospitalar e até em produtos de alta tecnologia, como filamentos para impressão 3D. Esta versatilidade faz do algodão não apenas uma matéria-prima agrícola, mas um recurso estratégico para múltiplos sectores industriais.
No contexto do Dia Mundial do Algodão 2025, esta dimensão ganha especial destaque. A ONU e os parceiros internacionais sublinham que valorizar os subprodutos é fundamental para aumentar os rendimentos dos agricultores, diversificar as economias locais e reduzir desperdícios. A palavra de ordem é clara: no algodão, nada se perde, tudo se transforma.
Algodão e Cultura

O algodão é mais do que uma fibra agrícola: é também um símbolo cultural. Em várias regiões do mundo, especialmente em África, Ásia e América Latina, o cultivo e a tecelagem do algodão estão ligados a práticas ancestrais que atravessam gerações.
Na África Ocidental, por exemplo, tecidos como o bogolan do Mali e os panos de cintura de Benim e Burkina Fasso não são apenas peças de vestuário, mas veículos de identidade, espiritualidade e resistência cultural. O processo artesanal que envolve tingimento natural e padrões simbólicos, mostra como a fibra se entrelaça com as histórias locais.
Ao mesmo tempo, o algodão alimenta a indústria da moda mundial. Grandes marcas e pequenos criadores recorrem a esta fibra pela sua versatilidade, conforto e durabilidade. O desafio actual é conjugar tradição e inovação, garantindo que agricultores e artesãos recebam uma parte justa do valor gerado pela moda.
Iniciativas como o From Field to Fashion, previstas no programa de 2025, procuram precisamente reforçar esta ligação entre produção local e consumo mundial. Ao destacar jovens designers e projectos comunitários, a celebração dá voz às comunidades produtoras e mostra que a sustentabilidade começa no campo, mas pode chegar às passarelas.
A cultura do algodão também inspira a música, a literatura e a arte. Desde canções populares africanas que exaltam a colheita até representações no cinema e na fotografia, a fibra atravessa linguagens e gerações. A sua simplicidade esconde uma força simbólica: o algodão é tecido de vida, de dignidade e de futuro.
Assim, o Dia Mundial do Algodão 2025 não é apenas uma celebração agrícola ou económica. É também um convite a reconhecer o algodão como parte integrante do património cultural da humanidade, elo entre a terra, a criatividade e a identidade colectiva.
Perspectivas Futuras

O futuro do algodão será definido pela forma como o sector responderá aos desafios actuais de sustentabilidade, inovação e justiça comercial. As previsões da FAO indicam que a procura mundial pela fibra deve crescer cerca de 1,8% ao ano na próxima década, impulsionada pelo aumento da população e pela procura de produtos naturais num mercado saturado de fibras sintéticas.
Este crescimento, no entanto, exigirá uma transformação estrutural em toda a Cadeias de Valor. Em primeiro lugar, é urgente reforçar os investimentos na ciência e na tecnologia. A biotecnologia, a digitalização agrícola e os sistemas de irrigação inteligente já mostram resultados promissores em países com maior capacidade de investimento.
Mas para que esta modernização seja inclusiva, é necessário transferir para os pequenos agricultores de países em desenvolvimento que continuam a ser a espinha dorsal da actividade da cultura do algodão, conhecimento e recursos. Ao mesmo tempo, há espaço para valorizar ainda mais o algodão artesanal, sobretudo em África, ligando tradição cultural e comércio justo.
Por fim, a justiça comercial será decisiva. Enquanto os produtores dos países ricos continuam a beneficiar de subsídios elevados, milhões de agricultores africanos e asiáticos enfrentam uma concorrência desleal. Essa também é uma das razões de existir um Dia Mundial do Algodão.
A criação de mecanismos de comércio internacional mais equitativos é essencial para assegurar que o crescimento do sector se traduza em progressos reais para quem mais depende dele. Assim, as perspectivas futuras apontam para um algodão que deve ser, simultaneamente, mais produtivo, mais sustentável e mais justo, uma fibra que continua a ser, como diz o lema de 2025, o tecido das nossas vidas.
Conclusão
O Dia Mundial do Algodão 2025 convida-nos a olhar para esta fibra com outros olhos: não apenas como matéria-prima das nossas roupas, mas como um pilar de sobrevivência para milhões de famílias. Do Benim à Índia, do Brasil ao Mali, o algodão une povos e histórias, ao mesmo tempo que reflecte as contradições do actual comércio mundial.
Se, por um lado, representa emprego, cultura e esperança, por outro enfrenta desigualdades estruturais, pressões ambientais e a competição das fibras sintéticas. A resposta a estes desafios não pode ser adiada. Exige cooperação internacional, políticas comerciais inclusivas e inovação que coloque os pequenos agricultores no centro da transformação.
Celebrar o algodão é também assumir responsabilidades. Significa reconhecer o esforço de quem o cultiva, valorizar o trabalho artesanal e apoiar práticas sustentáveis que protejam tanto a terra como as comunidades.
O tema de 2025, “O algodão, o tecido das nossas vidas” é mais do que uma frase simbólica: é um apelo para que este tecido continue a unir gerações, a inspirar culturas e a construir economias mais justas. Que o algodão seja, verdadeiramente, parte do futuro que queremos, um futuro de dignidade, igualdade e sustentabilidade.
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Imagem: © 2025 FAO