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ToggleYon Gato, a Revolta Dos Crioulos de São Tomé
Quando São Tomé e Príncipe ascendeu à independência a 12 de Julho de 1975, iniciou-se um processo que passou não só pelo destronamento dos primeiros navegadores e povoadores dos seus pedestais, mas também pela revisão toponímica do país e, muito em particular, da capital, São Tomé.
Das figuras portuguesas que davam o nome às ruas da cidade, apenas o pedagogo João de Deus, o autor da Cartilha Maternal, sobreviveu.
Colocava-se o problema de encontrar nomes substitutos. Aí, o ideário anticolonial e pan-africanista foi de grande utilidade: Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Kwame Nkrumah, Patrice Lumumba. Mas era preciso encontrar referências são-tomenses.
O nome de Amador Vieira, um escravo guerreiro do século XVI, ganhou proeminência ao ponto de ter hoje duas estátuas e figurar no calendário dos feriados nacionais.
A História

Segundo fontes como a Monumenta Missionaria Africana 101. A Monumenta Missionaria Africana, é uma obra cuja compilação e publicação foi inspirada na Portvgaliæ Monvmenta Historica (PMH), uma coletânea de textos da História de Portugal publicada pela Academia das Ciências de Lisboa entre 1856 e 1917, dividida em quatro secções: Scriptores (autores), Leges et Consuetudines (leis e costumes), Diplomata et Chartae (diplomas e cartas) e Inquisitiones (inquirições). As primeiras três foram compiladas sob a direcção de Alexandre Herculano anteriormente a 1873, e a última, Inquisitiones, entre 1888 e 1897, após a sua morte. e o padre Rosário Pinto, Amador, à frente de 2000 escravos, destruiu 30 engenhos de açúcar e atacou, com um exército ainda maior, a cidade de São Tomé, que manteve sob cerco durante duas semanas, até ser preso, enforcado e esquartejado 202. Brásio, P.e António. Monumenta Missionaria Africana. África Ocidental (1685 – 1699) e Suplemento aos séculos XV, XVI, XVII. s.l. : Centro de Estudos Africanos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2004. 303. Caldeira, Arlindo Manuel. Relação do Descobrimento da Ilha de São Tomé. s.l. : CHAM, FCSH/NOVA-UAc, 2006..
Segundo o historiador alemão Gerhard Seibert 404. Gerhard Seibert é licenciado em Antropologia pela Universidade de Utreque, Holanda (1991), e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade de Leiden, Holanda (1999). Foi investigador do antigo Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), em Lisboa, de 1999 a 2008, e do ex-Centro de Estudos Africanos / ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (CEA /ISCTE-IUL), de 2008 a 2014., terá sido a maior revolta de escravos no Atlântico Sul antes da insurreição de Toussaint L’Ouverture, no século XIX que culminou na proclamação da primeira república negra, o Haiti 505. Seibert, Gerhard. Rei Amador, história e mito do líder da revolta de escravos em São Tomé (1595). Buala. [Online] [Citação: 24 de Janeiro de 2021.] https://www.buala.org/pt/a-ler/rei-amador-historia-e-mito-do-lider-da-revolta-de-escravos-em-sao-tome-1595#_ftn2..
A professora Maria de Jesus Agostinho das Neves, mãe da poetisa Alda Espírito Santo, ainda em vida, tornou-se patrona da maior escola primária do país, a antiga escola Vaz Monteiro.
O poeta Marcelo da Veiga deu o nome ao antigo cinema Império e ao largo que o circunda. E a uma rua foi dado o nome do engenheiro Salustino Graça do Espírito Santo, o grande adversário do governador Carlos de Sousa Gorgulho, perpetrador do massacre de Fevereiro de 1953.
No processo pós-independência de substituição de nomes historicamente referenciais, foi atribuída a Yon Gato a praça defronte do actual Palácio do Governo, antiga câmara municipal.
Esse acto colocou na boca do povo, todos os dias, o nome de uma figura sobre a qual não parecem, ao contrário de Amador, existir grandes referências documentais.
No seu livro “Camaradas, Clientes e Compadres – Colonialismo, Socialismo e Democratização em São Tomé e Príncipe’’, Gerhard Seibert refere que João Rodrigues Gato, mais conhecido por Yon Gato, um fazendeiro cego, acompanhado por 700 escravos armados, liderou, em 1553, uma revolta de proprietários agrícolas mulatos para tentar impedir a reeleição de dois juízes brancos 6 02. Brásio, P.e António. Monumenta Missionaria Africana. África Ocidental (1685 – 1699) e Suplemento aos séculos XV, XVI, XVII. s.l. : Centro de Estudos Africanos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2004. 03. Caldeira, Arlindo Manuel. Relação do Descobrimento da Ilha de São Tomé. s.l. : CHAM, FCSH/NOVA-UAc, 2006. 04. Gerhard Seibert é licenciado em Antropologia pela Universidade de Utreque, Holanda (1991), e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade de Leiden, Holanda (1999). Foi investigador do antigo Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), em Lisboa, de 1999 a 2008, e do ex-Centro de Estudos Africanos / ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (CEA /ISCTE-IUL), de 2008 a 2014. 05. Seibert, Gerhard. Rei Amador, história e mito do líder da revolta de escravos em São Tomé (1595). Buala. [Online] [Citação: 24 de Janeiro de 2021.] https://www.buala.org/pt/a-ler/rei-amador-historia-e-mito-do-lider-da-revolta-de-escravos-em-sao-tome-1595#_ftn2. 06. Castaño, Inês Filipa Abreu de. São Tomé e Príncipe: Cultura(s) / Património(s) / Museu(s). [ed.] Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Trabalho de Projecto de Mestrado em Museologia. Setembro de 2012, Vol. 1, p. 129..
O objectivo dos rebeldes era substituí-los por crioulos locais. Ainda segundo Seibert, o então capitão-mor conseguiu capturar Gato e os seus seguidores que foram deportados para Portugal.
Apesar desta distinção ter tornado o seu nome muito familiar, Yon Gato permaneceu, enquanto figura histórica, envolto em obscuridade. Fala-se em Yon Gato quando se alude à praça que tem hoje o seu nome. Um ou dois artistas plásticos tomaram-no como modelo, certamente imaginado.
A Verdade Histórica

Quando se pergunta a estudantes, mesmo universitários, se sabem quem foi e o que fez Yon Gato, a resposta, invariavelmente é “não’’. Mesmo os historiadores parecem debater-se com dificuldades.
A historiadora Nazaré Ceita atribui a escolha de Yon Gato “a uma certa euforia que se viveu na altura em São Tomé e Príncipe, como em outros países recém – libertos do jugo colonial.’’
Para Nazaré Ceita, no caso de Yon Gato, “a escolha parece ter-se baseado somente no registo de um único acto, de contornos e motivações não muito claras.’’
Um outro historiador considera que o registo de uma tentativa de levantamento armado contra o poder da coroa portuguesa por um crioulo nativo, terá sido mais do que suficiente, na altura, para justificar a adopção de Yon Gato como herói pelo governo do movimento de libertação.
“Ainda por cima, foi deportado para Portugal, o que significa que era encarado como uma ameaça ao poder da coroa, como um inimigo da coroa portuguesa. Ora, isso terá levado a que fosse considerado como um precoce defensor dos interesses nativos, naquele contexto’’.
Uma estudiosa da história e da cultura são-tomense que falou sob anonimato, considera que se tratou de “uma certa precipitação, por parte de um governo de cariz socialista’’. Porém, avançou como justificação o contexto que se vivia.
“Na nossa história, não abundam heróis e há heróis esquecidos, ou quase esquecidos, como o engenheiro Salustino Graça. Por outro lado, os povos precisam de ter as suas figuras míticas. Isso é parte do processo de afirmação identitária e é isso que explica a forma como Yon Gato entrou no nosso imaginário do pós-independência, apesar da sua opacidade como figura histórica’’.
África Berço da Humanidade – Factos e Números (Parte I)
África Berço da Humanidade – Factos e Números (Parte II)
Yon Gato, a Revolta Dos Crioulos de São Tomé
Notas e Bibliografia
- A Monumenta Missionaria Africana, é uma obra cuja compilação e publicação foi inspirada na Portvgaliæ Monvmenta Historica (PMH), uma coletânea de textos da História de Portugal publicada pela Academia das Ciências de Lisboa entre 1856 e 1917, dividida em quatro secções: Scriptores (autores), Leges et Consuetudines (leis e costumes), Diplomata et Chartae (diplomas e cartas) e Inquisitiones (inquirições). As primeiras três foram compiladas sob a direção de Alexandre Herculano anteriormente a 1873, e a última, Inquisitiones, entre 1888 e 1897, após a sua morte.
- Brásio, P.e António. Monumenta Missionaria Africana. África Ocidental (1685 – 1699) e Suplemento aos séculos XV, XVI, XVII. s.l. : Centro de Estudos Africanos da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2004.
- Caldeira, Arlindo Manuel. Relação do Descobrimento da Ilha de São Tomé. s.l. : CHAM, FCSH/NOVA-UAc, 2006.
- Gerhard Seibert é licenciado em Antropologia pela Universidade de Utreque, Holanda (1991), e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade de Leiden, Holanda (1999). Foi investigador do antigo Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT), em Lisboa, de 1999 a 2008, e do ex-Centro de Estudos Africanos / ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa (CEA /ISCTE-IUL), de 2008 a 2014.
- Seibert, Gerhard. Rei Amador, história e mito do líder da revolta de escravos em São Tomé (1595). Buala. [Online] [Citação: 24 de Janeiro de 2021.] https://www.buala.org/pt/a-ler/rei-amador-historia-e-mito-do-lider-da-revolta-de-escravos-em-sao-tome-1595#_ftn2.
- Castaño, Inês Filipa Abreu de. São Tomé e Príncipe: Cultura(s) / Património(s) / Museu(s). [ed.] Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Trabalho de Projecto de Mestrado em Museologia. Setembro de 2012, Vol. 1, p. 129.
(1) Nota de 50.000 Dobras, do Banco Central de São Tomé e Príncipe, com a imagem do Rei Amador Vieira
(2) Ilustração de Yon Gato
Imagem 1 – Domínio Público / Imagem 2 – © 2021 Ilustração de Xesko
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Imagem: © 2021 Francisco Lopes-Santos