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ToggleÓscares 2025: África Mais Uma Vez, Fica Fora
A lista de nomeados para os Óscares 2025, foi revelada hoje, dia 23 de Janeiro, pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, confirmando a expectativa de muitos fãs do cinema, mas traz algumas surpresas. A cerimónia, marcada para o próximo dia 2 de Março, no emblemático Dolby Theatre, em Los Angeles, será a 97ª edição dos prémios mais prestigiados da sétima arte.
Entre os destaques deste ano estão filmes como Emilia Pérez que está à frente com umas impressionantes 13 nomeações e Wicked e The Brutalist, ambos com 10 nomeações. A inclusão do filme brasileiro Ainda Estou Aqui, realizado por Walter Salles, marca um momento importante para o cinema de língua portuguesa, já que está na corrida para Melhor Filme e Melhor Filme Internacional.
No entanto, apesar da diversidade cultural, das histórias ricas e das produções impressionantes enviadas, por vários países africanos, mais uma vez, nenhum filme do continente foi nomeado para os Óscares 2025, em nenhuma das categorias.
Os filmes submetidos, incluindo títulos da África do Sul, Egipto, Marrocos e outros, capturam a essência de África, as suas complexidades e a sua beleza, mas a sua exclusão reforça as barreiras que os cineastas africanos enfrentam nestas competições, levantando questões importantes sobre representação, equidade e visibilidade na indústria cinematográfica mundial.
A revelação dos nomeados sofreu dois adiamentos, devido aos incêndios que atingiram Los Angeles, o que levou a dupla de actores, Rachel Sennott e Bowen Yang, a homenagear as vítimas durante o anúncio. Apesar das adversidades, as expectativas para a grande noite continuam altas, com grandes nomes do cinema e produções de diferentes géneros a disputar os cobiçados troféus dourados.
Favoritos e Destaques da 97ª Edição

O destaque dos Óscares deste ano vai para Emilia Pérez, um musical dramático que conseguiu um feito histórico: 13 nomeações, incluindo Melhor Filme, Melhor Realizador para Jacques Audiard e Melhor Actriz Principal para Karla Sofía Gascón.
Este é o maior número de nomeações alguma vez alcançado por um filme falado em língua não inglesa, reforçando o reconhecimento crescente de produções internacionais pela Academia.
Outro grande nome desta edição é Wicked, a adaptação cinematográfica do famoso musical da Broadway. O filme conseguiu 10 nomeações, incluindo Melhor Filme, Melhor Actriz Principal para Cynthia Erivo e Melhor Actriz Secundária para Ariana Grande.
Já The Brutalist, dirigido por Brady Corbet, destaca-se com o mesmo número de nomeações, sendo uma obra elogiada pela sua narrativa visual e interpretações de Adrien Brody e Felicity Jones.
Ainda Estou Aqui, do cineasta brasileiro Walter Salles, também conquistou um lugar entre os nomeados mais discutidos. O filme que conta com Fernanda Torres no papel principal, está indicado em duas categorias importantes: Melhor Filme e Melhor Filme Internacional. O seu sucesso reforça a força do cinema brasileiro na indústria mundial e a capacidade de contar histórias que cruzam fronteiras culturais.
Diversidade e Representatividade em Debate
Embora os Óscares 2025 apresentem uma maior diversidade de produções e realizadores, a representatividade ainda é uma questão em aberto. Este ano, apenas Coralie Fargeat, com o filme The Substance, foi nomeada na categoria de Melhor Realizador, tornando-se a única mulher a competir num espaço predominantemente masculino.
A sua obra, um thriller psicológico com Demi Moore no papel principal, conseguiu também nomeações para Melhor Filme e Melhor Actriz. Além disso, é importante mencionar a presença de filmes falados em línguas não inglesas, como Emilia Pérez e Ainda Estou Aqui que provam que o cinema mundial pode e deve ser reconhecido pela sua riqueza cultural e artística.
A inclusão destes filmes na lista de nomeados representa um avanço, mas a ausência de filmes africanos ou de outros continentes menos representados demonstra que ainda há um longo caminho a percorrer.
A Força dos Filmes de Animação e dos Documentários

Entre os documentários, Black Box Diaries e Soundtrack to a Coup d’État destacam-se pela forma como exploram questões políticas e sociais. Sugarcane, uma produção que narra histórias de trabalhadores das plantações, oferece um olhar sensível e envolvente sobre as lutas humanas.
As Controvérsias dos Óscares 2025

Além disso, a ausência de África nos nomeados aos Óscares, sobretudo na categoria de Melhor Filme Internacional, levanta questões sobre o reconhecimento de narrativas africanas pela indústria cinematográfica. Embora o cinema africano tenha apresentado grandes produções em 2024, como Old Righteous Blues (África do Sul) e Nawi (Quénia), nenhum deles chegou à fase final.
Os Nomeados aos Óscares de 2025
Melhor Filme
- Anora
- The Brutalist
- A Complete Unknown
- Conclave
- Dune: Part Two
- Emilia Pérez
- Ainda Estou Aqui
- Nickel Boys
- The Substance
- Wicked
Melhor Realizador
- Sean Baker – Anora
- Brady Corbet – The Brutalist
- James Mangold – A Complete Unknown
- Jacques Audiard – Emilia Pérez
- Coralie Fargeat – The Substance
Melhor Actriz
- Cynthia Erivo – Wicked
- Karla Sofía Gascón – Emilia Pérez
- Mikey Madison – Anora
- Demi Moore – The Substance
- Fernanda Torres – Ainda Estou Aqui
Melhor Actor
- Adrien Brody – The Brutalist
- Timothée Chalamet – A Complete Unknown
- Colman Domingo – Sing Sing
- Ralph Fiennes – Conclave
- Sebastian Stan – The Apprentice
Melhor Actriz Secundária
- Monica Barbaro – A Complete Unknown
- Ariana Grande – Wicked
- Felicity Jones – The Brutalist
- Isabella Rossellini – Conclave
- Zoe Saldaña – Emilia Pérez
Melhor Actor Secundário
- Yura Borisov – Anora
- Kieran Culkin – A Real Pain
- Edward Norton – A Complete Unknown
- Guy Pearce – The Brutalist
- Jeremy Strong – The Apprentice
Melhor Argumento Original
- Anora
- The Brutalist
- A Real Pain
- September 5
- The Substance
Melhor Argumento Adaptado
- A Complete Unknown
- Conclave
- Emilia Pérez
- Nickel Boys
- Sing Sing
Melhor Filme Internacional
- Ainda Estou Aqui (Brasil)
- Flow (Letónia)
- A Semente do Figo Sagrado (Alemanha)
- Emilia Pérez (França)
- The Girl With the Needle (Dinamarca)
Melhor Filme de Animação
- Flow
- Inside Out 2
- Memoir of a Snail
- Wallace & Gromit: Vengeance Most Foul
- The Wild Robot
Melhor Documentário
- Black Box Diaries
- No Other Land
- Porcelain War
- Soundtrack to a Coup d’État
- Sugarcane
Melhor Fotografia
- The Brutalist
- Dune: Part Two
- Emilia Pérez
- Maria
- Nosferatu
Melhor Edição
- Anora
- The Brutalist
- Conclave
- Emilia Pérez
- Wicked
Melhor Banda Sonora Original
- The Brutalist
- Conclave
- Emilia Pérez
- Wicked
- The Wild Robot
Melhor Canção Original
- “El Mal” – Emilia Pérez
- “The Journey” – The Six Triple Eight
- “Like a Bird” – Sing Sing
- “Mi Camino” – Emilia Pérez
- “Never Too Late” – Elton John: Never Too Late
Melhor Design de Produção
- The Brutalist
- Conclave
- Dune: Part Two
- Nosferatu
- Wicked
Melhor Guarda-Roupa
- A Complete Unknown
- Conclave
- Gladiator II
- Nosferatu
- Wicked
Melhor Maquilhagem e Cabelo
- A Different Man
- Emilia Pérez
- Nosferatu
- The Substance
- Wicked
Melhores Efeitos Visuais
- Alien: Romulus
- Better Man
- Dune: Part Two
- Kingdom of the Planet of the Apes
- Wicked
Melhor Som
- A Complete Unknown
- Dune: Part Two
- Emilia Pérez
- Wicked
- The Wild Robot
Melhor Curta-Metragem de Acção
- A Lien
- Anuja
- I’m Not a Robot
- The Last Ranger
- The Man Who Could Not Remain Silent
Melhor Curta-Metragem de Animação
- Beautiful Men
- In the Shadow of the Cypress
- Magic Candies
- Wander to Wonder
- Yuck!
Melhor Documentário em Curta-Metragem
- Death by Numbers
- I Am Ready, Warden
- Incident
- Instruments of a Beating Heart
- The Only Girl in the Orchestra
Os Candidatos Africanos de 2025

Este ano, vários países africanos submeteram filmes aos Óscares que exploram histórias locais, identidades culturais e questões universais. Apesar do impacto regional e do reconhecimento em festivais internacionais, nenhum deles conseguiu passar para a lista final. Os filmes enviados foram:
- África do Sul – Old Righteous Blues
Um jovem enfrenta os seus próprios limites e os fantasmas do passado para unir uma comunidade fracturada e levar a banda coral da sua cidade, durante o Natal, ao seu antigo prestígio.
- Argélia – Algiers
Dounia, uma psiquiatra brilhante e Sami, um inspector da polícia, exploram os traumas do passado da Argélia enquanto investigam o desaparecimento de uma menina, num cenário de tensão e suspeitas na cidade de Argel.
- Camarões – Kismet
No meio de tensões religiosas e diferenças culturais, Wambo, uma mulher cristã de 25 anos, desafia as normas sociais ao apaixonar-se por Ibrahim, um homem muçulmano.
- Egipto – Flight 404
Ghada enfrenta uma emergência médica que obriga a mãe a uma cirurgia urgente, dias antes da sua viagem para realizar o Hajj. Para conseguir o dinheiro necessário, é forçada a revisitar o seu passado e a tomar decisões éticas difíceis.
- Marrocos – Everybody Loves Touda
Touda, uma cantora tradicional marroquina, actua em bares da sua cidade provincial enquanto sonha em mudar-se para Casablanca, em busca de reconhecimento e de uma vida melhor para o seu filho.
- Níger – Mai Martaba
Forças rivais enfrentam-se pelo trono do antigo Reino de Jallaba, num conto de traições, lealdades e ambição.
- Quénia – Nawi
Baseado em factos reais, o filme conta a história de Nawi, uma rapariga de 13 anos que foi vendida para se casar com um homem mais velho. Nawi foge na noite de núpcias para lutar pelo seu sonho de frequentar a escola e combater os casamentos infantis forçados.
- Senegal – Dahomey
Este documentário artístico mistura factos e ficção para narrar a devolução de 26 tesouros reais saqueados do Reino do Daomé, expostos em Paris e repatriados para o Benim. O filme dá destaque às vozes da juventude e aos debates sobre a restituição cultural de arte africana.
Estes filmes, ricos em narrativas autênticas e enraizados na cultura africana, demonstraram a diversidade das vozes criativas no continente. No entanto, o facto de não terem sido reconhecidos pela Academia é motivo de reflexão, para ambas as partes.
Os Filmes Africanos nos Óscares
- Argélia:
Z (1969) – Venceu.
Le Bal (1983)
Dust of Life (1995) - África do Sul:
Yesterday (2004)
Tsotsi (2005) – Venceu.
Life, Above All (2010) - Mauritânia:
Timbuktu (2014) - Costa do Marfim:
Black and White in Color (1976) – Venceu. - Tunísia:
The Man Who Sold His Skin (2020) - Egipto:
The Night of Counting the Years (1969)
Embora estas nomeações demonstrem a capacidade de África para criar cinema de excelência, os números mostram a desigualdade e a falta de reconhecimento sistemático da Academia, em que a grande maioria dos filmes em língua estrangeira, surgem do “velho continente”, como se pode ver este ano que em 5 nomeações 4 foram da Europa.
África nos Óscares

A ausência de África nos Óscares 2025 não é um caso isolado. Historicamente, o continente tem lutado para obter o devido reconhecimento em plataformas mundiais, apesar da sua contribuição significativa para o cinema, poucos filmes africanos chegaram ao topo. Esta sub-representação pode ser atribuída a vários factores:
- Falta de Recursos e Infraestruturas: A produção cinematográfica em muitos países africanos enfrentam muitas limitações, desde financiamento limitado e falta de infraestruturas, até à ausência de tecnologia avançada, o que dificulta a competitividade
- Preconceitos na Indústria: A indústria mundial de cinema ainda favorece narrativas ocidentais ou centradas em grandes mercados.
- Distribuição Limitada: Muitos filmes africanos têm dificuldade em alcançar os circuitos internacionais de exibição, como os dos grandes festivais, o que reduz a sua visibilidade perante os membros votantes da Academia, reduzindo as suas hipóteses de serem nomeados.
- Estratégias de Promoção: A falta de recursos financeiros dificulta as campanhas de promoção necessárias para que os filmes sejam considerados seriamente na corrida aos prémios.
- Lobbying: Campanhas de lobbying, essenciais para conquistar a atenção dos membros da Academia, muitas vezes não são viáveis para cineastas africanos devido aos custos elevados.
O Futuro do Cinema Africano
- Apoio Governamental e Privado: Investimentos em infraestruturas cinematográficas, bem como em programas de formação, podem ajudar a fortalecer a indústria.
- Colaborações Internacionais: Parcerias com cineastas e produtores de outras partes do mundo podem abrir portas para uma maior distribuição e visibilidade.
- Campanhas de Promoção Bem Estruturadas: Trabalhar com especialistas em relações públicas e lobbying para destacar filmes africanos na temporada de premiações.
- Fortalecimento do Mercado Local: Incentivar o público africano a consumir e valorizar a produção cinematográfica local.
Conclusão
Desde a sub-representação de África até à necessidade de maior diversidade de género na categoria de Melhor Realizador, as questões em torno da inclusão continuam a ser debatidas.
A ausência de África nos Óscares 2025 é um reflexo dos desafios estruturais que os cineastas africanos enfrentam para se afirmarem em plataformas mundiais. Apesar disso, a qualidade dos filmes submetidos este ano é um testemunho da criatividade, inovação e riqueza cultural do cinema africano. Com mais apoio e visibilidade, não há dúvida de que o futuro reserva mais sucessos para o continente.
Enquanto aguardamos a cerimónia de 2 de Março, é inegável que esta edição já entrou para a história com feitos notáveis e grandes concorrentes. O cinema mundial ganha vida nestas celebrações, mas o trabalho pela equidade e diversidade no sector deve ser contínuo. Afinal, o poder das histórias está na sua capacidade de unir e representar todos.
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Imagem: © 2025 DR