ONU: Impossível Atingir Os ODS Até 2030
O mundo avança a um ritmo insuficiente para atingir os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030, concluiu um relatório da ONU hoje divulgado, mostrando que apenas 35% das metas registaram progressos moderados.
Na divulgação do relatório anual dos progressos nos ODS, a ONU sublinhou que, uma década após a adopção da Agenda 2030, só 35% das metas estabelecidas estão no bom caminho para serem alcançadas ou apresentam progressos moderados, enquanto quase metade está a avançar muito lentamente e 18% regrediram.
“Estamos perante uma emergência de desenvolvimento“, admitiu o secretário-geral da ONU, António Guterres, na apresentação do relatório na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque.
Embora milhões de vidas tenham melhorado nos últimos anos com os em saúde, educação, energia e conectividade digital, o ritmo da mudança continua “a ser insuficiente” para atingir os Objectivos até 2030, de acordo com o documento.
A ONU indicou uma série de “verdades duras e riscos sistémicos” que continuam a impedir o progresso do desenvolvimento sustentável, como mais de 800 milhões de pessoas ainda viverem em situação de pobreza extrema ou milhares de milhões de pessoas ainda não terem acesso a água potável, a saneamento e a serviços de higiene.
Além disso, as alterações climáticas fizeram de 2024 o ano mais quente de que há registo, os conflitos causaram quase 50 mil mortos no ano passado, sendo que mais de 120 milhões de pessoas foram deslocadas à força.
A somar a tudo isto, os países de baixo e médio rendimento enfrentaram custos recorde de serviço da dívida de 1,4 triliões de dólares (1,2 biliões de euros) em 2023. Contudo, num ângulo mais positivo, o relatório mostrou que os ODS ainda podem ser alcançados, se a humanidade agir “com urgência, unidade e determinação inabalável“.
Apesar dos desafios globais que se acumulam, o relatório salientou conquistas globais notáveis, como a redução em quase 40% de novas infecções por HIV/Sida desde 2010, a prevenção da malária que evitou 2,2 mil milhões de casos e salvou 12,7 milhões de vidas desde 2000, ou a protecção social que chega actualmente a mais de metade da população mundial.
Desde 2015, mais 110 milhões de crianças e jovens entraram na escola, o casamento infantil está em declínio, mais as raparigas têm acesso à educação e as mulheres ganham espaço nos parlamentos de todo o mundo.
Ainda no campo do progresso, 92% da população mundial tinha acesso à electricidade em 2023, a utilização da internet aumentou de 40% em 2015 para 68% em 2024 e os esforços de conservação ambiental duplicaram a protecção de ecossistemas importantes, contribuindo para a resiliência da biodiversidade global.
“Estes ganhos mostram que os investimentos em desenvolvimento e inclusão geram resultados”.
“Mas sejamos claros: não estamos onde deveríamos estar”, sublinhou Guterres, em Nova Iorque.
Sem uma aceleração significativa dos esforços, 8,9% da população mundial ainda viverá em situação de pobreza extrema até 2030, abaixo do limiar internacional de pobreza revisto. O relatório pediu acções em seis áreas prioritárias: sistemas alimentares, acesso à energia, transformação digital, educação, emprego e protecção social e acções climáticas e de biodiversidade.
“Os últimos cinco anos até 2030 representam uma oportunidade para cumprir as promessas dos ODS”.
“A Agenda 2030 não é aspiracional, é não negociável”, defendeu a ONU.
São 17 os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável e estão integrados na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, adoptada por todos os países-membros das Nações Unidas em 2015. Os ODS são um apelo mundial à acção para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade.
“Temos o conhecimento, as ferramentas e as parcerias para impulsionar a transformação”.
“O que precisamos agora é de multilateralismo urgente”.
“Um novo compromisso com a responsabilidade partilhada e com o investimento sustentado”.
Defendeu o subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Económicos e Sociais, Li Junhua, no lançamento do relatório.
Imagem: © 2025 Francisco Lopes-Santos