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Quarta-feira, Dezembro 25, 2024

Moçambique: Mano Shottas Morre Em Directo

um jovem moçambicano, foi baleado mortalmente enquanto fazia uma transmissão ao vivo no Facebook para documentar os protestos na fronteira de Ressano Garcia, entre Moçambique e África do Sul. O trágico episódio que aumentou a revolta popular e gerou reacções internacionais, ficou marcado pelas suas últimas palavras: "Levei tiro, estou a morrer...".

Moçambique: Mano Shottas Morre Em Directo


Mano Shottas, um jovem moçambicano, conhecido pela sua presença activa nas redes sociais, foi mortalmente baleado na noite de quinta-feira em Ressano Garcia, uma das principais fronteiras entre Moçambique e a África do Sul.

A sua morte ocorreu em directo durante uma transmissão no Facebook, onde documentava os violentos confrontos entre manifestantes e as forças de segurança. As suas palavras finais ficaram imortalizadas como um grito de desespero, registadas para sempre pelas milhares de pessoas que acompanhavam o “Live”:

“Levei tiro, estou a morrer…”.

A gravação, que rapidamente se espalhou pelas redes sociais, mostra o momento em que o jovem é atingido pelas costas, enquanto criticava duramente as acções policiais que lançavam gás lacrimogéneo em zonas residenciais.

O vídeo, interrompido por um ecrã negro e os apelos desesperados de Mano Shottas por socorro, tornou-se um símbolo do crescente descontentamento com a violência policial no país.

Este incidente ocorre num contexto de intensa agitação política e social em Moçambique, onde os protestos contra os resultados eleitorais de 9 de Outubro já ceifaram mais de 110 vidas. A morte de Mano Shottas reacendeu as tensões em Ressano Garcia e levanta questões sobre os limites das autoridades, na gestão de manifestações populares no país.

 

Um Acto Bárbaro


Imagem: © 2024 Facebook de Mano Shottas (20241213) Moçambique: Mano Shottas Morre Em DirectoMano Shottas, descrito como um blogger dedicado à comunidade, documentava os abusos cometidos pelas forças de segurança na fronteira de Ressano Garcia. No momento em que foi alvejado, denunciava que a polícia estava a disparar gás lacrimogéneo para casas habitadas, muitas delas com crianças.

Infelizmente, a sua última transmissão, capturou mais do que a violência policial e a revolta e a dor de um povo cansado de repressão, capturou a sua morte em directo.

“Há ali crianças. Eles estão a atirar gás lacrimogéneo. Eu não sei em que país estamos a viver. Não posso continuar a gravar… recebi um tiro… pessoal me fui, balearam-me”.

“Socorro, socorro…balearam aqui atrás, não me consigo virar”.

“Pessoal levei tiro, levei tiro e eles continuam a disparar, eles continuam a disparar…”.

Foram as últimas palavras de Mano Shottas, antes de o ecrã do seu telemóvel escurecer totalmente. Mas entre os gritos das pessoas que o rodeavam e os sons de tiros e com o ecrã do telemóvel já completamente preto, ainda se ouviu o jovem afirmar com voz débil:

“Levei tiro, estou a morrer…”.

Estas suas últimas palavras, marcaram profundamente a audiência, provocando reacções emotivas tanto a nível local como mundial.

Após o disparo fatal, a situação em Ressano Garcia tornou-se ainda mais caótica. Populares incendiaram infraestruturas, incluindo instalações governamentais, num acto de revolta contra a morte do jovem.

“É mais um acto bárbaro e a polícia deve responder por ele”.

“Estamos a organizar uma acção contra o Estado nesse sentido”.

“É mais uma prova que é acção violenta da polícia que gera revolta nas pessoas”.

Disse André Mulungo, editor do boletim do Centro para Democracia e Direitos Humanos (CDDH).

 

Ligações Suspeitas


Imagem: © 2024 Luisa Nhantumbo (20241213) Moçambique: Mano Shottas Morre Em DirectoAdriano Nuvunga, director do CDDH, já está a apoiar juridicamente a família do blogger e levantou suspeitas sobre as verdadeiras intenções da polícia, evidenciando uma ligação entre as suas acções e os interesses económicos.

“Foram os militares da Unidade de Intervenção Rápida que dispararam, para proteger os camiões da empresa de transportes do ministro das Obras Públicas, Carlos Mesquita”, afirmou.

Este facto lançou mais críticas à gestão estatal dos protestos e alimentou teorias sobre uma repressão deliberada para a defesa de interesses privados. A fronteira de Ressano Garcia tem estado bloqueada nos últimos dias pelos manifestantes que contestam os resultados eleitorais de 9 de Outubro, impedindo a entrada em Moçambique dos camiões vindos da África do Sul.

Ainda esta quinta-feira, o ministro dos Transportes e Comunicação, Mateus Magala, disse que estavam em curso algumas acções, para proteger os corredores e que o governo está a trabalhar com o homólogo sul-africano para tentar criar cinturões de protecção ao longo do corredor do Maputo, para assegurar que a mercadoria continue a fluir da África do Sul para mercados internacionais.

 

O Impacto da tragédia


A activista Cídia Chissungo, conseguiu gravar o directo e partilhou-o nas redes sociais, como a X, guardando as últimas palavras que se ouvem do blogger. O episódio gerou uma onda de solidariedade e revolta nas redes sociais, onde activistas, cidadãos comuns e organizações denunciaram a brutalidade policial e exigiram justiça.

A morte de Mano Shottas ocorre num contexto de contestação eleitoral. Há mais de 50 dias que Moçambique é abalado por manifestações e violentos confrontos com a polícia que já causaram mais de 110 mortes. Segundo o Comando geral da Polícia da República de Moçambique, só nos últimos sete dias, morreram 16 pessoas, entre as quais, quatro membros da polícia, tendo 73 ficado feridos.

Imagem: © 2024 Facebook de Venâncio Mondlane (20241213) Moçambique: Mano Shottas Morre Em DirectoOs protestos, têm sido convocados pelo candidato Venâncio Mondlane que diz que ganhou as eleições de 9 de Outubro, enquanto a Comissão Nacional de Eleições dá a vitória a Daniel Chapo apoiado pela FRELIMO, partido no poder há 49 anos. Desde então, o país tem sido palco de manifestações massivas, com uma resposta de repressões violentas por parte das forças policiais.

Estes eventos trouxeram à tona a fragilidade do estado de direito em Moçambique e Organizações como o CDDH já prometeram lançar uma acção judicial contra o Estado.

 

Conclusão


A morte de Mano Shottas é muito mais do uma tragédia individual; representa um reflexo da instabilidade social e política que assola Moçambique. A sua coragem ao expor os abusos das forças de segurança custou-lhe a vida, mas também despertou uma consciência colectiva sobre os limites da violência estatal.

O grito final de Mano Shottas – “Estou a morrer…” – grita fundo na consciência das pessoas, como um apelo por mudança. Resta saber se esta tragédia será um catalisador para reformas ou será apenas mais um capítulo esquecido na história de um país dividido por interesses políticos e económicos.

 


O que achas da repressão policial em Moçambique, culminande que culminou com a morte de Mano Shottas? Queremos saber a tua opinião sobre o que se está a passar em Moçambique, Não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.

 

Imagem: © 2024 Luisa Nhantumbo
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