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Sábado, Abril 26, 2025

Marrocos: Descoberta Aldeia Com 4.000 Anos

Sabias que o norte de África já tinha agricultura avançada há 4.000 anos? Um assentamento, descoberto em Marrocos, revela ligações antigas com o Mediterrâneo e técnicas surpreendentes para a altura. Esta descoberta é muito importante, porque muda tudo o que pensávamos sobre a pré-história africana.

Marrocos: Descoberta Aldeia Com 4.000 Anos


A descoberta de um assentamento da Idade do Bronze com 4.000 anos em Kach Kouch, no Marrocos, questiona a crença antiga de que o Magrebe (noroeste de África) era uma terra vazia completamente desabitado antes da chegada dos fenícios, vindos do Médio Oriente, por volta de 800 A.C. e revela-se uma história muito mais rica e complexa do que se pensava.

Tudo o que foi encontrado no local indica que, durante a Idade do Bronze, há mais de 3.000 anos, já existiam assentamentos agrícolas estáveis na costa africana do Mediterrâneo. Isto ocorreu ao mesmo tempo em que sociedades como a micénica floresciam no Mediterrâneo oriental.

A nova descoberta, encabeçada por uma equipa de jovens pesquisadores do Instituto Nacional de Arqueologia do Marrocos, amplia o conhecimento sobre a pré-história recente do norte de África. Também redefine o entendimento das ligações entre o Magrebe e o resto do Mediterrâneo na antiguidade.


Como Foi Feita a Descoberta


Kach Kouch foi identificado pela primeira vez em 1988 e escavado em 1992. Na altura, os pesquisadores acreditavam que o local tinha sido habitado entre os séculos VIII e VI A.C., com base na cerâmica fenícia encontrada.

Quase 30 anos depois, a nossa equipa realizou duas novas temporadas de escavação em 2021 e 2022. As investigações incluíram tecnologia avançada, como drones, GPS diferencial e modelos 3D. Um protocolo rigoroso foi seguido para recolher amostras, permitindo a detecção de restos fossilizados de sementes e carvão. Posteriormente, análises permitiram reconstruir a economia do assentamento e o seu ambiente natural na pré-história.

O Que Revelaram os Restos


As escavações, aliadas à datação por radiocarbono, mostraram que o assentamento teve três fases de ocupação entre 2200 e 600 A.C. Os restos mais antigos (2200-2000 A.C.) são escassos: três fragmentos de cerâmica sem decoração, uma lasca de sílex e um osso de vaca. A escassez de materiais pode dever-se à erosão ou a uma ocupação temporária da colina nesta fase.

Na segunda fase, após um período de abandono, a colina de Kach Kouch foi ocupada permanentemente a partir de 1300 A.C. Os habitantes, provavelmente não mais de cem, dedicavam-se à agricultura e pecuária. Viviam em casas circulares de madeira e barro, com silos escavados na rocha para armazenar produtos agrícolas.

Cultivavam trigo, cevada e legumes, criavam gado, ovelhas, cabras e porcos. Usavam mós para processar cereais, ferramentas de sílex e cerâmica decorada. Além disso, foi documentado o objecto de bronze mais antigo do norte de África (excluindo o Egipto), provavelmente um fragmento de metal resultante de uma fundição.

Interacções Com os Fenícios


Entre os séculos VIII e VII A.C., durante o período mauritano, os habitantes de Kach Kouch mantiveram a mesma cultura material, arquitectura e economia da fase anterior. Contudo, as interacções com as comunidades fenícias que começavam a estabelecer-se em locais próximos, como Lixus, trouxeram novas práticas.

Por exemplo, casas circulares coexistiam com casas quadradas de pedra e barro, combinando técnicas locais e fenícias. Foram introduzidas novas culturas, como uvas e azeitonas. Destacam-se também cerâmicas fenícias feitas em roda (ânforas e pratos) e o uso de objectos de ferro.

Por volta de 600 A.C., Kach Kouch foi abandonado pacificamente, talvez devido a mudanças sociais ou económicas. O mais provável terá sido os habitantes terem-se mudado para outros assentamentos próximos.


Quem Eram?


Não está claro se as populações do Magrebe na Idade do Bronze viviam em tribos, como ocorreria mais tarde no período mauritano. Provavelmente organizavam-se em famílias, no entanto, as sepulturas no local, sugerem a ausência de uma hierarquia clara.

Podiam falar uma língua próxima do amazigh, língua indígena do norte de África, que só se tornou escrita com o alfabeto fenício. O mais interessante foi perceber que a continuidade cultural em Kach Kouch indica que estas populações são os antepassados directos dos povos mauritanos do noroeste africano.

Por Que é Importante?


Kach Kouch não se resume a ser apenas o assentamento mais antigo da Idade do Bronze conhecido no Magrebe, vem também redefinir a compreensão da pré-história da região.

Estes achados, juntamente com outras descobertas recentes, como a sociedade agrícola de com 5.000 anos de idade em Oued Beht (Marrocos), preenchem uma lacuna histórica crucial. Demonstram que o noroeste africano foi um actor central no comércio e na cultura, ligados ao Mediterrâneo, Atlântico e Sahara desde a pré-história.


Conclusão


Esta descoberta, revoluciona a visão tradicional do Magrebe como um espaço vazio antes da chegada dos fenícios. Revela uma rede complexa de trocas e adaptações culturais, provando que as sociedades locais não só existiam como influenciaram activamente o desenvolvimento regional.

A história de África continua-nos a surpreender, desafiando constantemente as narrativas eurocêntricas e destacando a grande capacidade das civilizações da antiguidade africana.

 


Esta descoberta no Marrocos surpreende-te? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.

 

Imagem: © 2025 DR
Francisco Lopes-Santos

Atleta olímpico, tem um Doutoramento em Antropologia da Arte e dois Mestrados um em Treino de Alto Rendimento e outro em Belas Artes. Escritor prolifero, já publicou vários livros de Poesia e de Ficção, além de vários ensaios e artigos científicos.

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Francisco Lopes-Santos
Francisco Lopes-Santoshttp://xesko.webs.com
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