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ToggleJO 2024: Pioneira Do Breaking Quer O Ouro
O dia em que a marroquina, pioneira do Breaking, Fatima Zahra El Mamouny, se qualificou para o mais recente desporto Olímpico ficará para sempre gravado na sua memória.
Não só se tornou a primeira mulher no mundo a garantir um lugar na competição de Breaking em Paris 2024, em Maio do ano passado, como o fez enquanto o seu pai estava no hospital a ser operado.
Em Marrocos, uma nação onde as tradições culturais e religiosas moldam as normas sociais, uma jovem mulher conseguir desafiar as expectativas e emergir como uma das figuras mais proeminentes de uma subcultura muitas vezes marginalizada, é já só por si, uma história de proporções olímpicas, merecedora do Ouro.
Fatima Zahra El
Fatima Zahra El Mamouny, mais conhecida como B-Girl El Mamouny, fez história ao tornar-se a primeira mulher no mundo a qualificar-se para a competição de Breaking nos Jogos Olímpicos de Paris 2024.
O Breaking, uma forma de dança que combina força, técnica e expressão artística, nasceu nas ruas do Bronx, nos Estados Unidos, mas encontrou em Marrocos um terreno fértil para se desenvolver, graças a figuras como El Mamouny e a líderes visionárias como Selma Bennani.
O caminho de El Mamouny até ao panorama mundial dos Jogos Olímpicos foi pavimentado com desafios pessoais e culturais. Crescer num ambiente onde a dança de rua era vista como uma atividade masculina e, por vezes, mal compreendida, significava que ela teve de lutar não só pela aceitação da sua paixão, mas também pelo reconhecimento do seu talento.
Quando, em Maio de 2023, garantiu o seu lugar nos Jogos Olímpicos, o momento foi amargo e doce. Enquanto celebrava a sua conquista, o seu pai, que inicialmente tinha reservas sobre a sua escolha de vida, estava no hospital a lutar pela sua saúde.
A vitória de El Mamouny no Campeonato Africano em Rabat foi um momento decisivo não só na sua vida, mas também na história do Breaking em Marrocos e em todo o continente africano.
A sua história não é apenas sobre vencer competições, mas também sobre vencer preconceitos, desafiar normas estabelecidas e abrir portas para uma nova geração de mulheres que desejam seguir os seus passos.
Superação e Determinação
A infância de Fatima Zahra El Mamouny em Marrocos foi marcada pela descoberta precoce da sua paixão pela dança. Numa sociedade onde as mulheres eram tradicionalmente encorajadas a seguir caminhos convencionais, o seu fascínio pelo Breaking não era compreendido, mas a dança permitiu-lhe explorar e comunicar emoções que, de outra forma, seriam reprimidas.
O seu percurso no Breaking começou nas ruas de Rabat, onde se destacou pelo seu talento e dedicação. Contudo, a sua ascensão não foi isenta de obstáculos. O Breaking era um domínio masculino e as mulheres enfrentavam o desafio físico e a resistência social. A sua própria família, tinha reservas sobre o seu envolvimento na dança de rua, associada a uma subcultura estigmatizada e marginalizada.
Mas El Mamouny estava determinada a seguir o seu sonho. Com o tempo, o seu talento começou a mudar a percepção daqueles à sua volta. O seu pai que inicialmente hesitava em apoiá-la, tornou-se um dos seus maiores defensores. A viragem deu-se quando ele percebeu a profunda paixão da sua filha e o seu potencial para fazer história, simbolizando uma aceitação mais ampla na sua comunidade.
O apoio do seu pai foi crucial quando El Mamouny enfrentou um dos maiores desafios da sua vida. Pouco antes do Campeonato Africano de 2023, onde ela garantiria o seu lugar nos Jogos Olímpicos, o seu pai foi internado para uma cirurgia.
A notícia abalou-a, mas as palavras de incentivo do seu pai deram-lhe a força para continuar. No dia da competição, El Mamouny dançou com o coração pesado, mas com determinação. Quando venceu o campeonato, foi mais do que uma vitória pessoal; foi uma vitória para a sua família, para Marrocos e para todas as mulheres que lutam por um lugar num mundo que muitas vezes as exclui.
A Transformação Social
A vitória de El Mamouny não foi apenas uma conquista desportiva; foi também um marco cultural em Marrocos. O Breaking, que começou como uma forma de expressão para jovens marginalizados nos EUA, encontrou um novo lar num país com uma rica herança cultural, mas com normas sociais restritivas.
Marrocos, como muitos países do Norte de África, tem uma sociedade profundamente enraizada em tradições e valores religiosos. Para uma jovem mulher se destacar numa disciplina subversiva e tradicionalmente masculina foi uma declaração poderosa de mudança.
A ascensão de El Mamouny no Breaking desafiou estas normas e abriu novas possibilidades para as mulheres no país. A dança, antes vista como rebeldia, começou a ser reconhecida como uma expressão artística e uma forma de afirmação feminina.
Selma Bennani, presidente da Federação Marroquina de Aeróbica, Fitness, Hip Hop e Desportos Relacionados, foi uma das principais forças por trás desta transformação. Tendo estudado desporto aeróbico nos EUA, trouxe os seus conhecimentos e paixão para Marrocos.
A sua luta para promover o Breaking no país foi longa e cheia de desafios, mas o sucesso de El Mamouny e outros atletas é um testemunho do seu trabalho árduo e visão. Bennani enfrentou resistência, especialmente porque o Breaking era visto como cultura estrangeira, associada a comportamentos que não se alinhavam com valores tradicionais marroquinos.
No entanto, ela persistiu, pois acreditava que o Breaking poderia ser uma forma de expressão para os jovens marroquinos, especialmente para as mulheres.
A vitória de El Mamouny no Campeonato Africano e a sua qualificação para os Jogos Olímpicos são mais do que triunfos desportivos. Elas simbolizam uma mudança de mentalidade em Marrocos, onde a dança de rua está a ser reconhecida como uma forma válida de expressão artística.
Preparação Olímpica
Com a qualificação garantida para os Jogos Olímpicos de Paris 2024, El Mamouny entrou numa nova fase de preparação, marcada por um regime de treino intenso e pela expectativa crescente. Competir nos Jogos Olímpicos é o culminar de anos de trabalho árduo, sacrifícios pessoais e uma determinação férrea.
O Breaking, como desporto olímpico, exige uma combinação única de habilidade técnica, criatividade e resistência física e El Mamouny está ciente de que a competição será feroz.
O seu treinador, Enaama Elmarhraoui, conhecido no mundo do Breaking como B-Boy Kaw, desempenha um papel fundamental na sua preparação. Juntos, eles desenvolveram um regime de treino rigoroso que combina exercícios físicos intensivos com a prática de movimentos complexos e inovadores que podem impressionar os juízes e os espectadores.
A preparação para os Jogos Olímpicos não é apenas física; é também mental e emocional. El Mamouny sabe que estará sob os holofotes, representando não só a si mesma, mas também o seu país e todas as mulheres que veem nela um símbolo de superação. A pressão é intensa, mas ela está pronta para o desafio.
O seu objetivo não é só o de ganhar uma medalha, mas também o de mostrar ao mundo o que o Breaking significa para ela e para a sua cultura. Para El Mamouny, cada batalha será uma oportunidade para mostrar o seu talento e a sua paixão e ela está determinada a aproveitar ao máximo esta experiência única.
A competição em Paris será realizada na icónica Place de la Concorde, onde os melhores b-boys e b-girls do mundo se enfrentarão em batalhas um-contra-um, ao som de músicas escolhidas por um DJ, avaliados por um painel de 9 juízes que decidirão os vencedores com base em critérios como técnica, criatividade e musicalidade.
Conclusão
Fatima Zahra El Mamouny não é apenas uma atleta; ela é uma pioneira, uma inspiração e um símbolo de mudança. O seu percurso de vida, desde as ruas de Rabat até aos Jogos Olímpicos de Paris 2024, é uma história de superação, determinação e transformação cultural.
Ao desafiar as expectativas e as normas sociais, El Mamouny abriu portas para uma nova geração de mulheres que veem no Breaking uma forma de expressão e fortalecimento pessoal. O sucesso de El Mamouny já teve um impacto profundo em Marrocos e no resto de África.
O Breaking, inicialmente visto como uma subcultura marginalizada, está a ganhar reconhecimento e respeito como uma forma de arte e desporto legítima. Para as mulheres em Marrocos, a história de El Mamouny é uma prova de que é possível seguir os seus sonhos, independentemente das barreiras culturais e sociais.
Independentemente do resultado, a participação de El Mamouny já é uma vitória para as mulheres, para Marrocos, para África e para o Breaking. Ela mostrou que com paixão, dedicação e coragem, é possível redefinir o que é possível e ter a capacidade de criar novas oportunidades para o futuro.
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