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ToggleEmbaixador Expulso é Recebido como Herói
Hoje, 23 de Março de 2025, o dia da libertação da África Austral, Ebrahim Rasool, o embaixador da África do Sul nos EUA, aterrou no Aeroporto Internacional da Cidade do Cabo, onde teve uma recepção triunfal como herói.
Declarado persona non grata pela administração Trump, o político foi acusado de promover retórica antiamericana e críticas ao movimento Make America Great Again (MAGA). A multidão que se encontrava no aeroporto com bandeiras e cartazes, exigiu uma escolta policial para o diplomata poder atravessar o terminal.
A expulsão ocorreu após um seminário virtual onde o embaixador analisou as políticas de imigração e diversidade sob Trump, mencionando a possível perda da maioria branca nos EUA.
O secretário de Estado Marco Rubio classificou-o como “um político que se aproveita da raça” e cortou as relações diplomáticas. A medida, rara na história norte-americana, reflecte a escalada de tensões desde que a África do Sul acusou Israel de genocídio no Tribunal Internacional de Justiça (ICJ).
O Presidente Trump retaliou em Fevereiro e cortou o financiamento ao país acusando-o de apoiar o Hamas e o Irão. Rasool, porém, manteve a postura: “Regressamos sem arrependimentos”. O caso expõe as fracturas geopolíticas dos EUA, com a África do Sul a desafiar as hegemonias mundiais enquanto aprofunda alianças alternativas.
Contexto da Expulsão
A crise começou com um seminário virtual organizado por um grupo de reflexão sul-africano em Março. O embaixador, a usar linguagem académica, criticou a repressão de Trump a programas de equidade e imigração. Afirmou que o MAGA é alimentado por um “instinto supremacista branco“, citando projecções demográficas que indicam os cidadãos brancos como 48% do eleitorado até 2030.
O artigo do Breitbart, citado por Rubio, distorceu as palavras do embaixador, rotulando-o como “ódio aos EUA”. A expulsão deu-se a 14 de Março, com o secretário de Estado a revogar as imunidades diplomáticas via rede social X.
Os analistas políticos viram o acto como resposta ao activismo judicial sul-africano: o país encabeceia o caso no Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) contra Israel, onde já ganhou apoio mundial.
O Presidente Trump, durante a campanha eleitoral, usou o episódio para reforçar a sua narrativa anti-imigração e anti-multiculturalismo. A África do Sul, porém, recusou recuar.
“Não somos antiamericanos, mas não ignoramos as mudanças nos EUA”.
Declarou o embaixador, defendendo uma diplomacia baseada em “análise, em vez de emoção”.
Recepção Triunfal
Na Cidade do Cabo, a chegada de Rasool simbolizou a resistência de África ao neocolonialismo. Os presentes, incluindo activistas e líderes políticos do país, cantaram “Amandla!” (poder, em zulu). O embaixador, visivelmente emocionado, usou um megafone para agradecer:
“Persona non grata é um distintivo de dignidade quando temos o povo connosco”.
A esposa, Rosieda, partilhou abraços com apoiantes, muitos dos quais exibiam camisas com a frase “Rasool: Herói de África”. O panorama contrastou com o silêncio da Casa Branca que não comentou o regresso. Para os sul-africanos, o gesto de Trump reforçou estereótipos de arrogância imperial, enquanto o embaixador emerge como um ícone pan-africano.
O governo sul-africano já anunciou que não nomeará um novo embaixador a não ser após as próximas eleições norte-americanas. Enquanto isso, mantém o diálogo com aliados como a Rússia e a China, críticos da política externa de Trump. A estratégia reflecte uma viragem para parcerias não-ocidentais, dando prioridade à soberania sobre os alinhamentos tradicionais.
Impacto Geopolítico
A expulsão de Rasool aprofunda o fosso entre os EUA e a África do Sul, historicamente tensos desde o apartheid. O corte de financiamento por Trump afecta programas sociais, mas o país respondeu com sanções simbólicas a empresas norte-americanas. Os analistas já tinham alertado:
“A retórica anti-Trump pode galvanizar o Sul Global contra as políticas unilaterais”.
O caso do TIJ ampliou a influência sul-africana. Juntaram-se à acusação de genocídio contra Israel, mais de 10 países, desafiando o apoio incondicional de Washington a Telavive. Para o embaixador, a ligação entre os dois conflitos é clara:
“Defendemos direitos humanos, seja em Gaza ou em casa”.
A Rússia, através do Grupo Wagner, já ofereceu cooperação militar à África do Sul, enquanto a Turquia negoceia acordos energéticos. A UE, dividida, evita condenar publicamente a África do Sul, temendo perder o acesso a minerais críticos. O tabuleiro geopolítico redefine-se, com o país a emergir como uma voz alternativa no panorama mundial.
Conclusão
Ebrahim Rasool transformou uma expulsão humilhante em um triunfo político, simbolizando a resistência africana a pressões externas. A recepção na Cidade do Cabo mostrou o apoio popular à postura crítica do governo contra Trump e Israel.
A crise diplomática reforça a Aliança BRICS e expõe a fragilidade da hegemonia norte-americana. Enquanto Trump dá prioridade ao MAGA, a África do Sul consolida-se como líder moral no Sul Global, desafiando a ordem estabelecida.
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Imagem: © Imagem: © 2025 Gianluigi Guercia / AFP via Getty Images