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Terça-feira, Outubro 28, 2025

Angola: Energia Solar Transforma Vidas No País

Nas áridas terras do sul de Angola, onde o sol era outrora sinónimo de calor e desespero, ele agora irradia vida. Desta fonte renovável nasce a energia que sustenta colheitas, nutre famílias e devolve a esperança a comunidades que viviam à mercê da incerteza das chuvas.

Angola: Energia Solar Transforma Vidas No País


A energia solar alimenta uma singela bomba em Baixa da Missão, no sul de Angola, erguendo-se como um símbolo de transformação e resistência. Onde antes se estendiam campos secos e estéreis, floresce hoje um mosaico verde de hortas férteis, alimentadas por um sistema de irrigação inteligente e práticas agrícolas sustentáveis que devolvem à terra a sua vitalidade.

Esta revolução silenciosa é fruto do programa Fresan (Fortalecimento da Resistência e da Segurança Alimentar e Nutricional) em Angola, uma iniciativa financiada pela União Europeia e implementada pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Agrário angolano (IDA).

Ao combinar a tecnologia solar, a formação comunitária e a inovação agrícola, o programa Fresan oferece respostas concretas às alterações climáticas, ao mesmo tempo que restitui a dignidade a milhares de famílias rurais.


A História de Juliana


Juliana, agricultora e mãe de seis filhos, reside em Chitaka, uma pequena comunidade no município de Namacunde. Durante anos, lutou para cultivar a terra sob um céu incerto. A irregularidade das chuvas e as prolongadas secas tornavam o solo árido e as colheitas imprevisíveis.

“Antigamente, tínhamos de carregar baldes de água até à exaustão. Mesmo assim, a terra rachava e as plantas morriam”.

Recorda Juliana, com um sorriso que denota mais alívio do que nostalgia. A mudança começou quando a sua comunidade aderiu à Escola de Campo de Agricultores (FFS, na sigla inglesa), uma metodologia de aprendizagem prática promovida pela FAO.

Com o apoio técnico e financeiro do Fresan, o grupo de Juliana instalou uma bomba de água alimentada por energia solar, ligada a um sistema de irrigação gota a gota de baixa pressão. O impacto foi imediato. A nova tecnologia reduziu a evaporação, direccionou a água para as raízes e garantiu uma irrigação regular, mesmo durante a estação seca.

“Agora podemos regar todos os dias. As plantas crescem mais fortes e o tempo que antes dedicávamos a carregar água, usamos para cuidar melhor da terra”.

Conta Juliana, orgulhosa da pequena horta que hoje abastece o mercado local. Nestas comunidades, são frequentemente as mulheres que lideram a transição para uma agricultura moderna e sustentável. O programa reconhece este papel central, promovendo a igualdade de género através da formação e do acesso equitativo a recursos produtivos. Juliana é, actualmente, uma referência local.

Coordena um grupo de mulheres agricultoras que, com o apoio da energia solar, produzem hortaliças, milho, feijão e tomate durante todo o ano. O rendimento extra é investido em educação, saúde e pequenas melhorias nas suas habitações.

“Antes, só esperávamos pela chuva. Agora, com o sol, temos comida o ano inteiro”.

Afirmou uma das agricultoras do grupo, mostrando as leiras meticulosamente alinhadas sob o brilho de um sol que, finalmente, trabalha a seu favor.


O Sol Como Fonte de Sustento


As Escolas de Campo vão além do ensino tecnológico. São espaços de aprendizagem coletiva, onde os agricultores partilham experiências, analisam resultados e experimentam soluções adaptadas ao clima local. Nestas formações, os participantes aprendem práticas agrícolas sustentáveis como:
  • Cobertura orgânica do solo: Utilização de palha e folhas secas para conservar a humidade e evitar a erosão.
  • Rotação de culturas: Técnicas que regeneram o solo e reduzem pragas.
  • Uso de estrume animal: Como fertilizante natural, criando um ciclo agrícola verdadeiramente sustentável.

Juliana reconhece o valor desta aprendizagem:

“Agora percebo que a terra precisa de descanso e cuidado. Se tratarmos bem o solo, ele devolve-nos o que precisamos para viver”.

O objectivo do Fresan é precisamente esse: capacitar as comunidades para que se tornem autónomas e resilientes. Cada agricultor formado transforma-se num multiplicador de conhecimento, ensinando outros camponeses e criando redes de partilha que fortalecem o tecido social das aldeias.

A energia solar não se limita a alimentar as bombas de irrigação; simboliza um novo modelo de desenvolvimento rural. Num país onde o acesso à electricidade é ainda limitado em vastas áreas, os painéis solares representam uma alternativa acessível, limpa e duradoura.

Em Baixa da Missão, cada painel instalado é também uma aula prática de sustentabilidade. Os jovens da comunidade aprendem a montar, limpar e manter os sistemas, o que gera novas oportunidades de emprego e formação técnica.

Adicionalmente, a adopção da energia solar reduz a dependência de combustíveis fósseis, contribui para a mitigação das emissões de carbono e insere Angola numa trajectória de transição energética coerente com os objectivos da Agenda 2063 da União Africana e do Acordo de Paris sobre o Clima.


O Desafio das Alterações Climáticas


O sul de Angola é uma das regiões mais vulneráveis às alterações climáticas. Nos últimos anos, as secas prolongadas intensificaram-se, afectando a segurança alimentar e forçando muitas famílias a migrar em busca de melhores condições. Neste contexto, o acesso à água tornou-se uma questão de sobrevivência.

As bombas solares invertem este ciclo de perda e desespero, oferecendo uma solução sustentável e descentralizada. De acordo com dados do Fresan, mais de 7.400 pequenos agricultores já foram beneficiados com projectos semelhantes em mais de 30 Escolas de Campo, distribuídas pelas províncias do Cunene, Namibe e Huíla. Os resultados são palpáveis:

  • Aumento da produção local.
  • Redução das perdas pós-colheita.
  • Melhoria da segurança alimentar.

As comunidades não só produzem mais, como vendem o excedente nos mercados vizinhos, dinamizando as economias rurais. Na horta comunitária de Chitaka, o verde predomina. Fileiras de couves, cebolas e tomates contrastam vivamente com o tom acastanhado da savana circundante. Cada gota de água bombeada pelo sistema solar é um símbolo de resistência e esperança.

Juliana recorda o primeiro dia em que viu a água brotar da terra seca: “Foi como se a terra voltasse a respirar. Senti que Deus não nos tinha esquecido.” Hoje, a horta é um ponto de encontro da comunidade. Crianças brincam ao lado das leiras, jovens ajudam nas colheitas e os mais velhos recordam os tempos em que o gado morria por falta de pasto. A mudança é visível e profunda.


Um Futuro Fértil Sob o Sol


Com maior produtividade e colheitas regulares, famílias como a de Juliana garantem agora alimentação diversificada, melhor nutrição e rendimento estável. O acesso à energia solar permitiu planear o futuro, algo que antes parecia inatingível. Juliana, emocionada, revela que os seus filhos mais velhos frequentam a universidade, enquanto os mais novos ajudam nas hortas após as aulas.

“Antes, a escola era um sonho distante. Agora, consigo pagar os estudos deles com o que colhemos da terra”, diz, orgulhosa

O impacto transcende o campo agrícola. Os mercados locais tornaram-se mais dinâmicos, as famílias dependem menos de ajuda externa e as comunidades ganham autonomia económica. Em Baixa da Missão, cada bomba solar é um símbolo de esperança e cada horta, um testemunho de que a inovação, quando aliada à solidariedade, pode transformar destinos.

Os projectos de energia solar agrícola em Angola são também uma lição sobre a importância da cooperação internacional. A parceria entre a União Europeia, a FAO e o Governo angolano demonstraram que a solidariedade mundial pode traduzir-se em soluções concretas para os desafios locais.

A tecnologia solar, quando aplicada com sensibilidade social, não é apenas uma questão de eficiência energética — é um instrumento de justiça climática. Permite que comunidades vulneráveis se adaptem aos efeitos das alterações climáticas, reduzindo desigualdades e promovendo a inclusão social.


Conclusão


Em cada raio de sol que ilumina as terras do sul de Angola, há hoje mais do que calor: há energia, há vida e há futuro. O sucesso do projecto Fresan evidencia que a transição energética pode ser inclusiva e que as soluções sustentáveis ganham força quando são concebidas a partir das comunidades.

A história de Juliana e das mulheres de Chitaka é uma metáfora do potencial de Angola — um país capaz de usar os seus próprios recursos naturais para superar a pobreza e construir prosperidade.

O sol que durante séculos foi visto como um obstáculo, torna-se agora a fonte da renovação, o motor da agricultura e o símbolo de uma Angola mais verde, mais justa e mais autónoma. Em Baixa da Missão, o futuro nasce todos os dias — e vem com o sol.

 


O que pensas desta história e dos benefícios trazidos pela energia solar? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.

 

Imagem: © 2025 Francisco Lopes-Santos
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