Mafalala é “museu vivo” da cultura moçambicana.

Mafalala, é o bairro mais famoso de Maputo, um local consagrado nos guias turísticos como o berço da cultura pós-independência de Moçambique.

Encontra-se “logo ali” ao virar de uma esquina, onde o horizonte desaparece e os edifícios coloniais portugueses e prédios de apartamentos “modernos”, de meados do século XX, dão lugar a um labirinto de vielas esburacadas repletas de barracas com telhados de zinco.

Mas como em qualquer bairro problemático, situado em um dos países mais pobres do mundo, os moradores lutam para capitalizar o património da sua comunidade. A maioria dos jovens de Mafalala sobrevive no dia-a-dia, dependendo do trabalho informal, incapaz de explorar plenamente a sua criatividade.

 

O inicio

Há uns anos atrás, um grupo de estudantes e profissionais da área, através da Associação Iverca, decidiu mudar essa “realidade” e criaram um museu para preservar a história e a cultura do bairro. O Museu Mafalala, foi instalado em um prédio com uma cor invulgar amarelo-mostarda que o faz destacar-se entre um mar de telhados de chapas de zinco.

“Costumamos dizer que Mafalala é a capital de Maputo porque é o coração e a alma da cidade”.

“Há algo de especial em Mafalala e essa é a razão pela qual este é um lugar histórico. Na realidade, é um bairro que é um verdadeiro museu vivo”, disse Ivan Laranjeira, director do Museu de Mafalala.

Laranjeira, não fez essa afirmação destituída da realidade já que, apesar de ser um dos bairros mais pobres de Maputo, produziu dois presidentes moçambicanos, Samora Machel e Joaquim Chissano, o lendário futebolista Eusébio da Silva Ferreira e o poeta José Craveirinha.

 

O museu

Entre várias peças destacam-se uma viola feita à mão a partir de uma caixa de lata, com cordas feitas de raios de bicicleta. Antes de ir para o museu, foi usado por cantores de “Marrabenta”, um género de dança popular nacional.

Há trajes tradicionais, além de uma bola de futebol de trapos como a de Eusébio, que catapultou a seleção de Portugal para a fama mundial na década de 1960.

Mas não são apenas as peças de coleção em exposição que importam no museu. O museu em si, é também um centro de educação cultural para a juventude do bairro.

 

Mafalala

Desde o século IXX o bairro de Mafalala atrai trabalhadores da zona rural de Moçambique que, para ali vão, devido às rendas baratas e por ficarem perto do centro da cidade, logo mais bem localizados para encontrar trabalho.

É um dos mais antigos subúrbios da capital, localizado no centro-oeste, o bairro surge porque os seus moradores foram “empurrados” para o local pelos colonos, pois estes ocupavam locais mais frescos e altos.

Os habitantes mais velhos do bairro são conhecidos como Matlotlomana, ou ku-tlotloma que significa “conquistar uma mulher”, na língua local, o Ronga. O local que hoje é a sede do bairro, outrora foi o mercado e um dos locais onde funcionavam algumas cantinas. Servia também de local onde os Matlotlomanas “encontravam” mulheres que eram controladas pelos proprietários das cantinas.

Com 30 das línguas de Moçambique faladas no local, e práticamente todss as etenias, aí representadas, o bairro é um centro de diversidade cultural, onde cantinas convivem paredes meias com mesquitas e igrejas evangélicas.

No centro do bairro, construída de madeira e zinco, fica a centenária mesquita “Baraza”. Foi a primeira a ser construída pelos comoreanos na Mafalala. O termo “Baraza”, em Suaíli, significa “local de convívio, reunião ou concentração”.

Placas presas nas ruas empoeiradas listam algumas das atrações locais. A casa de Machel, o local de nascimento de Eusébio e uma homenagem à poesia de Craveirinha, captando o espírito do lugar. Mas infelizmente, muitas das casas de personalidades famosas do bairro caíram em ruínas, ou estão agora ocupadas por novos moradores.

Por toda Mafalala podemos apreciar paredes cobertos com murais coloridos e os turistas, apesar de raros, são sempre bem-vindos ao bairro, onde podem passear pelas vielas e provar a culinária local.

Foi nos becos de Mafalala que se ergueram e se alimentaram os espíritos revolucionários contra os colonizadores portugueses, culminando numa guerra de uma década que abriu caminho à independência em 1975.

Desde então, os revolucionários lideram o país, mas a euforia da libertação extinguiu-se. Agora, jovens jogadores, descalços, chutam bolas na areia, diante de uma imponente imagem de Eusébio.

 

O que achas deste bairro de Maputo? Ao exemplo de Mafalala, também se deveriam construir outros museus em locais históricos? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.
Imagem: © 2022 Museu Mafalala 
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