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Toggle7 De Dezembro, O Dia Que Mudou Timor-Leste
Foi a 7 de Dezembro de 1975 que se iniciou a invasão e ocupação, pela indonésia, de Timor-Leste, através da “Operação Komodo”. Portugal que tinha tropas no terreno, limitou-se a denunciar a invasão e a cortar relações diplomáticas com a Indonésia, abandonando vergonhosamente o território a 8 de Dezembro de 1975.
Internacionalmente, este dia 7 de Dezembro, passou a ser reconhecido como o Dia Internacional de Solidariedade com Timor-Leste, mas no país, é conhecido pelo Dia dos Heróis Nacionais e é feriado nacional.
Timor-Leste, oficialmente “República Democrática de Timor-Leste”, declarou unilateralmente a independência de Portugal a 28 de Novembro de 1975, não tendo no entanto, sido reconhecida pelo governo de Lisboa, temendo este que esse acto servisse de pretexto às forças indonésias para invadir o território, o que viria de facto a acontecer.
A Indonésia justificou a invasão, alegando a defesa contra o comunismo, discurso que lhe garantiu apoio do governo dos Estados Unidos da América e da Austrália, entre outros, mas que recebeu a condenação da restante comunidade internacional. Mantiveram a ocupação de Timor-Leste, durante 24 anos até à sua retirada formal, a 20 de Maio de 2002.
O Dia Que Mudou A História De Timor-Leste
Na manhã de 7 de Dezembro de 1975, paraquedistas indonésios encheram os céus de Díli. O bombardeamento aéreo, seguido pelo desembarque de tropas e tanques, deu início a uma ocupação brutal. Entre o horror e a resistência, jovens da FALINTIL enfrentaram o inimigo, enquanto civis fugiam para as montanhas.
Quarenta e nove anos depois, o sacrifício dos mártires de Díli continua a inspirar a luta pela justiça e o compromisso com a paz.
7 de Dezembro de 1975
Há 49 anos, a 7 de Dezembro de 1975, a Indonésia deu início à invasão militar de Timor-Leste, justificando a acção com a alegação de que a FRETILIN era um partido comunista, iniciando-se assim, um dos capítulos mais dolorosos da história de Timor-Leste: a invasão indonésia. Contudo, também simboliza o espírito de resistência e o sacrifício de um povo que lutou incansavelmente pela sua liberdade.
Martinho Rodrigues, uma testemunha ocular da época, recorda que este rótulo levou a que, os Estados Unidos das América, adversários ferranhos do comunismo, fornececem apoio militar à Indonésia, incluindo armamento. Contudo, segundo Martinho, esta percepção era falsa:
“A FRETILIN era um movimento nacionalista, mas usaram a ideia do comunismo para nos atacarem”.
Na madrugada de domingo, aviões indonésios bombardearam Díli antes de lançar paraquedistas sobre a cidade. Seguiram-se tropas navais com tanques e veículos blindados, ocupando rapidamente as zonas estratégicas. Apesar da resistência das forças timorenses, incluindo jovens das FALINTIL, a superioridade militar indonésia foi devastadora.
Muitos civis foram mortos, incluindo a esposa de Nicolau Lobato e o jornalista Roger East que se encontravam no porto de Díli.
“A cidade ficou em ruínas e muitos fugiram para as montanhas para escapar à violência”, relembra Martinho”.
A Ironia do Destino
Martinho Rodrigues conta que, antes da invasão indonésia, o povo de Timor-Leste iniciou um contragolpe para a independência unilateral a 28 de Novembro de 1975. Naquela época, as FALINTIL eram compostas por jovens que ainda não constituíam uma força efectiva. Quando souberam que as tropas indonésias iriam invadir Timor-Leste, o comandante deu ordens para reforçar Metinaro e Hera e avançar para Díli.
No entanto, não se sabia ainda que os paraquedistas atacariam Díli e outras regiões do território. Martinho Rodrigues que estava em Vila Verde com febre, lembra-se de ter olhado para o céu e de ter ficado assustado ao ver numerosos paraquedistas a descer.
Ele acredita que, se a descida tivesse ocorrido nos dias 5 ou 6 de Dezembro, talvez pudessem ter eliminado a maioria, mas, por sorte para os invasores, o desembarque aconteceu a 7 de Dezembro.
Nesse dia, as forças destacadas em várias áreas de Díli começaram a disparar contra os paraquedistas. Por volta das 10 horas da manhã, os militares indonésios responderam com um massacre em Díli, provocado pela morte de muitos dos seus paraquedistas e pela situação de alguns que ficaram presos nas árvores devido aos disparos das forças timorenses.
Foi neste panorama que Martinho e a sua família iniciaram a fuga de Díli. Eles correram para fora de Tuana e dirigiram-se a Mota Ailok, onde se esconderam, uma vez que algumas forças também recuaram para a zona norte.
Martinho Rodrigues referiu que, antes desse episódio, os comandantes já haviam recebido informações sobre a iminência da invasão, o que os levou a ordenar vigilância em Metinaro e Hera. Na noite de 6 de Dezembro, os militares indonésios começaram a disparar a partir de Liquiçá e Maubara, com os confrontos a prolongarem-se até ao amanhecer.
“Na manhã de 7 de Dezembro, os militares e os paraquedistas começaram a descer sobre Díli”, conclui Martinho.
A Resposta de Portugal
A Indonésia iniciou uma invasão em larga escala do território de Timor-Leste a 7 de Dezembro de 1975, curiosamente, logo a seguir a uma visita de Estado à Indonésia pelo então Presidente dos EUA, Gerald Ford e pelo seu Secretário de Estado, Henry Kissinger.
Portugal, em vez de se opor à invasão no terreno, abandonou o território no dia a seguir, optando por quebrar relações diplomáticas com a Indonésia e denunciar o Acto de Agressão na ONU, requerendo apoio para a promoção da autodeterminação de Timor-Leste.
Reconhecendo o pedido de Portugal, a 12 de Dezembro de 1975, a Assembleia Geral das Nações Unidas apoia uma resolução reconhecendo Portugal como potência administrante de Timor-Leste, condenando o acto da Indonésia e convidando este país a retirar as suas forças imediatamente.
Dez dias depois, a 22 de Dezembro, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a Resolução 384/1975 com o mesmo teor. No entanto, a Indonésia ignorou ambas as resoluções e inaugura um período de ocupação de 24 anos que ficaria marcado por terríveis atentados contra os direitos humanos do povo de Timor-Leste.
O Impacto da Invasão
O Centro Nacional Chega (CNC) descreve o dia 7 de Dezembro de 1975 como um marco trágico na história de Timor-Leste. A invasão indonésia resultou em milhares de mortes, tanto de combatentes como de civis, mas marcou também o início de uma luta incansável pela independência. Apesar da inferioridade militar, a determinação do povo timorense manteve viva a esperança de liberdade.
Os deputados timorenses, Antoninho Bianco e Joaquim dos Santos, apelaram recentemente à reflexão sobre este sacrifício, lembrando que o sofrimento dos heróis de 7 de Dezembro deve inspirar as gerações actuais.
Bianco destacou que o dia deve servir para reforçar o compromisso com o estado democrático de direito, enquanto Joaquim dos Santos pediu um minuto de silêncio pelos mártires que deram a vida por Timor-Leste.
Mensagem às Novas Gerações
O Presidente da República, José Ramos-Horta, prestou homenagem aos heróis do 7 de Dezembro, incluindo figuras como a esposa de Nicolau Lobato, afirmando que este dia marcou o início de uma longa guerra entre Timor-Leste e a Indonésia. Horta apelou aos jovens para que mantenham a paz no país e aproveitem as oportunidades de educação criadas pelos sacrifícios das gerações passadas.
“A luta dos vossos pais e mães trouxe-nos a liberdade”. “Agora é a vossa vez de construir a nação com educação e dedicação”, sublinhou.
Martinho Rodrigues concluiu o seu testemunho relembrando o espírito de união do povo timorense durante a invasão. Embora muitos enfrentassem o medo e o trauma, continuaram a resistir em solidariedade com a FRETILIN. Este espírito de coragem e sacrifício permanece como um legado eterno para Timor-Leste.
Conclusão
O dia 7 de Dezembro de 1975 permanece como um marco indelével na história de Timor-Leste, simbolizando a brutalidade da ocupação indonésia e a resistência de um povo determinado a alcançar a sua liberdade.
As memórias dos que resistiram e dos que sacrificaram as suas vidas continuam a inspirar gerações, reafirmando o compromisso com a paz, a justiça e a soberania nacional.
Este dia é muito mais do que um simples feriado ou momento de reflexão; é uma poderosa memória, da força de um povo que enfrentou adversidades extremas para conquistar a sua independência e garantir um futuro de esperança e liberdade para as gerações futuras.
Este dia 7 de Dezembro de 1975, ainda hoje causa polémica. Qual é o teu ponto de vista em relação a ele? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.
Imagem: © 1975 Mário Carrascalão