Cabo Verde: Inovação Na Anemia Falciforme.
Um grupo de investigação denominado “BioAnalítica” que inclui nove investigadores de cabo-verde, descobriram recentemente, novas formas inovadoras de diagnóstico da anemia falciforme, uma doença que mata 100 mil pessoas anualmente.
António Maximiano Fernandes, líder do grupo, revelou que o novo método de detecção, desenvolvido ao longo de sete anos, promete revolucionar a identificação precoce dessa doença genética que, em Cabo Verde, especificamente em Santiago, tem uma taxa de prevalência entre 5 e 8%.
Em termos técnicos, a conclusão do estudo divulgado no portal American Chemical Society, dos Estados Unidos da América (EUA), descreve a técnica como uma polimerização rápida da hemoglobina defeituosa dentro das células, proporcionando um diagnóstico eficaz em situações de urgência.
O método supera as técnicas anteriores, incluindo a adotada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), inventada por Linnus Pauling nos anos 30.
Investigação em Cabo Verde
A descoberta pode salvar vidas e representa não só uma vitória científica para Cabo Verde, mas também para o mundo.
“A anemia falciforme é muitas vezes uma doença silenciosa, e caso não diagnosticada pode causar várias complicações, desde dores fortes até AVCs.”
“O método atual superou a técnica adotada pela OMS, e pode ser aplicado em análises de urgência, incentivando as pessoas a procurarem exames com mais frequência”.
Explicou António Maximiano Fernandes o cientista cabo-verdiano responsável pela investigação.
O estudo concentrou-se em Santiago, ilha do arquipélago cabo-verdiano, onde os resultados indicam uma prevalência significativa da anemia falciforme. Segundo Maximiano Fernandes, o gene responsável pela doença está presente em aproximadamente 1 em cada 40 indivíduos, mesmo que a maioria seja assintomática.
Esta descoberta, baseada nos primeiros estudos na ilha de Santiago, reforça a importância do diagnóstico precoce. Maximiano Fernandes sublinhou que, neste momento, o novo método já pode ser implementado em análises de urgência, proporcionando uma vantagem crucial para a detecção rápida e precisa da anemia falciforme.
O Que é a Anemia Falciforme?
A Anemia Falciforme é uma das doenças genéticas mais comuns em África. Caracteriza-se por uma alteração nos glóbulos vermelhos do sangue que, devido a um defeito genético, a hemoglobina (proteína que transporta oxigénio pela circulação), adquire o formato de foice, ou meia-lua, em lugar da forma tradicional, arredondada.
As células falciformes, ao contrário das normais, são pouco flexíveis e não conseguem passar adequadamente pelos vasos sanguíneos menores, obstruindo-os em diferentes órgãos do corpo.
Além de causar anemia desde o nascimento, por conta da má distribuição de oxigénio ao organismo pela hemoglobina defeituosa – a hemoglobina S –, a doença provoca icterícia, aquele aspecto amarelado da pele e dos olhos, devido à morte precoce das células sanguíneas e dores em ossos, músculos e articulações, decorrentes da oclusão dos vasos, também chamadas de crises de falcização.
Como se não bastasse, estas crises são ainda precipitadas por exposição a temperaturas frias e pela desidratação, já que o portador da condição costuma perder mais água que o normal porque não consegue concentrar a urina.
A vulnerabilidade a infecções é outra característica da anemia falciforme. Ocorre que a destruição dos vasos afecta brutalmente o baço, importante órgão produtor de anticorpos e de linfócitos, e vai minando a sua função, o que abre espaço para os invasores proliferarem.
Por isso, o surgimento de febre configura um sinal de alerta, especialmente nos mais jovens, uma vez que as infecções são a principal causa de morte em crianças com a condição.
O entupimento dos capilares, veias e artérias pelas células falciformes ainda pode ocasionar complicações graves, como enfarte agudo do miocárdio, doença renal crónica, embolia pulmonar e acidente vascular cerebral, além de prejudicar outros órgãos.
BioAnalítica na Linha da Frente
A liderança do grupo BioAnalítica no desenvolvimento destas técnicas inovadoras não se limita ao diagnóstico da anemia falciforme. Além disso, a equipe anunciou a descoberta de métodos avançados para a detecção de parasitas em humanos e animais.
Os métodos, chamados de Parasimax Multicolor e Parasimax Concentration Staining Capilary (PCSC), demonstraram uma eficácia superior aos métodos globalmente reconhecidos.
Maximiano Fernandes revelou que a equipe atraiu a atenção de pesquisadores de vários países, como a Índia, o Brasil, o Peru, a Argentina, a Alemanha, Singapura e a Nigéria. Revelou ainda que as vantagens destes métodos, incluindo a capacidade de realizar diagnósticos em segundos e a observação de organismos ainda vivos, proporcionam uma compreensão mais abrangente das infecções parasitárias.
Em termos concretos, o grupo está a anunciar duas descobertas: novos métodos de diagnóstico de anemia falciforme e de detecção de parasitas em animais e pessoas.
“Relativamente a anemia falciforme, trata-se de um tipo de anemia genético, muitas vezes desconhecida pelos doentes, mas que pode causar morte de pessoas subitamente”.
“Em Cabo Verde, temos a genética, mas nunca houve uma grande preocupação porque se trata de um gene originário de África e nós temos a tendência ou acreditamos que somos mais europeus”. Detalhou.
A BioAnalítica, produz os seus próprios reagentes o que lhes possibilita fazerem o diagnóstico em laboratório, permitindo a detecção precoce da doença. Dessa forma, é possível abarcar um número maior de pessoas e conseguir evitar que mais pessoas nasçam com esta predisposição genética em Cabo Verde.
Quem é Maximiliano Fernandes?
António Maximiano Fernandes, é formado em Tecnologia e Ciência da Alimentação, pelo departamento de Nanotecnologia da Jiangnan University na China. Trabalhou como investigador do Ministério da Agricultura e Ambiente e do Instituo Nacional de Saúde Pública e tem vários artigos publicados no estrangeiro.
No sector privado, é professor da Universidade Jean Piaget e é investigador no Grupo BioAnalítica deste 2016, onde estuda métodos de diagnósticos da Anemia Falciforme e, mais recentemente, das doenças parasitarias.
O Futuro
Apesar das extraordinárias conquistas científicas, Maximiano Fernandes expressou uma grande preocupação com a falta de apoio financeiro das autoridades cabo-verdianas.
Ele destacou a necessidade de registo e certificação dos reagentes, bem como a importância de exportá-los para outros países. O cientista explicou ser necessário haver uma abertura para a realização de testes por especialistas internacionais, visando a validação e aceitação global das descobertas.
“Enquanto estudante na China, publiquei artigos na Inglaterra e nos Estados Unidos”.
“Mas este tipo de descoberta, não pode ser publicado antes do registo, por forma a salvaguardar os direitos autorais”.
“Já fizemos o registo em Cabo Verde, no Instituto de Gestão da Qualidade e da Propriedade Intelectual (IGQPI)”.
“Mas temos de ter cuidado na sua divulgação porque, podemos conseguir ter algum reconhecimento internacional, mas outros países e investigadores podem apropriar-se da nossa ideia”.
Lamentou-se Maximiano Fernandes.
A descoberta pode abrir perspectivas de emprego para jovens investigadores no país e, a partir do arquipélago, pode-se produzir reagentes, por exemplo e distribuir para fora. Quanto ao diagnostico de parasitas em humanos e animais, convém relembrar que as doenças parasitarias matam mais de 200 mil pessoas no mundo por ano.
Conclusão
As descobertas feitas pelo grupo BioAnalítica liderado por António Maximiano Fernandes, representam um marco significativo na pesquisa científica cabo-verdiana e do Mundo.
A inovação no diagnóstico da anemia falciforme e na detecção de parasitas não apenas coloca Cabo Verde no mapa da excelência científica, como também oferece soluções cruciais para problemas de saúde pública.
O desafio agora reside na superação de obstáculos financeiros e no estabelecimento de parcerias que permitam a aplicação global destes métodos inovadores.
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Imagem: © 2024 DR