Índice
ToggleBBC Expõem O Tráfico Sexual Na Serra Leoa
A BBC África expôs em um documentário publicado no YouTube, a trágica realidade da exploração do trabalho sexual na Serra Leoa, abordando o impacto nas vidas de mulheres como Isata, uma jovem mãe solteira de 20 e poucos anos, vítima de tráfico humano e violência.
A história de Isata, resume a tragédia e a luta enfrentada pelos trabalhadores do sexo é um retrato cru da tragédia e luta enfrentadas pelas trabalhadoras do sexo na Serra Leoa. Num país ainda a tentar recuperar das consequências devastadoras da guerra civil, Isata foi vítima de tráfico humano por duas vezes.
Foi sequestrada, forçada à escravidão sexual noutros países e submetida a uma vida de violência e dependência de drogas. Ao mesmo tempo, tem a responsabilidade de cuidar da filha enfrentando uma realidade dura que empurra centenas de mulheres para o mesmo destino.
Em Makeni, uma cidade da Serra Leoa, famosa pelas suas reservas de diamantes, o trabalho sexual tornou-se um caminho de sobrevivência para muitas. Após o fim da guerra civil em 2002 que levou à morte de mais de 50 mil pessoas e deslocou quase metade da população, a Serra Leoa ainda luta para se reerguer.
Crises como o surto de Ébola e a pandemia da COVID-19 agravaram a situação e as mulheres foram desproporcionalmente afetadas, forçando muitas delas a entrar na prostituição como única solução.
A Escravidão na África Ocidental
O tráfico humano na Serra Leoa é uma das piores formas de exploração. Mulheres como Isata são frequentemente sequestradas e vendidas como escravas sexuais em países como a Gâmbia, o Senegal e o Mali. Segundo Isata, ela e outras mulheres, foram iludidas por promessas de emprego como amas, mas acabaram entregues a redes de tráfico.
Segundo o documentário da BBC África, as vítimas são forçadas a trabalhar para pagar dívidas enormes aos traficantes, sob constante ameaça de violência física. A história de Isata é apenas um exemplo entre muitos. A Organização Internacional para as Migrações (OIM) estima que milhares de pessoas da Serra Leoa, são traficadas todos os anos.
Elas são levadas para fora do país enganadas por promessas de empregos que nunca se materializam e acabam em situações de escravidão sexual ou trabalho forçado, sem qualquer esperança de retorno.
O Vício do Kush
Além do tráfico sexual, a BBC África, expõem o vício causado por uma droga perigosa chamada “kush” que afeta as trabalhadoras do sexo na Serra Leoa. Esta droga é uma mistura de substâncias altamente viciantes e psicoactivas, vendida a preços muito baixos nas ruas e, em alguns casos, contém até ossos humanos.
Em 2023, o vício em kush atingiu proporções tão alarmantes que o presidente da Serra Leoa declarou o consumo da droga como uma emergência nacional. Isata foi uma das mulheres apanhadas nesta rede de dependência.
Com o tempo, o vício em kush piorou ao ponto de ela abandonar o seu filho mais novo, um bebé de apenas quatro meses que agora vive com a avó. O vício nas drogas como o kush torna ainda mais difícil a vida das trabalhadoras do sexo, mantendo-as presas a um ciclo de dependência, exploração e pobreza extrema.
A Luta de Mabinty
Mabinty, outra trabalhadora do sexo na Serra Leoa, é mais uma história pungente exposta no documentário da BBC África e exemplifica o sacrifício que muitas mães enfrentam.
Ela trabalha em locais abandonados, onde homens pagam cerca de um dólar por cada encontro sexual. Mabinty já perdeu três dos seus seis filhos e, com os poucos recursos que ganha, tenta sustentar os outros três que ainda frequentam a escola. Para ela, a única forma de pagar as propinas escolares é continuar no trabalho sexual.
A situação de Mabinty é comum entre as trabalhadoras do sexo na Serra Leoa. Estas mulheres estão presas num ciclo de pobreza e tentam equilibrar a responsabilidade de cuidar dos filhos com a necessidade de sobreviver num ambiente que lhes oferece poucas alternativas.
Gina e Rugiatu
A violência que as trabalhadoras do sexo enfrentam também afecta as gerações seguintes, isso é posto a nu, pela BBC África com o relato da história de Gina, outra jovem trabalhadora do sexo que foi assassinada em 2020, deixando a sua filha, Rugiatu, de 10 anos, sob os cuidados da avó idosa.
O medo que Rugiatu sente de ser morta nas ruas, tal como aconteceu à sua mãe, reflete a realidade brutal em que muitas crianças estão a crescer. A falta de apoio institucional e as condições económicas difíceis deixam estas crianças vulneráveis, a perpetuarem o ciclo de pobreza e exploração.
Uma Armadilha Mortal
A história mais recente de Isata, ocorrida em 2024, é mais um exemplo de como o tráfico sexual continua a ameaçar as mulheres da Serra Leoa. Após se libertar da escravatura do tráfico sexual, voltou a ser enganada com a promessa de um trabalho como ama, acabando por ser levada para o Mali, onde foi forçada a vender sexo numa área de exploração mineira de ouro.
Desta vez, os traficantes exigiram 1.700 dólares e Isata teria de servir centenas de homens para pagar esta “dívida” e recuperar a sua liberdade. Felizmente, Isata conseguiu escapar e regressar à Serra Leoa, mas muitas outras mulheres não têm a mesma sorte.
Elas permanecem presas nas teias do tráfico humano, sendo exploradas sexualmente e sem qualquer esperança de regresso ao seu país ou de se libertarem dessa situação.
Conclusão
A história de Isata, Mabinty, Gina e tantas outras mulheres na Serra Leoa evidencia a dura realidade enfrentada pelas trabalhadoras do sexo e vítimas de tráfico humano. São mulheres marginalizadas, vítimas de violência, exploração e dependência de drogas. A pobreza extrema e a falta de oportunidades mantêm estas mulheres presas num ciclo que parece interminável.
É urgente que haja uma intervenção mais eficaz por parte das autoridades, organizações internacionais e sociedade civil para oferecer alternativas reais a estas mulheres. Isso passa pela criação de programas de apoio social, psicológico e económico que as ajudem a encontrar alternativas ao trabalho sexual e pela criação de redes de apoio que as protejam da violência e exploração.
Assiste ao documentário Sex Workers: Lives in the Shadows no canal do YouTube da BBC África, para veres a história completa.
O que pensas deste escândalo exposto pela BBC África? Queremos saber a tua opinião, não hesites em comentar e se gostaste do artigo partilha e dá um “like/gosto”.
Imagem: © © 2024 BBC Africa Eye