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ToggleA Arte do Lixo: Nnenna Okore, Esculpir o Orgânico
Conheces os artistas africanos que transformam lixo em arte? Não? Então prepara-te para conhecer Nnenna Okore uma artista de dois mundos (Austrália/Nigéria) e descobre um dos movimentos criativos mais surpreendentes e inspiradores do continente. Num mundo onde o consumo excessivo e o desperdício crescem a olhos vistos, há vozes em África que encontram beleza onde outros só vêem abandono.
Com uma mistura única de tradição, inovação e consciência ambiental, estes artistas reciclam metais, plásticos, tecidos, objectos abandonados, resíduos tecnológicos e até armas, dando-lhes uma segunda vida sob a forma de esculturas, instalações e obras de arte que contam histórias poderosas, reinventando a forma como pensamos sobre arte, sustentabilidade e o futuro do nosso planeta.
Este é o sétimo artigo da nova série de 17, desta vez dedicada a criadores visionários que não só resgatam materiais esquecidos, como também reinventam a forma de pensar sobre a arte, a sustentabilidade e o futuro do planeta. Cada peça é uma prova de resistência, criatividade e ligação às comunidades, mostrando que daquilo que parecia perdido pode nascer algo belo e transformador.
Se procuras inspiração, inovação e uma perspectiva singular sobre o potencial da arte, não percas esta viagem. Vais conhecer artistas que desafiam os limites do possível e elevam África a um palco vibrante da arte contemporânea, onde a matéria-prima surge do inesperado: o lixo.
Nnenna Okore

Nnenna Okore, nascida em 1975 em Camberra, Austrália, de pais nigerianos, cedo regressou às suas raízes africanas. Aos quatro anos, a sua família estabeleceu-se em Uturu, no Estado de Abia, Nigéria, onde Nnenna cresceu e partilhou o ambiente académico da Universidade da Nigéria, em Nsukka.
Esta vivência entre a diáspora e a tradição nigeriana moldou profundamente o seu olhar artístico, incutindo-lhe uma sensibilidade única para a intersecção de culturas. Desde tenra idade, Okore demonstrou um talento inato para as artes visuais, participando em actividades de desenho, pintura e artesanato.
A sua aptidão culminou na obtenção de um BA em Belas Artes pela Universidade da Nigéria, Nsukka, em 1999, onde se destacou como a melhor aluna do curso. A sua sede de conhecimento levou-a aos Estados Unidos da América (EUA), onde concluiu o MA e o MFA em Escultura na Universidade de Iowa e posteriormente obteve um doutoramento em Belas Artes pela Universidade de Monash, na Austrália.
Actualmente, Nnenna Okore divide o seu tempo entre os EUA e a Nigéria, ocupando a posição de professora e directora do departamento de Arte da North Park University, em Chicago. A sua prática artística distingue-se pela exploração da matéria, do ciclo de vida, da transformação e da reutilização, inspirando-se em ambientes naturais, na cultura africana e na reflexão sobre a fragilidade do planeta.
As suas obras evocam formas orgânicas — fungos, raízes, tecidos entrelaçados — construídas a partir de materiais como papel reciclado, juta, tecidos descartados e fibras naturais, sublinhando o potencial criativo dos resíduos tradicionalmente considerados lixo.
A Essência da Arte de Nnenna Okore

A obra de Nnenna Okore é uma fusão poderosa de técnica artesanal, sensibilidade formal e um profundo compromisso ecológico. A artista utiliza materiais frequentemente considerados descartáveis — jornais velhos, papel, juta, tecidos, fibras naturais e resíduos orgânicos.
Recicla estes materiais, transformando-os em esculturas que mimetizam organismos vivos, fungos em crescimento e texturas que parecem emergir da própria terra. O processo criativo de Okore inicia-se com a recolha meticulosa de materiais simples ou quotidianos.
Observando os resíduos do consumo ou os tecidos abandonados, a artista recolhe-os, limpa-os e reinventa-os através de técnicas ancestrais como trançar, torcer, tingir, coser e enrolar. Estes métodos que relembram as práticas das “mãos-mulher” africanas — costureiras e artesãs — são adaptados ao universo da escultura contemporânea, conferindo uma dimensão cultural e histórica às suas peças.
Nas suas instalações de maior escala, Okore convida o espectador a imergir num mundo ambíguo que oscila entre o vegetal e o mineral, o tecido e o organismo. As superfícies ondulantes, as cores esbatidas e as camadas que se assemelham a cascas ou raízes que se estendem criam uma experiência visual e táctil singular.
Uma Escolha Sustentável
A sua escolha por materiais biodegradáveis, como estruturas de bioplástico criadas a partir de resíduos alimentares, realça o seu interesse intrínseco pelo ciclo da vida, pela decadência e pela regeneração. Um dos espetos mais marcantes do trabalho de Okore é a sua relação com a cor, a textura e o tacto. As suas peças não se destinam apenas à contemplação visual; são concebidas para serem sentidas.
A juta e o papel tingidos, as fibras que emergem e se dobram e a luz que perpassa as instalações, contribuem para um efeito cinestésico e orgânico. O público é encorajado a aproximar-se, a observar os pormenores das fibras e a imaginar-se perante organismos vivos ou paisagens microscópicas ampliadas. Contudo, a arte de Okore transcende a mera estética.
Ao empregar lixo, tecidos e materiais descartados, a artista tece uma reflexão crítica sobre o consumo acelerado, o desperdício e a fragilidade dos sistemas naturais. Ao insuflar nova vida ao que foi abandonado, ela questiona os nossos padrões de produção e consumo, bem como a forma como nos relacionamos com o meio ambiente e com o lixo produzido pelo nosso próprio impacto.
O Simbolismo de Nnenna Okore

O trabalho de Nnenna Okore está profundamente enraizado na observação da natureza e dos processos de transformação orgânica. A artista encara o ciclo natural — nascimento, crescimento, decadência e renascimento — como um espelho da condição humana e um símbolo do mundo contemporâneo.
Cada obra funciona como uma metáfora da transitoriedade: o que apodrece também se renova, o que morre dá origem a algo novo. Esta filosofia que entrelaça espiritualidade africana e consciência ecológica, constitui o cerne da sua produção artística. Ao utilizar papel reciclado, juta, tecidos e fibras, Okore reinterpreta o acto da regeneração, convertendo o material descartado em corpo vivo.
Nas suas instalações e esculturas, as texturas remetem para a casca de árvores, fungos a expandirem-se nas paredes, raízes entrelaçadas ou teias microscópicas. Desta forma, a artista reproduz a linguagem visual da natureza em decomposição e renascimento, transformando o resíduo em matéria de contemplação estética e vitalidade.
O lixo, frequentemente associado à degradação e ao abandono, torna-se uma representação da força vital. A escolha por materiais frágeis e perecíveis é também uma decisão filosófica. Okore não ambiciona criar obras imortais, mas sim efémeras que evoluem com o tempo, tal como tudo na natureza.
Alguns dos seus trabalhos deterioram-se naturalmente, reforçando a ideia de que a beleza pode residir na impermanência. A própria artista afirma, em entrevistas que o processo de envelhecimento das suas peças é uma parte intrínseca da obra — uma celebração da vida e do tempo. Para além da dimensão ecológica, existe um simbolismo cultural profundo.
Natureza, Cultura e Sustentabilidade
As suas técnicas manuais — trançar, torcer, tecer — evocam as tradições comunitárias femininas nigerianas, onde o acto de criar com as mãos é também um acto de união e partilha. Okore transmuta gestos quotidianos em linguagem escultórica, dando voz às mulheres anónimas que moldam a textura social africana.
Neste sentido, o seu trabalho é igualmente uma homenagem à herança feminina e à sabedoria artesanal transmitida de geração em geração. O simbolismo na obra de Okore transcende a estética, abrangendo esferas espirituais, ecológicas e sociais. Representa a interdependência entre o ser humano e o meio ambiente, entre o corpo e a terra, entre o consumo e o desperdício.
Nas suas mãos, a arte converte-se num instrumento de reconciliação entre o homem e a natureza. O lixo, submetido ao toque sensível da artista, emerge como uma oração silenciosa pela regeneração do planeta.
Percurso e Reconhecimento

A trajectória de Nnenna Okore surge de um percurso transcontinental e transcultural. Nascida em 1975, numa família de académicos nigerianos em Camberra, Austrália, a sua infância em Uturu, Nigéria, foi marcada pela natureza exuberante e pelas tradições locais.
Os seus pais, um professor universitário e uma especialista em literatura, incutiram-lhe o gosto pela observação, pela leitura e pelo questionamento do mundo, características que se revelariam fundamentais na sua obra.
Durante a adolescência, o contacto com as práticas manuais das comunidades rurais — como a cestaria, a tecelagem e a escultura em barro — despertou a sua sensibilidade para a materialidade e para o papel das mãos na criação. Este interesse levou-a a ingressar na Universidade da Nigéria, em Nsukka, uma instituição de prestígio e um dos principais centros de renovação artística africana.
Ali, influenciada por mestres como El Anatsui e pelo movimento de arte contemporânea que misturava técnicas tradicionais com linguagens modernas, Okore compreendeu que a arte africana podia ser contemporânea sem renegar as suas raízes.
Após a licenciatura, Nnenna Okore prosseguiu os seus estudos nos EUA, na Universidade de Iowa, onde obteve o mestrado e o MFA em Escultura e mais tarde o doutoramento na Universidade de Monash, na Austrália. Esta formação transcontinental permitiu-lhe fundir o pensamento teórico ocidental com a prática artesanal africana, culminando num estilo inconfundível.
Uma Carreira em Ascensão
Ao longo das últimas duas décadas, a artista tem exposto em museus e galerias de renome internacional, incluindo a October Gallery (Londres), Sakhile & Me (Frankfurt), Museum of Contemporary African Diasporan Arts (Nova Iorque), Museum of Contemporary Art (Sydney) e o Chicago Cultural Center.
O seu talento foi reconhecido com a nomeação para finalista do FNB Art Prize, na África do Sul, em 2013 e com o prestigiado Fulbright Scholar Award em 2014 que lhe possibilitou aprofundar a sua investigação artística em universidades nigerianas. Além da sua carreira como artista, Okore é também uma dedicada professora e curadora.
Na North Park University, em Chicago, orienta projectos sobre sustentabilidade e arte ecológica, incentivando jovens criadores a explorar materiais alternativos. A sua pedagogia reflecte o mesmo espírito que guia a sua arte: a valorização do processo, do ciclo natural e do diálogo entre culturas.
Actualmente, Nnenna Okore vive e trabalha entre Chicago e Lagos, mantendo uma relação simbiótica entre as duas geografias. Da Nigéria, absorve as memórias, as texturas e o sentido espiritual do trabalho manual; dos EUA, assimila o ritmo da modernidade, a experimentação e o espaço institucional para o debate sobre arte e sustentabilidade.
Nesta fronteira, construiu uma carreira sólida, aclamada pela crítica internacional e consolidou-se como uma das vozes mais originais e influentes da escultura ecológica africana. A sua capacidade de transformar o efémero em perene e o lixo em algo valioso oferece uma perspectiva inovadora sobre a arte e o nosso papel no mundo.
Mensagens Sociais e Ambientais

A arte de Nnenna Okore transcende o meramente estético, propondo uma profunda meditação sobre o tempo, a vida e a responsabilidade humana para com o planeta. O seu trabalho nasce de uma urgência ética e de um veemente apelo à consciência ambiental.
A artista defende que vivemos numa era em que o consumo e o desperdício atingiram níveis alarmantes e que a função primordial da arte deve ser a de alertar, inspirar e educar. Assim, ao recolher e reutilizar materiais descartados, Okore eleva o acto artístico a um gesto simultaneamente ecológico e social.
Os seus projectos questionam directamente a lógica da produção industrial e o ciclo do lixo mundial. Em inúmeras cidades africanas, os resíduos invadem ruas e cursos de água, simbolizando as gritantes desigualdades económicas e a herança de um sistema mundial que produz em excesso e descarta o que não consegue absorver.
Ao intervir neste processo, a artista propõe uma inversão simbólica: o que foi rejeitado pela sociedade é recuperado e transfigurado em beleza. O lixo transforma-se em narrativa; a decadência converte-se em esperança.
Cada escultura ou instalação constitui, nesse sentido, uma crítica subtil às estruturas de poder económico que ditam quem consome, quem produz e quem suporta as consequências da poluição. Nas suas obras, a matéria descartada transporta a marca de um sistema desigual.
Ao reciclá-la, Okore questiona esse mesmo sistema, expondo o paradoxo de uma humanidade que, ao mesmo tempo que gera abundância, destrói o seu próprio habitat.
Um Gesto Ecológico e Social
Contudo, a sua obra veicula também um discurso profundamente humano e social. O trabalho de Nnenna Okore estabelece uma ligação intrínseca com as comunidades locais nigerianas, onde as mulheres, em particular, desempenham papéis centrais na economia doméstica e no artesanato.
Ao adoptar técnicas como o trançado e a costura, a artista restitui dignidade a saberes populares frequentemente marginalizados. Cada obra é, assim, um monumento silencioso à persistência feminina, à paciência e à força criadora das mulheres africanas que, geração após geração, sustentam a vida com as suas próprias mãos.
Do ponto de vista ambiental, a artista promove uma prática que vai além da reciclagem material, propondo uma verdadeira “reciclagem do olhar“. O público é convidado a repensar a sua relação com o desperdício, a observar o potencial do que é efémero e a compreender que cada resíduo encerra uma memória.
Em exposições notáveis como “Resilient Earth” e “Erosion”, Okore explora os temas prementes da desertificação e da crise climática, ligando o sofrimento da terra ao das populações humanas. O seu trabalho torna-se, assim, um espelho da interdependência vital entre o planeta e a humanidade.
Ao abordar simultaneamente questões sociais e ecológicas, Okore inscreve-se numa linhagem de artistas africanos contemporâneos que utilizam o lixo como matéria de consciência — entre eles, destacam-se nomes como El Anatsui, Romuald Hazoumé ou Moffat Takadiwa.
No entanto, Nnenna Okore distingue-se pela delicadeza poética e pela abordagem quase espiritual da matéria. O seu discurso não é de denúncia agressiva, mas de revelação: ela demonstra que o equilíbrio entre natureza e humanidade depende da capacidade de reaprender a ver o mundo com humildade e reverência.
O Ciclo da Vida

A obra de Nnenna Okore convida-nos a uma profunda contemplação sobre a fragilidade e a força inerente à vida. As suas esculturas e instalações são uma eloquente lembrança de que a existência é regida por ciclos: o que cresce, apodrece; o que se desfaz, renasce; o que é rejeitado, pode ser reinventado.
No coração desta filosofia reside uma lição profundamente africana — a da continuidade intrínseca entre o visível e o invisível, entre o humano e o natural. A artista nigeriana conseguiu forjar uma linguagem contemporânea que dialoga com as tradições ancestrais sem as reduzir a mero folclore.
Através da utilização de materiais simples, frequentemente ignorados, ela constrói um discurso universal sobre a sustentabilidade, o consumo e a memória. As suas obras evocam fungos e raízes, mas também cidades em decomposição e tecidos de culturas que se desagregam para depois se entrelaçarem novamente.
Nnenna Okore recorda-nos que o lixo não é apenas físico — é também simbólico: representa aquilo que uma sociedade opta por esquecer.
A Alquimista da Natureza
Num tempo em que a arte se distancia frequentemente das realidades sociais, Okore devolve-lhe um propósito ético. A sua prática artística é uma pedagogia silenciosa. Sem recorrer a palavras, ela ensina a observar, a reaproveitar, a valorizar o gesto simples e o trabalho manual.
O acto de enrolar um fio, torcer uma fibra ou amarrar um tecido transforma-se num gesto de resistência à aceleração implacável do mundo moderno. Há também, no seu percurso, uma profunda reflexão sobre a identidade. Como artista que reside entre dois continentes — África e América — e nasceu num terceiro — Austrália — Okore constrói uma ponte sólida entre o local e o universal.
A sua arte fala da Nigéria e das suas tradições, mas fala igualmente da humanidade e da sua relação com o planeta. É uma linguagem híbrida, inegavelmente cosmopolita, mas profundamente enraizada na terra e nas texturas da memória. A crítica internacional tem reconhecido unanimemente este equilíbrio.
Exposições em Londres, Chicago, Frankfurt e Lagos demonstram que o seu trabalho possui um impacto mundial. No entanto, a força da sua arte reside precisamente na simplicidade — no modo como o efémero e o humilde se convertem em instrumentos de revelação estética.
A artista não procura o monumental nem o espectacular; procura o essencial, aquilo que permanece mesmo depois de tudo se decompor.
Conclusão
Nnenna Okore destaca-se na arte contemporânea africana pela originalidade e profundidade filosófica. As suas esculturas, de papel, juta, tecido e fibras naturais, reflectem transformação, fragilidade e regeneração, ecoando a terra e a espiritualidade ecológica africana.
A artista demonstra que a arte do lixo é uma ética de existência. Nas suas mãos, o lixo torna-se símbolo e reciclar é reconciliar homem e natureza, passado e presente, desperdício e criação. A sua trajectória, entre tradição e modernidade, África e o mundo, afirma a arte africana contemporânea com voz autónoma e crítica, inspirando novas gerações a usar materiais esquecidos.
Num planeta ferido pelo excesso, Okore oferece esperança: criar beleza do perdido, reconstruir sentido do rejeitado, encontrar poesia no silêncio da matéria. A sua obra, mais que um manifesto ecológico, é uma meditação sobre a existência, revelando como o mais frágil e descartável contém a centelha da vida.
Okore é uma alquimista da natureza, transformando resíduo em renascimento, abandono em comunhão, lixo em arte. A obra de Nnenna Okore, rica em significados e beleza, é amplamente estudada, contribuindo para o reconhecimento mundial da arte africana contemporânea.
A sua abordagem à sustentabilidade e ao artesanato tradicional inspira debates sobre o futuro do design e da produção ética, provando que a arte impulsiona a mudança social e ambiental.
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Imagem: © 2025 Francisco Lopes-Santos
