Black Carpet Awards: Naomi Campbell é Madrinha
A terceira edição dos Black Carpet Awards ocorrerá no Teatro Manzoni em Milão, Itália, a 24 de Setembro de 2025 onde vinte e dois finalistas disputarão distinções em categorias como Cultura e Empreendedorismo.
A Top Model, Naomi Campbell foi oficialmente anunciada como madrinha do evento durante a Semana de Moda da cidade. A Afro Fashion Association, organizadora do prémio, destacou o compromisso da modelo com a equidade na indústria criativa, justificando dessa forma a sua escolha.
A escolha de Naomi Campbell simboliza a convergência entre o legado histórico e a inovação inclusiva. A modelo britânica foi uma das primeiras mulheres negras a alcançar projecção mundial nas passarelas internacionais e a primeira a aparecer nas capas da “Vogue Paris” (1988) e da “Vogue britânica” (1987) bem como da revista “Time” (1991).
O seu activismo estende-se a causas humanitárias e ao apoio a talentos africanos emergentes. A madrinha descreveu os Black Carpet Awards como uma “afirmação cultural e social” para comunidades sub-representadas.
A organização não-governamental, Afro Fashion Association, fundada por Michelle Ngonmo em 2015, opera entre Itália e a África Subsaariana, promovendo intercâmbios culturais através da moda e das artes visuais. O evento reconhece personalidades que desafiam os estereótipos nas indústrias criativas mundiais. A edição deste ano de 2025, inclui uma homenagem póstuma à curadora Koyo Kouoh.
O município de Milão confirmou o apoio institucional através da vereadora Alessia Cappello. A representante sublinhou o papel da moda como “acelerador de mudança cultural” em sociedades multiculturais. A iniciativa visa criar espaços onde a diversidade se traduza em valor económico tangível e a cerimónia integrará painéis de debate e exposições sobre a identidade africana contemporânea.
Tecido Histórico
A ascensão de Naomi Campbell reflecte cinco décadas de lutas por representatividade na moda. A modelo enfrentou barreiras raciais nos anos 90, quando as agências privilegiavam os rostos caucasianos. A sua carreira pioneira abriu o caminho para gerações de manequins negras por todo o mundo. O convite para madrinha dos Black Carpet Awards coroa este percurso de resistência criativa.
A fundadora Michelle Ngonmo criou a associação após várias experiências de “invisibilidade” no sector. A directora recorda a exclusão sistemática de criadores negros em semanas de moda europeias. O evento surge como resposta à necessidade de plataformas autónomas para talentos da diáspora e a frase “o preto é a soma de todas as cores” tornou-se o lema da organização.
Os prémios distinguiram figuras como Edward Enninful (2023) em edições anteriores. Estes nomes desafiaram as hierarquias estabelecidas em publicações e casas de moda elitistas. A categoria “Legado” reconhece os contributos duradouros para a cultura visual africana.
Este ano os Black Carpet Awards também vão homenagear Koyo Kouoh, a curadora da próxima Bienal de Arte de Veneza (2025), falecida prematuramente aos 57 anos. Koyo Kouoh revolucionou o panorama artístico africano com a Raw Material Company em Dakar ao promover artistas africanos ignorados pelos circuitos tradicionais e por isso a associação vai apoiar residências artísticas no Senegal.
Esta homenagem póstuma é uma forma de celebrar os criadores que desmontam as narrativas coloniais na arte contemporânea e o vídeo “The New Wave” apresentará dez vozes emergentes desta revolução estética.
A geografia dos premiados abrange três continentes, com ênfase para a África Subsaariana. Nove dos vinte e dois finalistas desenvolvem projectos em países como o Senegal e o Quénia. Esta distribuição reforça o compromisso com a descentralização do poder criativo mundial. O júri dos Black Carpet Awards incluem especialistas do Burkina Fasso, Brasil e Itália.
A Mecânica do Prémio
O processo de selecção envolve duas fases distintas com critérios transparentes. Na primeira etapa, as instituições culturais nomeiam os candidatos em cinco categorias temáticas. Um comité preliminar reduz as indicações para vinte e dois finalistas mediante o impacto mensurável. A fase decisória combina o voto do público e a avaliação técnica especializada.
Cinco categorias estruturam o reconhecimento: Líder em Cultura, Criatividade, Comunidade, Empreendedorismo e Legado. Cada área valoriza os contributos específicos para a equidade sectorial. A categoria Comunidade premeia iniciativas locais que geram oportunidades económicas em bairros periféricos e o Empreendedorismo distingue os modelos de negócio inclusivos.
O prémio único de 2025 destina-se a talentos com menos de trinta e cinco anos. O vencedor receberá vinte mil euros e uma mentoria da Fondazione Prada. A cerimónia também incluirá o anúncio dos dez vencedores principais em palco.
O júri reúne cinquenta e três especialistas de doze nacionalidades diferentes. Figuras como o fotógrafo Tyler Mitchell e a estilista Stella Jean integram a comissão. Os critérios avaliam a originalidade, a sustentabilidade e o impacto social comprovado. A diversidade etária e geográfica da comissão assegura uma maior pluralidade nas decisões.
Impacto Estrutural
A parceria com a Câmara de Comércio de Milão gera oportunidades concretas. Os vencedores anteriores acederam a programas de incubação no distrito de fashion tech da cidade. A edição de 2024 resultou em quinze contractos para designers africanos com retalhistas europeus. Este modelo transforma o reconhecimento simbólico em progresso económico real.
A Afro Fashion Association lançará uma plataforma digital pós-evento. O espaço virtual ligará os vencedores com os investidores interessados em moda ética. A ferramenta incluirá um mercado online para produtos de marcas premiadas. Dez por cento das vendas financiarão bolsas para estudantes de design em Acra e Nairobi.
A longo prazo, o evento pressiona as instituições tradicionais a rever as suas práticas. Depois da edição de 2023, a Semana de Moda de Milão implementou cotas para marcas africanas e grandes grupos como o LVMH anunciaram a criação de fundos para designers da diáspora em 2024. Esta mudança sistémica reflecte o poder de mobilização dos Black Carpet Awards.
Conclusão
Os Black Carpet Awards consolidam-se assim, como um farol de transformação na indústria criativa mundial. A escolha de Naomi Campbell como madrinha vem coroar o seu percurso de resistência social contra a exclusão racial. O evento em si, transcende a celebração para se tornar um mecanismo de reequilíbrio de oportunidades.
A edição dos Black Carpet Awards de 2025, marcará um ponto de viragem na valorização das narrativas africanas e o legado de Koyo Kouoh guiará futuras gerações na reconstrução de imaginários coloniais. Desta forma, a cerimónia de Setembro escreverá um novo capítulo na história da diversidade cultural mundial.
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Imagem: © 2022 Ph. Steven Meisel / Courtesy Press Office
