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ToggleYasser Arafat: 20 Anos Depois A Sua Luta Vive
Faz amanhã, 11 de Novembro de 2004, 20 anos em que o mundo perdeu Yasser Arafat, uma das figuras mais complexas, influentes e controversas na história do conflito israelo-palestiniano.
Yasser Arafat iniciou a sua trajectória na luta de libertação o que o fez ser visto por muitos como um terrorista, mas ao longo dos anos transformou-se claramente em um líder político de destaque e em um ícone da resistência palestiniana.
Conhecido como o “pai” da nação palestiniana, deixou um legado que ainda hoje, se faz sentir nas constantes lutas do povo palestiniano, para obter a autodeterminação. Embora tenha sido homenageado como um símbolo da resistência, o seu verdadeiro papel na negociação da paz e do fim do conflito israelo-palestiniano, continua a ser amplamente debatido.
Após a sua morte, ocorrida em circunstâncias rodeadas de mistério, o que alimentou especulações e teorias sobre um possível envenenamento, foi elevado ao estatuto de mártir por aqueles que viam nele o símbolo da luta histórica da Palestina pela autodeterminação.
No entanto, a questão permanece: se ainda estivesse vivo, teria ele conseguido evitar o agravamento das tensões actuais e alterado o curso da história?
O Legado de Yasser Arafat
Yasser Arafat tornou-se uma figura central do movimento nacional palestiniano ainda jovem, especialmente após co-fundar a Fatah na década de 1950 que se consolidou como a maior facção da Organização de Libertação da Palestina (OLP). Em 1969, Arafat assumiu a liderança da OLP e, nos anos seguintes, foi símbolo de resistência e perseverança diante das pressões israelitas.
Em 1974, ao subir ao púlpito, para discursar na Assembleia Geral das Nações Unidas, fez uma declaração quê se tornou célebre, ao afirmar que trazia em uma das mãos uma arma e na outra um ramo de oliveira, mostrando assim a sua firme vontade de aliar a paz à luta pela liberdade da Palestina.
“Venho com um ramo de oliveira numa mão e a arma do combatente da liberdade na outra”.
“Não deixem cair o ramo de oliveira da minha mão”.
A sua imagem, amplamente divulgada, era a de um líder carismático e comprometido com a causa palestiniana. Em 1993, surpreendeu todo o mundo árabe, ao assinar os Acordos de Oslo com Israel, reconhecendo pela primeira vez o direito dos palestinianos à autodeterminação.
Antes de assinar os acordos, Yasser Arafat, como presidente da OLP e seu representante oficial, assinou duas cartas renunciando à violência e reconhecendo oficialmente Israel. Em troca, o primeiro-ministro Yitzhak Rabin, em nome de Israel, reconheceu oficialmente a OLP.
Este acto, valeu-lhe o Prémio Nobel da Paz, em conjunto com Shimon Peres e é um marco tanto para a história da luta palestiniana quanto para a sua própria liderança, pois mostrou a sua disposição em encontrar uma resolução pacífica para o conflito. Contudo, esta abordagem não foi unânime; para alguns, Yasser Arafat cedeu demasiado e para outros, não avançou o suficiente.
Conflitos Internos
Os anos finais da vida de Yasser Arafat foram marcados por complexas pressões internas e externas, sobretudo após o fracasso da Cimeira de Camp David em 2000. A sua recusa em aceitar as condições israelitas, pois considerava serem prejudiciais aos interesses palestinianos, contribuiu para o início da Segunda Intifada.
Este período turbulento intensificou o conflito entre israelitas e palestinianos e colocou Yasser Arafat sob cerco das forças israelitas no seu quartel-general em Ramallah, onde permaneceu confinado até a sua morte.
O que Yasser Arafat teria feito se ainda estivesse vivo? Essa questão é levantada pelo jornalista Paul Cainer que se questionou sobre o impacto que Arafat poderia ter tido na cisão entre a Fatah e o Hamas.
Em 2006, essa divisão culminou numa guerra civil sangrenta, levando o Hamas ao controlo da Faixa de Gaza, dividindo a autoridade palestiniana. Shalom Ben Hanan, antigo líder dos serviços de segurança israelitas, reflecte que a sobrevivência de Yasser Arafat poderia ter evitado essa cisão, atrasando o poder do Hamas e as subsequentes operações militares.
Morte Natural ou Assassinato?
As circunstâncias da morte de Arafat permanecem ainda hoje, uma questão delicada e envolta em controvérsia. Faleceu num hospital militar em Paris, após um rápido agravamento do seu estado de saúde, mas as suas causas exactas nunca foram completamente esclarecidas.
Muitos palestinianos, incluindo os próprios familiares de Yasser Arafat, acreditam que ele foi envenenado, possivelmente pelos serviços secretos israelitas, enquanto figuras como Ben Hanan, um general, membro do Ministério da Defesa de Israel, sustentam que ele morreu de causas naturais.
“Exorto os investigadores de segurança ou o sobrinho de Arafat a apresentarem qualquer prova”.
“Isto é um conto de fadas que têm andado a contar: culpar Israel por tudo”.
Afirmou Ben Hanan, negando qualquer envolvimento de Israel no ocorrido. Alguns anos depois, em 2013, uma investigação controversa conduzida pela Al Jazeera, reacendeu as suspeitas ao afirmar que, foram encontrados em pertences de Yasser Arafat, vestígios de polónio-210, uma substância radioactiva.
Esse dado levantou novas especulações de que ele teria sido assassinado com material radioactivo, possível de ser produzido em reactores nucleares, o que indicaria o envolvimento de uma potência com capacidade nuclear, como Israel. No entanto, investigações subsequentes realizadas por equipes suíças, francesas e russas apresentaram resultados inconclusivos.
Impacto na Palestina Actual
O aniversário da morte de Arafat ocorre num momento particularmente sensível para o povo palestiniano, num panorama de conflito intensificado. Desde o ataque israelita a Gaza, em Outubro de 2023, mais de 43.600 palestinianos, na sua grande maioria, crianças, perderam a vida e mais de 102.900 foram feridos.
Na Cisjordânia, centenas de palestinianos, incluindo muitas crianças, também foram mortos. Este panorama sombrio de violência e perdas reforça o simbolismo de Yasser Arafat na luta pela autodeterminação e pelos direitos palestinianos.
Para muitos palestinianos, Yasser Arafat além de ser uma figura histórica, representa a própria identidade e a resistência nacional da Palestina. O seu legado continua a inspirar gerações na luta por uma Palestina livre e justa, como lembra a agência de notícias WAFA:
“Embora Yasser Arafat não esteja fisicamente presente, o seu legado continua a moldar a identidade palestiniana e a sua luta pela justiça”.
Conclusão
Vinte anos após a sua morte, Yasser Arafat permanece uma figura central no imaginário palestiniano e no conflito do Médio Oriente. Para alguns, ele foi um líder da paz que procurou equilibrar a diplomacia com a resistência; para outros, as suas acções e decisões contribuíram para as divisões e complexidades que ainda assolam o povo palestiniano.
Contudo, o seu impacto inegável na história e na política do Médio Oriente permanece uma força unificadora na procura contínua do povo palestiniano pela sua autodeterminação.
A memória de Yasser Arafat, com as suas conquistas e controvérsias, deixa-nos um legado que simboliza tanto a luta pela paz quanto a determinação perante adversidades e que permanece enraizado na identidade de um povo que ainda hoje se vê forçado a lutar por um futuro mais justo.
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Imagem: © 2002 Chris Hondros / Getty Images