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ToggleO Mundo Está 1,5ºC Mais Perto Da Imortalidade
O mundo atravessa um momento crítico no combate às alterações climáticas. Com dados que confirmam que 2024 será o ano mais quente desde que há registo e o primeiro a ultrapassar consistentemente o limite de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.
Os especialistas, alertam para o facto de estarmos perigosamente próximos de um Aquecimento Global irreversível, colocando em risco milhões de vidas e ecossistemas inteiros. Esta situação não é fruto do acaso, mas sim de décadas de inércia perante os alertas da comunidade científica.
As emissões de dióxido de carbono provenientes da queima de combustíveis fósseis continuam a atingir níveis recordes, enquanto fenómenos climáticos extremos tornam-se cada vez mais frequentes. Para muitos cientistas, o momento de reverter este panorama está a esgotar-se rapidamente, exigindo uma coordenação mundial sem precedentes para evitar consequências ainda mais catastróficas.
O Serviço de Alterações Climáticas Copernicus (C3S) confirmou que Novembro de 2024 foi 1,62°C mais quente em comparação com os níveis pré-industriais, continuando uma tendência preocupante de Aquecimento Global. Este dado não é meramente simbólico, traduz-se em impactos reais e visíveis, desde inundações e incêndios florestais a crises agrícolas e económicas.
O momento para agir é agora e a grande questão é saber se estamos preparados para enfrentar este desafio ou não.
O Acordo de Paris
O Acordo de Paris, assinado em 2015, estabeleceu metas ambiciosas: manter o aumento da temperatura do mundo abaixo dos 2ºC e, idealmente, limitá-lo a 1,5ºC. Contudo, os últimos dados mostram que estamos longe de cumprir estes objectivos. A directora-adjunta do C3S, Samantha Burgess, destacou que ultrapassar 1,5ºC em 2024 não significa necessariamente o fracasso do Acordo, mas lembra que:
“A acção climática ambiciosa é mais urgente do que nunca”.
Os cientistas afirmam que o limite de 1,5ºC foi concebido como uma barreira de segurança, destinada a evitar o pior das alterações climáticas. Este limite, porém, está a ser ultrapassado de forma consistente, colocando em xeque o compromisso mundial assumido há quase uma década.
Segundo o C3S, apenas uma redução drástica nas emissões e investimentos significativos em energias renováveis podem ajudar a inverter este quadro. Outro aspecto preocupante é a falta de cumprimento dos compromissos assumidos pelos países signatários do Acordo.
Durante a recente COP29, muitos países revelaram dificuldades em alinhar as suas metas climáticas com as exigências do Acordo. Enquanto isso, regiões vulneráveis em África, Ásia e na América Latina enfrentam os impactos directos de uma crise climática que não ajudaram a criar.
O esforço mundial para evitar o agravamento do problema precisa ser colectivo e urgente, ou o legado deixado às futuras gerações será desastroso.
O CO₂ no Aquecimento Mundial
As emissões de dióxido de carbono, provenientes de combustíveis fósseis, continuam a ser o principal motor do Aquecimento Global. Segundo o Global Carbon Project, em 2024, as emissões vão atingir um recorde histórico de 37,4 mil milhões de toneladas. Quando se contabiliza as emissões decorrentes da desflorestação e de outras actividades humanas, o total sobe para 41,6 mil milhões de toneladas.
Com este nível de emissões, o limite de 1,5ºC vai continuar a ser ultrapassado de forma consistente e as consequências disso, são cada vez mais tangíveis. Um exemplo, entre muitos outros, foi a recente catástrofe em Valência, Espanha. O aumento das temperaturas está a causar ondas de calor sem precedentes, derretimento acelerado de calotas polares e subida do nível do mar.
Estas mudanças além de afectarem os ecossistemas naturais, também afectarem a segurança alimentar e hídrica de milhões de pessoas, sobretudo nas regiões mais vulneráveis. Adicionalmente, o relatório Global Carbon Budget aponta para que, se mantivermos o ritmo actual, restam apenas seis anos para que as emissões acumuladas levem a que se ultrapasse de forma permanente o limite de 1,5ºC.
Esta temperatura, é o ponto sem retorno, onde os fenómenos extremos se tornarão a norma e a capacidade de adaptação de muitas comunidades será insuficiente para lidar com a crise. Se todos os países do Mundo não actuarem imediatamente para reduzir as emissões, desenvolverem tecnologias limpas e promover uma economia sustentável, o Relógio do Apocalipse, vai dar as 12 badaladas.
O Mundo Acima de 1,5ºC
Ultrapassar os 1,5ºC tem implicações graves e duradouras. A partir dos 2ºC, os cientistas alertam que a exposição a fenómenos extremos, como incêndios florestais, inundações e ciclones, aumentará dramaticamente. Em 2024, secas históricas em África e na Amazónia, tufões na Ásia e incêndios devastadores em locais como o Pantanal e o Canadá evidenciaram os perigos deste aquecimento descontrolado.
Para além dos desastres naturais, o aumento das temperaturas tem impactos económicos e sociais devastadores em todo o mundo. Segundo um estudo recente, as perdas económicas mundiais devido a condições meteorológicas extremas atingiram valores recordes em 2024, com danos estimados em 320 mil milhões de dólares.
Este impacto financeiro agrava ainda mais as desigualdades, uma vez que as regiões mais afectadas são geralmente as menos preparadas para responder a estas catástrofes. Outro aspecto alarmante é o impacto na biodiversidade. Muitas espécies enfrentam um risco crescente de extinção devido à perda de habitat, mudanças nos padrões climáticos e escassez de recursos.
Transição Energética
Filipe Duarte Santos, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável de Portugal, destaca que:
“Para o bem das futuras gerações, é realmente urgente fazer uma transição energética”.
Este processo envolve o abandono progressivo dos combustíveis fósseis em todo o mundo e a adopção de fontes renováveis de energia. A transição energética, é uma necessidade técnica, mas também uma oportunidade para transformar economias e criar empregos sustentáveis.
Investir em energias limpas como a solar e a eólica pode reduzir significativamente as emissões, além de diminuir a dependência de combustíveis fósseis. Os países que estiverem na linha da frente deste processo terão vantagens competitivas, enquanto os que se atrasarem enfrentarão dificuldades económicas e ambientais.
Infelizmente, os avanços na transição energética têm sido lentos. A COP29 terminou sem um compromisso sólido para acelerar este processo, deixando muitos países em desenvolvimento em situação de desvantagem.
Sem uma acção coordenada e financiamento adequado, a transição energética corre o risco de ser insuficiente para travar o Aquecimento Global. A urgência desta tarefa não pode ser subestimada e o tempo para agir está a esgotar-se.
Conclusão
2024 marca um ponto de viragem na luta contra as alterações climáticas. Com o mundo a ultrapassar o limite de 1,5ºC pela primeira vez, a mensagem dos cientistas é clara: a acção imediata é crucial. Sem cortes rápidos e profundos nas emissões de CO₂, o futuro do planeta e da humanidade estará comprometido.
A responsabilidade recai sobre os governos, empresas e cidadãos para adoptar práticas mais sustentáveis e exigir políticas climáticas mais robustas. Este desafio requer coragem política, inovação tecnológica e uma transformação profunda nos padrões de consumo. Apesar dos desafios, ainda há esperança. Existem soluções viáveis e o compromisso de todos será essencial para evitar um futuro catastrófico.
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Imagem: © 2024 Francisco Lopes-Santos