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ToggleMundial De Natação: África Do Sul Rouba O Ouro
Numa noite memorável no Mundial de Natação de 2025, realizado em Singapura, a bandeira da África do Sul foi hasteada mais alta que todas as outras. Pieter Coetze, um jovem prodígio de apenas 21 anos, fez história ao conquistar a primeira medalha de ouro para a África do Sul e ao inscrever o seu nome entre os três melhores nadadores da história dos 100 metros costas em piscina longa.
Coetze, “roubou” o ouro, ao derrotar o actual campeão olímpico e recordista mundial, o italiano Thomas Ceccon, deixando-o na segunda posição, relegando o russo Kliment Kolesnikov para a sexta posição — os dois nomes mais temidos da prova — afirmando-se assim como uma das maiores promessas da natação mundial.
Mais do que apenas uma vitória individual, o feito de Coetze quebrou as expectativas e a fronteira simbólica de décadas de hegemonia euro-americana. Esta não foi apenas uma vitória pessoal, foi um símbolo do potencial africano em áreas onde raramente é protagonista, trazendo a natação africana para o mais alto palco competitivo mundial.
Mais do que um feito atlético, este triunfo simboliza uma mudança de paradigma e um raro momento de exaltação para África. Em tempos de desafios sociais, económicos e desportivos para o continente, a vitória de Coetze é uma lufada de esperança e inspiração — uma mensagem clara de que os campeões do futuro vão emergir deste “Continente Esquecido”.
O Nascimento De Um Campeão
Pieter Coetze chegou ao Mundial de Natação de Singapura embalado por uma onda de sucesso. Apenas dez dias antes, nos Jogos Universitários Mundiais realizados na Alemanha, o jovem já havia surpreendido ao estabelecer um novo recorde sul-africano e africano, com o tempo de 51,99 segundos na final dos 100 metros costas, conquistando a medalha de ouro.
No entanto, o que parecia ser o ponto alto da sua carreira até então, revelou-se apenas o prelúdio para um feito ainda mais grandioso. A final do Campeonato Mundial, disputada na noite de terça-feira em Singapura, foi uma das mais intensas e equilibradas da competição. Ao arrancar da pista 3 — geralmente menos favorecida para os candidatos ao pódio — Coetze não se deixou intimidar.
Com uma partida agressiva e uma estratégia de gestão energética notável, ele virou aos primeiros 50 metros com o tempo de 24,95 segundos, ocupando a terceira posição, atrás de Kliment Kolesnikov (24,90) e Oliver Morgan (24,92). Foi no percurso final que Coetze demonstrou a sua garra.
Impulsionado por uma técnica refinada e por um sprint decisivo nos últimos metros, concluiu a prova com um tempo de 51,85 segundos, batendo o seu próprio recorde africano e garantindo o ouro, apenas cinco centésimos à frente de Ceccon que ficou com a prata (51,90), enquanto o francês Yohann Ndoye-Brouard, saído de uma pista “ainda pior” a 1, assegurou o bronze com 51,92 — um novo recorde francês.
Um Marco Histórico
Com esta marca, Coetze inscreve-se na elite da natação mundial, empatando com o norte-americano Ryan Murphy como o terceiro nadador mais rápido da história nesta prova. À sua frente, ficaram apenas Thomas Ceccon (51,60 – 2022) e o russo Kliment Kolesnikov (51,82 – 2023).
A performance do sul-africano é ainda mais impressionante se considerarmos que todos os três medalhistas da final do Mundial de Natação de Singapura quebraram a barreira dos 52 segundos, algo que apenas nove nadadores no mundo conseguiram fazer até hoje.
O feito de Coetze também o torna no quarto atleta a conquistar no mesmo ano o ouro nos Jogos Universitários Mundiais e no Mundial de Natação — sucedendo a Qin Haiyang da China em 2023.
A Prova
O caminho até ao ouro não foi fácil. Nas eliminatórias, Coetze classificou-se com um tempo de 52,80, apenas o terceiro da sua série, ficando atrás de Hubert Kós (Hungria) e Christian Bacico (Itália). A sua progressão para a meia-final colocou-o na pista 6, onde melhorou significativamente para 52,29, garantindo o segundo lugar da série e um lugar na tão aguardada final.
Ali, perante os nomes mais sonantes da natação mundial, como o campeão olímpico Ceccon e o russo Kolesnikov, o jovem sul-africano manteve a compostura. Com frieza, concentração e uma execução irrepreensível, completou o percurso da consagração.
A vitória de Coetze no Mundial de Natação, assentou numa combinação perfeita entre técnica, táctica e mentalidade competitiva. O seu tempo final de 51,85 segundos foi repartido em parciais de 24,95 na ida e 26,90 na volta — uma estratégia equilibrada que lhe permitiu manter-se na disputa desde o início, mas sem comprometer o sprint final.
Comparando com a sua marca anterior, de 51,99 (com 25,19 e 26,80), verificou-se uma melhoria substancial no primeiro parcial, sinal de uma largada mais agressiva e eficaz. Thomas Ceccon, que saiu da viragem em 8.º lugar com 25,39, teve uma impressionante recuperação com 26,51 no regresso, mas não foi suficiente.
Ndoye-Brouard, por sua vez, virou aos 25,37 e também teve um regresso potente (26,55), mas igualmente insuficiente para ultrapassar o sul-africano. Esta disputa acirrada reflecte não só o alto nível da competição, mas também o calibre dos adversários que Coetze conseguiu superar.
Reacções e Impacto
Após a vitória, visivelmente emocionado, Pieter Coetze declarou:
“Eu penso que estava muito calmo e relaxado quando comecei, às vezes pode-se ficar muito tenso e forçar a mais, mas eu estava super relaxado, animado e feliz por estar aqui”.
Ceccon, por seu turno, reconheceu a qualidade da prova, embora tenha manifestado alguma frustração:
“Estou-me a sentir bem, estou muito feliz com o tempo, mas não com a posição. Foi uma corrida muito rápida para todos…”
“Os primeiros 50 metros poderiam ter sidoum pouco mais rápidos”.
“Os segundos 50 metros foram óptimos, mas os primeiros 50 metros foram um pouco lentos”.
Já o francês Ndoye-Brouard que partiu da pista 1, também celebrou o seu progresso e, ao ficar abaixo da barreira dos 52 segundos, tornou-se o nono homem a entrar para esse clube:
“Eu sabia que tinha este tempo nas eliminatórias, não nadei devagar, mas também não estava a 100%, por isso sabia que tinha este tempo”.
“Esta noite, quis fazer melhor – as minhas viragens, as minhas partidas. Concentrei-me nelas e consegui”.
O Simbolismo da Prova
O triunfo de Coetze no Mundial de Natação vai muito para além de uma medalha de ouro. Representa um marco para a natação africana, tradicionalmente ofuscada nas grandes arenas internacionais. Num desporto onde os centros de excelência têm estado concentrados nos EUA, Europa e Austrália, a ascensão de um nadador africano ao topo do mundo demonstra que o talento não tem fronteiras geográficas.
Para a África do Sul, em particular, a medalha de ouro simboliza um regresso ao protagonismo internacional, após anos de menor expressão no desporto. O sucesso de Coetze é também um reflexo dos investimentos feitos na formação de atletas no país, nomeadamente através da Universidade de Pretória (TUKS), onde o nadador se prepara actualmente.
Com apenas 21 anos, Pieter Coetze ainda tem um largo percurso pela frente. Depois de ter ficado em 5.º lugar nos 100m costas e em 7.º nos 200m nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, este título mundial posiciona-o como um dos favoritos à medalha de ouro nos Jogos de Los Angeles 2028.
A consistência das suas performances, a evolução técnica e a maturidade emocional demonstradas são indícios de que o seu nome poderá marcar a próxima era da natação de elite. Além disso, a sua presença e conquistas poderão inspirar uma nova geração de nadadores africanos, fomentando o desenvolvimento do desporto em países que, até aqui, têm tido pouca expressão nesta disciplina.
Conclusão
A vitória de Pieter Coetze nos 100 metros costas no Mundial de Natação de 2025 é um feito de excelência que transcende a glória pessoal. É uma afirmação de que o talento africano pode alcançar o pódio mais alto, mesmo nos palcos mais exigentes.
Este jovem sul-africano além de bater os gigantes da natação mundial, também reescreveu a história, ao demonstrar que o futuro da natação poderá, cada vez mais, falar com “sotaque africano”. Esperemos que assim seja.
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Imagem: © 2025 Lintao Zhang via Getty Images