Hoje, 4 de Janeiro de 2025, assinala-se o Dia Mundial do Braille, uma data proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a 17 de Dezembro de 2018 na Resolução 73/161, para destacar a relevância deste sistema de leitura e escrita na promoção dos direitos humanos e da inclusão social das pessoas invisuais.

Este dia marca o nascimento de Louis Braille, criador do código que revolucionou a vida das pessoas cegas, proporcionando-lhes acesso à educação, informação e à liberdade de expressão.

O Braille não é apenas um conjunto de pontos em relevo; é um meio essencial de comunicação que contribui para a igualdade e a independência. Desde a sua invenção no século XIX até à sua adopção em diversas partes do mundo, este sistema tem sido fundamental para a alfabetização e a integração social.

Num mundo onde a informação é poder, o Braille tornou-se uma ferramenta indispensável para as pessoas com deficiência visual superarem as barreiras impostas pela sociedade. Este sistema é essencial para garantir esse direito à educação, à inclusão e à liberdade de expressão, fazendo cumprir a “Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência” (2006).

A celebração deste dia é também uma oportunidade para reflectirmos sobre a situação actual.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, existem cerca de 36 milhões de cegos no mundo e 216 milhões com deficiência visual moderada ou grave. Muitas destas pessoas enfrentam desigualdades significativas no acesso à educação, emprego e saúde, tornando o Braille ainda mais relevante no contexto dos direitos humanos.

Louis Braille nasceu a 4 de Janeiro de 1809, em Coupvray, França. Após um acidente que resultou na perda total da visão aos três anos de idade. Aos 10 anos, os pais de Louis Braille, inscrevem-no com sucesso no Instituto Real para Jovens Cegos (Institution Nationale des Jeunes Aveugles), em Paris. onde começou a desenvolver o sistema que hoje conhecemos como código Braille.

O código de Braille foi inspirado por um método de leitura táctil, inventado uns anos antes por Charles Barbier, para permitir aos soldados franceses comunicar em situações de ausência de luz. Louis Braille simplificou e adaptou o sistema, criando uma matriz de seis pontos que permite representar letras, números, símbolos musicais e até fórmulas matemáticas.

O código Braille é composto por 64 sinais possíveis, gravados em relevo no papel, permitindo que as pessoas cegas leiam deslizando os dedos sobre as linhas de pontos. A genialidade do sistema está na sua simplicidade e universalidade, o que o torna acessível e fácil de aprender.

No entanto, o caminho para a sua aceitação foi árduo. Apesar de ser imediatamente adoptado pelos colegas de Braille no Instituto, enfrentou resistência política e burocrática, sendo oficialmente reconhecido em França apenas em 1854, dois anos após a sua morte.

Com o tempo, o sistema Braille espalhou-se pelo mundo. No Reino Unido e nos Estados Unidos da América, só foi adoptado em 1932, após décadas de discussões e adaptações. Hoje, existem diferentes variantes do sistema, incluindo o Braille grau 1, utilizado por principiantes e o Braille grau 2, uma versão mais avançada que incorpora abreviaturas e sinais especiais para facilitar a leitura.

A importância do Braille vai além da leitura e da escrita. Este sistema é uma ferramenta poderosa para a educação, a liberdade de expressão e a inclusão social das pessoas cegas. Ele permite que estas pessoas acedam ao conhecimento de forma autónoma, participem activamente na sociedade e expressem as suas opiniões.

Actualmente, o Braille é amplamente utilizado em livros, manuais, medicamentos, produtos de consumo e até dispositivos tecnológicos. Este avanço tem sido essencial para garantir que as pessoas cegas possam usufruir de uma vida mais independente e digna. Contudo, o acesso ao Braille ainda é limitado em algumas regiões, especialmente em países com menos recursos.

Além disso, o Braille desempenha um papel crucial no mercado de trabalho. Ao permitir que as pessoas com deficiência visual desenvolvam competências profissionais, este sistema abre portas para oportunidades que antes lhes estavam vedadas.

Embora o Braille tenha sido uma invenção revolucionária, ele enfrenta desafios no contexto moderno. O avanço da tecnologia trouxe novas soluções para a acessibilidade, como leitores de ecrã e software de conversão de texto em áudio. Embora estas ferramentas sejam úteis, não substituem a importância do Braille, especialmente na alfabetização e no desenvolvimento cognitivo das crianças cegas.

Outro desafio é a falta de formação para professores e profissionais que trabalham com pessoas cegas. Muitas vezes, o Braille é visto como uma habilidade secundária, o que limita o seu uso e a sua disseminação. Para reverter este cenário, é fundamental investir em educação inclusiva e sensibilizar a sociedade sobre o valor do Braille.

Por outro lado, a tecnologia também tem sido uma aliada no avanço do Braille. Dispositivos como impressoras Braille, ecrãs tácteis e leitores electrónicos estão a tornar este sistema mais acessível e prático. Estes progressos mostram que, mesmo num mundo digital, o Braille continua a ser uma ferramenta insubstituível para a inclusão e a igualdade.

O Dia Mundial do Braille é uma celebração da vida e do legado de Louis Braille e é também um momento de reflexão sobre os direitos e as conquistas das pessoas cegas. Este sistema que revolucionou a comunicação, continua a ser essencial para garantir a autonomia, a educação e a inclusão social de milhões de pessoas em todo o mundo.

Num mundo que ainda enfrenta desafios no campo da igualdade e da acessibilidade, o Braille permanece como um símbolo de esperança. Cabe a todos nós reconhecer a sua importância e trabalhar para que ele esteja ao alcance de todos os que dele necessitam.

Afinal, como disse Louis Braille:

“O acesso à comunicação, no sentido mais amplo, é o acesso ao conhecimento e o conhecimento é o que determina a nossa liberdade”.