Guiné-Bissau: 50 Anos de Independência.
Faz hoje meio século, que na Guiné-Bissau, o seu povo, sob a liderança determinada do PAIGC, protagonizou um feito heroico que marcou a história do continente africano.
No emblemático dia 24 de Setembro de 1973, em Madina do Boé – na região oriental do país – nasceu a República da Guiné-Bissau, proclamada de forma unilateral, ainda durante a luta armada de libertação contra o colonialismo português
A independência de um país, não pode ser encarada de animo leve. É um dos acontecimentos mais marcantes na história de uma nação e é um exemplo vivo de um processo histórico, carregado de significado político, cultural e social, representando o culminar de uma longa luta pela autodeterminação e soberania.
A partir do momento da sua proclamação, o povo guineense assumiu, com determinação inabalável, a responsabilidade pela sua liberdade e pelo direito de forjar o seu próprio destino, seja ele repleto de desafios, conquistas ou fracassos.
O Inicio da História
Esta caminhada, iniciou-se a 24 de Setembro de 1963, quando o povo guineense, mostrou a sua garra e, através de uma notável capacidade de organização, aprendizagem e, acima de tudo, uma coragem destemida, confrontou um exército colonial altamente equipado e bem treinado, assim como um regime colonial opressivo, dando inicio a uma guerra de libertação que duraria 10 anos.
É inegável que, ao longo destes 50 anos, a Guiné-Bissau, enfrentou adversidades significativas, com a fragilidade política e institucional frequentemente sombreando grande parte desse percurso.
A ausência de instituições sólidas que pudessem criar as bases para políticas económicas e sociais transformadoras, capazes de atender às aspirações da população, bem como a promoção de um ambiente favorável para investimentos tão necessários, permaneceram como desafios cruciais, ainda hoje.
No entanto, apesar das vicissitudes, a Guiné-Bissau continua a escrever a sua história com determinação e persistência, mantendo-se firme no seu compromisso com um futuro promissor.
A independência, conquistada há meio século, garantiu a autodeterminação do país e permanece como um símbolo de coragem e perseverança, um farol que ilumina o caminho, rumo a um destino mais próspero e estável, na procura da construção de um futuro mais justo para o povo guineense.
Contexto Colonial
A história da Guiné-Bissau está profundamente enraizada no sistema colonial que marcou grande parte de África durante os séculos XIX e XX. Durante mais de quatro séculos, o território que hoje é a Guiné-Bissau esteve sob o domínio colonial português. Esse período de colonialismo foi caracterizado por exploração económica, subjugação cultural e repressão política.
O movimento de luta pela independência da Guiné-Bissau foi liderado pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), fundado em 1956, por figuras notáveis como Amílcar Cabral e Luís Cabral. O PAIGC organizou a população guineense, estabeleceu bases na região rural do país e tornou-se rapidamente um bastião da resistência contra o domínio colonial português.
A luta pela independência da Guiné-Bissau foi travada principalmente através de uma guerra de guerrilha contra as forças coloniais portuguesas. O PAIGC através das suas bases de apoio nas zonas rurais, ganhou o apoio da população local, um apoio crucial que forneceu alimentos, abrigo e combatentes.
A guerra de guerrilha foi uma estratégia eficaz que desgastou as forças coloniais portuguesas ao longo dos anos. Mas o PAIGC, não se ficou por aí, também lançou uma campanha internacional para sensibilizar o mundo, sobre a luta pela independência da Guiné-Bissau, ganhando o apoio de outros países africanos e movimentos de libertação em todo o mundo.
Proclamação da Independência da Guiné-Bissau
Foi no dia 24 de Setembro de 1973, na região libertada de Madina do Boé- na região oriental do país – que, a Assembleia Nacional Popular – o parlamento guineense, composta por deputados previamente eleitos – proclamou a independência do país e a formação do primeiro Estado.
A Assembleia Nacional Popular guineense aprovou a constituição do novo Estado e os seus órgãos de soberania e elegeu, Luís Cabral para presidente do Conselho de Estado e Francisco Mendes para liderar o Conselho dos Comissários de Estado (governo). Ambos, militantes destacados do PAIGC na frente de combate e na organização política e militar.
Amílcar Cabral, líder da luta independentista encabeçada pelo PAIGC, afirmou que a Guiné-Bissau:
“Da situação de colónia que dispõe de um movimento de libertação e, cujo povo, já libertou em 10 anos de luta armada, a maior parte do seu território nacional, passou à situação de um país que dispõe do seu Estado e que tem uma parte do seu território nacional ocupado por forças armadas estrangeiras”.
Este acto simbólico e corajoso marcou o início de uma nova era para a Guiné-Bissau, que assumiu a sua liberdade e o direito de determinar o seu próprio destino, mas também teve um impacto profundo em várias dimensões:
Política e Soberania: A Guiné-Bissau conquistou a sua soberania e a capacidade de tomar decisões políticas independentes, sem a interferência colonial.
Identidade Cultural: A promoção das línguas locais e do crioulo como veículos culturais unificadores ajudou a fortalecer a identidade guineense.
Inspiração para África: A luta bem-sucedida da Guiné-Bissau serviu de inspiração para outros movimentos de libertação em África, encorajando-os a perseguir a independência dos regimes coloniais.
Compromisso com a Justiça Social: A visão de Amílcar Cabral, de uma independência que incluísse justiça social e igualdade, continuou a influenciar as políticas do país.
Amílcar Cabral
Amílcar Cabral, foi uma figura carismática e intelectual proeminente que desempenhou um papel central na liderança do movimento de independência.
A sua visão não se limitava apenas à libertação política; ele entendia que a independência verdadeira incluía a justiça social, a igualdade e o desenvolvimento económico. Amílcar Cabral enfatizou a importância de unificar as diferentes etnias e grupos linguísticos da Guiné-Bissau sob uma identidade nacional comum.
“A libertação nacional é necessariamente um ato de cultura”, Amílcar Cabral.
Um dos legados mais duradouros de Amílcar Cabral, foi a sua promoção das línguas locais e do crioulo, como instrumentos de unificação cultural. Ele entendia que a preservação das tradições culturais era vital para a identidade guineense e para a construção de uma nação independente.
Desafios Pós-Independência da Guiné-Bissau
Apesar da celebração da independência, a Guiné-Bissau enfrentou uma série de desafios posteriores à independência. Instabilidade política, golpes militares e dificuldades económicas marcaram grande parte dos anos pós-independência.
A falta de instituições políticas e económicas sólidas e a dependência da castanha de caju, como principal recurso económico, expuseram o país a choques económicos e políticos.
A Guiné-Bissau tem enfrentado desafios significativos, mas a independência continua a ser um símbolo de resistência e determinação. O país está comprometido com o fortalecimento das suas instituições, o desenvolvimento económico e a consolidação da paz.
Para garantir um futuro próspero, a Guiné-Bissau deve continuar a promover políticas que incentivem investimentos nos setores económicos transformadores e fortalecer a sua imagem internacional. A visão e a vontade do povo guineense serão fundamentais para superar os desafios e construir uma nação independente e bem-sucedida.
Conclusão
a independência da Guiné-Bissau é um marco histórico que representou a libertação de um povo da opressão colonial, bem como a afirmação da sua identidade cultural e política. Esta caminhada tumultuosa é um testemunho da perseverança, da resistência e da aspiração do povo guineense por um futuro melhor.
A independência da Guiné-Bissau não é apenas um evento na história de um país, mas sim uma inspiração para todo o continente africano e para todos os que lutam pela autodeterminação e pela justiça em todo o mundo.
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