A longa-metragem “Por Jade” venceu dois prémios no Musses Award-Levadia International Film Festival, na Grécia, no passado sábado, 5 de Abril de 2025. Tadisi Nsangu Baruch foi distinguido com o Prémio de Melhor Realizador e Marta Tomás recebeu o Prémio de Melhor Actriz.

O filme, seleccionado entre 150 produções de 50 países, competiu ainda em Direcção de Fotografia e Design de Produção. A vitória reforça o crescimento do cinema angolano em circuitos internacionais.

O festival, realizado na cidade histórica de Levadia, reuniu cineastas de todo o mundo entre 4 e 6 de Abril. “Por Jade” destacou-se com 114 pontos, nota máxima do júri, superando concorrentes de países com indústrias cinematográficas consolidadas.

Tadisi Nsangu Baruch, em declarações ao Jornal de Angola, descreveu a vitória como “inexplicável” e “fruto da persistência da juventude angolana”. A obra, filmada em Luanda e no deserto do Tômbwa, retracta a força das mulheres face a choques culturais.

A actriz Marta Tomás, que recebeu o prémio pelo papel da protagonista Jade, sublinhou a importância de representar a mulher angolana.

“É uma honra mostrar a nossa resistência em palcos mundiais”, afirmou.

Esta distinção, não foi a primeira deste filme. Em Setembro de 2024, “Por Jade” ganhou o prémio de Melhor Apreciação do Público no Tony Curtis International Film Festival, na Hungria. Em Novembro do mesmo ano, somou três vitórias no Festival Português de Cinema Independente.

A trajectória reflecte a estratégia de jovens realizadores em explorar narrativas locais com orçamentos reduzidos. O filme que estreou em Paris em 2023, já percorreu festivais em três continentes, consolidando-se como embaixador da cultura nacional de Angola.

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A conquista deste prémio na Grécia marca um novo capítulo na projecção mundial do cinema angolano. O Musses Award-Levadia é reconhecido por promover obras independentes com temáticas sociais. Tadisi Nsangu Baruch destacou a importância de competir em igualdade com produções de grandes mercados.

“Não temos os mesmos recursos, mas temos histórias universais”, afirmou.

A produção angolana foi gravada em 2022, utilizando zonas como o bairro Mártires de Kifangondo e o deserto do Namibe. O realizador optou por actores locais e equipas técnicas angolanas, reduzindo os custos sem comprometer a qualidade. A estratégia permitiu investir em detalhes como a direcção de fotografia de Tekassala Bousoudia Mandombe, também nomeada no festival.

O enredo centra-se em Jade, uma mãe que enfrenta conflitos culturais ao defender os filhos. A narrativa, segundo Baruch, inspira-se em “histórias reais de mulheres angolanas”. A escolha do Tômbwa como cenário não foi aleatória: o deserto simboliza a dureza e a beleza da luta diária.

A exibição do filme em Levadia, no dia 4 de Abril, atraiu centenas de espectadores. Muitos elogiaram a autenticidade das paisagens e a profundidade da personagem principal.

“Foi como viajar para Angola sem sair da Grécia”, comentou um crítico de cinema.

Além dos prémios, o festival permitiu contactos com distribuidores europeus. Walter Lourenço Paulo, responsável pelo design de produção, revelou conversas para exibir “Por Jade” em salas de cinema de Lisboa e Berlim.

“Queremos que o mundo conheça a nossa capacidade criativa”, afirmou.

A vitória na Grécia ocorre num momento de expansão do cinema angolano. Desde 2020, o número de produções nacionais em festivais internacionais triplicou. Os jovens realizadores apostam em plataformas digitais para contornar a falta de salas de cinema no país.

A projecção de “Por Jade” vai além do entretenimento. O filme funciona como ferramenta de diplomacia cultural, apresentando Angola através das suas paisagens e tradições. Cenas gravadas no Tômbwa, por exemplo, mostram rituais locais pouco conhecidos fora do país.

Marta Tomás, ao preparar-se para o papel, visitou comunidades no Namibe para entender a realidade das mulheres rurais. A actriz destacou que essas mulheres são heroínas anónimas e referiu também a colaboração com os actores masculinos que trouxeram autenticidade aos conflitos familiares retractados.

O sucesso internacional do filme e os prémios recebidos, pressiona o governo angolano a dar prioridade ao sector audiovisual e, os novos realizadores, pedem mais financiamento e formação técnica.

“Precisamos de escolas de cinema e incentivos fiscais para produtoras”, defendeu Baruch.

Apesar dos desafios, a criatividade angolana chama a atenção. Em 2024, “Por Jade” foi um dos oito finalistas no Tony Curtis International Film Festival, competindo com filmes norte-americanos e europeus. A vitória do Prémio de Melhor Apreciação do Público revelou o apelo universal da sua mensagem.

A longa-metragem também gerou debates sobre representação feminina no cinema africano. Colectivos de mulheres em Luanda organizaram sessões especiais, usando o filme para discutirem a igualdade de género em que “Jade” se tornou um símbolo de todas as mulheres angolanas.

“Por Jade” confirma o lugar de Angola no panorama cinematográfico mundial. As vitórias na Grécia, Hungria e Portugal demonstram que histórias locais podem conquistar plateias mundiais. O filme é um exemplo de como a arte transforma limitações em oportunidades.

A trajectória do realizador Tadisi Nsangu Baruch inspira uma nova geração de cineastas. Com determinação e talento, estes jovens provam que o cinema angolano tem um futuro brilhante. O próximo passo é garantir que estas conquistas se traduzam em infraestruturas sustentáveis para o sector.