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Terça-feira, Outubro 28, 2025

Costa Do Marfim: Ouattara Reeleito Para 4º Mandato

As urnas fecharam-se em silêncio e abriram-se em controvérsia: aos 83 anos, Alassane Ouattara, com quase 90% dos votos, assegura o seu quarto mandato presidencial, num país onde o poder raramente muda de mãos sem feridas.

Costa Do Marfim: Ouattara Reeleito Para 4º Mandato


A Costa do Marfim voltou às urnas num ambiente de tensão e desconfiança. O Presidente Alassane Ouattara foi reeleito para um quarto mandato com 89,7% dos votos, segundo os resultados provisórios divulgados pela Comissão Eleitoral Independente (CEI).

As ruas de Abidjan, normalmente fervilhantes, estavam quase desertas durante a votação, marcada por uma participação reduzida e pelo peso de uma história recente feita de divisões políticas e crises sucessivas. Cerca de 8,7 milhões de eleitores estavam registados para votar, mas o clima de apatia e receio marcou o sufrágio.

Embora a campanha tenha decorrido entre 10 e 25 de Outubro, a oposição contestou desde cedo a legitimidade do processo, denunciando perseguições políticas e exclusões arbitrárias.


Ouattara Mantém o Poder


De acordo com os dados da CEI, Alassane Ouattara, do partido União dos Houphouëtistas pela Democracia e a Paz (RHDP), Alassane Ouattara obteve 89,7% dos votos, muito à frente dos seus adversários, nestas ultimas eleições na Costa do Marfim.

Jean-Louis Billon, ex-ministro do Comércio e empresário influente, ficou em segundo lugar com apenas 3%, seguido da ex-primeira-dama Simone Gbagbo que reuniu 2,4%. Os restantes candidatos, Ahoua Don Mello e Henriette Lagou, ficaram abaixo dos 2%.

Apesar da vitória expressiva, o processo eleitoral foi amplamente criticado. O Conselho Constitucional rejeitou cerca de 60 candidaturas, incluindo as dos principais opositores: Laurent Gbagbo, impedido de concorrer devido a uma condenação judicial em 2018 e Tidjane Thiam, excluído por questões de nacionalidade.

Esta exclusão alimentou o sentimento de que a corrida presidencial foi uma competição desigual e previsível. Como afirmam vários analistas políticos, a vitória de Ouattara era “um resultado anunciado”, não pela força do voto, mas pela fragilidade do campo opositor e pelo controlo do aparelho de Estado.

A abstenção foi um dos grandes protagonistas desta eleição. Em várias zonas urbanas, nomeadamente em Abidjan, observou-se uma fraca afluência às urnas, com muitas assembleias de voto praticamente vazias durante o dia.
Protestos dispersos marcaram as semanas que antecederam a votação.

A oposição exigia um diálogo político inclusivo e denunciava o que classificou como “deriva autoritária” do regime. Segundo fontes oficiais, um manifestante morreu e cerca de 700 pessoas foram detidas. A oposição, contudo, fala em três vítimas mortais e acusa o Governo de repressão sistemática.


Um Presidente Controverso


Aos 83 anos, Alassane Ouattara é uma das figuras políticas mais experientes da África Ocidental. Economista formado nos Estados Unidos e antigo dirigente do Fundo Monetário Internacional, chegou ao poder em 2010, após uma eleição conturbada que mergulhou o país numa nova crise pós-eleitoral, resultando em mais de 3 mil mortos.

Desde então, a Costa do Marfim conheceu estabilidade económica e crescimento médio acima de 7% ao ano, impulsionado sobretudo pela exportação de cacau — o país é o maior produtor mundial, responsável por cerca de 40% da produção global. Contudo, essa prosperidade não foi acompanhada por uma reconciliação nacional duradoura.

Os críticos acusam Ouattara de governar com mão de ferro e de monopolizar o poder político, marginalizando as forças opositoras. O seu partido, o RHDP, consolidou o controlo das instituições e as tentativas de alternância política têm sido frustradas por exclusões jurídicas e pelo peso do aparelho estatal.

A Costa do Marfim ainda carrega as cicatrizes da guerra civil (2002–2007) que dividiu o país entre o norte e o sul, entre lealdades étnicas e políticas que perduram até hoje. Embora a paz formal tenha regressado há mais de uma década, as tensões latentes continuam a influenciar o panorama político.

Desde 1995, o país não conheceu uma transição pacífica de poder. Em cada eleição, as feridas do passado ressurgem e a promessa de estabilidade democrática é colocada à prova. A reeleição de Ouattara — ainda que legitimada pelas urnas — é, para muitos, a confirmação de que a Costa do Marfim permanece refém do seu próprio ciclo político.

Um Mandato de Desafios


Ao entrar no seu quarto mandato, Ouattara enfrenta desafios complexos. A pressão internacional por reformas democráticas cresce, enquanto no plano interno aumenta o descontentamento entre os jovens que representam mais de 60% da população de 32 milhões de habitantes. O desemprego, a desigualdade e a centralização do poder são questões que ameaçam a estabilidade futura do país.

Analistas consideram que o sucesso de Ouattara neste novo ciclo dependerá menos do seu desempenho económico e mais da sua capacidade de promover um verdadeiro diálogo nacional. Sem reconciliação, alertam, o risco de novas tensões políticas e sociais permanecerá sempre presente.


Conclusão


A vitória de Alassane Ouattara confirma a continuidade de uma liderança que, embora traga estabilidade macroeconómica, divide a sociedade marfinense entre os que o vêem como garante de progresso e os que o consideram símbolo de um poder fechado e inamovível.

O desafio que se impõe agora é o da reconciliação — não apenas política, mas também social. Num país onde cada eleição reacende memórias da guerra, o futuro dependerá da capacidade de o Estado ouvir as vozes que continuam excluídas do processo democrático.

A Costa do Marfim, potência económica da África Ocidental e maior produtora mundial de cacau, vive mais uma vez o paradoxo africano: prosperidade e paz aparente sustentadas sobre um terreno de desigualdades e silêncios. O tempo dirá se este quarto mandato será o início de uma transição real ou apenas a repetição de um ciclo que se recusa a fechar.

 


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Imagem: © 2019 DR
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